When I’m 64
Num dia aprende-se a andar. Num outro, a escrever. A descoberta do primeiro amor, não muito depois, precede a eclosão de espinhas e de sentimentos contraditórios que norteiam a puberdade. Segue-se a formatura na escola, a turma de amigos que são para sempre, a primeira habilitação, o primeiro emprego, os primeiros fios de cabelo branco. E antes que se possa notar você vai estar como eu, domingo à noite numa farmácia, lendo o rótulo de um antisséptico bucal que promete branqueamento eficaz dos dentes.
Pelas próximas quatro semanas serão vários os bochechos diários com a misteriosa substância withening, na esperança de que, conforme consta da bula, amenizem em meu sorriso o efeito natural da passagem dos anos. Aos que se indagam sobre a decisão por este recurso, de resultados pouco palpáveis se confrontado com a eficiência de um tratamento administrado em consultório odontológico, respondo com uma outra pergunta: por que os calvos preferem acreditar em xampús milagrosos a encarar a necessidade de um implante?
Pelo menos dessa aí escapei, eu acho, muito embora meu receio seja o de que a preocupação com a tonalidade dos dentes se estenda ainda aos pés de galinha e ao bigode chinês, cada vez mais nítidos nas fotografias. Se fosse para dar um palpite, arriscaria que a súbita maré de autocrítica tenha algo a ver com a proximidade do meu aniversário; mas não vou me repetir e, como no ano passado, aproveitar a data para discorrer sobre os dilemas a serem enfrentados pelos balzacos, sob o risco de me apontarem sintomas de senilidade precoce.
Se a carapuça não serve a nenhum dos jovens leitores – que neste exato instante caçoam de mim – me restrinjo a dizer (e não é praga de velho) que o dia de vocês não tardará em chegar. Não pensem que questões relativas à cor da dentadura, à careca, à barriga saliente, à celulite, ao peito murcho ou seja lá ao que for, surgirão de maneira acintosa. É assim, num estalo, de uma hora para outra, que o sinal amarelo acende. Pode ser, por exemplo, quando te convidam para um show e você logo quer saber: “é pra ficar de pé ou vai ter lugar pra sentar?”.
A situação acima descrita é tão emblemática que mereceria até ser encaixada no parágrafo inicial. Ali, entre a constatação dos primeiros fios brancos na cabeça e o interesse por métodos de clareamento dos dentes. Já repararam como no Brasil o conceito de “show” voltado para o público jovem dificilmente está associado a uma plateia sentada? Mesmo nas casas de maior porte, onde este tipo de acomodação é viável, os ingressos costumam ser mais caros, dando a entender que se sentar é privilégio, não opção.
Curioso como apenas mencionar este assunto já me causa a impressão de estar defendendo uma coisa muito errada, como se cogitar assistir a uma banda de rock de outra maneira que não no meio da galera fosse heresia, comparável ao ato de tacar pedras na cruz. Pedras na cruz?? Sei não, esse papo tá ficando muito estranho. Se entra aqui alguém que não me conhece vai pensar que tenho mais de 60 anos! O pior é que quando eu tiver essa idade não será improvável que meus dentes estejam mais claros do que são hoje, e que eu assista até TV de pé, só para comprovar a firmeza nas pernas. Mas isto, é claro, não passa de suposição. E como não lembrar da música dos Beatles? Mas será que o Paul, aos 67, corresponde a imagem que ele próprio descreveu, aos 24?
When I’m sixty-four (Paul McCartney & John Lennon)
When I get older, losing my hair,
Many years from now,
Will you still be sending me a Valentine
Birthday greetings, bottle of wine?
If I’d been out till quarter to three
Would you lock the door?
Will you still need me, will you still feed me,
When I’m sixty-four?
oo oo oo oo oo oo oo oooo
You’ll be older too, (ah ah ah ah ah)
And if you say the word,
I could stay with you.
I could be handy, mending a fuse
When your lights have gone
You can knit a sweater by the fireside
Sunday mornings, go for a ride.
Doing the garden, digging the weeds,
Who could ask for more?
Will you still need me, will you still feed me,
When I’m sixty-four?
Every summer we can rent a cottage
In the Isle of Wight, if it’s not too dear
We shall scrimp and save
Grandchildren on your knee:
Vera, Chuck, and Dave
Send me a postcard, drop me a line,
Stating point of view
Indicate precisely what you mean to say
Yours sincerely, Wasting Away.
