Mais um?
Entra ano, sai ano, é sempre igual: as caixas de presentes ainda estão
amontoadas num canto da sala e é hora da avalanche das retrospectivas, por
todos os lados, para todos os gostos (ainda que, de fato, poucos aturem este
tipo de coisa). As listas de “melhores disso” e “piores daquilo” acabam
desempenhando a relevante função de repassar os acontecimentos ditos mais
relevantes dos últimos doze meses e, inevitavelmente, ajudarão a
confeccionar a etiqueta que colaremos sobre 2007 para lembrá-lo no futuro.
Se eu tivesse que definir esse ano em apenas uma palavra, escolheria
“surpreendente”. Afinal, o recesso da banda interrompeu uma rotina
profissional de 10 anos dentro da música e me colocou em contato com uma
forma de expressão que há muito eu vinha negligenciando. Ter a “palavra”
como matéria-prima é um desafio, especialmente no formato de um blog, o que
exige bastante disciplina e versatilidade, isso para dizer pouco.
Quando em 2002 idealizei o “Instante Anterior” o objetivo era justamente o
de criar um fluxo de escrita, reservar em minha atribulada rotina de
aeroportos, hotéis, palcos, um tempo exclusivo para parar, pensar e
escrever. Alguns anos se passaram e cá estou, numa segunda etapa deste
processo que, gosto de acreditar, me acompanhará daqui por diante, sem prazo
para terminar.
Ter a música em segundo plano, pelo menos durante este período e numa visão
temporal, foi essencial para que minha relação com ela se transformasse. Se
não faço mais shows todo final de semana, posso ter os teclados em casa,
aqui do lado, ligados ao computador, preparados para registrar idéias, para
estudar, e, principalmente, vivenciar e experimentar música sem um propósito
definido. A mudança de perspectiva com certeza desencadeou novos ares, a
começar por este blog.
Nos últimos oito meses foram 71 posts sobre temas diversos. Alguns mais
inspirados (parafraseando leitores e segundo minha própria auto-crítica),
outros nem tanto (idem!), mas, sobretudo, durante todo esse tempo, me
orgulho de lembrar que não houve uma terça ou sexta-feira sequer em que algo
não tenha sido publicado aqui. O mais interessante é perceber que tipo de
reação cada texto desperta, e como é quase impossível prever a reação de
vocês, leitores. E como isso é rico e, sim, muito inspirador por mais que
pareça clichê!
Quando, por exemplo, escrevi sobre a repercussão do filme “Tropa de Elite”
(07/09) e sobre a queda do avião da TAM (20/07), imaginei que minha
indignação arrebataria dezenas de comentários inflamados, não foi bem assim.
Quem explica? E qual não foi minha surpresa com o sucesso do post “Rádio
Cabeça” (29/05), a curiosidade gerada pela história da camareira (14/09) e o
superpolêmico texto das 25 perguntas (13/11)?
Considero ainda que merecem menção o texto que narra meu encontro com a
cobra (04/09) e o “Caça-palavras” (05/10), aquele feito à base de frases
retiradas dos comentários. Juro que não acrescentei nem uma vírgula.
Seria difícil apontar um favorito, no entanto posso afirmar que o mais
divertido de escrever foi “Uma vencedora” (30/10). A astúcia e a falta
absoluta de inibição de Tamara Azevedo conquistaram muita gente. Caso
realmente existisse, não tenho dúvida de que seria forte candidata a faturar
o BBB8.
O meu desejo é que em 2008 a música e a escrita estejam ainda mais
presentes, se bem que, com toda sinceridade, o que mais quero é que cheguem
logo as transformações que o ano promete. No meu caso, especificamente, a
maior delas, maior até do que todas as que já experimentei, ainda não tem
nome certo, nem conseguimos saber o sexo a tempo de comemorá-lo com a
chegada do ano. É que 2008 já é inesquecível pois é quando nasce meu
primeiro filho.