Colheita Feliz (?)
A famigerada expressão “inclusão digital”, quando cunhada, costuma remeter de imediato à imagens edificantes, como a de uma criança, habitante dos cafundós do Brasil, resolvendo sua lição de casa com auxílio da Internet ou, quem sabe, do idoso humilde, tendo a chance de regularizar a aposentadoria de maneira rápida e eficiente nos terminais da Previdência. Mas, como tudo na vida, há também o outro lado da moeda.
Mais precisamente, a face que representa, por exemplo, uma tia minha, mulher de meia-idade que, faz dois anos, não sabia enviar e-mails, e que hoje troca o dia pela noite plantando leguminosas na fazendinha do Orkut. Aposto que o estimado leitor, assim como eu, também conhece histórias parecidas, ou pelo menos ficou sem entender nada quando recebeu de alguém, pela primeira vez, um unicórnio de presente.
Pois, o que a princípio começou como um inofensivo passatempo, nas palavras da minha tia, “uma forma de interagir com as novas amigas e expandir a rede de contatos virtuais”, hoje desperta comentários enviesados dos filhos durante o almoço de domingo. Não só nessa família como em muitas outras, suponho, a fazendinha virou uma praga a ser exterminada. Na ocasião, entre risos nervosos e queixas rebatidas em tom de brincadeira, espocou um episódio que dá ideia da dimensão do problema.
Dizia o marido “traído” pelo aplicativo que a esposa andava acordando no meio da noite para colher abóboras e dar feno aos cavalos. “É vício”, reconheceu minha tia antes que os outros o fizessem. Ela própria admitiu usar uma calculadora para programar a maneira mais dinâmica de aproveitar seu terreno, levando em consideração quantos dias cada muda leva para atingir o ápice.
E não para por aí: confessou que freqüentemente emprega o cartão de crédito na compra de objetos para sua fazendinha (nesse momento alguns queixos caíram em torno da mesa), e que criou uma segunda propriedade, a qual também administra, em nome do próprio cachorro!
Numa breve googada, deparei-me com incontáveis relatos análogos, alguns bem engraçados na verdade, e até com uma lista que descreve em detalhes os sintomas mais comuns dos obcecados pelo jogo. Há também uma comunidade, que funciona como espécie de AA virtual, onde fazendeiros de mentirinha choram pitangas por plantações arruinadas por serões nos empregos, relatam ambições desmedidas de possuir galinhas e porquinhos e até dão dicas de como despistar a implicância dos amigos e parentes.
Curioso é recordar dessa mesma tia, anos atrás, debochando da vizinha, que passava as tarde de sábado enfurnada no bingo, enquanto o marido enchia a cara no bar. Quem te viu, quem te vê… a melhor tirada do almoço, no entanto, foi da minha mãe, que sugeriu ao meu tio comprar um trator velho, meia-dúzia de bezerros e alugar um terreno nos arredores da cidade, pra ver que bicho dá.
Se a habilidade e a dedicação demonstradas no jogo se confirmarem na vida real, vai que até dá pro casal fazer um dinheiro. O problema é que o projeto já foi de cara desacreditado pelos presentes; em uníssono, sentenciaram que o entusiasmo cairia por terra na primeira vez que fosse necessário limpar um curral de verdade.
Quando entrei no “Colheita Maldita” (apelido carinhoso dado por mim ao Colheita Feliz), viciei instantâneamente! Comprei muitas terras (essas com cartão de crédito), mas chegou uma hora que parei. Do nada mesmo! Hoje em dia entro mais pelo dinheiro que já gastei do que porque ainda gosto. Perdeu a diversão, pois já atingi o nível máximo em tudo…
Uma hora sua tia desistirá da “novidade” e voltará ao normal. É assim com TODO MUNDO!
Em situações como essa, o melhor a dizer é: ‘Maldita inclusão digital.’
Incrível como isso se popularizou tão rapidamente, e tomou conta, e víciou os demais, chegando a gastar dinheiro real, joguei por 1 semana quando começou, desisti, enjoativo, chato, mas isso deve ser a válvula de escape de muitos que jogam, então também não podemos julgar.
Essas “Colheita Feliz” gira em torno de dinheiro vivo? Real? Ou fictício como o “The Sims”, por exemplo?
Sei de inúmeros casos desses, mas ninguém havia feito esse comentário “Hoje em dia entro mais pelo dinheiro que já gastei do que porque ainda gosto”.
Estranho…
Bruno, adoro seu blog. Estou rindo horrores com seus comentários a respeito do colheita feliz, me lembrei de cara de uma amiga viciada nesse jogo. É realmente impressionante a quantidade de tempo que as pessoas são capazes de perder com coisas tão esdrúxulas.Espero sinceramente que sua tia se cure logo. Um abraço!!!
