Profissão-Perigo
Esta semana, atordoado em meio às compras de Natal, reencontrei uma amiga de longa data que não via há tempos. Naquele clássico momento “o que você anda fazendo?”, fui surpreendido pela informação de que, quase uma década depois da nossa formatura em Comunicação, ela pretende largar tudo e encarar o vestibular para medicina em 2008. Posso estar enganado, mas algo me diz que essa reviravolta tem algo a ver com Dr. House.
Bom, se você não sabe de quem estou falando, trata-se de um personagem singular: um médico manco, de humor cáustico, especialista em diagnósticos improváveis e protagonista da série americana “House”, que ultimamente tem arrebatado prêmios e uma imensa audiência, inclusive no Brasil, onde o programa é exibido em um canal a cabo.
O esquema segue o filão desvendado por “E.R.” – aqui chamado “Plantão Médico” – a
partir de sua estréia em meados dos anos 90; ter os corredores de um grande
hospital como cenário para dramas humanos de toda espécie. Pensando bem a
idéia é uma jogada de mestre, tanto que outras muitas séries se seguiram,
apesar do evidente desgaste do formato. Para os roteiristas, sempre um prato
cheio, pois conjuga um ambiente capaz de conjugar qualquer tipo de história
ao natural interesse humano pelo drama.
Os médicos são retratados como heróis do dia-a-dia, seres atormentados pela
necessidade de “operar” milagres como quem frita ovos para o café da manhã
e, ao final do turno, ainda lhes resta lidar com os próprios dilemas. Dr.
House é um personagem primoroso, o resumo de tudo que está à sua volta, a
síntese perfeita de um homem repugnante e um médico brilhante.
Sua eficiência contrasta com a aspereza e sinceridade indevida e até lhe
renderam um tiro bem dado pelo marido de uma paciente, confirmando que o
gênero pode e deve se apropriar de elementos típicos dos enredos policiais
folhetinescos. Saem de cena becos imundos, bares de reputação duvidosa,
sobretudos escuros e disfarces mirabolantes. Entram em cena centros
cirúrgicos assépticos, salas de emergência, jalecos brancos e estetoscópios:
os médicos de hoje são os detetives de outrora.
Os bandidos são vírus oportunistas e doenças escabrosas, normalmente sem
registro anterior na literatura médica. O ápice de muitos episódios se dá
quando os doutores ignoram as normas da ética e se aventuram para além de
seus hospitais, ou seja, quando descem do púlpito de semideuses e
ultrapassam a fronteira do dever profissional, demonstrando que, por trás da
tarimba de cientistas renomados, são gente de carne e osso. E é aí que
reside a chave do sucesso.
Mas o que minha amiga tem a ver com isso tudo? Bom, seria leviano afirmar
que uma atração televisiva tenha qualquer relação com o despertar tardio de
uma vocação, no entanto lembro que, durante a conversa, as séries
hospitalares foram mencionadas.
O fascínio não é recente. Em 1998, Patrícia Pillar e Eva Wilma estiveram
presentes em “Mulher”, uma boa primeira tentativa nacional de acompanhar o
fenômeno, mas parou por aí. Algumas novelas até chegaram a insinuar
aproximação com o tema, no entanto sempre de uma forma discreta. É certo que
não tardará para o cinismo de Dr. House estar superado, e os estúdios
buscarão alternativas para manter o plantão em funcionamento.
Tenho um palpite de que o norte aponta para uma realidade que conhecemos
muito bem: a medicina no terceiro mundo. Claro! Imaginem as possibilidades
dramáticas de um hospital caótico, sem recursos, onde neurocirurgiões
perfuram crânios com furadeiras elétricas e utilizam luvas cortadas como
sondas? Onde ataduras de papelão imobilizam pacientes com fraturas múltiplas
e cadáveres são desalojados de suas macas para ceder lugar a pacientes
vivos?
Já tenho até uma sugestão de título: “3rd World Emergency”. Gostaria muito
de ver como o Dr. House e sua equipe se sairiam por aqui. Sem querer
desmerecer nenhum talento, ser médico no Brasil é profissão-perigo.
Bela profissao.
Parabns a todos os profissionais da saude!
Nao se pode negar que os seriados afetam a mente das pessoas, afinal quem nunca quis que a ficçao fosse a realidade.
Ano passado eu tb pensei em fazer medicina depois de virar fã de grey’s anatomy e quando eu era pequena queria ser uma heroina culpo, Xena e Caverna do Dragao.
Enfim, no fim eu sempre na minha ralidade, e fico apenas com ideias e vontades.
