War in Rio

sex, 30/11/07
por Bruno Medina |

BrunoMedina30112007Sob o sugestivo título de “War in Rio”, o designer carioca Fábio Lopez batizou sua mais recente criação, que, mesmo sem planos de comercialização, tem dado o que falar. Trata-se de um jogo de tabuleiro – aos moldes do antológico “War” – cuja área de atuação não é o mapa-múndi, mas sim a cidade do Rio de Janeiro, subdividida em favelas e territórios dominados por facções criminosas.

Bope, Comando Vermelho, Milícias e Polícia Militar – entre outros grupos que se enfrentam pelas ruas da cidade na vida real- no tabuleiro criado por Fábio, substituem os exércitos sem nome do jogo original. Talvez o maior desconforto gerado por “War in Rio” seja o fato de sugerir que policiais, bandidos e policiais-bandidos representam forças equivalentes, numa óbvia constatação de que as questões conseqüentes da violência na cidade não se restringem a dois lados de uma mesma moeda; a divisão entre mocinhos e bandidos simplesmente não contempla todas as possibilidades.

Já há quem diga que o jogo é uma apologia ao crime, que incita a violência e se baseia numa lógica semelhante à utilizada pelos traficantes. Em entrevista concedida ao Globo Online, Fábio se defende alegando que sua intenção não era ofender ninguém, mas sim provocar a discussão sobre o incômodo de se viver numa cidade em conflito. Diz também que o “War” original é vendido em lojas de brinquedo e ninguém o considera uma apologia
à guerra. Faz sentido.

Acusações semelhantes foram disparadas contra o cartunista André Dahmer quando, inspirado pela idéia surgida no Iraque, resolveu criar, no início desse ano, o Rio Bodycount, uma versão carioca do site que contabiliza o número de vítimas fatais de nossa guerra. É impressionante como toda vez que a sociedade civil dá provas da alarmante banalização que acometeu os atos criminosos no Rio de Janeiro – o que na prática é uma postura semelhante à assumida muitas vezes pelas entidades oficiais – alguma autoridade vai a público registrar seu repúdio (vide o acontecido com Tropa de Elite). José Mariano Beltrame, Secretário de Segurança Pública do RJ, já se manifestou contrário ao jogo.

Parece-me que continuar negando a existência do conflito não o torna menos nocivo a população. Subjugar a força que se opõe ao aparato do Estado é hipócrita e só nos afasta de uma possível resolução do problema, ou deveríamos achar normal que viaturas policiais perambulem pela cidade com fuzis apontando para o lado de fora? O noticiário nos informa a todo o momento de vias fechadas por decorrência de tiroteios e traficantes que possuem armas suficientemente poderosas para derrubar helicópteros, se isso
não caracteriza uma guerra…

“War in Rio” possui uma grande falha: ter deixado de designar peões para representar os moradores da cidade, na tentativa diária de cruzar fronteiras estabelecidas pelo crime sem se tornarem as próximas vítimas. O blog do jogo contém textos explicativos e merece uma visita. Eu se fosse o Fábio me empenharia em encontrar uma maneira de comercializar o jogo, interessados não vão faltar. Quem sabe um dos tabuleiros não acaba parando nas mãos dos responsáveis pelas políticas de segurança da cidade? Praticar um pouco de estratégia cairia bem.

O amigo oculto

ter, 27/11/07
por Bruno Medina |

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O ano era 1072 d.C. Nas gélidas terras da Escandinávia, uma brigada de soldados vikings se encontrava entrincheirada, aguardando, a qualquer momento, uma investida do exército inimigo. Em meio à escassez do rigoroso inverno, famintos e cansados, tudo o que conseguiram encontrar para lhes servir de alimento foi uma pequena presa, capaz de saciar apenas um dentre os dez homens.

