Amores Urgentes
Amanda e Rogério são namorados que nunca se encontraram pessoalmente. Ela, nascida e criada em Dourados, Mato Grosso do Sul, ele, capixaba de origem, mas transferido para São Luís a mando da empresa em que trabalha. Há 3 meses os dois se conheceram numa comunidade virtual dedicada ao filme Crepúsculo. Costumavam se digladiar quanto à adaptação cinematográfica da série – ela a favor, ele contra – quando, numa quinta-feira de março, perceberam que tinham mais em comum do que o gosto pela saga de Bella Swan.
Daí em diante as mensagens, trocadas com cada vez maior assiduidade, quase nunca diziam respeito ao sombrio universo dos vampiros, e sim sobre todo o resto que queriam saber um do outro. Apesar da curiosidade, resistiram o quanto puderam à trocar fotos, talvez por considerarem que isto implicaria em risco para a recém-iniciada relação. Durante as duas primeiras semanas contentaram-se em associar as informações que obtinham aos diminutos retratos que constavam do perfil de cada um, conscientes de que, assim, evitariam pular etapas.
As conversas, à altura diárias, passaram então a ser por telefone. Toda noite, precisamente no mesmo horário, Rogério utilizava um software que permite ligações via internet para burlar as enormes despesas que teriam com interurbanos. A deixa era esperar pelo fim da novela, para que os pais de Amanda saíssem da sala e a menina desfrutasse de alguma privacidade. Tão logo os créditos de encerramento subiam pela tela da TV seu coração vinha à boca, na iminência de ouvir o toque do aparelho.
Um dia brincavam que eles próprios pareciam vampiros, por passarem as madrugadas em claro, e a descontração daquele momento, quem sabe o excesso de sono, os encorajou a se conhecerem melhor. Adicionaram-se como amigos no site de relacionamento que os uniu e tiveram acesso simultâneo aos álbuns fotográficos. Naquele sábado, pouco antes do amanhecer, foram dormir namorados.
O mês seguinte passou voando, enquanto afinidades e intimidades afloravam entre os dois. Rogério consultava a agenda, fazia contas, mas era certo que antes das férias não conseguiria visitar Amanda. Chegaram a cogitar que ela fosse ao Maranhão, mas o elevado preço das passagens e a desconfiança do pai frustrariam qualquer iniciativa neste sentido. Secretamente, no entanto, não furtavam-se em tecer planos mais ousados; bastaria ao casal transferências no emprego e na faculdade para que realizassem o sonho de conviver na cidade que escolheram como cenário desta história de amor: São Paulo.
De volta à realidade, foi do rapaz a ideia de amenizar a vontade de estarem juntos através de uma webcam. Escolheu o artefato numa loja virtual e, sem avisar, mandou que entregassem no endereço da amada, como presente deste que seria o primeiro dia dos namorados a comemorarem juntos. Quando a caixa chegou pelo correio, Amanda suou frio e quase não conseguiu conectar o cabo na parte de trás do computador, de tanto que suas mãos tremiam. A instalação foi assistida passo a passo por celular, até que a imagem do dorso da moça debruçado sobre a bancada interrompesse de maneira abrupta a ligação. Estavam, enfim, frente a frente.
Pelas próximas 17 horas mantiveram-se conectados, e nem as eventuais falhas na transmissão do vídeo diminuíram o entusiasmo de descobrirem os detalhes, até então inéditos, de suas fisionomias. Almoçaram e jantaram diante da câmera, até saberem de cor todos os objetos do quarto alheio, todos os sons que vinham da rua e todas as expressões faciais passíveis de serem captadas por aquelas lentes. Rogério apresentou Amanda a um colega que, como fez questão de frisar, havia muito ouvido falar dela. Apesar da recusa inicial, o sogro também apareceu para conhecê-lo. Meio sem jeito, conversaram brevemente sobre futebol.
Aos poucos o ritmo alucinante das conversas iniciais cedeu lugar à contemplação. O que tinham criado ali era, de fato, uma janela escancarada para a vida um do outro. “Esse silêncio, né? É fogo…” , costumava dizer, encabulada, a moça quando o assunto lhes faltava. E a câmera, enviada com boa antecedência por Rogério, devido ao receio de que a encomenda não chegasse a tempo, ironicamente estará desligada neste dia 12. É que o namoro não resistiu aos tais silêncios.
E se nao fosse a silêncio através da web cam, teria sido a falta dele.
