O penetra

qui, 18/09/08
por Bruno Medina |

beatles_-_abbey_road.jpgSejam quais forem o propósito ou a ocasião, a definição do que uma festa precisa ter para ser considerada bem sucedida me parece não fugir a uma convenção unânime. Da mesma forma que ambiente confortável, convidados interessantes e fartura no que é servido sinalizam o prenúncio de momentos agradáveis, costumam, também, atrair um elemento praticamente indissociável: o penetra.

Pela minha experiência a melhor forma de lidar com eles seria considerá-los uma prova cabal de que sua festa decolou. Digo eles porque são alguns os tipos identificáveis. Comecemos pelo penetra profissional, ou seja, aquele que tem por hábito e/ou esporte invadir as reuniões alheias. Este indivíduo possui um aguçado radar, desenvolvido para informá-lo com bastante antecedência sobre a oferta de eventos disponíveis. Ele sempre se apresenta preparado para ser invisível, se confundir com os demais e, devido a esta habilidade, quase nunca é flagrado no ato.

Há também o tipo cara de pau. Ele vem com a roupa errada, fala alto e assim que chega já procura logo o dono da festa. Sua estratégia é fazer de tudo para ser notado, a ponto de sua possível expulsão ser descartada, apostando no constrangimento que ela causaria. Caso consiga permanecer até o fim da festa não duvide que ele seja capaz de sair bêbado e com os bolsos cheios de canapés.

Existe ainda um terceiro tipo, o penetra circunstancial, mais comum e menos nocivo. Esta categoria abrange todos aqueles que, por alguma conjuntura do destino, desempenham o papel de penetra em caráter extraordinário. Creio que a maioria de nós já esteve pelo menos uma vez nesta condição, puxe pela memória.

Faz uns dez anos estava num bar em Botafogo acompanhado por um casal de amigos quando avistamos, numa outra mesa, um conhecido em comum. Conversa vai, conversa vem, o cara nos contou que estava fazendo hora antes de seguir para uma festinha incrível de aniversário que aconteceria ali perto. Para resumir bem a história fomos convencidos por ele a ir também, um pouco mais tarde, afinal nesta delicada condição o bom senso sugere chegar ao lugar já cheio.

Na portaria do prédio o primeiro obstáculo; seria necessário se anunciar? Em nome de quem, se ninguém nos conhecia? Por sorte o porteiro estava quase dormindo e nada nos perguntou. Subimos e encontramos a porta já aberta, entramos. O cenário era um apartamento de dois quartos onde havia um grupo de umas vinte pessoas no qual não se incluía o cara que nos convidou. Ele conseguiu a rara façanha (seria está uma quarta classificação?) de convidar penetras para uma festa e não aparecer!

Óbvio que num ambiente de pequenas proporções como aquele seria impossível passarmos despercebidos. Todos os presentes nos olhavam e comentavam com quem estivesse do lado algo como “quem são esses aí?”. A esta altura havia duas opções: dar meia-volta e reconhecer nossa humilhante tentativa de invadir aquela festa -quem sabe até pedindo desculpas para o aniversariante- ou relaxar, pegar uma cerveja e puxar conversa. Dito e feito.

A verdade é que entrar na cozinha para pegar bebidas apenas sublinhava o absurdo que representava continuarmos naquela festa. Escorados pela parede, segurando a cerveja sem tomar, parecíamos três suspeitos perfilados naquele paredão em que as vítimas fazem o reconhecimento de criminosos. Em nossa frente uma pista de dança improvisada, e muito mais natural seria se dançássemos. Assim fizemos. Dançando conseguimos rir das circunstâncias e nos descontraírmos um pouco, pelo menos até bater uma culpa por estarmos nos divertindo demais, algo que, aos olhos dos convidados, nós definitivamente não merecíamos.

Acho que depois disso desistimos. O jeito foi baixar a cabeça e sair do mesmo jeito que entramos e permanecemos durante todo o tempo, sem falar com ninguém. A vivência narrada me manteve muitos anos afastado da condição de penetra, exceto por um final de noite em Londres, quando me envolvi sem saber na tentativa de entrar num bar no West End exclusivo para atores associados. Me vi obrigado a assinar um nome qualquer na lista de presença, dizer que havia esquecido minha carterinha de sócio e o pior: me passar por ator! Neste dia achei que seria preso ou deportado, no entanto, felizmente, tudo deu certo. Me ocorreu agora a possibilidade de uma quinta categoria de penetra. A dos que, assim como eu e Peter Sellers no clássico “O convidado trapalhão”, se tornam penetras sem se dar conta disso. 

compartilhar

30 comentários sobre “O penetra”

  1. Carolina disse:

    É Bruno, vc ja tem uma boa experiência como penetra.