Give me your answer, fill in a form
Mine for evermore
Will you still need me, will you still feed me,
When I’m sixty-four?
não mesmo! paul tinha a ideia do amor ideal, perfieto. vale le,mbrar que em 1967 eles, os beatles, tinham uma visao romantica do que vivemos hoje. e quando paul fez 64, ele nao envelheceu com seu amor, no caso, a linda mccartney…
mas… nao deixa de ser uma das musicas mais gostosas de ouvir.
ah sim!, ia me esquecendo. quando eu tiver meus 64, vou ouvir beatles com mais nostalgia do que ouço um deep purple e me lembro dos porres de vinho quando tinha 15 anos. vou ouvir a muisca e nao o ela que me fez. penso assim… rs
Olá, Bruno. Me pergunto agora o porquê dos velhos sempre recordarem o passado com nostalgia e maldizerem o presente em quase todos os aspectos. De qualquer modo, peço que compartilhe suas visitas com outros bloggeiros também bastante aplicados:
https://www.blogdeclaudiomedeiros.blogspot.com
até breve.
Aiii o medo de envelhecer aumentou agora 50% depois do que li.Mas estou aprendendo a lidar com a idade que chega tooooodo ano sem dó nem piedade, Graças a Deus!!
Adorei muito o texto Bruno,
Exelente, parabes!!
Muito bom. Adoro essa música também!
Como em Help:”When I was younger, so much younger than today, I never need anybody´s help in any way”. É, parece mesmo que envelhecer com dignidade é um grande desafio. Parece que o segredo está no Marketing: reforçar os pontos fortes (sabedoria, credibilidade, estabilidade emocional, etc.) e disfarçar os pontos fracos. Quais são mesmo?
Bruno … perfeito o post ….
Sempre penso nisso, estou com 27 e as vezes me pego agindo como um cinquentenário.
A verdade é que o que importa é quem somos por dentro … pois independente do relacionamento que tiver no futuro, o que vai ficar será a amizade … e aquele bom papo..
Mui-to-bom!
Cara, ri muito ao ler sobre “é pra ficar de pé ou vai ter lugar pra sentar?”… Exatamente por ser o tipo de pergunta, que eu, nos meus 28 anos já me faço.
Me nego a ir em festas em lugares cheios e sem lugar pra sentar… E, sinto meeeeeeeeeesmo os sinais (precoces?!?) da velhice! Sim… me sinto velho!
Mas olha, meu querido Bruno, quanto mais velho você fica, melhores os textos são!
Um abraço!
Ah… eu nunca fiz isso, mas vou fazer agora: QUANDO VOLTA O LOS HERMANOS?
Resumir textos numa frase é sempre um problema… mas não posso resistir à tentação nesse momento. “É assim, num estalo, de uma hora para outra, que o sinal amarelo acende.” Isso pode até não se dar no dia em que você faz trinta, mas passa perto. Seja biológico ou social, o fato é que não há escapatória. Vou me juntar a você no sentimento Balzaco, Bruno, e aos demais amigos de agosto de 78.
Forte abraço.
…as vezes acho que envelheci antes do tempo, tenho 21 anos e penso que estou ficando velho, por vários motivos que nem se cabe destacar. Mas seu texto é muito bom, me imaginei num domingo lendo o rótulo de um antisséptico bucal. =))
Todos nos envelhecemos isso é e sempre será a ordem natural das coisas, porem cabe a nós sabermos como lidar com essa situação. Podemos tentar reembranquecer os dentes, tentar deixar os fios de cabelo com a cor natural deles usando uma titura qualquer ou simplesmente ver que o tempo passou por nós e deixou marcas, lembranças, lições que jamais vamos esquecer.
Quando tinha meus 14 anos, tinha uma brincadeira em que eu colocava com quantos anos eu iria casar… lembro-me que a idade era 22, e eu me imaginava, casada e tendo filhos com 25 no máximo… também me imaginava cuidando de uma casa, trabalhando e que com essa idade já teria definido totalmente a minha vida. Hoje, tenho 24 anos e não penso em me casar tão cedo, quanto mais ter filhos, ainda não sei o que quero da vida, ainda não defini totalmente o meu caminho, ainda não cuido de uma casa (meu cuido do meu quarto)…. será que não realizei meus sonhos? Não, apenas não sabia que as estações passam, lógico que eu amadureço, mas é tudo tão rápido que ainda parece ontem… Como estarei com 64??? Nem consigo imaginar!
Não tenho medo da velhice…
acho que o espirito nunca envelhece…
Os Beatles por exemplo nunca irão envelhecer,as musicas estão vivas até hoje,como se os beatles nunca estivessem envelhecido,eu memo tenho 16 anos e curto pra caramba Yesterday e outras músicas cantadas por eles…
Só existem dois caminhos: envelhecer ou morrer. Então…
Das fases da vida, já passei pelos convites para festas de 15 anos, formaturas de colégio, voltas de primeiros carros, festas de faculdade… Hoje pipocam convites para colações de grau e volta e meia fico sabendo de algum casamento ou nascimento de primeiro filho.