Nao adianta. Nada nesse mundo substitui a sensaçao de se ter a presença física.
É ou nao é?
Virtualmente ou não, é sempre assim…
(SACO!)
Olá Medina!
Muito bom o post!
Apesar dos pesares para o casal citado acima, conheço alguns relacionamentos que deram certo pela internet, inclusive o meu!
Não que tenhamos nos conhecidos “online”, mas a web deu uma grande força!
Parabéns pelo trabalho!
Um abraço,
Fernando Amaral
Nossa, que triste.
Olá, Bruno!
Sou seu leitor nem de quando e fã confesso de seus escritos. Esse, ficou fantástico.
Nem que fosse pura ficção ficaria tão perfeito.
ironicamente…
ótimo texto!
parabéns.
Poxa, que final dramático
Poderia ter sido continuado no proximo post para alimentar o clima de dia dos namorados!
A história é linda… pena que acabou. A minha se parece um pouco com o início da história deles, a diferença é que não teve webcam e que os telefonemas viraram algo mais sério: vamos nos casar
Abraços
Não sei porque, mas eu já tava esperando um final nada-feliz…
Parabens… mais uma vez o senhor mostrou sua enorme criatividade em escrever…
O texto foi muito bem escrito, mas é tragico.
É triste isso… mas também, passar 17 horas frente a frente falando sem parar é praticamente impossível, não há como não ter momentos de silêncio…
Criativo… mas extremamente Hetero! =/
Não achei nada triste, melancolico, talvez, mas bem sutil. Alias,
adoro essa sua forma sutil de ser melancolico, sem ser meloso.
lindo texto, adorei! ja namorei um catarinense, assim, conheci no orkut e vivemos seis meses d um namoro intenso e maravilhoso, sinto falta até hj e ele tb, pena as interperies da vida terem nos afastado.
Olá Bruno!
Muito interessante o post.
Retratou bem a realidade de pessoas, que como eu, vivem relacionamentos a distância.
O silêncio é importante nas relações, através dele preservamos a nossa individualidade, mas em histórias como a que criaste e a que eu vivo ele parece ser mais que isso…é como se o fato não haver uma presença real na vida do outro tornasse cada vez mais evidente a idéia de que o se sente não pode ser concretizar fisica e nem psicologicamente.
O silêncio aumenta a distância e destrói as espectativas criadas no começo.
Pena q o final foi triste.
Eu continuarei namorando nos dias dos namorados(espero), mas estou no momento a procura de respostas para as lacunas que deixamos se criarem através da virtualização de algo que não pode nunca deixar de ser real.
Triste pensar no término… mas assim é a vida, cheia de términos e recomeços. De qualquer forma, tudo é lembrança. As pessoas ficam juntas enquanto estão em um “lugar” comum. Mas a vida passa, coisas acontecem. Algumas pessoas crescem, outras não. E, se crescerem em direções diferentes, acabam por sair daquele “lugar” que os mantinha unidos. Nem todo término é trágico. E nem deveria ser. Esquecendo as mágoas e curando a saudade, o que fica são as lembranças. E o sorriso no rosto quando num dia qualquer elas cruzarem a mente.
Pô, crueldade, srsrsr…
….mas há muitas pessoas por ai se aproximando através de internet.
…isso la é bom, doce solidão.
UAU. Chave de ouro fechando a história da vida real (?
A dor de um amor ‘virtual’ pode ser ainda maior uma vez que sim, creio que o sentimento exista, no entanto concordo que não há coisa melhor do que o pele a pele.. e a saudade , na minha opinião é o pior sentimento …se mesclado com a falta de toque..eu acho que o coração nao aguenta e a “transmissao cai” =/
Poxa, Bruno, não são todos os relacionamentos virtuais que não dão certo. Conheço casos que deram certo. Mas, é um texto um tanto estranho para celebrar o Dia dos Namorados.
Nada a ver com o post. Mas na home do G1, o link para o seu blog está quebrado.
o que mata esses silêncios são as faltas dos beijos que normalmente acontecem quando se está presente.
adorei!
Lauro e Vanessa
Anderson e Mila
Kita e Arthur.
Tudo casado já.
Ou seja, nçao encarem o texto como uma máxima.
Olá!
Acredito que para julgar é necessário entender, e eu não consigo entender relacionamentos pela internet. Namoros virtuais, na minha percepção, não passam de uma brincadeira, um Sims versão romântica.
