Até que a lista os separe

ter, 30/09/08
por Bruno Medina |

il_430xn21186548.jpgOs últimos cem anos dificilmente deixarão de ser lembrados pelas futuras gerações como o período no qual ocorreram os mais significativos avanços tecnológicos da história da humanidade; os adventos da aviação, das linhas de montagem, das viagens espaciais, da penicilina, da televisão, da computação e, posteriormente, da internet -apenas para citar alguns exemplos- atestam a relevância de nossa época no que se refere ao surgimento de conceitos que ditarão os rumos a serem seguidos nos próximos séculos.

Cabe, no entanto, ressaltar que quase toda conquista traz consigo a reflexão quanto às transformações conseqüentes de sua aplicação na prática, bem como a dimensão de seu impacto nas relações pessoais. Estas sim representam a verdadeira prova dos nove para qualquer invento, um efeito considerado praticamente imprevisível por seus criadores. Inseridas numa esfera muito distante da revolução propiciada por aviões e computadores, mas nem por isso menos populares, encontram-se outras tantas pequenas invenções destinadas a conceder maior praticidade às tarefas do cotidiano.

Uma delas, sem dúvida, é a lista virtual de casamento. Imagino que vocês já estejam familiarizados com o conceito: às vésperas do grande dia os noivos entram no site de uma loja de departamentos com o objetivo de escolher itens para compor seu novo lar. A lista normalmente é bastante numerosa e variada, pois uma de suas principais funções é atender a qualquer tipo de orçamento. O convite recebido por amigos e parentes possui a indicação da loja em que será possível comprar os objetos cobiçados pelos pombinhos -e até mesmo enviar um cartão personalizado- sem sequer sair de casa, contando assim com a providencial comodidade de evitar shoppings lotados, filas e vendedores pouco atenciosos.

Uma maravilha do mundo moderno, era o que pensava antes de acessar o site da tal loja, à procura de um presente que atenuasse minha ausência num casório a ser realizado no final desta semana. Devido a alguma razão desconhecida o convite só chegou em minhas mãos há poucos dias, o que, obviamente, me deixou em enorme desvantagem em relação aos demais convidados. Para mim sobraram apenas os presentes que os outros não quiseram dar, ou porque julgaram serem supérfluos, ou porque eram caros demais.

Frente as condições pra lá de adversas solicitei que os itens fossem dispostos por ordem de preço, a começar pelo primeiro, um recarregador de pilhas. Sou só eu ou esta não seria exatamente a maneira mais adequada de felicitar um casal prestes a ingressar nesta bela etapa de suas vidas? Segue a lista: tocador de mp3 portátil, telefone celular, barbeador elétrico, será que estou mesmo no endereço certo? Cadê os pratos, as baixelas e a petisqueira?

Não muito atrás, na era pré-internet, acredito que as opções faziam mais sentido. Sinal dos tempos. As listas de casamento via web viraram febre e propuseram outras regras para o jogo; os noivos, munidos de todas as opções oferecidas pelas lojas virtuais, capricham na criatividade, em muitos casos deixando de lado o questionamento quanto a real utilidade do presente. Os convidados, por sua vez, navegam entre produtos esdrúxulos em busca de algo que caiba em seus bolsos.

Os noivos sabem que a lista representa a melhor chance de obterem itens que nunca teriam coragem de comprar com o próprio dinheiro, aqueles sentenciados a quase nunca saírem do armário da cozinha, tais como máquinas de waffle e conjuntos com 12 taças de champanhe. Não é preciso ser criterioso no momento de elaborar os pedidos, afinal ainda lhes resta a alternativa de trocar vários objetos de menor valor pelos que ninguém arrematou. Por conta disso não raro as benditas listas passam a ser mais importantes do que a própria oficialização do compromisso, ou você nunca ouviu falar no “casei só por causa dos presentes”?

Quanto a mim, melhor tomar fôlego e mergulhar de cabeça no que ainda pode ser comprado. Nestes casos sempre vale ser generoso um pouco além da conta do que ficar com aquela sensação de que o presente escolhido vai deixar de ser uma boa idéia antes mesmo do casal voltar da lua-de-mel. Não sei se serve de consolo, mas poderia ser pior. Imagine se eu tivesse sido convidado pro casamento da Sandy?

