Globo Mar visita Curaçao para desvendar segredos do Mar do Caribe

sex, 28/06/13 por thiago.brandao | categoria Episódio da temporada 2013, Notícia, Temporada 2013

O Globo Mar navega por águas mágicas. Ou vai dizer que não é mágica pura o encontro de azul turquesa com azul marinho profundo do Mar do Caribe?

A equipe do programa vai à Ilha de Curaçao. Um lugar que é nosso vizinho de Atlântico, mas tem características marinhas muito diferentes das nossas. A água é tão clara que os especialistas dizem que ela é uma espécie de deserto azul. Mas é um deserto riquíssimo, que possui uma das maiores concentrações de recifes de coral de todo o planeta. O programa vai explorar tudo isso e muito mais no berço das Américas.

A equipe do programa vai estar na fina companhia de um dos bichos mais fofos da história dos sete mares: o golfinho.

A treinadora conversa com o golfinho. Os gestos, os apitos, toda uma combinação e, pronto, a apresentação perfeita. O golfinho é uma fêmea de cinco anos, chamada Kaiena.

Marie Cristina e Kaiena estão juntas há quatro anos. A moça é uma das cuidadoras dos 19 golfinhos que vivem no aquário.

Mas hoje é dia do golfinho sair. Será que ele não foge? Eles nasceram lá dentro, é lá que eles são alimentados, é lá que eles se sentem seguros.

“Então acho que é a hora de a gente ir pra água com eles. Aproveitar esse momento livre deles e nosso”, diz o repórter Ernesto Paglia.

Kaiena é curiosa. Ela vem, olha esses humanos mascarados, e se manda. Às vezes dá um pouco mais de trela pra um ou outro. A pele é macia e lisa. Às vezes, dá a impressão de que cansou desse paparico todo. Que o chamado da liberdade azul fala mais alto. Mas de repente, lá vem ela de novo, num voo poderoso.

“Acho que agora eu entendo porque que tem toda essa mágica com os golfinhos. Eles dão a sensação pra você de você ser alguém especial, porque eles te escolheram. Eles te dão a honra de se aproximarem. Nossa, espetacular, é uma experiência”, revela Ernesto Paglia.

Bicho treinado, Kaiena recebe a merecida recompensa. E se despede com mais saltos.

E é um animal que apesar de criado em cativeiro, está em ambiente aberto, você vê a alma selvagem dele e isso que é bacana.

Agora, a equipe vai seguir em papiamento, língua local. Papear com os nativos. Porque justamente papiamento vem de papear. Essa é uma língua falada por 80% da população de Curaçao, que tem origem inclusive no português.

A instrutora de mergulho Marijke Hoos explica que os holandeses transformaram Curaçao em um entreposto de escravos vindos de várias regiões da África, onde se falava português e dialetos. Resultado: os novos habitantes tiveram de criar uma língua comum pra ver se alguém se entedia.

Curaçao fica ao norte da América do Sul. O pequeno país é um resumo do Caribe: mistura de povos e línguas, praias de areia branca e água transparente. Moldura perfeita para a paisagem árida com suas iguanas pré-históricas. No segundo dia de Caribe, a bordo de um novo barco, a equipe pretendia mostrar isso tudo, só que não deu.

“Deu uma nublada feia, virou o tempo aqui. Mas o pessoal aqui costuma dizer que o pior dia de embarque no Caribe ainda é melhor do que o melhor dia de embarque lá na marginal do Pinheiros. Então, nós vamos conhecer um mercado diferente, é um mercado venezuelano”, conta o repórter.

Sim, um mercado venezuelano em plena Curaçao. E, pra completar, é um mercado flutuante. Sob chuva, a equipe chega à Baía de Santana, que separa a capital Willenstead em dois bairros.

A equipe do programa mostra um pouco mais do porto, a parte menos turística da ilha. O lugar onde o pessoal trabalha com apoio à indústria petrolífera.

A equipe mostra uma refinaria que quando foi inaugurada em 1918 era a maior do mundo.

“É, num dia chuvoso, meu amigo, passear pelo porto é o que nos resta”, brinca Paglia.

