No, no, no: o ‘rehab’ musical
É provável que o enredo soe familiar: jovem artista obtém grande êxito comercial em seu disco de estreia e, motivado pelo sucesso –digamos- fácil, ou pela inerente massificação do repertório, resolve mudar completamente de ares. Sob influências que a esta altura soam nada menos do que libertadoras, encanta-se com o rol de possibilidades a seu dispor, e percebe a chance de oferecer ao público recém conquistado o que julga ser mais honesto: as músicas que emergiram das vivências do período anterior, de intensa exposição.
O que poderia ser classificado como aprendizado ou evolução, aos olhos dos executivos das gravadoras é motivo suficiente para disparar a sirene de alerta; seguindo a lógica vigente na indústria fonográfica atual, com o perdão do trocadilho, devo dizer que não é assim que a banda toca. Na cartilha dos altos lucros não está prevista nenhuma alteração na fórmula. Por que arriscar o novo se o “mais do mesmo” já provou funcionar?
Aparentemente este é o dilema do Klaxons. A banda britânica ainda é pouco conhecida por aqui (estiveram no TIM Festival do ano passado), mas lá fora goza de certo prestígio por conta da boa repercussão de “Myths of the near future”. O aguardado segundo álbum já estava quase saindo do forno quando o processo foi abruptamente interrompido pelos executivos:
“nós realmente fizemos um disco denso e psicodélico. Fizemos um álbum pesado e isto não é a coisa certa para nós, eu sei disso. A princípio, e para todos os efeitos, nós somos uma banda pop”. Assim referiu-se ao puxão de orelha Jamie Reynolds, integrante do trio. Denso e psicodélico? Taí, eu queria ouvir este disco, talvez os fãs também quisessem.
O que surpreende nesta declaração é o conformismo, o aparente desprendimento de jogar no lixo meses de trabalho em prol de uma fidelidade ao gênero. Seria a motivação por trás das músicas “densas” menos digna do que o dedo intrometido do gerente de marketing da gravadora?
O que talvez Jamie e seus colegas não estejam conseguindo alcançar é o revés da situação. Como será recebido este disco, sabidamente fruto da conciliação do desejo da banda com interesses comerciais? E o principal: como este passo atrás incidirá nas futuras pretensões dos Klaxons? O tempo vai dizer.
Claro que existem muitas semelhanças entre o caso descrito e o dramalhão mexicano que se apoderou do lançamento do “Bloco do Eu Sozinho”. Nosso segundo disco foi mais do que rejeitado pela extinta Abril Music. Foi execrado, achincalhado, definido por termos que nem ouso repetir, sentenciado a servir como prova cabal da maior estupidez testemunhada na história da música brasileira. Isto considerando que a banda tinha dois anos de carreira e já havia vendido mais de 200 mil cópias.
As previsões aterradoras nos apavoravam, óbvio, mas felizmente resistimos à pressão. Chegamos a ser expulsos da gravadora, negociamos nosso retorno e, de quebra, conseguimos convencer os caciques a manter o repertório original. O rebento foi jogado às traças nos pontos de venda, sem qualquer empenho na divulgação. Fomos entregues à própria sorte. A recompensa, no entanto, não tardou a vir, e hoje me orgulho muito de termos seguido nossa convicção, de termos confiado no mérito daquelas músicas. Nos momentos de angústia persistia a certeza de que não havia outro caminho a ser seguido.
A mesma encruzilhada se anuncia para Amy Winehouse. No caso dela, porém, existem agravantes. Além de ter sido a mais cultuada celebridade do biênio passado, pesam na balança os 11 milhões de “Back to Black” vendidos. No mínimo espera-se que seu terceiro álbum desempenhe papel fundamental neste apagar de luzes da era do disco físico, quem sabe um dos últimos grandes fenômenos desta década.
Alheia à toda expectativa e refém de sua própria condição emocional, Amy foi para o Caribe se desintoxicar, afastou-se dos escândalos, fez alguns amigos, escreveu novas canções e voltou para Londres, toda satisfeita com a nova fase. Apesar da produtividade demonstrada ser um indício pra lá de positivo, o resultado musical foi considerado apenas insatisfatório. “Ela parece ter perdido sua marca registrada vintage/soul e agora está muito influenciada pelo reggae. Seus chefes não acham apropriado uma mudança de estilo tão radical, e disseram isto para ela”, declarou uma fonte próxima à cantora.
Pobre Amy. Não bastassem as sucessivas internações por alcoolismo e abuso no consumo de drogas, agora também querem despacha-lá para o “rehab” musical. Se fosse ela mandava todo mundo às favas e bancava este disco. Para quem já tem fama de louca não custa rodar a baiana…
Isso me deixa indignada.
Não gosto de conformismo.
E realmente o bloco do eu sozinho é muito bom.
Para mim, bem melhor que o 1º.
Brilhante o seu texto!
OLá,gostaria de saber se somos parentes.Sou descendente de espanhol e vc?Fica com Deus.
Ainda bem que vocês confiaram no mérito das músicas do “Bloco do Eu Sozinho”.
Realmente são as músicas que eu mais gosto…
E eu não duvido nada que a Amy vá “rodar a baiana” como você mesmo disse…
sorte pra ela…!
Até!
…e “bloco do eu sozinho” é sem duvida e sem tietagem o melhor disco do Los Hermanos, um dos melhores da musica brasileira na decada.
