Por um lar, doce lar

dom, 30/03/08
por Bruno Medina |

“…De manhã eu voltei pra casa
Fui barrada na portaria
Sem filé e sem almofada

Por causa da cantoria…”

Quer mudar esta letra? Explico, com licença poética: hoje pela manhã,
enquanto levava o cachorro para passear, ouvi a tal cantoria e eis que
debaixo de um carro estacionado bem na frente da minha casa, surgiram duas
lindas gatinhas.

Destemidas, apesar da pouca idade e dos latidos de Oscar, miaram ainda mais
forte para tentar chamar minha atenção, e eu não pude fazer outra coisa a
não ser levá-las pra casa.

gato.jpg

Já dispostos a escolher que nomes teriam, nos demos conta de que às vezes a
convivência entre cães e felinos pode não ser tão pacífica assim. Dito e
feito, Oscar não gostou nada, nada das novidades, então, a saída vai ser
arrumar depressa um novo lar para elas.

Já de banho tomado e barriga cheia, é visível que estão ótimo estado de
saúde, já fazem muita bagunça inclusive.

Criamos um e-mail para quem quiser se candidatar a adotar uma delas ou as
duas – [email protected]. As felinas também já tem um orkut, com
direito à sessão de fotos que improvisamos para quem ainda não se convenceu.

Quase lá

sex, 28/03/08
por Bruno Medina |

brunomedina28032008.jpgMais por insistência do que por vontade própria, no último final de semana superei outro degrau da já não tão longa escalada que ainda me separa da paternidade. Fui matriculado no curso de pais iniciantes. Ao contrário do que possam antecipar, as aulas ministradas por experientes profissionais da maternidade onde Vicente irá nascer são de grande valia -quiçá imprescindíveis- para marinheiros de primeira viagem como nós.

O curso não deixa de servir também como um teste, especialmente para os pais, afinal não existe maneira mais eficiente de atestar comprometimento com a causa do que se submeter a doze horas de aulas num único final de semana. Ainda mais se depois disso você aceitar se aventurar (meu caso) numa segunda investida pela Feira de Bebês e Gestantes. E ainda dizem que o treinamento do BOPE é barra pesada….

Barra pesada é realizar corretamente o movimento que troca o bebê de posição na banheira, invertendo a pegada para lavar as costas; parece um daqueles cumprimentos entre rappers americanos, uma coisa que envolve um encaixe de polegares, algo que certamente terá que ser revisto em minha apostila. Essa parte do banho aparenta ser uma das mais tensas, mas o ponto alto do curso nesse quesito foi mesmo a visita ao centro cirúrgico.

Como hoje em dia é difícil encontrar um pai que não queira estar presente no momento do nascimento de seu bebê, os responsáveis pelo curso perceberam que uma boa forma de detectar futuros imprevistos (aqueles maridos que dão mais trabalhos do que as grávidas) é apresentá-los com antecedência ao local do parto, algo como o reconhecimento do gramado praticado no futebol antes de partidas importantes.

Depois de uma completa assepsia e trajando a característica vestimenta (vide foto), percebi que a maior dificuldade que deverei enfrentar na “hora H” vai ser respirar e enxergar ao mesmo tempo. A máscara dificulta a troca de ar e faz com que o mesmo suba, embaçando completamente as lentes dos meus óculos. É como se o parto fosse ocorrer numa noite do mais espesso fog londrino.

De volta a sala de aula cada casal recebeu um boneco para treinar o “duplo twist carpado” da banheira e aquela que será nossa mais assídua atividade nos próximos meses, a troca de fraldas. Acreditem que até essa simples tarefa esconde seus pequenos truques, o principal deles visa evitar um jato de xixi na cara de quem está realizando a troca.

Não vou me prolongar nesse tópico, entretanto cabe registrar que um casal deixou o boneco cair durante a simulação do banho e um pai -não me perguntem como- conseguiu arrancar o braço do suposto bebê. Uma cena curiosa era observar como cada dupla tratava seu filho de plástico; uns seguravam no colo com o devido cuidado, outros o colocavam sentado na cadeira ao lado e alguns poucos deixavam os rebentos jogados no chão.

