Flip-Vapt-Vupt
Acabo de regressar de minha primeira incursão à FLiP. Embora pareça estranho deixar Paraty no segundo dia do evento, justo enquanto o fluxo de visitantes que chegam à cidade só faz aumentar, a sensação não é de todo inédita; a razão de minha breve passagem pelo lugar foi acompanhar a Adriana no show de abertura da feira, e isto costuma implicar aos músicos partirem antes de usufruir do melhor da festa. Ossos do ofício.
Infelizmente o cronograma apertado não previa tempo para assistir a qualquer palestra, ou me deixar extasiar pela deslumbrante arquitetura colonial do simpático balneário. Mesmo assim, aproveitei uma brecha entre os compromissos para me sentar num banco da praça e imaginar aquilo ali séculos antes, sem livros pendurados por barbantes nas copas das árvores, sem o zum zum zum dos leitores peregrinos, sem o trombar acidental de grandes escritores pelas esquinas. A FLiP é mais ou menos isso, uma Disneylândia para os amantes da literatura.
Após quatro horas de curvas e saculejo, pisei no calçado irregular do centro histórico como um beduíno que vislumbra o oásis no horizonte. Antes de “matar a sede”, recebi a informação de que, por motivos operacionais, seria alojado em outra pousada. Notícias como esta, em turnês, não raro são presságio de banhos frios, dores na coluna e lençóis ásperos. Neste caso, no entanto, a mudança era de burro para cavalo: troquei um hotelzinho modesto, na parte nova da cidade, por um tradicional e luxuoso casarão do século XVIII.
Como se isto já não fosse suficiente para alegrar minha tarde, me convidaram para um almoço que acontecia logo ali perto. Sendo sincero, mesmo que servissem sopa de tijolo eu estaria dentro, tamanha a fome de quem tem por hábito acordar às seis da matina (filho pequeno) e não havia almoçado ainda, às três da tarde. Para minha surpresa, em torno das mesas de madeira rústica, estavam as grandes estrelas da festa; Edna O´Brien, Richard Dawkins e Alex Ross são apenas alguns dos que pude reconhecer no pátio do Sobrado Dom João, confortável propriedade instalada no melhor ponto de Paraty, pertencente à família real, nossos anfitriões.
Para quem contava em pedir uma comidinha no quarto, não deixou de ser uma agradável surpresa entrar na fila do bobó de camarão bem atrás do Milton Hatoum. Durante este almoço percebi que, devido a um provável equívoco da produção, havia sido hospedado, sozinho, na melhor pousada da cidade, dividindo corredores com a fina nata da literatura internacional. No dia seguinte a confirmação veio através da presença de um engravatado Gay Talese no café da manhã, se servindo de salada de frutas ao meu lado no bufê.
Depois da comilança passamos o som, bebemos cachaça e demos uma volta pelo perímetro do centro, o que não leva mais do que vinte minutos. A cachaça, aliás, que possui tanta afinidade com o ato de escrever livros (?), é um dos atrativos de Paraty, a ponto do nome da cidade ter sido eternizado por Assis Valente como sinônimo da bebida, nos versos de Camisa Listrada (1938). A fama de possuir alambiques de qualidade, por tradição, atrai os bons bebedores, e os maus também, ao que pude constatar pelo gringo caído dentro de um arbusto, com uma garrafa na mão. Coitado, deve ter pensado que os livros pendurados nas árvores estavam flutuando…
À noite nos apresentamos, possivelmente, para todas as pessoas que conhecemos nas horas anteriores, inclusive para os bêbados que estavam acordados e para os vira-latas vadios que perambulam pelos estandes, alheios aquele burburinho todo. Na FLiP, é assim. Parti com muita vontade de retornar no ano que vem. Mesmo sem direito a almoços estrelares e pousadas luxuosas, mesmo tendo ido embora antes do início, valeu muito a pena! Em edições vindouras, caso você tenha a oportunidade de ir, não pense duas vezes. Afinal, em que outro lugar do mundo é possível conhecer cachorros que frequentam eventos literários?
Excelente crônica! Haha, deu até vontade de ir a Flip.
Já tá na hora de editar um apanhado hein Medina. Quem sabe ano que vem não estamos lá vendo um lançamento seu…
Vo-cê fi-cou ao la-do do Gay Ta-le-se?
Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhh…
Esse cara, com todo o respeito, manda muito, mas muito bem!!!
Beijocas “cultas”
Boa tarde Bruno!
Sinta-se privilegiado pela oportunidade de ter vivenciado um tempo desse clima literário.
Ano que vem quem sabe poderei ter essa oportunidade.
Poxa Bruno, você devia ter puxado um papinho com essa turminha! Abraço!
Já não bastasse minha vontade de ir a Flip você ainda me vem com um diário de bordo desses? Que delícia, e que inveja (das boas). Paraty já parece ser o cenário perfeito para quem gosta de história, na Flip então deve ser como respirar literatura, descobrir um mundo de histórias e possibilidades!
Cara… pegue uns contos seus (que ja li) e bote num livro e venda…eu compro.
Realmente Paraty é imperdível, ainda mais em época de Flip. Pena não encontrar “o cara”, Chico Buarque… Mas valeu os cachorros amantes da boa literatura.
Quanto privilégio, hein, Bruno???