A teoria da conspiração

qui, 25/09/08
por Bruno Medina |

gira3.gifFosse possível viajar através do tempo, quais seriam as considerações de Elvis Presley ou Marlyn Monroe à respeito de um passeio pelos dias de hoje? Caso dois dos mais sugestivos ícones da era moderna se aventurassem a estar na pele deles próprios por apenas uma semana em 2008, qual seria o balanço desta temporada em comparação à época em que viveram?

Arrisco um palpite: Elvis e Marilyn voltariam correndo para a década de 50, sem saudade do que estaria por vir. Se no passado ambos colhiam louros por seus comportamentos extravagantes, agora correriam sério risco de passar despercebidos frente a tanta concorrência que há pelo pipocar dos flashes. Se a sensação de estarem expostos os incomodava no auge de suas carreiras, provavelmente concordariam que a privacidade se tornou uma moeda de escambo com a mídia, um luxo, quase uma utopia para quem lida com a fama.

A proposta deste esdrúxulo e hipotético experimento parte da minha desconfiança de que ser uma celebridade no século XXI consiste num desafio muito mais árduo do que já foi outrora. As novas exigências aplicadas aos candidatos que almejam o olimpo do showbusiness parecem atribuir ao talento artístico uma diminuta parcela, indissociável de um coletivo de aptidões que se relacionam cada vez menos com o “show” e cada vez mais com o “business”. 

Marketing é a palavrinha mágica, resposta para dez entre dez questões levantadas atualmente. Seria, portanto, inconcebível pensar o mundo contemporâneo sem levar em conta seus preceitos? Considerado como elemento chave para a obteção do sucesso nos tempos de hoje, o marketing tornou-se um obsessão e atingiu o status de paranóia em inúmeros segmentos, dentre os quais também se inclui a indústria cultural.

O curioso é que a expressão gringa se desvirtuou no boca-a-boca, afastando-se de sua origem para aterrisar num termo que evoca para si não só a áurea de herói como a de vilão. Guerra atômica? Crise econômica mundial? Nada disso, a pulga atrás da orelha, o segredo oculto em todo acontecido, a verdadeira ameaça à organização de nossa sociedade, enfim, a personificação do mal é, sem dúvida, o marketing. Quer ver?

Tomemos, por exemplo, os principais destaques do noticiário de entretenimento desta quinta-feira:

- Paul McCartney participa da celebração dos 60 anos de fundação do Estado de Israel: o que teria motivado o ex-beatle a se envolver na delicada disputa territorial entre árabes e judeus?

- Kate Pery é fotografada beijando uma menina em noitada pós-show: seria este um flagrante concedido aos paparazzi pela filha de pastor e autora do hit-lésbico “I’ve kissed a girl”?

- Fenômeno do pop mexicano, grupo RDB anuncia seu fim: estaria aí configurada uma estratégia para alavancar um possível ressurgimento?

- Integrantes do Jonas Brothers e os anéis de pureza: ostentar o compromisso da abstinência sexual é ou não uma forma de auto-promoção entre as fãs da banda?

Pairam sobre as quatro situações dúvidas quanto à legitimidade das intenções dos envolvidos. Culpa do marketing, é claro. O argumento que sustenta a teoria conspiratória se fundamenta no fato de que a espontaneidade há muito cedeu lugar ao planejamento; tudo que vem à tona pode e deve ser considerado como premeditado, afinal nada acontece por acaso.

Será? Meu receio é que essa caça às bruxas sufoque a genuína aspiração artística, que gere em quem cria a constante preocupação de não soar oportunista, e que beneficie aqueles que nada têm a oferecer exceto a  habilidade de administrar a própria imagem. Se for mesmo assim pobre de nós. Elvis, Marilyn, me levem de volta com vocês!

Vale a pena ler de novo?

seg, 22/09/08
por Bruno Medina |

carrie.jpgNão é de hoje que se vê aplicada na prática uma máxima capaz de ditar o ritmo sob o qual giram as engrenagens da indústria cultural americana em sua incensada necessidade de gerar milhões de dólares. Na perspectiva de prever o interesse de um público cada vez mais segmentado, o mapa da mina aponta uma única direção; o que foi sucesso uma vez pode e deve ser sucesso novamente.