A última etapa do curso foi a visita ao berçário, o local onde a jornada mais importante de nossas vidas irá começar. Além de parentes barulhentos se amontoando em frente ao vidro, era possível presenciar um ou outro pai, naquele momento muito louco conseqüente de tantas emoções distintas misturadas. Ali estávamos como alunos, mas com a estranha sensação de que muito em breve seremos nós do lado de dentro do vidro.

O retorno do mosquito

ter, 25/03/08
por Bruno Medina |

brunomedina25032008.jpgNão bastassem as balas perdidas, a desordem pública generalizada e outras tantas mazelas que há tempos assolam os cariocas, agora também temos que lidar com essa epidemia insana de dengue. “Agora” é modo de dizer, porque já se vão muitos anos (basta lembrar do Dengue, mosquitão amarelo e ajudante de palco do “Xou da Xuxa”) desde que o Aedes Aegypti passou a ser o protagonista dos nossos verões.

Aqui no Rio de Janeiro funciona assim: quem não está ou nunca esteve com dengue sabe que algum dia ainda estará. Não se trata de pessimismo, é uma questão de lógica, afinal estima-se que a cada hora sejam diagnosticados mais de mil casos da doença. Enquanto os governantes empurram a culpa uns para os outros, quem sofre com a falta de providências é a população, que padece nas filas dos hospitais, públicos e particulares. Aliás, ontem se chegou a conclusão de que os verdadeiros culpados pelo surto somos nós, os cidadãos fluminenses.

A tradição dita a regra; ano que sucede epidemia de dengue registra declínio
acentuado dos casos. Passado o ápice do contágio, todo mundo esquece o
assunto, relaxa, e aí pimba, tudo de novo no ano seguinte. Será que duas
décadas não foram suficientes para aprender a lição? O Aedes aprendeu a
dele, tanto que as fêmeas do mosquito passaram a depositar seus ovos também
em água suja, aumentando consideravelmente as chances de procriação da
espécie.

Frente ao aprimoramento e a perspicácia dos insetos, a Secretaria de Saúde
propõe uma medida preventiva que chega a ser cômica; recomenda que se usem
calças compridas, sapatos fechados e meias, mesmo de sandálias, porque as
pernas e os pés costumam ser os alvos prediletos do mosquito. Até o fumacê
(carro que pulveriza inseticida pelas ruas da cidade), que anteriormente não
havia se mostrado tão eficiente no combate aos focos da doença, voltou com
força total, creio que apenas para aparentar que alguma medida está sendo
tomada pelas esferas públicas.

O retrato do carioca nesse final de verão é de um sujeito trajando calças e
sapato dentro de casa, mesmo sob um calor de mais de trinta graus,
empunhando sua raquete mata-mosquito como a espada de um Jedi, em defesa de
sua própria vida, à espreita de seu maior inimigo, um mosquito com menos de
dois centímetros.

Ontem mesmo vi um passeando pelo meu calcanhar e cheguei a pensar que tinha
sido picado. Antes que você me acuse de ser relapso, ou um criador de
mosquitos em potencial, saiba que eles estão não só aqui em casa como em
quase todos os lugares da cidade. O convívio diário com o bichinho nos leva
a perder o receio, felizmente nem todos estão contaminados. Então o jeito é
torcer para não ser a próxima vítima dessa roleta russa, para que o verão
termine logo e escapemos ilesos, pelo menos até o ano que vem.

A forma hemorrágica da doença tem matado vinte vezes mais do que o
percentual tolerado pela Organização Mundial de Saúde. Será que é possível
imaginar o que se passa pela cabeça de uma pessoa que, em pleno século XXI,
perde um parente por causa da picada de um mosquito? Parece ficção, mas é
realidade. Mais um episódio das histórias de não se crer do Brasil.

Quem te viu, quem TV

ter, 18/03/08
por Bruno Medina |

tvbrunomedina18032008.jpgHá mais ou menos duas semanas quem acessa o site do Los Hermanos se depara com uma notícia que para muitos deve ter soado surpreendente, algo que envolve a mim e um programa de televisão. O Bruno estará num programa de TV? Ele vai virar apresentador agora? É sério isso? Ou será que o site foi atacado por hackers? Mistério.

No último sábado os leitores do Jornal O Globo foram brindados com a publicação de uma extensa matéria sobre parcerias virtuais na capa do Segundo Caderno. Alguns, ainda sonolentos, devem ter se perguntado que diabos uma foto minha estaria fazendo lá. Calma, eu explico.