  2. Diego Leandro disse:

    Sempre fui um penetre convidado. Tacava em casamentos, mas tocava só na igreja, pois sempre os noivso nos convidavam para a festa. Como meu pretexto era só beber eu ia, ninguém me conhecia e quando chegava no meu limite, aquele limite do qual se eu passar chamarei a atenção demais, eu saída de fininho sem falar com ninguém, e aí sim ia para um lugar onde não era penetra nem precisava gastar dinheiro pois já estava cheio de tudo.
    Isso é muito feio, não recomendo e não faço mais isso.

  3. Prezado Bruno, há também uma categoria destes tempos de globalização: o “penetra consentido”. Por mais paradoxal que pareça, é uma novidade de nossos tempos de sites de relacionamentos, de busca e até blogs. Espiamos livremente a vida dos outros através desses sites e é surpreendente o modo como podemos descobrir sobre dentalhes e detalhes sobre a vida das pessoas, pelo simples fato de que a informação hoje é despudorada e devassada. Obrigado por consetir simpaticamente com que eu seja um destes penetras no seu blog.

  4. Tahyana disse:

    Medina,

    Penetra ou não, eu só quero dizer, o quanto eu AMO essa foto dos beatles!!!!

    Beijos

  5. Fabio Leittosa disse:

    Cara, esse blog Bruno Medina é muito ruim. Primeiro, tinha aquele incompreensível blog do Marcelo Camelo. Agora esse… só falta darem espaço para o Tiririca escrever no G1. Ah, e tem o Tom Cavalcanti também.

  6. Alessandra disse:

    é né, não existe festa sem penetras e acho pior “recusá-los”.
    é só lembrar do casamento de Cicarelli com Ronaldo… deu o maior escândalo a expulsão daquela outra que eu esqueci o nome, Caroline alguma coisa.

    temos que aprender a conviver com os penetras e aceitá-los. vamos todos ser mais felizes! hahaha

  7. Táta disse:

    Huhauhauhauhaua…
    Muito Bom!!!
    Convidar pra ser penetra e não ir, é horrivel rs… Coragem de entrar e pegar a cervejinha hein rs, eu teria dado a meia volta rs…
    Parabéns, ótimos textos…

  8. Muito boa essa màteria parabens, gostei muito já que sou um que detesta esse tipo de comportamento.

  9. sapo disse:

    incrível! quem nunca foi penetra que atire o primeiro canapé!
    essas situações, as invasões que dão errado, sempre são mais engraçadas (inesquecíveis) do que as que dão certo.
    fica tratado assim então, quando fizer uma festa aqui, eu NÃO te mando um convite… quem sabe você aparece. abraços.

  10. Felipe Trigueiro disse:

    Cara, que situação!
    Acho que eu morreria no seu lugar, fiquei imaginando vocês quando citou: “parecíamos três suspeitos perfilados naquele paredão em que as vítimas fazem o reconhecimento de criminosos”. Acho que se ficassem grandes amigos dos convidados, isso daria um filme ..rs

  11. Valeu Bruno, essa sua experiencia foi muito engraçada. Penetra é uma coisa que tem em todo mundo. Sou seu fã e de toda banda!!! Espero que vcs voltem a se reunir.

  12. Everson Teixeira disse:

    Bruno, boa tarde. Estou postando aqui um pedido ao invés de um comentário, pois não consegui o seu e-mail. Bem, eu estou filmando um documentário sobre o Abril Pro Rock, festival que o Los Hermanos tocou em algumas edições. Eu fiquei sabendo que você estará no Recife para tocar junto com Adriana Calcanhoto, sendo assim gostaria de saber se você poderia conceder uma entrevista para o meu documentário.

    Desde já, muito obrigado pela atenção.

    Aguardo por uma resposta.

    Abraços.

  13. Caio Fernando disse:

    Nossa, que situação! Todos nós temos uma história do tipo para contar, mas espero nunca passar por um aperto tão descabido. hehehe

  14. Hhahahahaahahahah! Adorei! Engraçado demais!
    Nunca aprontei dessas… (EU ACHO!)

    Mas po, vou tentar!
    Cara-de-pau não me falta!