Eles terminaram por que Rogério era gago, fanho e tinha cacoete. Amanda terminou logo, desprezando-o enquanto a distância a protegia de ter seu mau hálito e deus pés gelados descobertos.
No virtual tudo pode ser o que quiser, mas e quando isso vem ao mundo real? Quem é que sai da impressora?
a vida e cheia de altos e baixos, as coisas nem sempre sao como esperamos… ja tive uma historia parecida com a da Amanda.
eu sempre leio o seu blog e muito bom, apesar de so agora colocar um comentario.
Que triste!!!
O amor exige tempo, feição, mãos, voz, calor …
Quanto mais moroso é o tempo de construí-lo, melhor fica.
Sejamos lentos. A cadência que pulsa o peito diminui com a idade, e a isso chamamos : maturidade.
Beijo, Bruno !
Oi Bruno,
Essa história é semelhante a minha, inclusive o fim.
O que a internet não faz…
Quem nunca viveu não conseguiria esboçar com precisão o que é um amor nessas circunstâncias.
Eu conheci a garota perfeita para mim, e perdi por erros meus.
Abraço.
tao urgente q passou
Muito bom o texto!
Parabéns, digno de se ler e não conseguir parar.
Venho mais aqui agora.
beijos
Posso dizer que me vejo vivendo o que se conta nessa historia..namoro pela internet a 4 anos e eu e meu namorado acreditamos um no outro..levamos a serio esse tipo de relacionamento..o que nos separa nesse momento é um tratamento de cancer nele,que esta no exterior..é triste e tudo mais..mas a vida é assim..a gente so segue em frente com tem algum motivo pra acreditar.
Me senti entusiasmada, tal qual o casal, enquanto lia…
Essas paixões podem não durar o tempo que gostaríamos que durassem, mas são tão gostosas de serem vividas, valem a pena mesmo se acabando em silêncios… Voltarei mais vezes!
mto bom o texto. Final inesperado… acho que não.
Estou surpreso com a qualidade dos textos apresentados. Parabenizo-o.
Abraços e volto mais vezes!
Muito bom!
conhecendo hoje seu blog e já encantada.
parabéns pelo texto.
um beijo
Olá Bruno
Linda história… digna do dia dos namorados!!! Transcreve bem o inicio de um namoro.. as dúvidas.. a curiosidade.. o medo e o sentimento que toma conta de tudo e nos faz parecer criança… Parabéns.. como sempre boas histórias!
Adoro seu blog!!
Um ótimo fds pra vc!!!
bjinhos
Bem…. Sem nem o que comentar sobre esse texto. Eu quase me emocionei. hauahuahaua Sério!! me fez lembra de muito entusiasmo que já tive por amizades que criei na internet. Nunca arrumei uma namorada na internet, mas se arrumasse seria idêntico a essa história. POST SIMPLESMENTE SURPREENDENTE!!!!!!!!!!!
Internet serve para muita coisa, mas não para cupido.
Muito criativa, tua história.
abraço
por que as coisas são etéreas, a convivência seria tão desanimadora quanto a rotina? ai lembro de uma frase de um amigo meu, o fábio brüggemann, “amigos, os que podemos ficar em silêncio sem que o silêncio nos incomode”.
abraços
Adorei! Só quem já viveu um relacionamento via internet, sabe como é complicado =/
beijos.
Bruno,
Muito bom o texto. Descreveu incrivelmente como um casal a distância se relacionam. Já passei por isso, mas ao contrário do seu texto, os silêncios são quebrados por suspiros inesperados!
Relacionamentos a distância não dão certo.
Ao menos comigo, relações a distancia nunca deram certo… a falta da parte carnal me traz calafrios, amor eh bom quando se pode ser vivido
Muito bom o texto adorei mesmo….
Esses silêncios são fogo , mas não acontecem só on-line…
Sabia que vc é um romancista??
Quando sair teu livro, comprarei um dos teus primeiros exemplares!!!
Blog está cada vez melhor…
Bjuxxx
Meu ex namoro começou na internet, que eu diria, tem suas vantagens… Você começa depositando uma confiança em alguém que você nãos abe se é real, por felicidade deu certo, muito certo e a rotina da vida real, fez desandar.. Uma pena, eu gostava dela.