Baseado nesta premissa, ao longo dos últimos vinte anos, foram muitas as continuações, os remakes e as adaptações literárias formatadas em todos os moldes, sendo possível afirmar sem receio de cometer qualquer injustiça que, em determinados casos, o desejo de expandir o legado de algumas obras sobrepôs em muito a preocupação quanto a relevância e a qualidade destes registros.

Este parece exatamente ser o caso dos dois romances que nomomento estão sendo escritos por Candace Bushnell, a mesma de cujas colunas auto-biográficas -publicadas pelo New York Observer em meados dos anos 90- extraiu-se o sumo do que veio a se tornar mais tarde a série televisiva “Sex and the City”.

Previstos para serem lançados em 2010 os livros retratarão a adolescência de Carrie Bradshaw, a personagem principal: os romances, as amizades, o sonho de ganhar a vida como escritora e a trajetória que a levou a realizá-lo serão os fios condutores desta narrativa, em princípio dirigida ao público infanto-juvenil. Antes de aprofundar a análise sobre o que representa esta notícia para seus incontáveis fãs, cabe registrar a chegada às telas, ano passado, da primeira adaptação da multi-premiada série para os cinemas.

Ao passo que a iniciativa deixou em polvorosa os aficionados pelos percalços de Carrie e suas amigas, fez surgir, também, entre alguns deles rumores de que o filme não teria atendido às enormes expectativas que criou, limitando-se a uma morna e comprida compilação em película dos mesmos temas de sempre, não muito mais empolgante do que qualquer outro episódio anteriormente visto.

Posto isso, o que esperar de “The Carrie diaries”? Segundo a autora estes dois volumes refletem a curiosidade dos seguidores e dela própria sobre as experiências que teriam moldado a personalidade de sua protagonista. Bushnell se diz consciente da necessidade de adequar o texto, afinal suas histórias precisarão agradar jovens leitoras cuja média de idades seria equivalente a metade da que têm o público para o qual até então ela costumava escrever.

A repercussão da novidade já pode ser percebida em alguns fórums virtuais dedicados ao assunto. Em geral paira uma desconfiança à respeito de como passagens picantes e pontos de vista polêmicos sobre o universo feminino -binômio responsável pela consagração do seriado- se traduzirão para a realidade de meninas pré-adolescentes. O debate culminou até numa inusitada questão; algumas admiradoras das pitorescas situações idealizadas por Bushnell, confessam ter dúvidas em relação a recomendar a leitura dos livros para suas filhas.

As mães temem, por exemplo, que uma cena da terceira temporada, exibida em 2000 –ocasião em que Carrie dividiu com sua imensa audiência uma passagem sobre seus anos colegiais (algo envolvendo um baseado e sexo feito sobre uma mesa de pingue-pongue)- seja o prenúncio do que está por vir.

Apesar da apreensão dos pais não é difícil antever o sucesso deste projeto, embora não se possa ser tão otimista quanto a preservação da integridade de um enredo que caminha ladeira abaixo rumo ao esgotamento. E quem duvidaria se, passados alguns meses do lançamento dos livros, chegasse a notícia de que estes darão origem a uma nova série, aos moldes da aclamada “Wonder Years”? É como vocês bem sabem: as engrenagens, afinal, precisam girar…

O penetra

qui, 18/09/08
por Bruno Medina |

beatles_-_abbey_road.jpgSejam quais forem o propósito ou a ocasião, a definição do que uma festa precisa ter para ser considerada bem sucedida me parece não fugir a uma convenção unânime. Da mesma forma que ambiente confortável, convidados interessantes e fartura no que é servido sinalizam o prenúncio de momentos agradáveis, costumam, também, atrair um elemento praticamente indissociável: o penetra.

Pela minha experiência a melhor forma de lidar com eles seria considerá-los uma prova cabal de que sua festa decolou. Digo eles porque são alguns os tipos identificáveis. Comecemos pelo penetra profissional, ou seja, aquele que tem por hábito e/ou esporte invadir as reuniões alheias. Este indivíduo possui um aguçado radar, desenvolvido para informá-lo com bastante antecedência sobre a oferta de eventos disponíveis. Ele sempre se apresenta preparado para ser invisível, se confundir com os demais e, devido a esta habilidade, quase nunca é flagrado no ato.

