Injeção na testa, vai?

dom, 29/08/10
por Bruno Medina |

online-shopping_0.preview

Faz algumas semanas, um encontro corriqueiro nas ruas de Ipanema me deixou com uma pulga atrás da orelha; ao atravessar a mais movimentada avenida do bairro, praticamente trombei de ombros com um colega de escola, que não via há anos. Conversa vai, conversa vem, não houve como deixar de transparecer certa surpresa em revê-lo, sobretudo por saber que há muito havia se estabelecido numa cidade do interior do estado e, desde então, nunca mais ninguém soube dele por essas bandas.

Diante do notório inusitado de sua presença, meu amigo de pré-adolescência resolveu “admitir” o motivo da visita a antiga cidade: a ocasião coincidia com a data agendada para um tratamento de Peeling de Cristais, combinado com Revitalização Facial. Afim de me poupar da necessidade de tecer um comentário espirituoso sobre o assunto, foi logo emendando que, apesar de nunca ter tido a pele boa (na verdade eu não sei de onde ele tirou isso), costumava encontrar no exorbitante preço dos tratamentos estéticos desculpa para não agir em prol da própria aparência.

Tudo, no entanto, mudou, desde quando bateu os olhos na oferta de um site de comprar coletivas, que oferecia o tratamento em questão com 84% de desconto. Nessa mesma ocasião, inclusive, adquiriu 12 frozen yogurts por 1/5 do preço, muito embora ainda não soubesse se conseguiria consumir todos em tempo hábil. Aliás, o papo terminou justo porque ele precisava se dirigir à loja mais próxima e tomar um naquele instante, para cumprir a meta estabelecida.

A partir desse dia, os tais sites invadiram minha vida feito uma avalanche. De repente parece que todo mundo pode se gabar de uma incrível vantagem obtida através do mecanismo de descontos virtuais, o que, convenhamos, é bastante chato. O tema, onipresente em todas as rodas, comprova: a compra coletiva virou uma febre, mas daquelas que nem banho gelado cura! “É simples, eficiente e todo mundo sai ganhando, do cliente ao estabelecimento”, alegam os fervorosos defensores dos cupons.

Mas, como nem tudo que reluz é ouro, decidi tirar a prova e parti em busca de uma oferta para chamar de minha. Apostei minhas fichas num desconto de 50% na compra de uma pizza grande de um restaurante meio besta aqui do Rio. Lá chegando, cuponzinho devidamente impresso e recortado debaixo do braço, qual não foi meu espanto com o espanto do garçom? “Desconto virtual? Cupom? Ô Rodrigues, chega aqui….” e lá se foi minha paz. Após 15 insuportáveis minutos de explicações, telefonemas pra cá e pra lá, o pobre Rodrigues foi instruído a me dar crédito, ainda que sem concordar com a política – digamos – de generosidades praticada pela casa em que trabalha.

“O pessoal inventa essas tranqueiras e não avisa a gente”. Resultado? A pizza de fato custou metade do preço, mas a diferença no valor dos 10%, a que o sujeito deixou de receber, rendeu uma tromba de 1KM e muita má vontade no serviço. Portanto, a dica para os que pretendem investir com tudo no universo dos cupons de descontos virtuais é: nunca descartem a possibilidade de ter que defendê-los com unhas e dentes no local da oferta.

Haja vista o crescimento exponencial desse modelo de negócios, chega-se a inevitável conclusão de que a noção de necessidade é diretamente proporcional ao tamanho do desconto oferecido. Aproveitando o ensejo, se alguém se interessar por uma lavagem completa + polimento cristalizado do carro por R$ 31, estou passando a diante…

Fi-lo porque qui-lo

ter, 24/08/10
por Bruno Medina |

feijao

Reconheçamos: muitas invenções, por mais criativas e inovadoras que sejam, por mais praticidade e conforto que possam trazer à vida de seus adeptos, ainda assim, possuem aspectos detestáveis. Tome por exemplo o chuveiro elétrico; certamente aí está uma ideia capaz de revolucionar a rotina de seus usuários, sobretudo daqueles que residem em regiões frias e que estavam acostumados a não se banhar com muita frequência durante o inverno. Formidável, não?

