Injeção na testa, vai?
Faz algumas semanas, um encontro corriqueiro nas ruas de Ipanema me deixou com uma pulga atrás da orelha; ao atravessar a mais movimentada avenida do bairro, praticamente trombei de ombros com um colega de escola, que não via há anos. Conversa vai, conversa vem, não houve como deixar de transparecer certa surpresa em revê-lo, sobretudo por saber que há muito havia se estabelecido numa cidade do interior do estado e, desde então, nunca mais ninguém soube dele por essas bandas.
Diante do notório inusitado de sua presença, meu amigo de pré-adolescência resolveu “admitir” o motivo da visita a antiga cidade: a ocasião coincidia com a data agendada para um tratamento de Peeling de Cristais, combinado com Revitalização Facial. Afim de me poupar da necessidade de tecer um comentário espirituoso sobre o assunto, foi logo emendando que, apesar de nunca ter tido a pele boa (na verdade eu não sei de onde ele tirou isso), costumava encontrar no exorbitante preço dos tratamentos estéticos desculpa para não agir em prol da própria aparência.
Tudo, no entanto, mudou, desde quando bateu os olhos na oferta de um site de comprar coletivas, que oferecia o tratamento em questão com 84% de desconto. Nessa mesma ocasião, inclusive, adquiriu 12 frozen yogurts por 1/5 do preço, muito embora ainda não soubesse se conseguiria consumir todos em tempo hábil. Aliás, o papo terminou justo porque ele precisava se dirigir à loja mais próxima e tomar um naquele instante, para cumprir a meta estabelecida.
A partir desse dia, os tais sites invadiram minha vida feito uma avalanche. De repente parece que todo mundo pode se gabar de uma incrível vantagem obtida através do mecanismo de descontos virtuais, o que, convenhamos, é bastante chato. O tema, onipresente em todas as rodas, comprova: a compra coletiva virou uma febre, mas daquelas que nem banho gelado cura! “É simples, eficiente e todo mundo sai ganhando, do cliente ao estabelecimento”, alegam os fervorosos defensores dos cupons.
Mas, como nem tudo que reluz é ouro, decidi tirar a prova e parti em busca de uma oferta para chamar de minha. Apostei minhas fichas num desconto de 50% na compra de uma pizza grande de um restaurante meio besta aqui do Rio. Lá chegando, cuponzinho devidamente impresso e recortado debaixo do braço, qual não foi meu espanto com o espanto do garçom? “Desconto virtual? Cupom? Ô Rodrigues, chega aqui….” e lá se foi minha paz. Após 15 insuportáveis minutos de explicações, telefonemas pra cá e pra lá, o pobre Rodrigues foi instruído a me dar crédito, ainda que sem concordar com a política – digamos – de generosidades praticada pela casa em que trabalha.
“O pessoal inventa essas tranqueiras e não avisa a gente”. Resultado? A pizza de fato custou metade do preço, mas a diferença no valor dos 10%, a que o sujeito deixou de receber, rendeu uma tromba de 1KM e muita má vontade no serviço. Portanto, a dica para os que pretendem investir com tudo no universo dos cupons de descontos virtuais é: nunca descartem a possibilidade de ter que defendê-los com unhas e dentes no local da oferta.
Haja vista o crescimento exponencial desse modelo de negócios, chega-se a inevitável conclusão de que a noção de necessidade é diretamente proporcional ao tamanho do desconto oferecido. Aproveitando o ensejo, se alguém se interessar por uma lavagem completa + polimento cristalizado do carro por R$ 31, estou passando a diante…