Há também o tipo cara de pau. Ele vem com a roupa errada, fala alto e assim que chega já procura logo o dono da festa. Sua estratégia é fazer de tudo para ser notado, a ponto de sua possível expulsão ser descartada, apostando no constrangimento que ela causaria. Caso consiga permanecer até o fim da festa não duvide que ele seja capaz de sair bêbado e com os bolsos cheios de canapés.

Existe ainda um terceiro tipo, o penetra circunstancial, mais comum e menos nocivo. Esta categoria abrange todos aqueles que, por alguma conjuntura do destino, desempenham o papel de penetra em caráter extraordinário. Creio que a maioria de nós já esteve pelo menos uma vez nesta condição, puxe pela memória.

Faz uns dez anos estava num bar em Botafogo acompanhado por um casal de amigos quando avistamos, numa outra mesa, um conhecido em comum. Conversa vai, conversa vem, o cara nos contou que estava fazendo hora antes de seguir para uma festinha incrível de aniversário que aconteceria ali perto. Para resumir bem a história fomos convencidos por ele a ir também, um pouco mais tarde, afinal nesta delicada condição o bom senso sugere chegar ao lugar já cheio.

Na portaria do prédio o primeiro obstáculo; seria necessário se anunciar? Em nome de quem, se ninguém nos conhecia? Por sorte o porteiro estava quase dormindo e nada nos perguntou. Subimos e encontramos a porta já aberta, entramos. O cenário era um apartamento de dois quartos onde havia um grupo de umas vinte pessoas no qual não se incluía o cara que nos convidou. Ele conseguiu a rara façanha (seria está uma quarta classificação?) de convidar penetras para uma festa e não aparecer!

Óbvio que num ambiente de pequenas proporções como aquele seria impossível passarmos despercebidos. Todos os presentes nos olhavam e comentavam com quem estivesse do lado algo como “quem são esses aí?”. A esta altura havia duas opções: dar meia-volta e reconhecer nossa humilhante tentativa de invadir aquela festa -quem sabe até pedindo desculpas para o aniversariante- ou relaxar, pegar uma cerveja e puxar conversa. Dito e feito.

A verdade é que entrar na cozinha para pegar bebidas apenas sublinhava o absurdo que representava continuarmos naquela festa. Escorados pela parede, segurando a cerveja sem tomar, parecíamos três suspeitos perfilados naquele paredão em que as vítimas fazem o reconhecimento de criminosos. Em nossa frente uma pista de dança improvisada, e muito mais natural seria se dançássemos. Assim fizemos. Dançando conseguimos rir das circunstâncias e nos descontraírmos um pouco, pelo menos até bater uma culpa por estarmos nos divertindo demais, algo que, aos olhos dos convidados, nós definitivamente não merecíamos.

Acho que depois disso desistimos. O jeito foi baixar a cabeça e sair do mesmo jeito que entramos e permanecemos durante todo o tempo, sem falar com ninguém. A vivência narrada me manteve muitos anos afastado da condição de penetra, exceto por um final de noite em Londres, quando me envolvi sem saber na tentativa de entrar num bar no West End exclusivo para atores associados. Me vi obrigado a assinar um nome qualquer na lista de presença, dizer que havia esquecido minha carterinha de sócio e o pior: me passar por ator! Neste dia achei que seria preso ou deportado, no entanto, felizmente, tudo deu certo. Me ocorreu agora a possibilidade de uma quinta categoria de penetra. A dos que, assim como eu e Peter Sellers no clássico “O convidado trapalhão”, se tornam penetras sem se dar conta disso. 

Viúva ou vilã?

ter, 16/09/08
por Bruno Medina |

courtney-kurt.jpgPor trás de um grande homem há sempre uma grande mulher. Concorde você ou não com esta frase o fato é que ela resiste ao tempo e as suspeitas quanto a sua aplicabilidade, afinal foram muitos, ao longo da história, os notáveis que tornaram também célebres suas esposas. Em alguns casos foram os próprios maridos que se incumbiram de atribuir a elas os louros da glória, desencorajando qualquer outra interpretação sobre a qualidade e a quantidade de contribuição das amadas para seu sucesso.

Mas se o ditado parece se comprovar na vida cotidiana, dificilmente pode se dizer o mesmo em relação aos ídolos do rock; no caso deles, a regra aponta justo para o contrário. Apenas para citar os exemplos mais conhecidos, basta considerar a fama da qual desfrutam Yoko Ono e Courtney Love perante os fãs de seus esposos. Se a primeira é considerada a principal responsável pelo fim dos Beatles, a segunda não deixa por menos: partiria dela o incentivo ao vício em heroína que culminou na morte de Kurt Cobain.