Agora transporte-se para aquele banheiro gelado na serra, do chalé do seu amigo. O corpo nu e arrrepiado, implorando por cada uma das gotas que caem fervendo no topo de sua cabeça. Você as deixa escorrer pelos ombros, espalha com as mãos, tentando, em vão, aumentar a superfície de contato com a pele, mas o desconforto é impeditivo. Ao final, tendo os cabelos ainda embebidos de condicionador, você decide encerrar a tormenta, mandando lembranças à mãe do sujeito que inventou aquela merda, com o perdão da expressão.

Em suma, o chuveiro elétrico é um advento com potencial para transformar uma experiência edificante (o banho) numa patética tentativa de se lavar, desprovida de qualquer dignidade. Quer outro exemplo? Restaurantes “por quilo”. Onde estava com a cabeça o cidadão que inventou isso? Fico imaginando em que circunstâncias o indivíduo é levado a pensar: “por que não criamos umas baias repletas de comida preparada em proporções gigantescas, e deixamos as pessoas passarem escolhendo o que querem, remexendo a bacia com uma mesma colher até que tudo fique disforme?

“Daí os clientes entram numa fila e ficam se empurrando com um pratinho na mão, odiando-se uns aos outros por demorarem demais para escolher suas porções ou por pegarem aquele último palmito que antecede a reposição. Quando estiverem servidos, eles passam por uma balança, escolhem uma bebida e sentam-se numa mesa minúscula, cercados de estranhos, para botar tudo pra dentro da forma mais rápida possível e liberar o espaço para uma nova leva de clientes. Na saída, a gente posiciona um caixa com chocolatinhos, para raspar aquelas moedas que sobraram no bolso, distribui um chá de abacaxi com erva doce e você vai ver como eles voltam no dia seguinte!”

Pondo nesses termos, é difícil acreditar que a proposta tenha colado, mas … O fast food de slow food não só tornou-se popular como, atualmente, em determinadas localidades, o desafio é encontrar um restaurante que não siga a fórmula. Talvez o momento mais lastimável da jornada de um habitual frequentador de restaurante por quilo é se deparar com a repetição dos pratos, numa escala uniformemente variável. Reparem que há certas combinações, a princípio ilógicas, que com frequência retornam. Num que eu costumo almoçar, por exemplo, toda vez que tem batata rostie, tem carré e chucrute. Nunca entendi o motivo por detrás da engenhosa composição.

Também é sempre um pouco triste quando alguém na cozinha se empolga e desanda a batizar as opções do menu com nomes supostamente elegantes. Que tipo de sensação espera-se obter de uma plaquinha em que se lê “purê trifásico”, ou mesmo “surpresa de frango”? Dá vontade de dizer: “amigo, não me venha com galhofagem. Não tente me causar a impressão de que restaurantes desse tipo estão associados a algo além da mera conveniência. Não me fale em liberdade de escolha! Aliás, quem disse que eu sei montar um prato?”. Daí você olha pra cima e está escrito “Qui-loucura”, melhor não falar nada.

Pesadelo pra mim é o típico cenário de verão na casa de praia: passar um dia na areia apinhada de gente, esperar na fila, colando no sofá de couro sintético, pra tomar banho de chuveiro elétrico e depois ir de galera almoçar no quilão da esquina. Soou familiar para alguém?

Dia de treinamento

seg, 16/08/10
por Bruno Medina |

39360_1409280721131_1505871434_31051475_4017942_n

“Uma imagem vale mais do que mil palavras”, diz uma conhecidíssima citação que, pelo que se vê acima, parece encaixar como luva. A bem da verdade, talvez fosse mesmo o caso de parar esse post por aqui, antes de começar, uma vez que, possivelmente, nem um milhão de palavras seriam suficientes para descrever com justiça os pormenores dessa fatídica manhã. Mas, como sou teimoso – e para não matar os leitores de curiosidade – vou tentar.

Pois bem, a fotografia em questão foi a cereja de um bolo que começou a ser assado às 9h da última sexta-feira, ocasião em que tive a oportunidade de visitar a dinâmica de treinamento de funcionários realizada todo ano por uma grande cadeia de restaurantes. Ainda na porta do clube meio decadente, localizado numa das ruas mais movimentadas da zona norte do Rio, pude ter uma ideia do que me aguardava lá dentro: centenas de jovens recém-saídos da puberdade faziam alvoroço na calçada, embalados pelo som do que parecia ser a super-matinê de um baile funk dos bons.