Ou, então, a equipe pode ir pra debaixo d’água. Onde, afinal, já está tudo molhado mesmo. Próxima parada: pedra preta.

Isso é o que se espera do Caribe: corais em forma de árvore, de folhas, de cérebro, de chifre. Peixes estranhos de cores brilhantes. Uma moreia verde, cheia de dentes, enorme.

“Um bicho de uns dois metros. E a moreia, ela também tem uns dentes no céu da boca”, ressalta Ernesto Paglia.

“Ela não está querendo atacar, ela está respirando, mas está na defensiva”, conta a bióloga e cinegrafista subaquática Letícia Duran.

A Letícia fala muito bem o português. Ela é de São Paulo, bióloga, e já mergulhou muito no Brasil e mundo afora e resolveu nos últimos tempos parar na região.

“Que tal Curaçao?”, pergunta o repórter Ernesto Paglia.

“Pro mergulho é ótimo. Sempre água boa, visibilidade boa”, responde.

E como a visibilidade fica boa também fora d’água. A equipe do programa finalmente vai conhecer o mercado flutuante.

O mercado flutuante tem quase tudo, mas a especialidade local é uma iguaria que só se encontra em outro mercado do centro: a iguana.

A equipe do programa vai atrás de um bicho lindo e perigoso, um invasor: o lion fish.

O tal do lion fish, o peixe-leão, é um peixe indesejado, um invasor mesmo destas águas. Moças que parecem doces e suaves pertencem a um grupo de extermínio, a um grupo de matadoras de peixes-leão, para tentarem controlar essa praga.

Durante o mergulho a Marijke Hoos vai estar com o zookeeper, pra guardar o peixe, e um arpão. O tal peixe-leão tem espinhos bem venenosos.

A caçada leva a uma floresta de cogumelos. São formações de corais que parecem cogumelos.

A equipe do programa encontrou anêmonas – nome que vem da palavra grega para flores. Não é à toa. E gorgônias – corais que parecem galhos e folhagem – o peixe-papagaio, e, escondidinho, o danado do peixe-leão. Ele é lindo, parece destaque de escola de samba. Mas não é da região.

O peixe-leão come qualquer bicho que couber em sua boca. E no estômago, que ele consegue expandir até 30 vezes o tamanho original. Santo apetite.

“Marijke 3 a 0 peixe-leão. A moça é boa nisso. É importante dizer, que ninguém está festejando a morte de um bicho. Pelo contrário, é um bicho muito bonito. Mas aqui, além de ele ser um bicho venenoso, ele tem o grande problema de ser um invasor”, comenta o repórter Ernesto Paglia.

“O problema do invasor é que, como ele não evoluiu junto das outras espécies, ele não tem predadores naturais. Nada come o peixe-leão nesse ambiente”, explica o consultor científico da UFRJ, Marcelo Vianna.

“É bom lembrar que no Caribe, principalmente em Curaçao, a única possibilidade de usar o arpão pra matar um peixe é essa, pra matar um peixe-leão”, diz Paglia.

“O que essa licença faz é criar um predador pra ele que é o ser humano”, comenta Marcelo.

“Predador que nesse caso foi a Marijke, que matou três nessa brincadeira”, completa o repórter.

A equipe do Globo Mar continua a viajar pelas águas cristalinas do Caribe. Mas agora, vai ser a seco. De uma garagem sairá o veículo que vai levar a equipe do programa para as profundezas, sem que tenha que se molhar. Desta vez, a equipe vai de submarino.

A 15 metros de profundidade, a Letícia acompanha mergulhando.

A 50 metros, a equipe vê esponjas, cada uma mais linda que a outra, gorgônias belíssimas. Mas a quantidade de coral de superfície já é bem pequena.

A mais de 100 metros de profundidade, você tem pouquíssimas espécies, em compensação, o peixe-leão está lá.

A 150 metros de profundidade, ainda tem luz. É incrível. É uma prova da transparência da água do Caribe. E nessa profundidade, a equipe vê o peixe borboleta francês, que é uma raridade, muito disputado e cobiçado pelos aquaristas.