Pelo menos é o que afirma Danny Goldberg, ex-empresário do Nirvana que lança nesta próxima quinta-feira nos Estados Unidos “Bumping into geniuses: my life inside the rock n’ roll business”. No livro -ainda sem previsão de lançamento no Brasil-  Danny narra algumas passagens presenciadas durante os 40 anos em que atuou no cenário musical, e, pelo visto, tem tudo para acirrar a polêmica entre os órfãos do Grunge.

Em seus relatos o autor afirma que Courtney, ao assumir o papel de porta-voz oficial das opiniões do marido, corroborou para que fosse insustentável a relação entre os membros da banda. Por estar constantemente drogado, Kurt teria se tornado ainda mais vulnerável a sua nociva influência, o que inclusive poderia, em tese, se associar a depressão que o levou ao suicídio em abril de 1994.

Acusações à parte, cabe lembrar que Courtney e os ex-integrantes do Nirvana já protagonizaram diversos embates públicos. Como herdeira do patrimônio do vocalista e principal compositor, a viúva costuma criar dificuldades para liberar novas edições relativas ao legado deixado pela banda. Ano passado Dave Grohl deu o troco através da música “Let it die”, gravada pelo Foo Figthers.

A canção foi reconhecida por ela como uma crítica ao seu relacionamento com Kurt: “um homem simples e sua noiva vergonhosa, intravenosa, entrelaçada” e “você era tão considerado/alguma vez pensou em mim?” são alguns dos versos que puseram mais lenha na fogueira. Courtney, por sua vez, rebateu dizendo que o marido detestava Grohl, e que, em seu testamento, teria incluído uma cláusula atestando que o baterista não pertencia a banda que revolucionou o rock no início dos anos 90.

O barraco deve continuar rendendo trocas de farpas (e quem sabe até alguns processos) depois que o livro cair nas mãos dos fãs do Nirvana. Impossível, no entanto, não relacionar o episódio aos que volta e meia trazem Yoko à tona do noticiário musical.

As semelhanças entre Kurt e Lennon vão muito além das aparências. Ambos foram gênios em suas épocas, eternizados por suas músicas e, por assim dizer, vítimas da idolatria compulsiva. Suas viúvas nos sugerem ainda uma outra coincidência entre ambos: o que, aparentemente, seria um péssimo tino para escolher com quem se casar.

“isso me dá um tique-tique nervoso…”

sex, 12/09/08
por Bruno Medina |

wacko-left.jpgCertas vezes me pego pensando sobre o quão intrigante é a natureza humana. A complexidade de nosso organismo -bem como os mecanismos que culminaram em sua atual composição- encontram-se em constante transformação, consolidando-se como um inesgotável desafio a ciência.

A curiosidade por sua origem e funcionamento são uma obsessão inerente à nossa espécie, capaz de incitar questões que, muito provavelmente, continuarão sem resposta. O cérebro humano, por exemplo: qual motivo levou-o a se dividir em dois hemisférios? Por que razão e emoção precisam ser controlados por pólos que parecem se opor?

Ao longo da história pensadores e artistas tentaram sem sucesso compreender e traduzir em suas obras este antagonismo determinante de nosso comportamento, mas que ainda sim permanecerá por muito tempo como um mistério. A chave para resolução deste enigma reside na observação dos detalhes, nas reações imprevistas, ou seja, naqueles momentos em que as circunstâncias fogem ao que foi pré-determinado pela vivência e moldado por séculos de repetição.

Mesmo comparável a uma máquina por sua perfeição, o sistema no qual fomos concebidos -como, aliás, é inerente à condição humana- apresenta diversas falhas. O cacoete é uma grande falha. Baseado na auto-observação afirmo que o Homo sapiens não foi programado para lidar com o cacoete, nem com o seu próprio, e muito menos com o dos outros. Sim, este texto na verdade é sobre isso, sobre o cacoete.

Aqui em Salvador, cidade em que me encontro, existe um restaurante muito bom cujo dono possui um tique indisfarçável. Talvez este não seja o termo mais adequado para defini-lo, até porque seria inútil qualquer tentativa neste sentido. O fato é que o sujeito boa praça recebe os clientes na porta de seus estabelecimento repuxando o pescoço e falando com certa dificuldade, acometido por uma gagueira que o leva a cuspir perdigotos em quem estiver pela frente. É uma chuva.