Bruno, penso que a decisão da sua amiga em mudar de profissão não se deve tão somente ao facínio pelas séries, mas também pela decepção com os meios de comunicação. Sou jornalista e também estou querendo mudar de área. Embora seja uma profissão bem vista (pelos que não a conhecem), o profissional é desvalorizado por seus patrões, o piso salarial é baixo, e pelo menos aqui em Goiás, não se paga um centavo a mais do que o piso estabelecido pelo sindicato. E ainda, depois de enfrentar 4 anos de faculdade, você ainda ouve pessoas de todas as áreas se dizendo “jornalista” e repórter só por que publicou um artigo. A não obrigatoriedade do diploma é revoltante. Enfim… Assim como sua amiga estou buscando novos caminhos. O dela é a medicina, o meu, concursos públicos.
Abração!
Dr. House dando 36horas seguidas de plantão no SUS!
Massa.
Realmente Bruno… seria uma série muito mais interessante… Eu como quase médica (termino em julho) posso afirmar que os dramas das emergências públicas são inimagináveis… nem em ficção se vê… Aliás…. adoraria que fossem apenas ficção… Mas ainda há momentos nessa profissão que fazem a gente sentir que vale à pena passar por tudo isso!!!
Beijooo
Concordo com um dos comentários. A Medicina é algo a ser seguido por completo…você tem que acreditar piamente naquilo que você faz…
Perigosa? Acho que não. Diria que é uma profissão que exige bastante do fisíco, do psíquico e do emocional do médico. Afinal de contas, tratar de pessoas, analisar e diagnosticar doenças e às vezes dar algumas notícias ruins aos seus pacientes, é coisa de mestre.
Abraços!
Eu amoooo house!!! Ele é perfeito, comédia. Hugh Laurie é simplismente impecável e esta quarta temporada está ainda melhor…Já fui muito fã de ER e tb sou fã de greys anatomy. Minha familia vive me perguntando se eu tenho um desejo secreto de ser médica pq eu adoro esses seriados médicos. Eu adoraria ser uma médica, mas não tenho a mínima vocação. É sem duvida uma profissão admirável. Agora, Dr. House no Brasil? Díficil de imaginar.
Gostaria de sugerir, à partir deste assunto, tema para uma de suas Crônicas – Os motivos fúteis pelos quais as pessoas fazem escolhas que deveriam ser sérias, às vezes, pela vida toda…Creio que seria um ótimo assunto.
Eitxa medina…tu misturou ate jogos mortais…
Aqui em Alagoas eu nem falo como é ser medico…
Abrços!!!
Obs: Medico aqui é bicho em extinção.
fala sério quem não pensa em ser mádico depois de assistir grey’s anatomy???
hehhe
leia-se médico. sorry
Muitos médicos são heróis no Brasil. Viram até prefeito em muitas, eu disse muitas, cidades pequenas desse país (mas não cabe julgarmos os interesses aqui) e outros também se passam por seguidores da profissão (o que é crime).
No Brasil isso não seria uma série…
Seria uma novela. convenhamos…
o título!?
“Cura-dores”
[um plágio de "duas caras" ou, A tentativa de.]
TER uma profissão no Brasil já é um perigo.
Tem razão Bruno, ser médico neste país é uma profissão perigo, mas no entanto acho que a humanidade que se deve ter no nordeste é maior que a em outros lugares. Quem sabe lá o Dr. House não vire uma pessoa bem humorada!?
Abraço, bom fds!
Boa sugestão para um seriado inspirados nos nossos problemas na área de saúde, mas talvez esse não fosse inspirar ninguém a seguir a profissão. Alias como mencionou: ser médico no Brasil é Profissão-perigo.
Penso de forma semelhante quanto à essas Atrações Televisivas que influenciam muitas vezes nossas escolhas, que vai desde o menino que vê o Kaká na TV e quer se tornar o astro do futebol, o adolescente que vê os Los Hermanos tocando teclado nas reprises da MTV e quer ter uma barba para não cortá-la…
Felizmente o exemplo da amiga parece ser bem positivo, pois analisando isso, vejo que existe uma série de exemplos nas Atrações Televisas, inclusive nacionais, que nada contribuem para despertar o talento e vocação de quem assiste, e acabam mesmo é alienando esse que está do outro lado da tela.
Ah: Bruno, Belchior toca na sua casa?!?
Eu, que tenho um pai médico, sei como é a profissão!
É muito cansativa, cheia de noites mal dormidas por causa de plantões.
Tenho lembranças que muitas vezes, ele chegava de uma noite de plantão, cansado e com os pés inchados de passar a noite em pé, fazendo operação!
Mas, apesar disso tudo, ele ama a sua profissão e diz que não existe nada no mundo que pague a imagem de uma mãe chorando quando vê seu bebê, que ele ajudou a por no mundo!
Como ele diz: Ser médico, uma paixão sem cura!
Admiro muito meu pai pela sua paixão!
Ah! Medina, a obra ,como anda? Já começou a entender a ‘linguagem’ do seu pedreiro?
Bjus a todos!