Inclusão digital é uma espécie falácia de político “moderninho”. Essas pobres pessoas (que não são necessariamente pobres), criadas e adestradas pela TV, apenas encontraram um outro modo de gastar sua energia vital.
Ao me deparar com o slogan do post via twitter, me veio à cabeça um substantivo usado para denominar as clínicas de reabilitação aqui no interior de Minas Gerais, a tal ‘fazendinha’ e tendo em vista o que li, acredito que é necessária a criação de ‘fazendinhas’ de recuperação de viciados nesta maldita colheita infeliz. Já ouvira falar do assunto e jamais passou pela minha cabeça tanto usar este aplicativo quanto gastar dinheiro com isso. Já que está sobrando tempo na vida destas pessoas e ao que me parece viverem ociosas, vai uma dica: Leiam sobre o ócio criativo de Domenico De Masi ou pega um destes terrenos baldios abandonos pelos proprietários e pelas intituições públicas e vão plantar alface, banana, dentre outros. Já dizia Aristóteles, uma vida não examinada não vale a pena ser vivida. Quanta mediocricidade! Abraço.
Esses joguinhos online… na minha família tenho primos que gastavam horrores com bonecos virtuais em batalhas a quais nem viam, e minha prima gastou horrores comprando “moveis” pra casinha virtual dela! “Espero sinceramente que TODOS se curem logo.”
Hahaha! Me sinto uma anormal,pois nunca achei a menor graça nessa colheita feliz Ou será que sou eu a normal?
ahshuhashua =X
Beijos!
Ótimo texto!
Aproveitando a oportunidade, gostaria de saber qual o dia que vocês farão o show em Recife.
Bjos, Obrigada.
Assim como os demais leitores conheço pessoas com grande potencial intelectual e com tempo ocioso que poderiam estar produzindo, mas encontram-se inteiramente dedicadas a essas fazendinhas. Acho tão triste… por isso gostei muito do seu texto, estou indicando e quem sabe, me fazendo entender através desse recado. Vamos ver se, para os meus conhecidos, a ficha cai ao rir da vida alheia! Abraços
Oi, meu nome é Iris. (Oi, Iris)
E estou limpa há 5 meses. (Palmas)
Eu comecei na inocência, porque minha irmã também jogava. E quando percebi estava colocando o despertador pra tocar para colher meus frutos, ou até para roubar dos meus coleguinhas.
Hoje me considero curada da Colheita Feliz e procuro outras coisas para ocupar minha madrugada. A partir de amanhã começarei a frequentar o “Viciados em CaféMania Anônimos”.
Ah, como eu consigo manter a abstinência? Hoje minha avó cuida da Colheita Feliz.
Excelente o texto, Bruno. Conheço pessoas que embora pareçam ser muito evoluídas para milhares de outras coisas se dedicam a essa inútil brincadeira. Vício. Estupidez. Posso parecer moralista, mas acho que o tempo delas seria melhor empregado se estivessem lendo um livro, ajudando uma creche, sei lá. Não me diz respeito, afinal, cada um sabe o que faz da sua própria vida. Só fico ressentida que exista tanta gente perdendo tempo com esse tipo de coisa.
cara, me divirto muito jogando games como Call of Duty, halo, Wings of Prey, winning eleven e assim vai longe…grande parte online. A diferença é que o Paintball e o futebol de salão que pratico toda semana, são com AMIGOS de verdade….
Eu era viciada em um jogo parecido com a colheita feliz, o “segredos do mar” .Vc gasta moedas para gastar comprando peixes, comidas para eles, enfeitando o mar,etc…e vc compra diamantes de verdade para comprar peixes mais bonitos.Eu ate ja comprei. Mais enjoei!nao sei pq! É que nem bixinho virtual(em menos de uma semana ja ta manjado).É so perda de tempo! Coisa pra quem nao tem o que fazer
Inclusão digital????
resposta: exclusão social.
Até onde é bom e quando começa a ficar vicioso???
Como diria Humberto Gessinger:
Quanto vale a vida de qualquer um de nós?
Quanto vale a vida debaixo do viaduto?
Quanto vale, quando dói…..
Eu diria quanto vale a vida vivendo pro pc??
Abraços..
Então, graças a Deus que nunca me aventurei pela Colheta Feliz!! rs
Isso é o principal objetivo: viciar os internautas. e os imbecis que embarquem.
esse mundo tá perdido, meu deus!
Manda esse povo pra África para gastar. Antes que o Criança Esperança apareça convocando “os fazendeiros” para fazer doações.
hahaha
abraço, BM.