Vale a pena ousar. A grande M#¤$* da nossa geraçao é encarar a pretensao como um defeito.
Muito bom o texto de Medina!!
Contente de saber que ele escreve. Sou fã de Los Hermanos e é bom saber que além de excelente músico ele também escreve e com excepcional destreza! Parabéns!
Passei a ser fã do LH depois do Bloco do Eu sozinho. Para mim ainda é o melhor trabalho de vocês. Mudar de estilo faz bem, principalmente porque cansa mesmo aos mais devotos fãs a mesmerice musical do artista. Se até o Lula (o presidente mesmo) mudou seu estilo, porque Amy não pode dobrar-se a outro estilo?
Ah, não fui ao show do LH, mas pelo visto foi incrível!
Amy não pode ceder às gravadoras o que é apenas comercial.
Creio que ela vá encontrar o meio termo para que possamos apreciar ainda mais o seu talento.
Ela tem uma gama de possibilidades de ritmos para colocar o seu estilo.
Espero interpretaçoes e melodias maravilhosas …
Tô contigo e não abro.
Pois é. O meu favorito continua sendo o Bloco do Eu Sozinho… realmente valeu a pena ter insistido nesse disco.
Já a Amy também sou muito fã. Acho ela maravilhosa, mesmo com as dancinhas desengonçadas, com todos os narcóticos e as brigas hercúleas com o seu Blake. E acho ela sensacional cantando naquele estilão black antigo. Particularmente não gosto de raggae, mas quem sabe na voz da Amy. Também tenho medo do novo, mas quando o propósito é sério e sincero, penso que vale a pena ir “contra” a maré.
Esse post representa bem a questão das “managers” de hoje, e como elas se encontra num barco bem mais furado do que o “bloco” dos artistas. Do fechamento da comunidade orkutiana “Discografias” ao drama de ter um trabalho rejeitado por não ser “mais do mesmo” – como nos casos citados – só mostra que a Indústria da música está sendo encurralada. Se eu fosse a Amy, bancava meu disco e colocava tudo na internet. Seria honesto, e sendo de qualidade, os fãs iriam gostar. Tenho pena das gravadoras. Os artistas estão se reinventando. Os fãs também. As gravadoras estão ficando para trás, afundadas em idéias de venda que fracassam volta e meia. É satisfatório que o artista mantenha uma posição de honestidade com seu trabalho. A Internet proporciona isso. As gravadoras afundam em suas idéias comerciais e totalmente ultrapassadas…
É triste ver isso esse conformismo todo, se não fosse a ousadia de grandes musicos com os los hermanos por exemplo, seriamos obrigados a engolir todo esse lixo musical que as gravadoras empurram de garganta abaixo na gente.
Concordo com seus comentários. Creio que arriscar ou criar uma oportunidade por aquilo em que se acredita é sempre válido. Los Hermanos foi um bom exemplo (sou suspeita em falar pq sou fã) e espero que a Amy também surpreenda o público que gosta dela e aposte na sua própria criação. Que seja um sucesso!
Eu passei a gostar de vocês depois do Bloco do Eu Sosinho, praticamente amo todas as musicas, nem consigo escolher a melhor deste álbum.
A Amy precisa mesmo rodar a baiana, só assim teremos sempre qualidades e não um álbum para agrado ao publico do baixo clero musical.
Belo texto, lúcido e pertinente.
Havia escrito um texto mais longo, mas por algum motivo não entrou.
De todo modo, tento novamnete registrar meus párabéns pelas precisas colocações.
Não poderia de expressar minha alegria em saber que voces voltaram a tocar juntos… não estive no show, moro em Natal/RN, mas acompanho o trabalho do grupo a muito tempo. Eu e meus amigos da faculdade (curso de Historia) somos fascinados pela banda, voltamos para casa todos os dias escutando as musicas tocando, não abusamos nunca, tem sido maravilhoso identificar as letras com nossas vidas, emocionante na verdade, perfeitas, todas!!! gostaria de receber alguma postagem do grupo; no mais, desejo a voces todo sucesso do mundo, seja nos Los Hermanos ou na carreira Individual… Parabens pelo trabalho!!! amo voces!!!!!! ♥
Assim que soube da polêmica que girava em torno do terceiro cd da Amy, lembrei-me do ocorrido com o Los Hermanos; e como já foi dito em muitas entrevistas de vocês, não existe um estilo definido, existe a música, o som que a banda/cantor quer apresentar para o seu público independente dos “padrões”. O fã identifica-se com o cantor e com sua música simultaneamente, sente a emoção que o intérprete quer passar com suas letras e melodias, por isso defendo a música livre de padrões e conceitos pré impostos.
Acho que aqui no brasil, o los acabou abrindo essa discussão nem tão conhecida pelo público, do poder de podar o artista que a gravadora tem. Espero que a Amy tenha culhões de fazer isso em nível mundial. A internet ta cada vez mais aí pra mostrar que as gravadoras estão pra acabar (tomara).
adorei som da amy por fazer um revival do soul/vintage, achO
que ela pode levantar o regge tambem, como fez com o soul.
uma mix seria legal … posso ser meio careta, mais suas raiz estão na soulmusic então uma mudança radical seria um pouco assutador… mais tah valendO.
Concordo com você! acho que a Amy deve fazer a louca, como de costume, e lançar o álbum!
E acho mais: ela deveria transformar o cabelo em tranças rasta e lançar nova tendência. hehe
Ótimo texto Rodrigo!!