15 minutos em 5.

sex, 05/06/09
por Bruno Medina |

Desde o último sábado, boa parte da imprensa internacional especula, atônita, sobre as possíveis razões que teriam impedido Susan Boyle de levar o prêmio máximo oferecido pelo programa Britain’s Got Talent. Antes de ser atropelada por uma das maiores zebras da história, a barbada era tão acintosa que, até o momento da final ser transmitida, a tradicional agência de apostas londrina Ladbrokes pagava apenas 6 libras para cada 5 que fossem apostadas na caloura.

O que mais chamou atenção neste caso, porém, foi a intrigante constatação de que ser considerada o maior fenômeno de audiência da web de todos os tempos aparentemente não serviu em nada para Susan. Nem mesmo as mais de 100 milhões de visitas recebidas pelo vídeo que a apresentou ao mundo lhe asseguraram a possibilidade de superar o Diversity, um grupo de street dance que nem figurava entre seus maiores opositores.

Só para se ter uma ideia de quão inesperado foi o resultado da votação, na mesma casa de apostas citada, o valor pago a quem acreditou nos jovens dançarinos foi de 16 vezes sobre o investido. Tendo em conta que boa parte de seus fãs não tiveram acesso à votação (disponibilizada apenas através de números telefônicos do Reino Unido), ainda assim é difícil acreditar como, dentro do universo de votantes, Susan não conseguiu obter maioria.

Possíveis explicações para sua derrota vão desde o congestionamento das linhas do programa, devido ao excesso de ligações simultâneas, até a desconfiança de que muitos de seus entusiastas deixaram de registrar seus votos, por desconsiderarem a possibilidade da candidata não vencer, num efeito que remete àquela fábula da corrida entre a lebre e a tartaruga.

Há, no entanto, uma outra teoria bastante plausível que promete botar lenha grossa na fogueira; em matéria publicada ontem pelo jornalão inglês Telegraph, levanta-se a hipótese de que Susan teria sido na verdade atrapalhada por um golpe baixo, uma fraude ocorrida no mesmo Youtube que a consagrou.

Foram detectados diversos vídeos não oficiais – ou seja, postados por usuários e não por produtores da atração televisiva – da apresentação da candidata associados ao número telefônico de outros concorrentes. A adulteração da legenda é relativamente simples e passível de ser realizada por qualquer pessoa com razoável conhecimento em softwares de edição.

A impossibilidade de aferir quantos votos teriam sido desviados por esta indução ao erro deve ser suficiente para evitar que a constatação do golpe se transforme em questionamento dos resultados. O fato é que Susan perdeu a competição – e o prêmio de pouco mais de R$ 300 mil – por uma diferença inferior a 5%. Considerando que a artimanha de seus detratores se deu justamente através do meio que a consagrou, e com o qual também ela é mais associada, não se deve duvidar da influência que a manobra escusa possa ter tido no resultado do concurso.  

Posto isto, confirmam-se as previsões pessimistas do outro texto que escrevi, sobre as prováveis implicações de se alçar à fama alguém tão despreparada para lidar com suas particularidades. Dentre promessas de gravação de um disco e os indícios de uma promissora carreira internacional alavancada pelo êxito no programa, o que há de concreto até então é a decepção avassaladora de Susan, e sua consequente internação numa clínica psiquiátrica, devido ao esgotamento causado pelo excesso de expectativas depositadas em seu desempenho.

Ao que parece, aquela senhorinha brejeira, capaz de cativar tantos corações, como não poderia deixar de ser, iludiu-se pelo interesse que despertou para, no momento seguinte, descobrir o quão volúvel podem ser os amores nestes dias. Confiou na solidez da empatia cativada, a mesma que dava como certa sua vitória, sem considerar, entretanto, que a internet é ainda terra de ninguém. Derrotada pela presunção ou por um truque sujo, o que lhe resta deste episódio é a percepção de que a carruagem virou abóbora cedo demais. E que os 15 minutos de fama, hoje, não devem passar de 5. 

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12 comentários sobre “15 minutos em 5.”