    Beijo em você,
    e na família!

  15. Nossa! Essa foi a melhor história de penetra que eu já ouvi! Eu já entrei de penetra mas foi acompanhada de outros convidados e os donos da festa eram conhecidos, embora não fizessem parte do meu círculo de amigos… Depois até namorei o dono da festa… mas isso foi bem depois… no dia fiquei um pouco constrangida por ter sido penetra mas fiquei confortável por ver que não era a única e que ainda os donos da festinha eram bastante amistosos…
    Ah! Não poderia deixar de dizer que adoro ler os seus posts! Dou boas gargalhadas!!!
    Bjosss

  16. Bruno Teodoro disse:

    Ai medina,muito bom, realmente todos ja passamos por isso,desde uma festa em que realizou até uma festa que ja foi de penetra!

  17. nathalia ive disse:

    não sabia da sua coluna no site…achei super interessante e o queé melhor…inteligente!!!
    … quanto aos penetras,eu nãoaprovo, mas preciso assumir que um dia ja fui penetra..e de uma festa brega …rs
    super abraço , fica com Deus !

  18. Marli disse:

    Muito boa!!
    Quem nessa vida nunca se viu na condição de penetra?? Eu já!!! rsrsrrs

  19. Sérgio disse:

    Sensacional. Leio seus artigos quando posso mas este em especial, me fez lembrar das minhas penetrações (rsssssss) nas festas. Até pular muro grande.
    Bom, fique com DEUS e continue escrevendo maravilhosamente bem.

    E como vão os outros integrantes do Los Hermanos?

  20. Luiza disse:

    Nunca fui penetra…e também não acho que conseguiria ser!
    Mas pensando bem até que seria uma boa néé?!?!

    bjus*

  21. Bárbara disse:

    eu acho que tbme stou na quinta categoria! rs

    muito boom!!!

    bjãoo!

  22. André Cezar disse:

    Nessa de penetra eu fui parar em cima de um trio elétrico.
    Foi,pra dizer o mínimo surreal!

    Ah! Hj o Camelo toca no mesmo palco que vc tocará em outubro \o/ sim… pq vc vai vir com a Adriana pra Recife né?

  23. Conceição disse:

    Boa noite!
    Pois é,essas questões de “penetras”é tão quanto engraçadas.Me enquadararía na terceira possibilidade,rsrs..Se caso fosse.Pelo que percebo vc tb,né Bruno é um penetra de experiência vasta.Abraçoss!

  24. Natália disse:

    Eu e mais dez amigas(isso mesmo,dez)resolvemos ir a uma festa à fantasia de bicão.Não gastamos com nada,pois uma de nós tinha trajes de sobra em sua casa.Nos fantasiamos de muitos personagens,entre eles miney,dona de cabaré,penélope charmosa,fada,pedrita entre outros.
    Não,não fomos loucas de chegar em um ÚNICO carro,todas fantasiadas,mas sem pelo menos um convite.
    Nós acabamos falsificando-os,apesar de eu não concordar plenamente com a idéia.
    Nos arrumamos,tiramos fotos e muito animadas fomos para a festa.Quando chegamos,a aniversariante estava recebendo os convidados e havia dois seguranças na porta.Entregamos o convite,mas ele rejeitou e anunciou à aniversariante dos penetras.
    Fomos embora,apé,na rua mais movimentada da cidades,que por ser pequena a notícia correu solta.

  25. Paulo Victor disse:

    penetra eh uma palavra muito forte…digamos que somos convidados surpresa!!