Alguns meses atrás, num domingo arrastado, zapeava a televisão de casa sem
nenhuma perspectiva de encontrar um bom programa para assistir. Enquanto
os canais se alternavam freneticamente na tela, inconformado, tentava enumerar
as características que um programa deveria possuir para prender minha atenção.

Concluí que deveria ter música, claro, mas que esta fosse apresentada de
uma forma inovadora. Seria importante também que a atração se calcasse em
algum acontecimento verdadeiro, com pessoas reais, porque ninguém agüenta
mais tanta armação, né? A cereja do bolo seria um presente, alguma coisa
que pudesse ser dada ao telespectador em troca da audiência. Pronto, sem
saber eu tinha inventado um programa de televisão.

Quando pensei em música a primeira palavra que me ocorreu foi fragmento.
Por diversas vezes já propus aqui nesse espaço discussões sobre as novas
formas de interação que têm transformado profundamente as relações humanas
nesse meio. Ano passado, por exemplo, participei da gravação de um disco
virtualmente.

Recebi o arquivo, gravei minha parte e mandei de volta, todos os contatos
feitos por e-mail. A praticidade trazida para o processo de composição pode
ser considerada verdadeiramente revolucionária, mas será que os métodos atuais
interferem no resultado? Essa é a questão central do programa que criei.
Voltar o olhar para essa nova maneira de se fazer música e tentar descobrir
que cara ela tem.

A cada episódio três artistas atuantes na música brasileira, conhecidos ou
não, são escalados para um desafio: compor e gravar uma música no prazo de
uma semana sem se encontrarem. Um faz a letra, outro faz a harmonia, outro
grava o baixo e assim por diante. Os encontros precisam ser inéditos, diria
até inusitados, porque a minha ambição é, de fato, criar parcerias.

É aí que entra a parte da verdade; não tem combinação por baixo dos panos,
não se trata de uma atração criada com a função de apenas intercalar os intervalos
publicitários, o programa só seria interessante para mim se o objetivo final
fosse criar música a sério, para ser agregada ao repertório dos artistas,
tocar no rádio e passar a fazer parte da vida de todos os participantes,
assim como de seus fãs. E se o resultado final for péssimo, vamos todos rir.

Mas onde é que eu entro nisso? Eu escalo os encontros e administro todos
os problemas relativos à gravação. Ligo pra convidar o artista (imagino que
vou tomar muitos “não” na cara), busco o arquivo na casa dele, peço pra refazer
quando der problema, levo o equipamento pra gravar atrás do palco ou no aeroporto,
toco teclado nas músicas, cruzo, cabeceio e cobro escanteio. Enfim, faço
a empreitada acontecer.

Para me ajudar nessa tarefa que, acreditem, não vai ser nada fácil, convidei
o Kassin e o Berna Ceppas, amigos de longa data e donos do Estúdio Monoaural,
onde os últimos discos do Los Hermanos foram produzidos. Lá serão realizadas
parte das gravações, bem como a finalização das músicas. Aliás, o estúdio
e seus freqüentadores por si só já renderiam um programa.

Ao final de cada episódio teremos uma música inédita, que não existiria caso
dependesse do encontro dos artistas ou dos métodos convencionais de composição.
No momento ainda preciso definir um nome para batizar o projeto e buscar
os melhores parceiros para concretizá-lo.

Estou bastante otimista em relação aos resultados e tenho certeza de que
vou me divertir e conhecer muita gente bacana por conta desse programa. É
claro que me apavora a idéia de me tornar apresentador, mas prefiro acreditar
que o medo das câmeras tende a diminuir com o tempo, ainda mais porque estarei
abordando um assunto sobre o qual já sei alguma coisa.

Não há previsão de estréia, tampouco de onde o programa será exibido, mas
posso adiantar que já estou em negociação com alguns canais. Bom, por enquanto
é isso, espero poder em breve informá-los sobre outras novidades. Diz aí
se esse não é o post mais louco de todos?

Tá na capa!

sex, 14/03/08
por Bruno Medina |

iggy_bruno.jpgDentre as inúmeras etapas relativas a concepção de um disco, uma das mais importantes é seguramente – e talvez surpreendentemente – a criação de arte. Na escola, em algum momento entre a “metonímia” e a “catacrese”, você deve ter aprendido que “sinestesia” é a figura de linguagem utilizada para denominar a interpretação sensorial derivada da fusão dos sentidos, e é justo a causar essa sensação que as capas de disco se destinam.