Bruno,
só resolvi escrever essa mensagem porque achei
esplêndidos seus textos, eu uma mera estudante
de 17 anos a procura de algo interessante para ler, que convenhamos é dificil de achar, acabei encontrando seu blog
e achei o máximo!
Parabéns e desejo tudo de bom e só pra finalizar
um humilde comentário, “Já não me preocupo se eu nao sei porque as vezes o que eu vejo quase ninguém vê”
Tambem gosto muito! (:
haha legal o texto medina. nao haveria como ignorar esse fenomeno ‘house’ mesmo. bons textos!
medina!! pareceu até que seu post tinha sido uma indireta p mim.. hehehe identifiquei-me com sua amiga. sou formada em odonto há 4 anos e há uns 2 estive muito angustiada por achar que havia escolhido a profissão errada. dei-me conta de que minha real paixão é a medicina!
pois é, estudei durante este ano e… PASSEI!!!! é isso! em fevereiro lá estou eu de volta às aulas na faculdade, desta vez na ala dos futuros médicos! mereço seus parabés!! hehe ah, e nao deixe sua amiga desistir!
p.s: tem que ser muito pobre de espírito para ter uma vida inteira influenciada por um seridao.. isso n existe! alguém muito louco pode até sentir vontade de virar o Dr. House, mas qd parar p pensar no qto terá q estudar pro vestibular e para a faculdade.. duvido que um quinto siga em frente!
beijos da hermana..
Ser médico aqui no Brasil é profissão-perigo, sim! E ser PROFESSOR?
É verdade!!
Com certeza ser médico no Brasil, além de ser profissão perigo, exige-se muita coragem e criatividade, com os recursos que o governo manda para os hospitais públicos, só sendo mágico mesmo.
Coisa de perdedor.
Minha irma tambem quer ser medica.
A diferenca eh que ela tem 14 anos.
Bah..ih!.Que medo, pular de comunicaçao para medicina, tua amiga é meio biruta!!…Estudo publicidade e música, acho que é uma coisa cabivel..ne Bruno???rsrsr. E daqui dez anos quero estar bem com meus cinco filhos..hauhau…na minha profissão….!!!
Aproveitando o comentário de cima quando eu era pequena tbm queria ser a Xena..rsrs!
Beijo Bruno!
(comenta meu blog, seria um otimo presente de Natal)
Essa mistura de vida moderna com dilemas internos, acabam em textos assim como esse. Dr. House no Brasil, seria uma aventura, acho que o seriado não teria continuidade !!!
Adoro tudo o que vc escreve, Bruno!
Não sei no caso da sua amiga, mas a tv influencia muito no cotidiano das pessoas. Já quis ser tanta coisa! Atriz ainda não, mas já quis muito ser jornalista. Acabei virando turismóloga!
O post de hoje nos faz refletir sobre a realidade da saúde no Brasil. Também gostaria de ver como o Dr. House se sairia trabalhando no SUS!
Será que ele continuaria tão áspero diante de uma realidade tão dura?
E mais uma coisa: adorei o título da série. Tomara que alguém produza!
Um abraço!
Vale dizer que Dr. House também passa na Rede Record toda quinta, na tv aberta viu Bruno, e vc sabe disso.
Me incomoda vc não ter dito essa informação, dizendo apenas que passava na tv fechada, não é certo isso, e vc como uma pessoa que fez jornalismo deveria saber muito bem disso.
QUE GRANDE IDEIA…“3rd World Emergency”. ACHO QUE IA DAR MUITO CERTO ESSA IDEIA AQUI NO BRASIL.SOU SEU MAIS NOVO LEITOR…ADOREI SEU BLOG, COMECEI A LER POR INDICACAO DE AMIGOS E ESTOU ADORANDO…
ABS
ANDRE ALANIZ
Pois é pessoas como a TV nos influencia hein?
mas muito bem desenvolvido esse seu texto. legal mesmo.!!!!
Abração!
Taí! A última linha do seu texto já nos deixou com a pista certa… vamos ressucitar o McGuyver e contratá-lo para ser médico nessa série (estou torcendo para que vcs não deletem meu comentário dessa vez… será minha última tentativa, pq aí vou começar a achar que é pessoal! haha) !!!
Pode ser exagerado mas o seriado te prende e diverte, podendo realmente influenciar as pessoas. Acho normal. Até escreveram um livro sobre a influëncia de filmes – neste caso na figura das séries – na vida das pessoas… É importante somente ter o cuidado de separar o sucesso do House da realidade em que vivemos…
Se fizessem uma série tupiniquim sobre saúde pública, estaria mais pra heros que pra house!
Medina naum vou perder meu tempo lendo sobre isso,
Comecei a ler e desisti!
Além do mais naum é problema meu a neurose da sua amiga.