Leia-se “dos bons” por música tocada naquele volume em que, uma pessoa com audição considerada normal, trinca os dentes a cada vez que um timbre mais agudo é cuspido pelos alto-falantes, uma experiência no mínimo desconfortável, dado o horário. Dividida em quatro grupos sinalizados por cores, a garotada acompanhava batendo com aqueles bastões de ar inflado, que viraram a última tendência em inconveniência nos eventos de massa.

Quando o massacre sonoro finalmente foi interrompido, antes que eu pudesse respirar aliviado, adentrou o palco uma dupla de apresentadores ultra-entusiasmados, que me fizeram reconsiderar a opção pelo batidão ensurdecedor. A título de comparação, em termos de euforia, a reação dos presentes remetia à plateia de um show do Justin Bieber em que todas as fãs tivessem tomado 12 latinhas de energético cada uma.

Aos poucos, fui me dando conta de que a música era um ingrediente fundamental na tentativa de transmitir ao jovem público ensinamentos a respeito de seus trabalhos, sem que considerassem isso uma coisa insuportável. Por exemplo, aprendi, junto com eles, que o tempo útil de vida de uma batata frita é de sete minutos, que a limpeza de banheiros é uma tarefa tão nobre quanto a fritagem final, e que não se deve mentir o nome estampado no crachá só porque se tem vergonha da escolha feita pelos pais. Pelo visto, tem um monte de Maiconsuel que diz se chamar Matheus…

De repente, a fala do orador é interrompida pelo inconfundível tema que anuncia o Plantão da Globo; o bate-estaca se sobrepõe à trilha e todo mundo sobe em cima das cadeiras e começa a dançar como se não houvesse amanhã, inclusive o gordinho de echarpe feupuda e arco de anteninhas de coração na cabeça, que fazia as vezes de animador de auditório, como se isso fosse necessário. Mesmo sem música ele continuava a dançar, sempre sorrindo e segurando uma placa escrito “silêncio” na altura do tórax, tendo os bastões infláveis entre as pernas. Uma cena digna dos filmes de David Lynch.

Eu poderia continuar por muitos parágrafos, descrevendo em detalhes o momento em que uma apresentação de Power Point contendo frases de auto-ajuda foi projetada ao som de Whitney Houston ainda sã, entoando versos de superação, enquanto o público marcava o ritmo nas palmas; ou de quando um sósia de Tom Cruise em Missão Impossível cortou o salão dando piruetas, quase fazendo stike no garçom que levava uma bandeja de refrigerantes.

Acho que nesse momento fui tomado pela óbvia constatação e fugi, antes que algo mais estranho ainda acontecesse. Foi no hall que dava acesso às escadas de saída que topei com esse Na’vi pós-gripe-suína e não resisti a registrar o encontro. Serve como prova cabal de que esse relato não é fruto da minha imaginação. Não só para vocês como para mim também.

Mini-turnê (novas informações)

qua, 11/08/10
por Bruno Medina |

LOS HERMANOS (assinatura em baixo) JPGAtenção pessoal de Recife: o local do show mudou!

15.OUT : Recife, Centro de Convenções (ingressos: R$60/inteira ou R$30/meia, início das vendas na semana que vem)

16.OUT : Fortaleza, Ceará Music (ingressos para os dois dias de festival: R$350/área vip ou R$150/pista normal, início das vendas no sábado)

17.OUT : Salvador, Concha Acústica (ingressos: R$60/inteira ou R$30/meia, inícío das vendas na semana que vem)

ilustração: julie K.

Então…

qua, 04/08/10
por Bruno Medina |

4…  vamos falar sobre os shows do Los Hermanos?

Pois bem, após um certo suspense – acreditem, essa não era a intenção inicial – podemos, finalmente, confirmar os shows que acontecerão em outubro.

Ao longo dos últimos meses, alguns aspectos da mini-turnê, por assim dizer, assumiram cursos imprevistos, o que gerou contratempos, claro, mas também acabou culminando numa grata surpresa: a adição de mais uma data.