Na primeira vez em que lá estive devo ter arregalado os olhos, ou ao menos esboçado um franzir de sobrancelhas, afinal é assim que reagimos diante de um tique, não há como evitar! Numa fração de segundos nosso cérebro tenta qualificar aquela expressão, mas ela bate bem ali, no meio, entre os dois hemisférios. A razão ordena o comando de “não reagir”, mas a emoção entrega o susto.

Um instante depois aquilo está devidamente codificado, no entanto o estrago já esteja feito. Claro que a esta altura da vida o senhor não deve mais se abalar com o estranhamento estampado no olhar de quem não o conhece, o problema é que ainda sim é gerado o constrangimento.

Pois bem, desta vez eu me preparei para enfrentar a situação. Tive o cuidado de alertar as pessoas que me acompanhavam, para que estivessem cientes do que estavam prestes a ver e para que agissem naturalmente. Chegando ao restaurante lá estava ele na porta, seu sorriso sinalizou que se lembrava de mim.

Sorri de volta. Então ele chega até nosso pequeno grupo e comenta algo de que sinceramente não me lembro, porque, dois anos depois, ele trocou o cacoete! Era um movimento com uma piscada forte e ombros, não sei, o que sei é que, de novo, caí no bug do cérebro e reagi. Acho que o espanto foi dobrado, pior a emenda do que o soneto.

O jantar foi ótimo, como sempre, embora meus amigos tenham passado todo o tempo dizendo que, apesar do aviso, o único que deu pinta de se surpreender ali fui eu. Antes da sobremesa veio o desejo de recorrer ao disquete com minha auto-atualização mais recente, ou uma versão definitiva que preveja qualquer tipo de cacoete. 

Deu pau, e agora?

qui, 11/09/08
por Bruno Medina |

msn-error-785831-copy.jpgHoje pela manhã chegou a confirmação de que o MSN -programa da Microsoft que possibilita a troca instantânea de mensagens- encontra-se temporariamente inacessível para milhares de usuários em diversos países do mundo. Uma nota divulgada pela sucursal brasileira da empresa reconhece o problema e afirma “estar investigando a causa e tomando as providências necessárias para solucionar o ocorrido o mais breve possível”.

Pesquisas apontam que no país 74% dos internautas, ou seja, aproximadamente 17 milhões de pessoas, são usuários freqüentes do software, portanto calcule por aí a frustração e o transtorno decorrente da pane. Estes números por si só comprovam a eficiência dos funcionários de Bill Gates ao conceberem uma ferramenta de comunicação que conseguiu ao longo dos anos se tornar praticamente unânime em meio a seus concorrentes.

Mais do que isso, sua utilização para o estabelecimento de relações pessoais pode ser considerado imprescindível entre determinados grupos sociais, especialmente os bastante jovens, que já cresceram familiarizados com a comodidade dos contatos pipocando em sua tela, muitas vezes amigos virtuais que nem conhecem pessoalmente.

Digo sem exagero que o MSN consolidou uma nova forma de interação entre seres humanos e, devido a sua atual relevância, não seria inimaginável que este fatídico 11 de setembro (será que a pane é fruto de um ato terrorista do Al Qaeda?) entrasse para a história como o “Dia sem MSN”. Já posso antever as futuras celebrações desta data, que tem tudo para virar feriado mundial nos próximos anos.

Se você é um dos aficionados do programa e encontra-se um tanto desnorteado pela impossibilidade de utilizá-lo, aí vai uma série de sugestões para minimizar a crise de abstinência:

- dedique-se a seu computador, aproveitando o tempo adquirido para realizar tarefas básicas de manutenção, tais como atualizações e a desfragmentação do disco (aquela dos quadradinhos coloridos).

- exercite sua memória tentando escrever num papel (se é que você ainda sabe como utilizar uma caneta) o nome de seus principais amigos virtuais, pelo menos com os quais você já conversou alguma vez e/ou conhece de verdade.

- contemple o melhor rendimento no trabalho ou nos estudos enquanto aquela janelinha encontra-se fechada.