Creio que os projetos gráficos considerados antológicos, ou, ao menos memoráveis, foram aqueles que cumpriram com competência a difícil tarefa de sintetizar o universo ideológico por trás de um punhado de gravações, ajudando a transformá-lo num álbum coerente. Não seria exagero dizer que há casos em que as capas foram responsáveis por boa parte do sucesso obtido por alguns discos.

Num passado não muito distante (período pré-MP3) ir até as lojas especializadas era a maneira mais usual e eficiente de se conhecer um novo álbum, ou mesmo um novo artista. As capas precisavam gritar, saltar das prateleiras, captar o olhar do consumidor e fazê-lo querer desesperadamente levar aquele disco para casa. Eu mesmo já fiz grandes descobertas e muitas vezes fui recompensado por apostar em capas originais.

Ontem mesmo pensava que um dos principais retrocessos da “era do CD” foi a drástica redução do espaço e ­ por que não dizer- da relevância que as imagens possuíam na “era do vinil”. Lembro-me dos discos da minha infância, com encartes para recortar, colar e montar, propondo uma experiência muito mais plural para a criançada.

Sempre que coloco um disco na vitrola, deixo sua capa no chão, exposta, porque para mim a ilustração escolhida pelo artista pode e deve influenciar a audição, mesmo que sejam aqueles closes de rosto em tamanho natural. O sorriso simpático de um ídolo querido sempre rende mais execuções, né? Sei lá, parece que o sujeito está na sua sala…

Os caciques da indústria fonográfica sabiam muito bem se aproveitar disso, e deve ter sido a partir dessa percepção que surgiu a mania de estampar artistas novos na capa de seus álbuns de estréia. Quando lançamos o primeiro CD, travamos uma verdadeira briga de foice com o staff da extinta Abril Music pelo direito de não estarmos na capa do nosso próprio disco; achávamos que uma imagem bem escolhida dizia mais sobre as músicas do que qualquer fotografia nossa.

Outras brigas se seguiram por causa do número de folhas de um determinado encarte, do tipo de papel empregado, enfim, sempre uma negociação difícil que julgávamos valer a pena. Só para dar uma idéia de como a capa interfere no resultado final, aquela imagem que ilustra o “Ventura” surgiu ainda durante a pré-produção: um navio enorme sendo conduzido por um pequeno pássaro é uma relativização do equilíbrio entre forças muito distintas. Tenho certeza que essa metáfora está presente também nas músicas.

Tudo isso que foi dito soa um tanto démodé. Na “era virtual” as capas não têm tanta importância e até o próprio conceito de álbum foi muito esvaziado. Prova disso é o resgate trazido por essa onda de “Sleeveface” (vide ilustração do post), que consiste em compor uma foto a partir da interação com a capa de um LP. Tem gente até chamando de arte. Se os discos de vinil caíram em desuso, pelo menos suas capas estão mais vivas do que nunca.

Apertem os cintos!

ter, 11/03/08
por Bruno Medina |

Acredito que grande parte das pessoas que me conhecem razoavelmente não associe minha personalidade aos tipos dados a rompantes de agressividade ou qualquer outra demonstração pública de destempero. De fato sou uma pessoa tolerante, discreta e quase nunca perco a compostura. Existe, no entanto, uma única coisa capaz de me tirar do sério, de trazer à tona o que tenho de pior, e me conduzir a um estado mental que beira a loucura: o trânsito.

pateta2.jpgDurante os longos períodos de engarrafamentos -cada vez mais freqüentes no Rio de Janeiro- tenho me dedicado a pensar em como é estúpido ficarmos parados, dentro de nossos carros, impedidos de nos dedicarmos a qualquer outra atividade que não engatar a primeira marcha e avançar de 5 em 5 metros. Ainda mais se considerarmos que os automóveis foram idealizados para facilitar a locomoção e poupar tempo.

Em suma, os temíveis “nós do trânsito”, possivelmente um dos maiores causadores de stress nas grandes cidades, nada mais são do que o desejo ou a necessidade individual de muitas pessoas se dirigirem, ao mesmo tempo, para o mesmo lugar. Em parte pela insuficiência dos transportes públicos, em parte porque a maioria dos motoristas julga seus compromissos mais relevantes do que o dos outros, todo mundo bota o carro na rua e o resultado é que ninguém anda.