Da minha parte – e acho que falo também pela banda – estamos bastante felizes com essa oportunidade de cair na estrada juntos, tocar nossas músicas e nos divertir, como nos velhos tempos. Os ensaios estão agendados, os equipamentos expostos ao sol para tirar poeira, e uma ideia de set list já pipocando na cabeça. A partir de hoje é contagem regressiva!

LOS HERMANOS – Mini-Turnê 2010

15/10 – RECIFE – Cabanga Iate Clube

16/10 – FORTALEZA – Ceará Music

17/10 – SALVADOR – Concha Acústica

p.s: Não tenho ainda informações sobre a venda dos ingressos, mas, assim que houver detalhes a esse respeito, eu aviso.

(ilustração: www.marcelmelfi.com)

Colheita Feliz (?)

seg, 02/08/10
por Bruno Medina |

colheita-felizA famigerada expressão “inclusão digital”, quando cunhada, costuma remeter de imediato à imagens edificantes, como a de uma criança,  habitante dos cafundós do Brasil, resolvendo sua lição de casa com auxílio da Internet ou, quem sabe, do idoso humilde, tendo a chance de regularizar a aposentadoria de maneira rápida e eficiente nos terminais da Previdência. Mas, como tudo na vida, há também o outro lado da moeda.

Mais precisamente, a face que representa, por exemplo, uma tia minha, mulher de meia-idade que, faz dois anos, não sabia enviar e-mails, e que hoje troca o dia pela noite plantando leguminosas na fazendinha do Orkut. Aposto que o estimado leitor, assim como eu, também conhece histórias parecidas, ou pelo menos ficou sem entender nada quando recebeu de alguém, pela primeira vez, um unicórnio de presente.

Pois, o que a princípio começou como um inofensivo passatempo, nas palavras da minha tia, “uma forma de interagir com as novas amigas e expandir a rede de contatos virtuais”, hoje desperta comentários enviesados dos filhos durante o almoço de domingo. Não só nessa família como em muitas outras, suponho, a fazendinha virou uma praga a ser exterminada. Na ocasião, entre risos nervosos e queixas rebatidas em tom de brincadeira, espocou um episódio que dá ideia da dimensão do problema.

Dizia o marido “traído” pelo aplicativo que a esposa andava acordando no meio da noite para colher abóboras e dar feno aos cavalos. “É vício”, reconheceu minha tia antes que os outros o fizessem. Ela própria admitiu usar uma calculadora para programar a maneira mais dinâmica de aproveitar seu terreno, levando em consideração quantos dias cada muda leva para atingir o ápice.

E não para por aí: confessou que freqüentemente emprega o cartão de crédito na compra de objetos para sua fazendinha (nesse momento alguns queixos caíram em torno da mesa), e que criou uma segunda propriedade, a qual também administra, em nome do próprio cachorro!

Numa breve googada, deparei-me com incontáveis relatos análogos, alguns bem engraçados na verdade, e até com uma lista que descreve em detalhes os sintomas mais comuns dos obcecados pelo jogo. Há também uma comunidade, que funciona como espécie de AA virtual, onde fazendeiros de mentirinha choram pitangas por plantações arruinadas por serões nos empregos, relatam ambições desmedidas de possuir galinhas e porquinhos e até dão dicas de como despistar a implicância dos amigos e parentes.

Curioso é recordar dessa mesma tia, anos atrás, debochando da vizinha, que passava as tarde de sábado enfurnada no bingo, enquanto o marido enchia a cara no bar. Quem te viu, quem te vê… a melhor tirada do almoço, no entanto, foi da minha mãe, que sugeriu ao meu tio comprar um trator velho, meia-dúzia de bezerros e alugar um terreno nos arredores da cidade, pra ver que bicho dá.

Se a habilidade e a dedicação demonstradas no jogo se confirmarem na vida real, vai que até dá pro casal fazer um dinheiro. O problema é que o projeto já foi de cara desacreditado pelos presentes; em uníssono, sentenciaram que o entusiasmo cairia por terra na primeira vez que fosse necessário limpar um curral de verdade.



Formulário de Busca


2000-2015 globo.com Todos os direitos reservados. Política de privacidade