Macaco não paga mico
Calma, eu explico. A frase acima pode não ser mesmo o suprassumo do bom gosto, mas veio parar aqui, no topo deste texto, porque não houve jeito de tirá-la da cabeça. Para os que estranham a opção pela rudimentar metáfora e pensam, “poxa, Bruno, existem provérbios de temática animal bem mais sutis e elaborados do que este”, adianto: tudo fará sentido em breve.
A indesejável imagem que me acompanha desde hoje cedo, de um símio peludo e truculento envolvido em alguma situação embaraçosa, me foi incisivamente sugerida pelo cartaz avistado dentro de uma loja; o título do post, alias, é homônimo desta companhia teatral que, sem maiores rodízios, promete ensinar aos pretensos alunos mecanismos que demovam de suas personalidades quaisquer traços de inibição.
O rosto do mentor do grupo, de quem, presumo, partem os conhecimentos que originaram a referida técnica, adorna todo o espaço do anúncio, não deixando dúvidas quanto à eficiência do serviço oferecido. Afinal, aquele olhar sincero e penetrante emoldurado pela frase, propositadamente ou não, é prova cabal de que o curso forma “macacos” de peso, imunes, de fato, a qualquer modalidade de mico.
Os jovens atores que porventura se submeterem à metodologia já adquirem de cara a desenvoltura para, quando perguntados, dizerem que estudaram na Macaco Não Paga Mico. Muito além de ser considerado peculiar, o nome da companhia é na verdade uma tipo de mantra que relativiza a possibilidade de constrangimentos futuros.
Corta a cena para mim, esgueirado por sobre o balcão da loja para enxergar as pequenas letras que associam a experiência do professor à participações em quadros de pegadinha e a uma ponta no filme “Meu nome não é Johnny”. Naquele instante me veio a certeza: quero ser como esse cara, preciso muito fazer esse curso!
Pois eu, que evito misturar bermuda quadriculada com blusa listrada, que me preocupo em não ser contraditório, que procuro não falar alto para não acordar os vizinhos, que não faço “psiu” para chamar alguém na rua, acabo de transformar a frase “Macaco não paga mico” no meu atual lema de vida.
Gente, sem brincadeira, esse homem é um profeta dos novos tempos. Superou eventuais conflitos éticos e dedos em riste para admitir, na cara de pau, que a maior virtude de seus alunos é ser… cara de pau. Olhem para o entorno e me digam se atualmente esta não é a qualidade mais apreciada no Brasil.
Talento continua sendo importante, mas o bacana mesmo, o que enche as famílias de orgulho, é ter um filho cara de pau. Nesse mundo de câmeras apontadas para todos os lados, em que se elege a futilidade e a trivialidade do cotidiano como objeto de profundo interesse, os “macacos” são a evolução da espécie, e o mico, seu troféu.
Melhor eu correr com a inscrição, porque algo me diz que esse curso tem tudo pra bombar.
Eita.
Atualmente muitas pessoas não se importam em pagar mico,
desde que alcançe seus objetivos.
Nossa,me pegou de surpresa!Boa sorte no curso e,por favor, quando pagar o primeiro mico após a formatura,posta tudo aqui e nos deixa bem informado! Parabéns pela capacidade e talento! Abraço [do cara com quem um dia você se 'zangou']!
A cada dia que passa,você se supera..
Excelente texto,a mais pura realidade:
” os “macacos” são a evolução da espécie, e o mico, seu troféu. ”
Parabéns Bruno!
Carregou no portuga hj heim!
‘Venha ser um Macaco você também!’
Moro em Tokyo e acompanho seus textos
sempre a caminho da labuta dentro de um trem
“entupidoooo” de pessoas… E acabo concordando
que o macaco é nossa evolução e o mico nosso
troféu!! Parabéns Medina!!!
Acho que vc interpretou um pouco mal a frase… “ser macaco” é uma coisa positiva sim, principalmente no teatro. O pior defeito que um ator pode ter é não ser totalmente desprovido de qualquer inibição. Se vc fizer coisas “ridículas” com convicção e sem vergonha, ninguém ri de vc, ri com vc. É a velha história de cair da cadeira na sala de aula e ficar com cara de vergonha do pessoal rindo…
O seu texto fiou altamente irônico mas para um motivo que pelo menos para mim foi totalmente equivocado.
Tô precisando desenvolver (re-apropriar?) meu miciquismo originário. Essa coisa de mineiro tímido sistemático, não tá me rendendo muitos frutos.
O silêncio tornou-se anacrônico.
O combustível da nossa geração é depenação de intimidades.
Espero que vc compratilhe conosco suas experiencias.
Boa sorte, Bruno!
Que macacada hein
Medina poderia me informar o nº do tel. e o endereço.
vleau
Faz sentido. A cara-de-pau a começar pelos chefes dos três poderes, seguido de perto pela maioria da imprensa (e por 100% da imprensa populista), ensinada nos filmes nacionais e nas produções pra TV (especialmente a aberta de grande apelo popular) e que chega até ás salas de aulas públicas e particulares (e não falo dos alunos!), essa cara-de-pau é um item tão valorizado que nos faz pensar que é obrigatório.
Mico?! Mais uma coisa pra pagar nesse país…
INTERNAUTAS!!!
SOU CARA DE PAU, POR ISSO CLIQUEM NO MEU NOME, VISITEM O MEU BLOG E DEIXEM SEU COMENTÁRIO!!!
Sem dúvida é uma bela frase pra ser discutida numa mesa de bar!
Farei isso. Se minha vida mudar, conto aqui.
Quando a locupletação e a mentira
pareciam uma sina
Eis que surge OSMARINA
abs edinho gomes
hj chama atenção quem é normal
=P
https://paodoceblog.blogspot.com/
Muito bom o texto Bruno. Nesses tempos de cultura da \"visibilidade\" vamos naturalizando todo tipo de absurdo, bizarrice, esquecemos que não necessariamente \"vale-tudo\"…
É a primeira vez que estou visitando seu blog. Hoje não foi um dia muito fácil para mim. Mas , Bruno, ler seus textos fez toda diferença. Vc mudou o desfecho do meu dia!! ” Muito prazer em conhece-lo”! Meu Deus, vc é muito bom nisso!! Ganhou mais uma fã. Parabénsssssss pelo talentooooo!!!!
é.! bomZinho o texto;
Bruno, seus textos são incríveis e nos fazem pensar e refletir sobre questões que mesmo incomodando são tomadas como normais, como a regra, não restrinjo só ao Brasil, o mundo em que vivemos e principalmente a mídia dão lugar e voz a estúpidos cara de pau.
Parabéns pelo texto!! Viva os micos!!