ótimo texto, sou fã do Bruno escritor ;}
Como é ruim a expectativa exagerada sobre uma pessoa apenas para satisfazer o ego. No primeiro silêncio e dificuldade acaba todo o cenário imaginado e extingue até a possibilidade de amizade. Relacionamentos pela Internet são mais intensos no âmbito emocional, deixa-se de viver a racionalidade para viver a sensação de termos alguém que teríamos somente na imaginação. A falta de contato visual e de tato nos remete a um personagem como se estivessemos lendo um livro, nunca saberemos a sua essência de verdade se não pela visão do autor.
Conheci a minha metade, se passaram mais de 2 anos. Graças a dedicação e o profundo amor, estamos juntos. Uma distância de 750km nos separa, é muito difícil não ter quem se ama ao lado, sempre que precisa.
Temos planos de num futuro próximo ficarmos juntos de vez. Que essa hora chegue!
Belíssimo texto, parabéns!
meu atual namoro começou na internet. Ela estava a anos adicionada no meu msn (nao me lembro como). Um belo dia puxei conversa e essas conversas passaram a ser diárias e depois passaram a ser por telefone e depois nos encontramos. O que tiver de ser, será!
Bom demais o seu texto!
= D
O que dizer deste mundico virtual?? Eu por hora posso dizer que através da tela fria de um computador em meio a fotografias e a escritos, encontrei o amor da minha vida, eu na pequena cidade de Marau no RS e ele em Londres, um amor que não ficou apenas no virtual, nos conhecemos pessoalmente e mesmo com a distancia de todas as dificuldades deste tipo de relacionamento, finalmente nos aproximamos do grande dia, onde nos encontraremos novamente, após longos meses distantes um do outro, em Lisboa Portugal, cidade cuja as imagens nos aproximaram para nada mais nada menos que celebrar nosso casamento. Se o mundo virtual pode causar uma grande micelania de sentimentos, disso nada dúvido, mas se existe algo do qual eu tenho absoluta certeza é de que do mundo virtual é apenas uma estrada na qual podemos seguir até chegar ao que de fato é real e se não chegarmos é por que de fato nunca foi. Beijos
ei bruno, conheci minha esposa pela net sala de bate papo depois passamos para o msn namorei 6 meses e casei ja fazem 3 anos, quando conheci ela pessoalmente fiquei sabendo que ela era minha vizinha e tinha se mudado pouco tempo de perto da minha casa olha só destinos traçados rsrsrs era minha vizinha e eu nunca tinha visto ela fui conhece pela net .
QUE COISA NAUM?!
E ele pediu a camera de volta?
Deveria!!! kkkkk
Parabéns pelo blog, comento as vezes mais leio sempre.
Bastante interessante o texto.
principalmente por abortar uma das mais novas formas de relacionamentos.
confesso ter vivido algo parecido e por isso acredito que numa relação de inicio virtual temos ao menos a certeza de gostar
de uma pessoa por o que de fato ela é. muito embora possam haver falsas informações.
quanto ao final, foi real e retrata muitos fatos ja acontecidos…
quanto a guria que me envolvi
ela acreditava que sentimento é sinal de fraqueza…
parabéns pelo texto….
Quero saber tb qndo lançará um livro com todos esses contos q vc escreve, são formidáveis. Adoro demais!
Sobre o texto em si, foi pela internet, mas pode acontecer tb com relações personalíssimas, aquela paixão toda acaba do mesmo jeito q começou, “do nada”… Acho q nossa carência é tanta q nos empolgamos com qualquer chancezinha de viver um grande amor, sem de fato compreendermos oq é o amor.
Bjs!!!
Eu vou continuar cantando…
“Eu só quero amor se for devera”
Ou será de Vera?
Amei esse texto..confesso ser a primeira vez que acesso seu blog Bruno e que agora serei leitora assídua…seu texto me fez refletir.Essa questão de relacionamento virtual gera tanta confusão…confusão de sentimentos,de pensamento…só vale a pena se houver possibilidade de ser real um dia.E
quanto aos silencios,eles podem ser quebradados por suspiros alucinantes ou pelo choque da realidade….
O silencio é simples e necessário…
O
O silencio é simples e necessário…
O importante afinal, não o que esta logo ali, na sua frente? Mesmo sem dizer uma palavra?
Pena que nem todo mundo entende o que de olhos fechados eu consigo sentir!
seus textos de ficção são os melhores. esse desse casal me lembrou o seu blog Aumenta Um. Que eu amei do começo ao fim.
Há anos leio seus textos.
E agora o que sobrou?
- Um filme no close pro fim