  1. Tudo que é dito faz sentido. O veveno e o remédio são a mesma substância e o que determina o efeito é a dosagem.

    Susan Boyle provavelmente irá passar por cima disso e terá suas gravações e turnês, afinal de contas ela não é como qualquer banda de axé que aparece meia dúzia de vezes na televisão e depois some, com aparições periódicas no Gugu trocando dançarinas pra tentar colocar o nome da mídia e tirar a barriga da miséria. Susan Boyle tem talento, e o mundo mostrou, em parte, que sua aparência física não irá lhe prender ao anonimato.

    Pode ser que depois de um tempo a sua luz acabe se apagando, mas trabalhando com os agentes certos ela será encaixada em novos trabalhos, musicais, apresentações especiais e, quem sabe, dublando trilhas sonoras de desenhos como os da Disney, que sempre são ótimas…

    Enfim, sorte para ela.

  2. Kamila disse:

    Bruno, me permita discordar de você, uma vez que acredito que a jornada da Susan Boyle não termina com o final da temporada de “Britain’s Got Talent”. A história dela é uma das melhores de 2009, até agora; o talento dela é inquestionável e, com certeza, os produtores do reality-show querem ainda aproveitar muito aquilo que a Susan pode lhes dar. Eles devem ter planos para ela e estes 15 minutos de fama ainda serão muito prorrogados.

  3. Eliezio LIma disse:

    ….a bater pra você, mais uma canção…………

  4. Gamma disse:

    Talvez a hipótese mais razoável é que não se pode confiar em programas cujo o resultado é definido pelo público. Acredito que, para o produtores do programa, a derrota da adorável Susan seria, de alguma forma, mais interessante que sua vitória.
    Talvez, a famosa “bruxa que canta” já estivesse meio deprê, mal-humorada, precisando da tal internação. Imaginemos a seguinte situação: Susan ganha e seu quadro emocional não se estabiliza. Ainda assim, ela teria que fazer várias aparições públicas, inúmeras entrevistas. Feia e triste, o público não suportaria.
    Agora, um viva à teoria da conspiração!

  5. Camila disse:

    E aos demais… resta a lição de não criar expectativas demais sobre as outras pessoas. Não faz bem para o expectador, nem para o “expectado”.
    Abraços

  6. Paulo disse:

    muito boa a análise, esses fenômenos de internet aparecem e desaparecem de acordo com os interesses de qualquer um que saiba interferir nela.
    eu penso que esse dado da agência de aposta abre ainda uma hipótese, a de que alguém ganhou, e muito, nessa história. é de se verificar os apostadores.

  7. Tiago Medina disse:

    E por que será que a internação dela não surpreende nada?

  8. Heloisa Ferreira disse:

    Será que acaba por aqui mesmo?

    Seus argumentos sao indiscutíveis e na verdade eu concordo com eles. Mas ainda fica uma pontinha de dúvida, um “será?” lá longe.

    Talvez seja apenas uma vontade de que nao fosse assim.

  9. A realidade de toda esta história não está somente na presunção de Susan, ou na internet como meio inconfiável. O que acontece é a falta de crença dos indivíduos nos fenômenos de mídia.
    Todos viram os vídeos de Susan, achando-a fantástica. Entretanto, por mais que se mostrasse com grande potencial, pouco fizeram para que ela realmente se tornasse um ícone contemporâneo. A internet, além da imprevisibilidade, é também efêmera. E esta efemeridade, fez com que se assistisse ao vídeo, glorificasse Susan por algumas horas e ponto. A inglesa era assunto, mas não era concreta. Ela não mobilizou e não atingiu o mais profundo sentimento para que se tornasse uma ídola de verdade.
    Estamos todos muito surpresos com a sua derrota, mas tenho certeza que daqui a uma semana nada mais se falará. Este é o retrato do nosso mundo. Somos individualistas demais para sermos completamente solidários, e ao mesmo tempo, somos dinâmicos demais, por isso nossos fenômenos são tão rápidos.
    Repito a pergunta do Tiago: E por que será que a internação dela não surpreende nada?

  10. Claudio Ferro disse:

    Pobre Susan. Até parece aquela passagem dos desenhos do Peanuts, de Charlie Brown e a bola de futebol.

  11. Alyne Costa disse:

    Agora eu vou cantar:
    “É a solução de quem não quer…”



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