Talvez sugeridos pelo efeito do arvak – um destilado semelhante à vodca – consumido em grandes quantidades para espantar o frio, ou apenas procurando um meio de aliviar o tédio e a permanente tensão, esses guerreiros nórdicos inventaram um novo – e para eles – divertido critério que pudesse determinar quem iria comer o porco selvagem: o comandante da tropa escolheria um colega para descrever, nos mínimos detalhes, e caberia aos demais adivinhar de quem se tratava. Aquele que errasse o palpite receberia um soco na cara de quem estivesse à sua esquerda. O soldado que descobrisse o nome mantido em segredo comeria o porco, mas, se o colega descrito acertasse o próprio nome,
deveria matar o homem que propôs o desafio. Nessa noite nascia o amigo oculto, que, felizmente, no decorrer dos séculos, teve suas regras reformuladas.

Tá bom, a história é invenção, mas eu sou a prova viva de que muitas vezes essa descontraída e aparentemente inofensiva brincadeira, ainda nos dias de hoje, pode acabar muito mal. Ah, o amigo oculto…. como seriam os finais de ano sem a tradicional possibilidade de ser constrangido em público, de receber um presente muito pior do que se deu e ainda perder um amigo?

Por que, dentre tantos colegas queridos, sempre escolhemos os papeizinhos em que estão escritos os nomes daqueles de quem menos gostamos ou com os quais não possuímos nenhuma afinidade? Pior ainda é quando somos sorteados por alguém que não nos conhece. No momento de ter o nome revelado para o grupo é claro que contamos com aquela rasgação de seda, faz parte, para levantar a moral e sair da festa se sentindo queridão.

O mínimo que se espera é uma descrição que realce nossas qualidades únicas e arranque palmas e lágrimas da platéia. Mas o discurso pode muito bem ser aquele manjado: “a pessoa que eu tirei é muito legal, apesar de eu não conhecê-la muito bem…”. Com uma descrição que se inicia dessa maneira, independente do desfecho, não há como ter vontade de levantar para receber o presente. Até porque você vai ter que abri-lo no meio da roda e, provavelmente, ter de fingir que gostou.

Certa vez presenciei uma amiga receber uma declaração de amor, com buquê de flores e tudo. Quando percebeu que o negócio era com ela, foi ficando vermelha de um jeito que achei que ela iria morrer. O sentimento do rapaz não era correspondido e ele sabia disso, então por que se submeter a essa humilhação pública ao melhor estilo “namoro na TV” ? O pior foi o silêncio pós-declaração. Isso sim é o que eu chamo de surpresa!

Assim como os nomes – amigo oculto, amigo secreto e amigo X (me juraram que no Espírito Santo se chama assim) – também variam as formas de realizar a brincadeira. Eu sou a favor de sorteios diferentes para amigo e inimigo oculto. Durante a faculdade, participei de pelo menos dois amigos secretos que quase acabaram como o dos vikings.

Num deles, o namorado da colega não gostou da descrição que fizeram dela. O apelido “irmã-caminhoneiro” soou mal, ele pediu explicação, o casal brigou e foi embora. A festa acabou em seguida. No ano seguinte, um grande amigo meu deu de presente à colega uma coleira de cachorro, em alusão às gargantilhas que ela costumava usar. Parece que o namorado também não entendeu e chegou a rolar uma discussão, felizmente sem socos na cara.

Para quem vai participar do amigo oculto da turma esse ano, deixo um importante conselho: não tente ser diferente ou fazer surpresas, diga o que as pessoas querem ouvir, é mais seguro. Caso no ato do sorteio você sinta que não vai ter o que dizer sobre a pessoa na hora H, melhor do que improvisar é fingir que tirou o próprio nome e pedir para escolher outro.

* * *
Atenção cariocas: no próximo sábado (01/12), serei o DJ convidado da pista 2 na festa Verde & Amarelo da Casa Rosa. Na mesma noite haverá show Do Amor, nova banda do Gabriel Bubu. Quem perder é mulher do padre!

