Sócio-conectado
Ontem participei de dois eventos inusitados e bastante distintos, que não costumam fazer parte do cotidiano, pelo menos não do meu. O primeiro foi uma webconferência -aliás, devo registrar que nunca havia estado em uma- conseqüente da minha participação num programa televisivo, e o segundo, foi um coquetel.
A conferência através das câmeras é um quadro fixo do programa Urbano. Nele, quatro pessoas discutem temas que variam a cada semana; o debate serve como pauta para investigações posteriores, e é claro que eu não vou adiantar o assunto para não perder a graça. O resultado vai ao ar às onze e quinze da noite do próximo dia 13, pelo Multishow. Recordando minha participação, agora percebo ter negligenciado um tanto o tema em questão, e muito disso se deve ao fascínio que a novidade de conversar virtualmente exerceu sobre mim.
A tela foi dividida em quatro campos e eu me senti um dos participantes do jogo-da-velha do Faustão (quem lembra?); dentro de um quadradinho, tendo pessoas no andar de cima. Num determinado momento não resisti, levantei da cadeira e fiz aquela brincadeira idiota de tio, fingindo estar descendo numa escada-rolante. Não sei se o pessoal curtiu a piada, no entanto é preciso considerar que se tratava de minha primeira webconferência…
Certa vez ouvi dizer que uma boa metáfora para o uso que fazemos da internet atualmente -frente às possibilidades reservadas para o futuro- é alguém tentando sugar geléia de mocotó por um canudo, e foi essa a exata sensação que tive durante a conversa. A banda larga brasileira não é larga o suficiente para comportar essa façanha. É preciso ser paciente para aturar os congelamentos de imagem e os constantes atrasos de sincronia no papo.
Quando eu falava, as pessoas só ouviam uns quinze segundos depois e, durante esse hiato, eu pensava que ninguém tinha me ouvido. Daí eu perguntava “alguém me ouviu?” para perceber, no instante seguinte, que sim. Enquanto comentavam minha resposta, eles ouviam a mim perguntando “alguém me ouviu?” e interrompiam o discurso para responder. A confusão só ia aumentando e foi preciso se acostumar ao efeito “sanduíche-iche”. Os produtores do programa me garantiram que no ar funciona bem, o jeito é mesmo esperar duas semanas para conferir.
Um tanto frustrado com minha primeira experiência sócio-virtual, segui para o coquetel convencido de que nada substituirá a presença física nas relações humanas. Apenas chegando ao local lembrei que eventos dessa natureza são famosos por duas razões; escassez de alimento e número enorme de pessoas com as quais você não faz nenhuma questão de encontrar. Acrescento ainda um conselho: não vá com sapato desconfortáveis.
Depois de uma hora o garçom das empadinhas já me evitava, porque, a cada vez que ele aparecia, eu pegava de três pra cima. Encontrei um refugio estratégico atrás de uma pilastra de onde era possível ver as bandejas passarem sem ser visto. Também era uma ótima posição para evitar os “malas”, e aqueles assuntos sem pé nem cabeça decorrentes das ocasiões onde há bebida alcoólica liberada. Minha lombar já dava sinais de desgaste quando avistei um assento livre no fundo do salão. Uma miragem em meio a tanta gente de pé. Na minha frente, pessoas assistiam a um vídeo muito interessante, mas que não era páreo para o conforto que o sofá representava naquele momento. Refastelei-me em suas rechonchudas almofadas, estiquei as pernas e apoiei a cabeça na parede, proporcionando alívio imediato para o corpo faminto e cansado.
Ao abrir os olhos, deparei-me com o diretor da exibição, e minha postura transmitia nada além de absoluto e total desinteresse. Levantei-me prontamente e, com um sorriso sem graça, apoiei as mãos nas cadeiras simulando uma expressão de extremo desconforto. Não colou.
Considerando os dois eventos da noite -o virtual e o real- resta fazer o balanço: falei e não fui ouvido, conversei com quem não queria, fiquei de pé e passei fome. Entre a webconferência e o coquetel, acho que fico com o primeiro porque, nesse caso, quando as coisas começam a ficar estranhas, sempre se pode atribuir a culpa à falha na conexão.