Eu ainda vou na Flip. Acho a proposta por trás do evento excelente!
Boa Noite!
Adoro a Flip e este ano não pude ir, e que saudade me deu com esta narrativa…
Fiquei encantada de como vc escreve bem; quem sabe algum dia não estará em Parati como um ótimo escritor tb.
Saudações
Rosana Viegas
Muito bom,começando pelo título [é sempre bom e divertido esses seus trocadilhos].Abraço.
Medina,
Talvez se não estive acontecendo a Flip, vc n aguentasse Paraty rs rs
Mas com a cidade em festa, burburinhos, livros, escritores circulando, e etc…deve ter sido fácil.
Bjo
Nossa, estou longe do FLIP, mas quero muito um dia ir conferir!
bjs
;**
É um evento que pretendo ir logo!
Pena que é só uma vez por ano…
Vou tentar me programar pro ano que vem. Este ano, o evento foi datado no final do período da faculdade, ou seja, mil trabalhos e apresentações… Uma pena! Mas super bacana teu relato. E ainda com ótimas acomodações e comidinhas, o que pra mim, em viagens, é a melhor parte!
Ah! Cachorros privilegiados! ,D
Ô Medina !!!! Los Hermanos mudou a minha vida. O modo como vocês compunham arranjos, como quem pinta um quadro, captando com exatidão a o sentimento de cada música. Vocês são Doutores em trabalhar com o subjetivo!
Bruno, desde a minha primeira flip eu sempre falei que era um parque de diversões para os amantes da literatura! É incrível a festa em todos os aspectos. O show de vocês foi ótimo, a adriana sempre linda e imperdível!
Agora, agradeça a produção por ter colocado vc neste hotel hein! As palestras foram geniais, Richard Dawkins é O cara, vc na msm fila do Gay Talese e do Hatoum, que emoção.
Eu passei por essas emoções tb, quando fiquei frente a frente com o Chico Buarque, e num momento que estava na fila da livraria para pagar e o Francis Hime e Olivia Hime atrás de mim, mas estava mudo, só emocionado!
Volte o ano que vem, não irá se arrepender!
abraço
Escrevendo cada vez melhor!!!!
Vou à Flip desde 2006. Vale a pena ir todos os anos.
Passei uma virada do ano em Paraty e me apaixonei pelo centro histórico. E por que não falar em cachaça, não é? Quem sabe vou a um FLiP.
Grande abraço, Bruno.
Sou teu fã e fã de Los Hermanos.
Dia 19 estarei no show do teu (ex) vocalista aqui em Porto Alegre.
Olá Bruno!
Minha surpresa foi dar de cara com você no show da Adriana, eu para minha amiga: Aquele não é o Bruno?
Paraty em tempos de FLIP para mim foi surreal, pessoas de todos os tipos, a praça cheia de crianças, autores consagrados pela mídia, outros pelo povo… todos celebrando a literatura.
Algo realmente lindo de se ver!
Voltarei nos próximos anos, para aqueles que não foram, acho que a Festa entra para a lista das coisas “obrigatórias” de se conhecer!
Ah, sim…lá tudo fica ‘literarizado’.. até os cães…
Mas se quiser encontrar animais intelectualizados, dê um giro pelos corredores da FFLCH-USP. (ah, me refiro aos cães e gatos, e não aos alunos, viu!)
Adorroooo eventos literários!
Amooo cachorros!
Combinação perfeita..Será que no proximo Flip os cachorros vão dá passadinha por lá novamente?? hehehe.
P.S.: Bruno acabei de ler todos os post do instante anterior.(Adorei) Que pena que só conheci agora : (
Só reforçando os outros comentário.. Já tá na hora de escrever seu livro ne??!!
EITA! E sua carinha nem era tão animada assim (rs)
Eu estava no show e quando vi você ali no declado fiquei meio passada, com sua carinha discreta e seu “comportamento comportado”. Foi uma ótima surpresa ter você de brinde nesse show.
Fiquei meio passada por ver você na minha frente, alguém que eu leio com frequência e que comento, alí logo na minha frente parecendo TÃO acessível. Um pouco chocante pra mim.
Espero que você volte sim no ano que vem.
Um abraço
LC
Quem sabe num próximo vc não faz igual ao CHICO BUARQUE e, ao invés de ficar no palco tocando dê autógrafos?
Tu escreve muito bem!
OI Bruno !!! hehehe ótimo texto sobre sua aventura na Flip, mas gostaria de saber se vc gostou tmb da \"Flirp\" rsss, Feira do Livro de Ribeirão Preto, considerando que ela é a segunda maior do Brasil e é organizada por uma cidade sem tradição literária, não tenho parametros para compara-lá com a Flip. se puder me escreva !!!! Abraço
obs: estive no show da Adriana em Ribeirão !
Nossa! Lê-lo foi tão maravilhoso que cheguei a me sentir andando pelas ruas de pedras disformes de lá. E sobre os andarilhos cachorros durante a Flip vamos combinar que só no Brasil eles são aos monts, aos tantos e abandonados assim não é? Sugiro a vc algo sobre esses bichanos sofredores ( ou não) que vagam por aí. Beijos. Beijos
Adorei a foto! De quem é?
Abraços da mineira de Valadares que reside em Belô.
Lua.