Há mais ou menos duas semanas quem acessa o site do Los Hermanos se depara com uma notícia que para muitos deve ter soado surpreendente, algo que envolve a mim e um programa de televisão. O Bruno estará num programa de TV? Ele vai virar apresentador agora? É sério isso? Ou será que o site foi atacado por hackers? Mistério.
No último sábado os leitores do Jornal O Globo foram brindados com a publicação de uma extensa matéria sobre parcerias virtuais na capa do Segundo Caderno. Alguns, ainda sonolentos, devem ter se perguntado que diabos uma foto minha estaria fazendo lá. Calma, eu explico.
Alguns meses atrás, num domingo arrastado, zapeava a televisão de casa sem
nenhuma perspectiva de encontrar um bom programa para assistir. Enquanto
os canais se alternavam freneticamente na tela, inconformado, tentava enumerar
as características que um programa deveria possuir para prender minha atenção.
Concluí que deveria ter música, claro, mas que esta fosse apresentada de
uma forma inovadora. Seria importante também que a atração se calcasse em
algum acontecimento verdadeiro, com pessoas reais, porque ninguém agüenta
mais tanta armação, né? A cereja do bolo seria um presente, alguma coisa
que pudesse ser dada ao telespectador em troca da audiência. Pronto, sem
saber eu tinha inventado um programa de televisão.
Quando pensei em música a primeira palavra que me ocorreu foi fragmento.
Por diversas vezes já propus aqui nesse espaço discussões sobre as novas
formas de interação que têm transformado profundamente as relações humanas
nesse meio. Ano passado, por exemplo, participei da gravação de um disco
virtualmente.
Recebi o arquivo, gravei minha parte e mandei de volta, todos os contatos
feitos por e-mail. A praticidade trazida para o processo de composição pode
ser considerada verdadeiramente revolucionária, mas será que os métodos atuais
interferem no resultado? Essa é a questão central do programa que criei.
Voltar o olhar para essa nova maneira de se fazer música e tentar descobrir
que cara ela tem.
A cada episódio três artistas atuantes na música brasileira, conhecidos ou
não, são escalados para um desafio: compor e gravar uma música no prazo de
uma semana sem se encontrarem. Um faz a letra, outro faz a harmonia, outro
grava o baixo e assim por diante. Os encontros precisam ser inéditos, diria
até inusitados, porque a minha ambição é, de fato, criar parcerias.
É aí que entra a parte da verdade; não tem combinação por baixo dos panos,
não se trata de uma atração criada com a função de apenas intercalar os intervalos
publicitários, o programa só seria interessante para mim se o objetivo final
fosse criar música a sério, para ser agregada ao repertório dos artistas,
tocar no rádio e passar a fazer parte da vida de todos os participantes,
assim como de seus fãs. E se o resultado final for péssimo, vamos todos rir.
Mas onde é que eu entro nisso? Eu escalo os encontros e administro todos
os problemas relativos à gravação. Ligo pra convidar o artista (imagino que
vou tomar muitos “não” na cara), busco o arquivo na casa dele, peço pra refazer
quando der problema, levo o equipamento pra gravar atrás do palco ou no aeroporto,
toco teclado nas músicas, cruzo, cabeceio e cobro escanteio. Enfim, faço
a empreitada acontecer.
Para me ajudar nessa tarefa que, acreditem, não vai ser nada fácil, convidei
o Kassin e o Berna Ceppas, amigos de longa data e donos do Estúdio Monoaural,
onde os últimos discos do Los Hermanos foram produzidos. Lá serão realizadas
parte das gravações, bem como a finalização das músicas. Aliás, o estúdio
e seus freqüentadores por si só já renderiam um programa.
Ao final de cada episódio teremos uma música inédita, que não existiria caso
dependesse do encontro dos artistas ou dos métodos convencionais de composição.
No momento ainda preciso definir um nome para batizar o projeto e buscar
os melhores parceiros para concretizá-lo.
Estou bastante otimista em relação aos resultados e tenho certeza de que
vou me divertir e conhecer muita gente bacana por conta desse programa. É
claro que me apavora a idéia de me tornar apresentador, mas prefiro acreditar
que o medo das câmeras tende a diminuir com o tempo, ainda mais porque estarei
abordando um assunto sobre o qual já sei alguma coisa.
Não há previsão de estréia, tampouco de onde o programa será exibido, mas
posso adiantar que já estou em negociação com alguns canais. Bom, por enquanto
é isso, espero poder em breve informá-los sobre outras novidades. Diz aí
se esse não é o post mais louco de todos?