O que mais me irrita não é o problema em si, mas sim a forma como as pessoas lidam com ele. Todo mundo gosta de reclamar do trânsito, mas poucos são os que têm auto-crítica suficiente para rever seus hábitos. A falta de consideração com o próximo normalmente se traduz naquelas pequenas infrações isoladas que resultam em grandes conseqüências para todos: é a fila dupla rapidinho na porta da escola, o cruzamento fechado pelo “fominha” que não quer perder o sinal, e por aí vai.

Um amigo meu gosta de brincar dizendo que quando se sai da garagem é preciso ter consciência de que, a princípio, você já está colaborando para piorar o trânsito, portanto, seja solidário. Mas o que ocorre é bem diferente. Quando existe alguma desavença, os envolvidos comumente abaixam o vidro para discutirem e se xingarem, isso quando não saem dos carros.

Outro dia vi um taxista parar para buscar no porta-malas um porrete de madeira por conta de uma discussão. Uma fechada não proposital, um descuido que seja, apesar do pedido de desculpas, costumam ser punidos com a humilhação sumária. Por muito pouco o cidadão pode tomar aquela buzinada desconcertante, uma cortada e ainda ser esculhambado na frente da família. E me pergunto: de onde vem tanto ódio?

Na última vez em que viajei de carro, trafegava pela pista da esquerda a mais de 100 km/h quando colou atrás de mim um louco, num daqueles carros possantes, piscando o farol freneticamente. No mesmo instante dei seta para a direita e aguardei o momento para mudar de faixa. O palhação quis fazer uma graça e passou entre o meu carro e um outro, perdeu o controle, saiu em zigue-zague e quase causou um acidente gravíssimo, a troco de nada.

A soma e a repetição de ocorrências como essa transformam as ruas da cidade em algo semelhante a um campo de batalha. Parece que cada motorista é umoponente, alguém com quem se disputa, sei lá, o direito de locomoção. Impossível não se lembrar daquele episódio em que o Pateta tem dupla personalidade e se transforma num monstro quando assume o volante. Por conta de motoristas como ele, creio já ter descoberto o meu elixir para a vida saudável e longe do stress: deixar o carro na garagem.

Barrados no baile

sex, 07/03/08
por Bruno Medina |

diploma.jpgSem sombra de dúvida a notícia mais divertida da semana foi o caso desse menino de 8 anos, chamado João Vitor, que conseguiu ser aprovado para o curso de direito da Unip de Goiânia. O melhor de tudo é ele dizendo que achou as perguntas da prova “tranqüilas”. É provável que sua pouca idade o impeça de compreender a complexidade dos aspectos acerca de sua aprovação, e por que – o que provavelmente começou para ele como uma brincadeira – é um triste e preocupante retrato de nosso tempo.

Francamente não sei se o pior nessa história é a declaração da universidade, justificando o resultado positivo obtido pelo garoto a partir de seu bom desempenho na prova de redação do concurso, ou o fato dos pais de João Vitor terem o incentivado a comparecer ao primeiro dia de aula, submetendo-o ao constrangimento de ser impedido de entrar no prédio.

Posto isso, algumas perguntas: que diabos levou essa criança a se interessar por fazer uma prova de vestibular, e qual o intuito de seus pais ao insistirem nessa sandice de matriculá-lo na faculdade? Imaginem como ficaria a cabeça dele, formado em direito com a idade em que o normal seria estar às voltas com o primeiro beijo!

Qual a utilidade prática de uma prova de vestibular de múltipla – escolha cujo conteúdo pode ser realizado com facilidade por uma criança? E por último, que parâmetros servem como referência para que o desempenho de um menino de 8 anos numa prova de redação seja considerado satisfatório em comparação a outros concorrentes, teoricamente muito mais bem preparados, e com pelo menos o dobro de sua idade?

Essas são evidências incontestáveis do flagrante processo de degradação conseqüente da mercantilização do ensino superior no Brasil. Faculdades pipocam a todo momento, pelos 4 cantos do país, despejando, no mercado de trabalho já saturado, um exército de profissionais desqualificados.