Festa Verde & Amarelo
Show: Do Amor
DJ: Marcelo Janot + DJ convidado Bruno Medina
sábado, 1 DEZ, às 22h
Casa Rosa (Rua Alice, 550, Laranjeiras, Rio de Janeiro/RJ)
Informações: 21. 2557-2562 / www.myspace.com/doamor

New-Menudo

sex, 23/11/07
por Bruno Medina |

MedinaCom cabelo estilo “mullet”, figurinos pensados peça a peça, coreografias muito bem ensaiadas e versos românticos capazes de fazer qualquer menina pré-adolescente se apaixonar, os Menudos foram uma verdadeira febre nos idos anos 80. Quem tinha uma irmã ou uma prima naquela época sabe bem do que estou falando, porque, além dos discos, trataram de pôr à venda os bonecos,
o álbum de figurinhas e uma infinidade de outros produtos associados ao
grupo.

Foi a partir deles que a ilha de Porto Rico passou a ser considerada a meca
do pop e ali foi cunhada a expressão “boy band” para designar bandas
compostas por meninos bonitos cujos maiores predicados não eram exatamente
os dotes musicais. A receita desenvolvida por produtores especialistas gerou
cifras milionárias por muito tempo, tanto que o grupo – considerando todas as
formações e tentativas de ressurreição em quase 30 anos – vendeu mais de 40
milhões de cópias e detém o recorde mundial de maior público da história da
música.

Quando Ricky Martin e sua turma estiveram por aqui, lembro que em um show
realizado no Estádio do Morumbi, a histeria foi tamanha que uma menina
morreu pisoteada. A tentativa de embarcar na onda desse fenômeno comercial
gerou nos anos seguintes, nos EUA, grupos como New Kids in the Block,
Backstreet Boys e N’Sync. No Brasil, Dominó e Polegar e, mais recentemente,
Twister (quem lembra?) e Br’oz provaram que, quando a crise aperta, há
sempre quem insista em apostar nas velhas fórmulas.

Portanto não chega a ser surpresa a notícia de que uma grande emissora de tv
americana recentemente promoveu um reality show afim de que os
telespectadores escolhessem a nova – e se tivermos sorte, última – formação
para o balsaquiano Menudo. Será que ainda emplaca? Façam suas apostas.

Há algum tempo, no entanto, tenho uma da teoria; o formato das boy bands ­
como é natural a qualquer espécie que pretenda perpetuar sua existência ­
evoluiu. O mapa da mina não aponta mais para passos de dança ritmados e
arranjos vocais, e sim para guitarras ostentadas abaixo da cintura,
alargadores de orelha, franjões e munhequeiras.

Não estou afirmando que toda banda com esse visual descenda das boy bands,
mas é fácil perceber como a estética tem predominado na determinação de
alguns dos ídolos da nova geração. Este fato, na minha opinião, é o que
depõe contra as boy bands. O termo, aliás, parece ter adquirido um
significado muito mais pejorativo do que de fato deveria ter, pois apenas
sugere a constatação de que algumas bandas possuem um apelo visual que se
destaca em relação à música que produzem.

Isso não chega nem a ser nenhuma novidade pois, uma das melhores, quiçá a
melhor banda da história, os Beatles, fossem outros os tempos, poderia ser
facilmente ­- mas erroneamente – enquadrada nessa categoria. Heresias à
parte, os Beatles em início de carreira e os Menudos têm inegavelmente
algumas características em comum. A verdade é que toda vez que rapazes
bonitinhos se juntarem para cantar músicas românticas, o mercado fonográfico
­e principalmente as meninas podem estar prestes a presenciar um novo
fenômeno.

O final do ano

ter, 20/11/07
por Bruno Medina |

calends.jpgBaseado na observação de anos anteriores é possível afirmar que, a partir do último dia 15, teve início, extra-oficialmente, o final do ano. Sei que parece um pouco leviano precisar uma data para estabelecer o começo de um período, mas, o dia da proclamação da República é, ou pelo menos foi- até o surgimento do dia da consciência negra- o marco definitivo para o desencadeamento de uma série de hábitos bastante sazonais.

