Quando o vexame é inevitável
A cada 4 anos, mais ou menos nesta mesma época, é comum ouvir de alguém com quem não se tem muita intimidade a surrada indagação: “e aí, já entrou no espírito da Copa?”. Caso você nem saiba direito o que isso significa, bem, então a resposta é não. Mas, se ao ouvir a pergunta, você puxar do bolso um cornetão, jogar papel picado sobre a própria cabeça e começar a gritar “Brasil!, Brasil!”, fazendo aquele ridículo movimento de polichinelo, pode apostar, o espírito da Copa já pegou você.
Se a descrição soou familiar, não tenha medo ou se envergonhe, é certo que você não vai estar sozinho. A bem da verdade, não faltará quem se aproveite da sazonal forma de “possessão” para deixar a namorada de molho em casa, faltar aulas, voltar bêbado para o trabalho e até chorar que nem bebê, caso o pior aconteça. A fim de evitar as desagradáveis consequências de um comportamento excessivo, segue um guia prático contendo dicas para quem costuma deixar o patriotismo e o amor pelo esporte falarem mais alto.
GUIA PRÁTICO CONTENDO DICAS PARA QUEM COSTUMA DEIXAR O PATRIOTISMO E O AMOR PELO ESPORTE FALAREM MAIS ALTO
Em mês de Copa, assim como no Carnaval, qualquer atitude pouco usual pode e deve ser perdoada. Com ressalvas, é claro. Isso não quer dizer que só porque o mundo para toda vez que há jogo do Brasil virou bagunça. Abaixo, alguma dicas de como se portar nas seguintes situações:
1.1 Se seu chefe não liberar a equipe e disponibilizar um telão na empresa para que os funcionários assistam juntos às partidas, evite:
a) gritar palavrões e chutar divisórias quando gols forem perdidos
b) comemorar um possível gol colocando a blusa na cabeça e sair fazendo aviãozinho
c) beijar a boca das colegas alegando ser “uma coisa de momento”
1.2 Caso seu trabalho seja daqueles que não podem parar nunca e, portanto, não for possível assistir aos jogos, é desaconselhável:
a) fugir do plantão e colocar um boneco de pano no lugar
b) esconder uma TV portátil no banheiro e alegar diarréia
c) fingir que está tendo um ataque epilético para assistir a partida no leito do hospital
1.3 Embora pouco provável, é possível se ver obrigado a permanecer num lugar em que a maioria dos presentes não está interessada em assistir aos jogos da seleção. Nesse caso não é prudente:
a) gritar “fogo! fogo!” para que fujam e você fique sozinho com a TV
b) ameaçar alguém com uma faca, exigindo em troca o controle remoto
c) ameaçar a si próprio com uma faca, exigindo em troca o controle remoto
1.4 Em circunstância de eliminação sumária da seleção brasileira, de maneira vexaminosa e sendo derrotada por um adversário muito mais fraco, é essencial lembrar-se de:
a) não prometer nunca mais torcer pelo Brasil
b) não atirar-se debaixo de um caminhão
c) controlar impulsos homicidas contra os que porventura se valerem do discurso “mas isso é só um jogo de futebol…”
Obs1: Bom, como se faz notar, o guia poderia se estender por tantos itens que mataria de tédio os leitores que não estão nem aí para a Copa. Se alguém pensar num tópico ausente na lista, por favor, publique nos comentários.
Obs2: Para os que se identificaram como possíveis protagonistas dos exemplos acima descritos, não custa imprimir o guia e carrega-lo no bolso, para o caso de emergência. Se as dicas ainda assim não lhes forem suficientes e o vexame for inevitável, há sempre o consolo de que daqui a 4 anos tem mais.