Bruno (xará),
Estou passando pelo mesmo problema, minhas tias (as véia, como eu carinhosamente chamo) estão viciadas nessa porcaria dessa Fazenda, e não gostam que faça graças sobre isso. Eu, pentelho que sou, fico dizendo que elas estão plantando drogas e a Polícia Federal irá baixar lá, o que nao deixa de ser verdade, já que ficam o dia todo plantadas na frente daquela droga de jogo.
Abraços,
Bruno Maia!
o texto esta muito bem elaborado..
mas vejamos o lado bom da coisa…
como citou o texto o exemplo dessa tia…
as senhoras de hoje sem sempre acham algo para passar o tempo…
ficam em casa assistindo as novelas que o final sempre é o mesmo…
nunca exercitam a mente … realizando contas e ate mesmo tento algo para se preoculpar..
pois bem ..
apareceu esses jogos na internet que virou um vicio..
e nada melhor para se ocupar, para relaxar, tirar o estresse do dia a dia em alguns casos…
so nao concordo muito em comprar realizadas no cartao de credito…
mas de resto… se todos os idosos podessem acessar a fazendinha…
pessoas que tem a vida muito corrida … nada melhor que procurar uma ocupaçao para a mente..
Falta do que fazer, vamos combinar!
DETESTO esses joguinhos dos sites de relacionamento.DETESTO, receber convites para participar e DETESTO abrir o meu profile e ver nas atualizações o que as pessoas andam fazendo nas suas “fazendinhas”.Argh! (Tô muito amarga?!) Mas é verdade…
hahahah é incrível !!!!! …. teve uma aloprada aqui no meu trabalho que ficava jogando horas essa porcaria ae !!!!! … não fazia nada !!!!!! só jogava ………. adivinha o que aconteceu com ela ????????????????? RUA !!!!!!
Eu realmente sabia que existiam modas desmedidas,mas não a esse ponto,chega a se perguntar,a vida dessa pessoas realmente tem algo d interessante?Ou são pessoas que não tem de fato uma realidade a se orgulhar,e buscam meios alternativos pra se destarir do mundo real.Preocupante!
se realmente esse é de fato a realiadade,existe formas mais eficazes,do que a fazendinha do orkut, minha gente!
“Nunca Vi, nem comi, eu só ouço falar…”
E tá ótimo assim, até porque, tem coisas melhores para se viciar, certo?
xxx
Concordo com a carla no 20º comomentário, como diria Rauizito tem gente que só senta “No trono de um apartamento
com a boca escancarada, Cheia de dentes; Esperando a morte chegar.” pelo menso as pessos estão se entertendo enquanto isso, e realmente quando você faz qualquer tipo de atividade certas partes cérebos não morrem,(e só) MAS, todos estão cansado de saber que o segredo de tudo é equílibrio, seja em na comida, seja no quanto você bebe e obvivamente isso também serve para vícios virtuais. tirando todo o lado cômico da coisa (e bota cômico nisso, Trair o marido com abóboras e cavalos..rs) esses pequenos vícios que vão surgindo, fazendo com que mais e mais pessoas prefiram ativiades virtuais do que contatos físicos, vão criar aos poucos mais e mais deficientes socias, que não conseguem conviver com os adversidades que temos em nossa desumana homanidade( os casos de suícidios e a doença do século, depressão, estão ai pra provar isso) . na vida, vive-se de cara, não se joga o nivel fácil antes pra saber como é. até os pontos que acumulamos durante nossa jornada não nos ganrantes um futira tão bom assim. os jogos não ensinam isso, dificil é fazer com qu os jagodores percebema até que ponto isso atrapalha a vida deles
Fortaleza…..outubro…….Vou ta lá frente Brunão…espero ter a sote de ter um titãs e um paralamas no mesmo dia..rs..
Bom saber que teremos a chance de ver vcs novamnte pelo CE..
Tenho exemplos parecidos em minha família… até uma “titia” minha diz exatamente como a sua..- não sabia nem mexer no computador até pouco tempo atrás, agora diz que virou vício, esquece de almoçar, dormir, e diz que é um vicio bom que ter mais vida social..
Está certo mas até que ponto o vicio é bom? Não minha opinião nada que é demais faz bem, é preciso sempre ter o equilibrio!!
Isso é vida social?
Não mesmo, vida social é como você disse no post anterior é o pessoal reunido – sem tv, hehe- em volta de uma messa tagarelando, ^^
Essa praga infectou minha mãe, o pior é que ela ainda vem fazer comentarios relacionados a isso comigo.
kkkkkkkk engraçado que na vida tem certas coisas que pegam em todo mundo, menos na gente! Isso dessa fazendinha do orkut é uma delas pra mim, nao sei nem por onde começar! Ainda bem!
Fala chará! blz! Temos o mesmo nome: Bruno Medina. Então, recebi um e-mail do meu tio falando sobre você. Sou de Presidente Prudente/sp. tem show na agenda pra cá? abraço, Bruno Medina.