- saia na rua e tente fazer um amigo pelo método convencional. Neste caso não é necessário perguntar se este concorda que você o adicione.

Se nada disso surtir efeito, permaneça clicando “sign in” ininterruptamente, uma hora o programa deve voltar a funcionar.

Correndo contra o tempo

qui, 11/09/08
por Bruno Medina |

dunga1_75.jpg       Ontem, quando fui me deitar, fiquei pensando se haveria tempo para escrever algo sobre o péssimo desempenho da seleção brasileira antes do aguardado anúncio da demissão de Dunga. Bom, ao que parece, pelo menos até às 8 horas da manhã de hoje, ele ainda mantém o cargo.

Quem dá bola?

ter, 09/09/08
por Bruno Medina |

bola.jpgAmanhã, durante o horário nobre, quem sintonizar a TV na partida de futebol a ser disputada entre Brasil e Bolívia corre o risco de se deparar com um fato surpreendente. Não se trata, no entanto, de uma súbita melhora de qualidade no padrão de jogo de nossa seleção, ou mesmo da escalação de algum jogador coringa, até então poupado para apenas atuar em casos estritamente necessários. A surpresa ficará por conta da torcida, ou da ausência dela.

Faltando pouco mais de 24 horas para o jogo apenas 12 mil dos 29 mil ingressos colocados à disposição foram vendidos e, pelo movimento registrado agora a tarde, será difícil que o montante chegue a metade do total. A situação não deixa de ser inusitada, afinal, no país do futebol, mesmo quando o time canarinho não anda muito bem das pernas há sempre um considerável contingente que se dispõem a prestigiá-lo, nem que seja para reclamar e xingar.

Levando em consideração os números do futebol, uma partida assistida por 12 mil torcedores nem precisaria ser jogada num estádio com as dimensões do Engenhão; bastaria pedir emprestado o campo de treinamento de qualquer equipe da segunda divisão do Campeonato Brasileiro e, possivelmente, ainda sobraria lugar nas arquibancadas. Se a seleção habituou-se a se apresentar para 50, 60 mil pessoas na Ásia ou na Europa parece que aqui –ou pelo menos no Rio de Janeiro- as coisas estão mudando.

Puxando pela memória não consigo me recordar sequer de ter ouvido falar numa partida do Brasil perigando se transformar num grande fiasco. Tá certo que o carioca é um povo tinhoso, que não costuma dar o braço a torcer e muito menos prestar reverências a quem não as mereça, mas parece que a falta de público era, de fato, um problema até então impensável para a CBF.

Semana passada um amigo meu conseguiu comprar ingressos para o jogo sem enfrentar as tradicionais filas e estranhou o fato. Se a tragédia já se anunciava há algum tempo, aposto que os organizadores pensaram que o bom resultado alcançado durante o último domingo no Chile daria aquele empurrãozinho extra para as vendas decolarem de vez. Ledo engano. Aposto, também, que a cidade maravilhosa ficará de castigo, sem ver a seleção de perto por uma longa temporada…

Desconfio que o problema tenha menos a ver com resultados e mais com identidade. O que falta a esse time é uma cara, um nome para evocar, um craque! O caso de amor entre os brasileiros e o futebol se esvai na mesma velocidade com que nossos melhores jogadores desembarcam em países longínquos, antes mesmo de se tornarem conhecidos por aqui.

Claro que a atual conjuntura se relaciona com diversos fatores, mas me parece que a questão do nacional dentro de um esporte totalmente globalizado é o que vem fazendo a diferença. Jogar pela seleção, garanto, já foi maior motivo de orgulho em outras épocas, e o torcedor, é claro, percebe isso.

Enquanto não surgir um outro craque ou os que já estão escalados não puxarem para si a responsabilidade, a seleção pode começar a considerar a possibilidade de perder parte de seu público cativo. Se o futebol brasileiro se propõem a ser um espetáculo, a mensagem dada pelos cariocas é a de que é preciso melhorar. Que o diga Madonna, que ao pisar no gramado do Maracanã em dezembro, terá vendido 150 mil ingressos para suas duas apresentações na cidade. Quem sabe a cantora não ensina uns passinhos de dança pros nossos jogadores voltarem a cair no gosto popular?