Reparem que o final do ano é apenas um estado de espírito, uma impressão, assim como aquela que considera o mês de março como o primeiro do calendário brasileiro. Nem precisa dizer que ambas as épocas afetam diretamente a vida de todos nós. Na indústria fonográfica, por exemplo, existe uma máxima: ou se lança um disco até dezembro ou só depois do carnaval. E não há registro de quem tenha feito diferente.

Em 2007 surpreendeu o aparecimento precoce das caixinhas de Natal pois, tradicionalmente, o primeiro indício do final do ano é mesmo a decoração natalina das lojas de departamento. Você vai até uma delas afim de comprar um jogo de talheres ou um cesto de roupas para o banheiro e é bombardeado com aquele tema instrumental natalino estilo “Richard Clayderman” se repetindo à exaustão. Esse tipo de música deve provocar a liberação de algum hormônio mantido em segredo pela ciência que, sem motivo aparente, te faz chegar em casa já com vontade de arrumar as gavetas. Daí, caros leitores, tudo segue num incontrolável efeito dominó.

Arrumando as gavetas você começa a pensar no ano que passou; nas conquistas, nos erros, nos acertos, no que poderia ter sido feito diferente. Lembra dos amigos queridos, com quem gostaria de ter passado mais tempo, e resolve ligá-los para saber como anda a vida. Sentado no sofá da sala, se emociona com o comercial de um banco, daqueles que nos deixam confiantes de que no próximo ano seremos pessoas melhores. Volta para o quarto e resolve separar metade de suas roupas para doação. À noite, define resoluções e sente um súbito desejo de comer damasco e rabanada.

No trabalho ou na sala de aula, alguém encabeça um movimento em prol do churrascão de fim de ano ou do amigo oculto (este último será tema de um texto futuro). Os calendários estão por todos os lados, e contas, todo mundo faz contas, tendo muitas vezes o décimo terceiro totalmente comprometido pelos gastos adicionais, antes mesmo de recebê-lo. Com tantos sentimentos e atribulações em jogo o difícil é encontrar motivação para produzir, porque, se esse ano está quase terminando, não seria mais sensato poupar esforços para o próximo?

Chegar atrasado ou deixar de cumprir alguma obrigação, nessa época, costuma ser menos grave do que em outros meses, afinal, há muito que ser feito, e todos estão fazendo o melhor que podem. Para quem estuda, existe o pesadelo das provas finais, e a idéia de um Natal próspero com a família se submete a bons resultados educacionais. Papai-Noel e professores costumam representar um antagonismo digno dos melhores folhetins.

Sobretudo o fim do ano representa um período de provação. Em pouco mais de um mês estará em jogo tudo o que foi feito por você nos últimos onze. Durante boa parte da minha adolescência, somado a tudo que foi citado, havia ainda as audiências de teclado da professora Lea. Cada um de seus alunos subia no palco e tocava o seu melhor, tendo como platéia os familiares, os outros alunos, e as câmeras de vídeo, providenciais para o registro eterno. Eu ficava tão nervoso que, se pudesse, pularia de novembro direto para janeiro. Bom, se existe algo semelhante em sua vida, estou certo de que acontece também nessa época.

Odiado por uns, aguardado ansiosamente por outros, ele não permite escapatória. Impõe-se onipresente trazendo consigo a reflexão, o amor ao próximo, a preguiça e muitos, muitos gastos. De hoje em diante esteja atento para perceber os indícios, pois o final do ano já começou!