  26. Monica Santos disse:

    Boa noite Bruno, admiro/acompanho o seu blog, os seus pots são lindos, você é cultura, divertimento, enfim… Mas hoje esse espaço dedido e peço a tua atençao a um amigo meu de Curitiba/PR Marlos Soares ele é um compositor sem igual! Bruno imagino que o teu tempo seja todo administrado, por ocupações, compromissos, enfim…. mas tenho fé que eu consigo dois minutos da tua atençao, para que ouça uma bela cançao: https://www.myspace.com/marlossoares . A música: “Malabares de mim”, fascina/encanta… Não sei ao certo o que ela propõe, talvez por ser pessoal e única, cada um terá a sua própria resposta. A minha diz que ‘Malabares de mim’ é excelente!! Simplesmente não dá pra ouvir sem emitir um juízo. Arrisco dizer assim de cara, que é perfeita.Nesse mundo a gente tem que aprender a conviver com a opinião dos outros. Então, considere aqui a opinião de alguém de ouvidos exigentes… que se emocionou!!! Com um trabalho bem feito… de um dread-músico… de melodia e poesia refinada!!! A principio me encanta “a sua voz de violão”!! Um bom som… um bom cantor… que solta a voz com emoção. Surpreendem-se aqueles que pensam encontrar mais uma música bonita… pra tocar com os amigos!!! até concordo afinal é muito gostoso ouvir aquela batida e repetir o refrão!!!
    Mas…. Malabares é uma dessas músicas que deixa a gente bem cismado. Talvez seja o modo de ser do compositor lapidando ainda mais cada acorde. Suas letras falam muito. sua escrita tem substância. dialoga com um mundoausente de arte, ausente de conteúdo!!! Acredito no trabalho desse amigo, e sei que ele fez bem feito a sua parte!!! Fez Malabares um poema… uma divagação… um manifesto…uma música. um pensamento meio “perigoso”…quanto mais se ouve, mais vontade de repeti-lo urge!!! Cada um… uma resposta… vale a pena conferir e mergulhar nesse universo de cultura independente!! Muito, muito Obrigada pela atençao!!! Semana tranquila pra você!!! BEijos, mil destes!!! MÔnica!!!! https://amadurecencia.blog.terra.com.br/

  27. Monica Santos disse:

    Boa noite Bruno, admiro/acompanho o seu blog, os seus posts, você é cultura, divertimento… Mas hoje esse espaço dedido e peço a tua atençao a um amigo meu de Curitiba/PR Marlos Soares ele é um compositor sem igual! Bruno imagino que o teu tempo seja todo administrado, por ocupações, compromissos, enfim…. mas tenho fé que eu consigo dois minutos da tua atençao, para que ouça uma bela cançao: https://www.myspace.com/marlossoares . A música: “Malabares de mim”, fascina/encanta… Não sei ao certo o que ela propõe, talvez por ser pessoal e única, cada um terá a sua própria resposta. A minha diz que ‘Malabares de mim’ é excelente!! Simplesmente não dá pra ouvir sem emitir um juízo. Arrisco dizer assim de cara, que é perfeita.Nesse mundo a gente tem que aprender a conviver com a opinião dos outros. Então, considere aqui a opinião de alguém de ouvidos exigentes… que se emocionou!!! Com um trabalho bem feito… de um dread-músico… de melodia e poesia refinada!!! A principio me encanta “a sua voz de violão”!! Um bom som… um bom cantor… que solta a voz com emoção. Surpreendem-se aqueles que pensam encontrar mais uma música bonita… pra tocar com os amigos!!! até concordo afinal é muito gostoso ouvir aquela batida e repetir o refrão!!!
    Mas…. Malabares é uma dessas músicas que deixa a gente bem cismado. Talvez seja o modo de ser do compositor lapidando ainda mais cada acorde. Suas letras falam muito. sua escrita tem substância. dialoga com um mundoausente de arte, ausente de conteúdo!!! Acredito no trabalho desse amigo, e sei que ele fez bem feito a sua parte!!! Fez Malabares um poema… uma divagação… um manifesto…uma música. um pensamento meio “perigoso”…quanto mais se ouve, mais vontade de repeti-lo urge!!! Cada um… uma resposta… vale a pena conferir e mergulhar nesse universo de cultura independente!! Muito, muito Obrigada pela atençao!!! Semana tranquila pra você!!! BEijos, mil destes!!! MÔnica!!!! https://amadurecencia.blog.terra.com.br/

  28. Celso disse:

    Muito bom, ninguém te conhecendo, você não precisa se preocupar em esquecer de cumprimentar alguém conhecido(a).. rsrs .

    Abraço

  29. Thais disse:

    Olá Bruno,
    Muito bom ler o quê você. Cariocas têem muitas histórias em comum, assim parece que estou lendo trechos da minha vida.
    Aprecio muito seu trabalho como músico e agora como escritor.
    Sempre me vejo como penetra, isso me incomoda demais! E pior que acontece muito mesmo! E é sempre contra minha vontade. Sempre encontro alguém que está indo para algum lugar e me arrasta junto.

  30. Olá, Bruno, tudo bem? Sou editor-assistente do Digestivo Cultural e gostaria de saber se você autoriza republicarmos “O penetra” na seção “Ensaios” do site. Parabéns pelo blog e um abraço!



Formulário de Busca


2000-2015 globo.com Todos os direitos reservados. Política de privacidade