Só um pedaço?

seg, 08/09/08
por Bruno Medina |

britney-spears.jpgApós um longo e tenebroso hiato, parece que a sorte –ou o destino- voltou a sorrir para Britney Spears. A cantora que o mundo elegeu, ou ao menos considerou ser a mais provável candidata ao posto de “Madonna dos anos 2000”, ensaiou uma recuperação, atenuando as ranhuras que nos dois últimos anos ofuscaram seu prestígio, período em que foi indubitavelmente “au concours” no quesito “celebridade mais maluca de todos os tempos”.

Ontem no VMA, cerimônia que premia os melhores vídeoclipes da MTV americana, Britney arrebatou nada menos do que 3 categorias (melhor videoclipe feminino, melhor video pop e melhor video de 2008), desempenho que não chega a ser impensável considerando seus antigos padrões, mas que já supera em muito sua atuação no ano passado, quando não levou nada e ainda se apresentou fora de forma e mal vestida.

Sua performance na ocasião foi tão negativamente impactante que a imprensa internacional chegou a sentenciar o declínio definitivo de seu império. Era no mínimo melancólico testemunhar a atual musa do pop desmoronando justo no palco que a consagrou, afinal foram seus vídeoclipes que a tornaram o que era até então.

Deste dia para cá Britney fez sua parte: os episódios incompreensíveis envolvendo sua imagem -tais como raspar a cabeça, agredir fotógrafos com guarda-chuvas e tentar invadir a casa onde seus filhos moram com o pai- passaram a acontecer com menor frequência, e, de súbito, veio a impressão de que a mídia havia lhe dado um pouco de privacidade, talvez apenas muito ocupada em noticiar as peripécias de Amy Winehouse, forte concorrente ao posto que há pouco havia sido ocupado pela própria Britney.

É mesmo fascinante o processo responsável por criar e estabelecer os ídolos do mundo pop. E que não se duvide da influência desta poderosa indústria, capaz de transformar uma típica menina americana, de talento musical pouco aguçado, numa enorme estrela. Britney protagonizou um valoroso exemplo para tantas outras meninas que desejaram um dia estar em seu lugar: o de que ninguém pode almejar o topo sem conceder uma certa dose de sacrifício, convertido em escândalos.

O maior diferencial numa possível comparação entre Britney e Madonna é a capacidade que a segunda tem de administrar sua carreira, bem como suas polêmicas. Publicar um livro erótico, simular masturbação em público ou beijar um santo negro num videoclipe são factóides muito menos nocivos do que as mazelas da vida privada.

Talvez seja esta a qualidade que a torne única; a percepção da vantagem que representa manipular as atenções das mídia antes que esta se interesse pelo que não se deseja mostrar. Ano passado escrevi sobre o passional triângulo amoroso que se dá entre fãs, celebridades e imprensa, uma relação tortuosa e ambígua onde, estranhamente, o que mais parece importar é o que o ser amado tem de pior.

Britney, no entanto, nos provou que ainda tem fôlego para permanecer no centro do picadeiro do circo das celebridades. “Piece of me”, clipe que arrebatou os 3 troféus de ontem, é, possivelmente, o pior de todos que já lançou. Uma produção bastante simples, rodada no auge do surto auto-destrutivo da cantora, e que, por isso mesmo, tem muito pouco do que acostumou-se a esperar dela.

O roteiro é manjado: papparazzi se amontoam na porta de sua casa ávidos por fotos que a mostrem partindo para a balada. Dentro da boate Britney dança e leva um cara para um amasso no banheiro, para logo em seguida descobrir que ele tem uma câmera escondida na roupa. Ela não consegue evitar que tudo vá parar na capa das revistas, olha para a camera e pergunta: “you wanna a piece of me?”, em tradução literal para o português algo como “você quer um pedaço de mim?”. A estratégia de retratar a angustiante rotina de sua vida pessoal soa como um pedido de socorro, o que parece ter sensibilizado a audiência da MTV americana.

Seria uma espécie de retratação? Um “mea culpa” coletivo em função de tanta curiosidade mórbida ou a constatação de que o showbusiness não poderia abrir mão, assim, de um de seus maiores expoentes? A mão que destrói é a mesma que ergue. O clipe é ruim e outras artistas tiveram muito mais êxito do que Britney durante o ano passado, mas quem se importa? O fato realmente relevante neste caso é que ela parece estar de volta. E respondendo a pergunta que ela nos fez: só um pedaço não. Se possível, queremos tudo.



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