8 ou 80

sex, 16/11/07
por Bruno Medina |

circle1blog.jpg

Nossa, quanta polêmica gerou o último texto! Nunca poderia imaginar que míseras 25 perguntas arrebatariam tamanho amor e ódio. Antes de mais nada, sinto-me na obrigação de agradecer aos muitos leitores que se dispuseram a tentar elucidar totalmente ou mesmo parcialmente as questões; teorias muito curiosas surgiram, embora eu continue achando que a maioria daquelas perguntas deveria permanecer sem resposta.

Aos que odiaram, e que me sentenciaram às férias, aos que me qualificaram como preguiçoso e sem presença de palco, e questionaram a razão de o G1 permitir que eu continue escrevendo, e que me chamaram de Capitão Nascimento (?!), entre outras acusações, tudo que posso dizer em minha defesa é que nunca havia me deparado na internet com nada parecido a essa lista (acho que meus amigos não costumam repassar e-mails desse tipo).

Assim como quando escrevi sobre a música “vou te deletar do meu orkut”, creio que esse post provou o quanto ando desatualizado no que se refere aos “webhits”. Desconfio que parte da ojeriza às perguntas se deu por este ter sido um post feito somente a base delas. Pouco “existenciais”? Talvez. Vai ver teve quem achasse que a leitura renderia algo mais do que algumas risadas. Não, o texto realmente era só aquilo. Não pretendia o duplo sentido, a reflexão profunda, nada, apenas deixar 25 perguntas -da minha infância, da semana passada, da internet- no ar.

Mais do que ser o pior ou melhor post deste blog, opinião de muitos, deve haver algum lugar para aquelas benditas – ou malditas – perguntas que não estar entre o amor e o ódio. Sou dos que compartilha da visão de que maniqueísmo representa uma visão por demais simplista das coisas. É uma tentativa não intencional de enquadrar, rotular, classificar… reduzir. Nem tudo é genial ou idiota, nem tudo se insere numa escala de 0 a 10, e nem tudo é para ser engraçado ou mesmo compreendido, pelo menos não sempre.

A minha postura no palco por exemplo – presença ou a ausência – que, por alguma razão que desconheço, veio à baila – é resultado direto do meu desejo. Se eu quisesse agir de outro modo, acreditem, o faria. Sempre considerei que a obra – e não a pessoa – é o que deve estar em julgamento, portanto não considero o assunto uma ofensa, porque é uma forma de expressão consciente, mesmo que não compreendida ou bem quista. Pergunta respondida?

Baseado no mesmo raciocínio, reforço que este espaço é um lugar para materializar por escrito pensamentos e idéias, na maior parte das vezes, desprovidos de qualquer intenção. Considerei essa uma boa ocasião para reafirmar meus objetivos, e aproveito para registrar que os comentários, mesmo os negativos, são sempre bem-vindos, fazem parte do pacote. Como no verso de Renato Russo, numa de minhas canções favoritas da Legião Urbana, “… não sou mais tão criança a ponto de saber tudo…”. Ainda bem. Posto isso, só me resta uma pergunta:

26. Não seria o ódio uma forma mal resolvida de amar?

About

qua, 14/11/07
por Globomail |

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Alguém sabe?

ter, 13/11/07
por Bruno Medina |

Durante uma semana tentei colocar no papel algumas questões para as quais gostaria de obter respostas. Umas me perseguem desde a infância, outras são mais recentes; a maioria, no entanto, não possui mesmo explicação. Buscando solução para as minhas dúvidas, acabei me deparando com outras boas indagações, que se somaram a minha lista. A seguir, perguntas que merecem consideração e, provavelmente, continuarão sem resposta:

1. É impressão minha ou o Red Hot Chili Peppers faz a mesma música e só troca o nome há uns dez anos?

2. Por que, nas novelas, os personagens principais sempre fazem os caminhos mais complicados até seus verdadeiros amores?