No último exame realizado pela OAB-SP inacreditáveis 83,84% dos candidatos foram reprovados, ou seja, menos de 17% dos bacharéis formados em direito estavam aptos a exercer a profissão de advogado. Há algumas semanas vi no jornal o anúncio de uma faculdade que sorteava um carro zero entre os alunos matriculados até determinada data. Meu Deus.

Está certo que a educação é o melhor atalho para o desenvolvimento, mas de que adianta, a não ser para incrementar as estatísticas, um contingente enorme de trabalhadores mal preparados? Por que não investir todos os recursos possíveis na formação de base, justo essa que tanto tem faltado aos alunos universitários?

João Vitor por pouco não foi vítima desse pensamento cada vez mais comum nos pais da atual geração, que enxergam para seus filhos um futuro profissional sombrio e de muita competitividade. Com tanta gente disputando um mesmo espaço, provavelmente pensaram que o menino teria maiores chances de ser bem sucedido caso entrasse na faculdade ainda criança, e é justo esse raciocínio, de priorizar o diploma e não a formação, que tem gerado tanto problema.

Me parece óbvio que essa discrepância entre as vagas nas salas de aula e os postos de trabalho só irá terminar quando houver uma conscientização de que, muito mais importante do que o destino, é o caminho percorrido.

Além da imaginação

ter, 04/03/08
por Bruno Medina |

Durante o último final de semana fui personagem de um daqueles acontecimentos que, embora irrelevantes, quando ocorrem nos dão a impressão de que dificilmente serão esquecidos. Tudo se deu na sala de espera da clínica veterinária onde levei Oscar para a realização de exames rotineiros. Aguardava entediado o fim da consulta quando, cansado de folhear as páginas de uma desbotada revista sobre raças caninas, iniciei uma caminhada sem propósito pelos corredores vazios.

sosia-bruno-medina.jpgOs olhos procuravam qualquer coisa que pudesse me entreter por cinco minutos que fossem, e então me deparei com uma imagem absolutamente desconcertante: não, o que vi não foi um cachorro com duas cabeças ou uma criatura meio-mulher-meio-gato aprisionada numa jaula; pendurado na parede, em meio a muitos diplomas, um quadro com a fotografia dos doutores graduados em veterinária pela Universidade Federal Fluminense no ano de 1977. No canto direito, acima, doutor Mário Sérgio, esse aí da foto que ilustra o post.

Imagino que ao começar a ler este texto você deva ter tentado fazer uma associação entre o título e a minha foto. No entanto esse aí em cima não sou eu, nem nenhum parente próximo, e eu juro que isso não é brincadeira. Todo mundo já esbarrou com um sósia, mas a semelhança entre esse cara e eu é, de fato, assustadora! Precisei tirar o quadro da parede para olhar de perto e me certificar da estranha coincidência, afinal esse homem que nem conheço se parece mais comigo do que meus irmãos ou meu próprio pai!

Naquele momento parecia estar protagonizando o enredo de um episódio do antigo seriado “Além da imaginação”. Seria a constatação de uma viagem no tempo, ou o testemunho de uma falha na matrix? A contra-prova da teoria de que todo ser humano é único, ou -assim como aconteceu com o Super-Homem -apenas o encontro entre eu e meu alterego do Mundo Bizarro?

Para me certificar de que aquilo era real, fotografei o doutor Mário Sérgio com a câmera do meu celular. Desde então já olhei para essa foto centenas de vezes, procurando desesperadamente características que me diferenciem dele. Infelizmente a qualidade do registro não é muito boa, mas creio que seja possível calcular o susto que tomei.

Nenhuma das pessoas que viram a foto até agora (incluindo minha mãe) considerou a possibilidade de ser de outra pessoa que não eu. Alguns amigos, inclusive, ainda pensam que é piada. Depois de muito analisar cheguei à conclusão de que o nariz do sujeito é mais afinado (o meu tem a ponta mais redonda) e a testa, maior.

Fiz questão de não guardar o sobrenome do doutor Mário Sérgio pois não pretendo obter nenhuma informação adicional sobre ele. É provável que o dono da clínica ainda tenha contato com o antigo colega, mas penso que seria indesejável conhecê-lo pessoalmente sob o risco de vivenciar a traumática experiência de saber como serei daqui a 30 anos. Nada impede, entretanto, que nos encontremos naquele corredor ou sem querer, na fila de um cinema, ou em algum outro lugar… além da imaginação.



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