Daqui a pouco vêm os divórcios…
hehehe… tenho 26 e os Branquinhos também já estão aparecendo. Mas não liga não Bruno, impossível envelhecer sem algumas neuras. Só tem que ficar atento pra não virarem obsessões!!
E acho que se o Paul soubesse como ele estaria aos 64 a música seria deveras melancólica.
lindo o texto! é, o tempo passa num piscar de olhos. só nos resta aproveitá-lo ao máximo! pra aos 64 ter muuita história pra contar.
Bruno, eu amei esse texto e me identifico com vários dos pontos relatados. Apesar de ser jovem, me considero uma “old soul”. Não gosto de vários programas de pessoas da minha idade, prefiro situações mais calmas e que me dizem mais respeito do que muvucas movimentadas. O sinal amarelo, para mim, já está aceso.
Quando envelhecer, quero ser um velho anônimo,
daqueles que ninguém sabe de onde veio,
ninguém sabe pra onde vai.
Quero cuidar dos meus, até que só sobre eu.
Quero ser daqueles que ficam só observando,
um galho balançando,
que um dia cai…
Semper Fidelis!
A arte de envelhecer espanta até os menos encanados, as difiiculdades físicas são compensadas com o progresso intelectual, tslvez isso conforte os futuros velinhos!
Senti-me, eu a escrever tanto o texto quanto a letra da música.
O autor aborda com precisão absoluta, quase todos os fatos pelos quais passaram e alguns ainda passarão, aqueles com mais de 60.
E mais, teve a sensibilidade e a delicadeza de não tocar naquele que mais nos toca, o qual deixo à imaginação de cada um. É claro que é tão óbvio quanto 2+2…
Parabéns pela forma como abordou o assunto.
é.. infelizmente não é bem assim mesmo.. até pq ninguem espera ir para uma casa de repouso, mas também ninguem quer dar trabalho aos filhos… então um \"pé de meia\" já é necessário…. economizem.. mas só o suficiente
abraços
Medina,
Você tb precisa levar em conta, como foi o envelhecer dos seus familiares. Os meus foram ótimos.Minha avó, morreu gorduchinha,mas com uma cinturinha! Toda durinha.Tomará que eu seja como ela.Boa sorte para você tb!!!!
Aposto que vc vai ficar um sessentão inteiro.Mas…cuidado com a cálvice rs rs
Beijo
Gostaria de parabenizar esse autor que coloca de uma forma crítica o passar dos anos, as acomodações que dele sucedem na vida, mas na minha opinião devemos viver a vida de forma que possamos olhar para tráz um dia e não ter vergonha das nossas ações, mesmo que para isso sacrificamos agora alguns desejos, estou no alge dos meus 21 anos, como todos pensam com todo gás, porém a verdade não é essa. Conheço muitas pessoas que se recusam como eu a frequêntar lugares aglomerados de pessoas, pois alegam já saber o que irão encontrar lá!!!
Mesmo o ser humano sendo um ser sociálvel, ambientes com um pouco mais de organização “onde possamos sentar, como enfatiza o texto”, é um lugar bem convidativo!!!!
O Sr. Tempo é um processo de aprendizado, de “polimento”.Quem tem essa consciência trata o tempo como aliado. (Luciano Pires)
Bruno, você escreveu “O velho e o moço” do Los Hermanos? Deveria, mas não o fez. O seu companheiro, Amarante tem razão quando diz:
“E se eu fosse o primeiro a voltar
Pra mudar o que eu fiz
Quem então agora eu seria?”
Quem seríamos nós sem os efeitos do tempo, sem a sabedoria que nos outorga?
Bem, eu só tenho 25 anos. Pode ser ruim como pode ser bom envelhecer. Permita-me um clichê:
O importante é ser feliz.
Amigo Bruno, é fascinamente como seus pensamentos são colocados em simples momentos, que seja na compra de um clareador para os dentes.
Estou próximo a completar mais um ano de vida no próximo dia 31 e ontem, antes de ler este post identifiquei muito toda esta percepção de passagem da juventude na letra de ” O velho e o moço” do Los.
Creio que você conheça bem ela e sabe que muito de tudo que foi escrito neste post tem um pouco de pensamentos de velhos e moços… Um grande abraço!
Rodolpho
Adorei o texto e forma como voce relata os fatos…na vida fazemos tantos planos… a idade vai passando e vc nem percebe que passou…qd se ver ja esta com cabelos brancos e rugas no rosto. Para que planos tao longos ja que sua opiniao vai mudar em alguns dias… Temos que aprender fazer planos para o dia de hoje e aproveitando cada momento intensamente. FAZER VIVER VALER APENA E ENVELHECER COM ALEGRIA…
Eu concordo com tudo..