Pq vc naum escreve um texto sobre aqla frase de tema do final do ano:
” Ano novo ,vida nova !”
Adoraria ler…
Bju
House é a melhor série do momento:acho que é porque ele e sua equipe realmente “descem do púlpito de semideuses e
ultrapassam a fronteira do dever profissional” ;e como eles fazem isso me fascina! Ele foge do óbvio,do que qualquer médico normal faria.
obs.: a música Evaporar,do seu amigo Amarante é muito boa!!
Abraço
É por estas e outras que sempre visito minha Cigana Curandeira.
Ahhhh sim, claro… eu adoro CSI então eu acho que vou pedir demissão, tentar entrar nos EUA, e no FBI, para ser investigador forense.
Ou melhor… adoro Lost, vou tirar brevê para pilotar um avião comercial, vou convocar mais umas 15 pessoas, vou procurar uma ilhasinha no meio do Pacífico e tentar fazer um pouso forçado, assim vou viver em Lost.
As vezes dá vontade… mas é só vontade mesmo… afinal, ser médico no Brasil é mais perigoso do que viver como em Lost.
Ser médico é melhor do que ser paciente.
Ainda mais agora sem CPMF.
Abraços
A 3rd world emercengy tem que ser bem trash que é pra combinar com o atendimetno hospitalar público!
chama o Zé do Caixão pra roteirizar e dirigir!
=D
Creio que o sensacional Dr. Greg House se adaptaria muito bem à nossa realidade, pois, tirando o fato de que as vagas para deficientes físicos não são muito respeitadas por essas bandas, seus métodos peculiares indiferentes às normas e aos bons costumes passariam despercebidos em meio ao caos que impera em nossos hospitais públicos e em nossa sociedade como um todo.
Seria muito mais fácil para ele trabalhar aqui, onde ninguem liga pra nada, que trabalhar com a Dra. Dr. Lisa Cuddy criando os mais variados obstáculos para que ele não saia da linha…
Bruno aguardo cd que vc disse q ia enviar…abraços!
como se a ‘medicina do terceiro mundo’ só estivesse presente no norte. preconceito ou ignorância?
Belo palpite.
Gostaria de ver isso também…
ABraços,
Camilla ELizabeth
É interessante essa história de ter a classe médica retratada pela dramaturgia. Realmente, exercer a medicina é um sacerdócio digno de admiração, mas não sei se vc sabe, há muitos anos, aquela novela “O Dono do mundo”, de Gilberto Braga tentou abordar um lado não muito bonito da profissão e sofreu uma represália e tanto do Conselho Nacional de Medicina, por mostrar um médico corrupto(interpretado por Antônio Fagundes). Até hoje, a novela nunca foi reprisada no “Vale a pena ver de novo”, fato estranho, porque ela foi um enorme sucesso na época, embora, o autor tenha cedido às pressões e pegado um pouco mais leve deixando o personagem mais “simpático”. Censura não, outra coisa!
Aí, o que sobra são esses esteriótipos americanos. Só vale lembrar que ser médico no Brasil é outra história! Louco é quem se inspira a fazer medicina assistindo a essas séries.
Bruno,
E por falar em médico: eu nunca gostei de médico, mas eles estão cada vez piores, na boa, grossosssssssssssss, impacientes, e autoritários toda vida!!!! Ontem, eu fui a um otorrino, e depois dele ter me feito alguns testes, para pesquisar o quanto ia a minha audição, pois eu estava ouvindo mal, e sentindo uma pressão no ouvido, do caramba, sem falar que ele abria e fechava. Ele resolveu me explicar o ÓBVIO!!!! como colocar aquele spray de nariz, eu me atrevi a dizer: Ah…tá, eu sei como é, ele me respondeu: VC NÃO SABE NADA! OLha, e presta atenção!!! Putz! Que vontade de mandá-lo ir para aquele lugar, e me retirar daquele consultório brega rss
Mas… me contive, e fui até o fim, com muita raiva, claro. Tomara que as porcarias que ele me mandou tomar, que me deixaram totalmente fora do ar, resolvam.
Quero um Feliz Natal, como todo ser normal. Aproveito para desejar à vc, uma noite muito feliz, junto a sua família.Que o ano de 2008 seja repleto de saúde e alegrias.
Beijossssssss da sua fã
HOUSe…36 horas no SUS…esta eu gostaria de ver hehe.
Não só os médicos passam por essa dura realidade…bem como todos os profissionais que trabalham na área da saúde, principalmente nos hospitais da vida.Profissionais esses mal pagos, que abdicam de feriados e finais de semana, de lazer e família e que têm pouca recompensa…fora os riscos aos que estamos submetidos…profissionais da saúde mta vezes cooperados ou terceirizados, sem direitos trabalhistas, sem o “direito” que mtos têm:o de adoecer…dura realidade a do nosso país..
Mto bom o texto.Parabéns!