3. Aliás, por que as pessoas assistem a novelas (incluindo eu) se já sabem quase tudo que vai acontecer?

4. Por que o Romário só coloca os óculos quando vai dar entrevista?

5. Por que todo mundo faz as compras de Natal no final de dezembro e reclama que o shopping fica lotado?

6. Por que, quando alguém nos faz um favor, retribuímos dizendo “obrigado”? O agradecimento não deveria ser espontâneo?

7. Por que soprávamos os cartuchos de Atari para que eles voltassem a funcionar?

8. Se toda regra tem uma exceção, qual é a exceção para essa regra?

9. Será que Roberto Carlos não tem um amigo verdadeiro para lhe indicar um cabeleireiro?

10. Por que as pessoas correm na chuva se dessa forma elas acabam se molhando mais?

11. Qual é o sinônimo da palavra sinônimo?

12. Por que quando encontramos alguém perguntamos “tudo bem?” se já sabemos que a resposta é sempre a mesma?

13. Por que todo mundo que é frio é também calculista?

14. Se o Pluto e o Pateta são cachorros, por que só um deles anda de pé e fala?

15. Por que algumas pessoas se abaixam dentro do carro quando passam pela porta da garagem?

16. Por que o Ronaldinho Gaúcho não faz um tratamento dentário?

17. Por que as pessoas gritam no telefone quando estão ligando para longe?

18. Por que se acorda os outros para perguntar se estavam dormindo?

19. Se a laranja se chama laranja, por que o limão não se chama verde?

20. Por que os aviões não são construídos com material semelhante ao das caixas-pretas?

21. Por que as pessoas usam bermuda e blusa de manga comprida ao mesmo tempo?

22. Por que abaixamos o volume do rádio no carro quando procuramos um endereço pelo número?

23. Por que as pessoas têm nojo das mariposas mas adoram tocar em borboletas?

24. Se Deus está em todos os lugares, por que olhamos para o céu quando queremos falar com ele?

25. Se o gato sempre cai de pé e o pão com o lado da manteiga para baixo, o que acontece se amarrarmos uma torrada nas costas de um gato?

O fantástico mundo dos cosméticos

sex, 09/11/07
por Bruno Medina |

Vez ou outra a mudança de hábitos corriqueiros implica observar aspectos que normalmente não seriam notados. Eu, por exemplo, tenho o costume de tomar banho no final do dia, mas hoje, não sei exatamente porque razão, resolvi inverter a regra, e entrei debaixo do chuveiro tão logo saí da cama.

A ducha nas primeiras horas da manhã não se diferenciava muito do esperado até o momento em que me preparava para lavar os cabelos; tendo a embalagem do shampoo nas mãos, notei que, abaixo do nome do produto, estava escrito em letras garrafais vermelhas: anti-stress line. A água continuava a cair por sobre a minha cabeça e eu ali, parado, olhando para o shampoo e tentando decifrar que diabos aquilo queria dizer.

Talvez ainda tomado pelo sono, por um segundo cheguei a pensar que era ótimo poder amenizar o estresse do dia a dia apenas lavando a cabeça. Tentei até encontrar uma relação entre meu bem estar e o uso do shampoo para, no momento seguinte, concluir que o estresse referido era, obviamente, o dos fios de cabelo. Achei divertido pensar em cabelos estressados e logo comecei a imaginar como seriam cabelos tímidos, arrogantes ou espontâneos. Eu diria que os meus cabelos estão mais para agitados do que propriamente estressados, no entanto apenas um psicanalista capilar poderia atestar um diagnóstico mais preciso. Será que existe?

Nunca havia ouvido falar que o estresse também podia acometer os fios de cabelo. Confesso que fiquei aliviado por não ser eu o responsável pela compra de cosméticos da casa. Imagine como a minha ignorância sobre o tema afetaria o acesso aos incontáveis benefícios que se encontram à disposição nas farmácias.