Só acho que as pessoas mais velhas devem párar de dirigir carro, pois a grade maioria faz coisas erradas no transito…
Há muito tempo, eu não escutava a frase: Oi Tia!
Sentia falta, até que esqueci.
Um belo dia, um rapaz com um sorriso Colgate, muito simpático, gritou: Oi Tia! ele logo em seguida pediu desculpas várias vezes.
E eu somente respondi com um sorriso não branco: Pois não meu filho?
Ele sorriu, pediu uma informação, lhe respondi, e mais uma vez ele pediu desculpa. e eu lhe disse você me fez feliz somente com esta frase. Muito Obrigada.
Se envelhecer é isto então eu sou feliz.
E a este rapaz anônimo, do Centro de São Paulo mais um vez
Obrigado.
Curioso foi ter começado a sentir algumas destas sensações há pouquissímos anos atrás, quando completei os dezoito anos, e vi que na junta do alistamento militar, não havia bancos.
Sentar é luxo, ficar em pé se torna a opção.
Realmente… saí de Fortaleza pra São Paulo pra ver vocês, o Kraftwerk e o Radiohead e apesar de terem sido sensacionais os shows me senti extremamente entristecido por imaginar que nunca poderia assistir um show de rock sem que eu tenha que terminar o show fedendo a sovaco e maconha. É, parece mesmo coisa de velho mas sinceramente não iria a um show nem do Los Hermanos e nem do Radiohead se fosse pra passar tamanho sufoco novamente, como tem sido comum em espetáculos do gênero e com lotação esgota. Acho que nem pra ver os Beatles eu faria tal coisa de novo (mentira, pra ver os Beatles eu iria… Hermanos e Radiohead também!). O que fica mesmo é a sensação de que tudo é consequência apenas do intuito em se ganhar mais e gastar menos, afinal campos de futebol não faltam no país.
Fica a sugestão: você poderia escrever uma das suas experiências em shows como músico e como platéia.
P.S. E sobre envelhecer ou fazer coisas de velho… sei lá me sinto assim as vezes. Mas não preocupo mais com isso já que tudo que hoje é “up” vai ser cafona (que palavra cafona!) um dia mesmo. É só esperar pra ver.
Uma boa alternativa?! Acesse https://www.marcosapenedoamaral.blogspot e assista ao vídeo! Simplesmente genial assim como verdadeiro é o seu texto!
Abraço e obrigado, Marcos
Adorei o texto!
Todo mundo envelhece né?! Vai de você como e quando isso começa a acontecer, pois muitos textos aqui dizem que ja se sentem velhos na casa dos 20.
Tenho 19 e pretendo seguir a ordem biológica das coisas e respeitar todas as limitações que vão chegando, sem deixar de fazer o possível para retarda-las confesso: exercicío, estudo, alimentação e ate um braquiador de dentes…rs
Claro que é inevitável pensar como serei de cabelos brancos, e as rugas nas mãos, mas espero que eu compense todas essas coisas com sabedoria, amigos de longa data, uma bela família e disposição para sempre fazer algo novo!!! Como diz outro grande músico : ” É bom olhar pra traz e admirar a vida que soubemos fazer…”
Muito bom o texto. Sou jovem agora mais já posso prever quais serão os meus sintomas. Já na juventude posso ver os primeiros fios brancos e sentir o mal-humor agudo.
A idade chega inevitavelmente, salvem as crianças da televisão e internet.
O tempo passa , mas é simples.
Naturalmente viveremos este tempo ( velhice). Não tem mistério, nem para onde fugir.
Parabéns pelo texto.
Sòmente um recadinho par aalguem da Web, os idosos podem até serem mais lentos no transito, mas o maior índice de acidentes quem ´se encontra no volante , maioria jovens.
Também lembrei da “O velho e o moço”, mas provavelmente me lembraria dela em qualquer outra discussão sobre envelhecer. Várias vezes me disse “nostálgica de um tempo que não vivi”, e sei que outras pessoas também o são. Além disso, a velhice sempre me intrigou; cresci no meio deles, o que implicava que eu também fosse a alguns velórios desde criança. O que importa é que, como algumas coisas na vida, essas vivências ficaram impressas em mim e hoje trabalho com gerontologia. E, assim como os todos os demais amores, muitas vezes me pego pensando e repensando em como é ficar velho (fazemos isso com a mesma frequencia com que respiramos e nem sempre nos damos conta porque, como você disse, o amarelo dos dentes é súbito!). E depois disso, pra onde ir…? Talvez seja o destino final de nossa consciência, a síntese de nossa vida.
E olha que, hoje em dia, 64 não é nada – mas pelo menos permite que tenhamos assentos preferenciais nos ônibus, assim não precisamos ficar em pé.