Impactado pela recente percepção, ainda enrolado na toalha, abri a porta de todos os armários do banheiro à procura de novas -e por que não dizer fantásticas- inscrições capazes de revelar curiosas utilidades para o conteúdo de embalagens que antes me passavam despercebidas. Da próxima vez que entrar no banheiro, dedique cinco minutos que seja à leitura dos rótulos, apenas os que estão sobre a pia, garanto que vale muito à pena. Do verso da embalagem do meu shampoo anti-stress, destaco o seguinte trecho:

“… seu perfume exclusivo e vibrante, confere uma sensação única de alegria e alto astral (????) , através das notas florais frescas (???!!!!) , deixando você mais bonita e radiante…”

Não posso deixar de registrar minha admiração pelos profissionais envolvidos na elaboração desses textos. Gente, isso é poesia! Saber que o produto escolhido para tratar seus cabelos contém “notas florais frescas” alegra o banho e o dia de qualquer pessoa. São esses verdadeiros artistas que nos apresentam o lúdico universo da andiroba, da ceramida e das micro-partículas de óleo nutritivo, dentre tantas outras exóticas expressões. No site Antipropaganda merece visita a seção “Eles estão de ácido: Shampoo e condicionador”, onde é possível encontrar, brilhantemente comentados por Caito Mainier, alguns dos mais belos textos de cosméticos já escritos.

Repare que essa profissão é muito semelhante a dos criadores de cores automotivas, já mencionada anteriormente nesse blog. Devem, inclusive, estar associadas ao mesmo sindicato. A fim de homenagear a classe, gostaria de propor um recital-virtual com os melhores textos de embalagem de cosméticos. Podem postar nos comentários as expressões mais curiosas que encontrarem, as metáforas mais encantadoras, ou simplesmente tudo aquilo que seja digno de apreciação daqueles que se interessam pela verdadeira arte.

A caixinha

ter, 06/11/07
por Bruno Medina |

Na maioria dos casos os textos desse blog são idealizados apenas na hora em que me sento para escrevê-los. Algumas vezes os temas surgem com pouca antecedência, e, em raríssimas ocasiões, com muita antecedência. Para ser sincero, o assunto que vou abordar já estava decidido há meses, apenas aguardando o momento exato para ser publicado. Esse momento ocorreu no último domingo, dia 4, quando me deparei com a primeira caixinha de natal do ano.

“Bruno, estamos na primeira semana de novembro, você não acha que está um pouco cedo para falar de natal?”

Sim, acho, e realmente me surpreendeu avistar as caixinhas (em 48 horas já foram 4) já expostas e sedentas pela generosidade alheia. Acredito que dentro de alguns anos elas sairão do armário a partir do feriado de 7 de setembro. O que é incrível nas caixinhas de natal é que todo mundo, digo, todo mundo mesmo, se sente prestador de um serviço imprescindível merecedor de uma remuneração adicional, um abono natalino. Essa lógica se baseia no senso comum de que o brasileiro está sempre precisando de dinheiro, ou que pelo menos precisa mais do que o próximo. Portanto, já que todo mundo pede, está justificado.

A caixinha de natal ou, se preferir, o livro de ouro (demais, né?) também serve para remunerar serviços extraordinários prestados ao longo do ano. No prédio onde passei boa parte da infância, os porteiros escondiam o livro a fim de que o primeiro a a$$inar fosse sempre o morador da cobertura, conhecido por solicitar favores inconvenientes com bastante freqüência. Era na contribuição para a caixinha dos funcionários que ele se redimia da chatice e dos abusos cometidos nos meses anteriores. O valor que doava inevitavelmente servia como referência para os outros vizinhos, que acabavam gastando muito mais do que pretendiam, apenas para não ficarem com fama de pão-duro. Realmente é preciso tirar o chapéu para esses porteiros, era uma jogada de mestre.

Ano passado consegui a façanha de reunir em minha caixa de correio 8 cartõezinhos daqueles que desejam feliz natal para a família e aproveitam para pedir um troco. Aliás, essa é uma excelente época para conhecer seus prestadores de serviço, embora eu não tenha conseguido entender qual relação existia entre alguns deles e a minha casa.

Bateu a minha porta, por exemplo, o entregador da lista telefônica, que havia sido solicitada em maio mas que, por razões desconhecidas, só me foi entregue em dezembro. Caixinha nele. Também fui vítima do truque do lixeiro do outro bairro, já ouviram falar? Alguns garis saem pela cidade afirmando serem deles a função de coletar diariamente o lixo da sua casa, serviço que sem dúvida é um dos mais merecedores da tal caixinha. Dias depois aparece uma outra turma dizendo o mesmo. E aí? Caixinha dupla!

Esse ano, no entanto, vai ser diferente, decidi contra-atacar: a partir de hoje quem me pedir caixinha vai ter que contribuir para a minha também. É toma lá, dá cá. Imaginei que alguns assíduos leitores desse espaço poderiam estar interessados em deixar uma colaboração para que eu tivesse um natal mais próspero. Resolvi criar essa caixinha virtual em nome da equipe Instante Posterior, que consiste basicamente de mim. Usei a palavra “equipe” porque costuma despertar maior generosidade. Lembrem-se de quanta diversão esse blog já os proporcinou gratuitamente! Chegou a hora de retribuir. Pode ser qualquer valor, o importante é colaborar…

É tudo verdade (?)

sex, 02/11/07
por Bruno Medina |

Tá bom, confesso que o último texto foi um dos mais divertidos que postei nesse blog. Realmente tive enorme satisfação em, através de palavras, dar vida a Tamara, embora acreditasse que não estava criando, mas sim reproduzindo o discurso do estereótipo que me serviu como inspiração.

No dia seguinte a publicação do post, tomei conhecimento que uma das fotos que constava do perfil de Elen Pinheiro, -modelo, ex-ajudante de palco de Sérgio Mallandro e verdadeira líder de votações no site 8p- era falsa. Assim como Tamara, Elen apoiou sua campanha em imagens que comprovassem seus dotes físicos, mais precisamente o voluptuoso bum-bum.

A farsa acabou sendo descoberta e muitos visitantes do site do BBB, que haviam votado na moça, decidiram boicotá-la. Elen se pronunciou sobre o fato:

“Depois a historia do duble de b****…rss, que claro quase não tenho esse requisito, e preciso apelar…Mas tudo serviu para me fortalecer…”

“…Estou aqui com o mesmo sonho de todos, cada um usa de sua melhor estratégia, se no caso aqui ta funcionando foto de bumbum, pq vou mudar minha estratégia? sei que não sou apenas uma B*** como todos dizem,mas isso somente irei provar se eu entrar na casa e o BRASIL me conhecer de verdade, aí poderá ver que sou uma pessoa totalmente diferente do que me julgam…”

Dentre os comentários referentes ao último post, alguns diziam ter estranhado o tema abordado, supondo ser passível de desconfiaça meu improvável interesse pelo assunto. É engraçado perceber que talvez a entrevista não fosse tão engraçada caso Tamara realmente existisse. É o mesmo caso de quando assitimos a um filme esperando ler, antes dos créditos subirem, uma frase que ateste a veracidade da história; como se esta passasse a ser melhor porque realmente ocorreu. Mas será que isso importa depois do filme terminado?

No conto do Fusca Verde, logo abaixo do título, decidi informar que aquela história se baseava em acontecimentos reais. Será que precisava? Porque este conto, assim como o da camareira, tem algo de real, claro, na exata medida em que tudo que escrevo diz algo a respeito de mim.

Revelar os fatos por detrás das histórias serve apenas para extrair o que nelas há de mais interessante: a interpretação individual de quem lê. Tamara é ficção, Elen é real, a bunda era falsa, o Fusca verdadeiro. Aqui nesse espaço, no entanto, todos se igularam como elementos narrativos. Como diz o ditado popular, “a verdade é apenas uma mentira que deu certo.” Elen e Tamara devem concordar.



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