Conforme a equipe vai subindo, vai vendo mais luz natural chegando e isso faz toda a diferença pra vida no Recife.

Neste mergulho, o que dobrou foi a fome. É a pressão poderosa da hora do almoço. A equipe vai comer iguana. Parece frango, mas a feirante dona Ivone alerta: ‘é bom não exagerar porque é forte’.

Talvez tenha sido a história da iguana, o fato é que, no dia seguinte, a equipe acorda com força total.

Céu azul, um sol brilhando, uma bela brisa e a equipe se prepara pra conhecer o lado mais selvagem de Curaçao, um lugar pra onde as pessoas vão, só não sabem se voltam. Navegação “selvagem”. Mas sem maiores problemas. Eles só apareceram mesmo, quando ancoramos diante do paraíso.

Como desembarcar o equipamento sem molhar? Era pra pôr tudo no caiaque. Mas é muito longe, não vai dar. A solução vem da Marijke Hoos, que pede socorro ao barco vizinho equipado com um bote. Quem não cabe no bote amigo, se arranja.

“O único risco de não voltar é não querer ir embora desse paraíso. O lugar é lindo”, diz Paglia.

Quem diria que esta ilhota tão linda esconde histórias tenebrosas?

Por exemplo, Curaçao foi um grande entreposto de escravidão. E os escravos doentes eram levados para quarentena para ficarem esperando até ficarem bons ou morrerem. Muitos morreram, foram sepultados lá, evidentemente.

E outra história sinistra é que o lugar como é praticamente ao nível do mar, você vê que não tem praticamente nada acima do nível do mar, a não ser o farol que foi construído só no fim do século 19, ele é uma ameaça à navegação. O pessoal vem navegando e muitos encalham, batem nas pedras.

As carcaças viram atração na paisagem desértica de Klein Curaçao. E o lugar é descrito como semiárido. Assim são as ilhas do Caribe. As ilhas têm pouca água e não há rios levando sedimento, folhas, terra para o mar. E aí a água do mar fica mais transparente.

O que explica não só a beleza do mar, mas também a presença de tantos corais.

“Pra você ter coral, você necessita de uma água quente, acima de 23 e abaixo de 29, uma transparência absoluta. Ou seja, você não pode ter águas continentais despejando sedimentos nessa água”, ressalta Marcelo Vianna.

“Por isso que no Brasil a gente tem muito menos coral do que no Caribe”, acrescenta Paglia.

“O problema que a gente tem no Brasil são os nossos grandes rios. Eles turvam as águas”, conta o especialista.

“O coral, além de formar recifes, ele vira habitat para muitas espécies de peixes. E os peixes são particularmente coloridos. Isso tem algo a ver?”, pergunta Paglia.

“O peixe usa a cor pra comunicação. O adulto tem uma coloração diferente do jovem. O macho tem uma coloração diferente da fêmea. O peixe que tem algum tipo de toxina ele avisa, eu sou tóxico, toda essa comunicação ela é feita através da cor”, explica Marcelo Vianna.

E não é só a cor. Os peixes de recifes têm formatos estranhos. Eles têm um formato diferente daquele formato de torpedo daquele de mar aberto.

“As espécies de mar aberto têm por princípio a natação contínua. Essas espécies do recife, elas são residentes, são espécies de menor porte e com formato adequado a se embrenhar naquelas pequenas ranhuras e aquelas pequenas toquinhas”, destaca Marcelo.

Enquanto a equipe faz uma hora conversando sobre peixinhos nativos, Marijke Hoos e Letícia aproveitam para exterminar mais alguns invasores. É, no Caribe, peixe-leão bom é peixe-leão filetado.

“Eu também acho que a caçada ao leão tem que terminar de uma maneira nobre e respeitosa para com o peixe. Temos que comê-los”, diz Ernesto Paglia.

E é o que a equipe faz logo depois da turbulenta soneca de regresso a Willenstead.

Jeff Schanze é dono do restaurante onde a equipe foi provar o peixe-leão e ele também é um pioneiro. Desde 2010 ele tem uma ONG que se chama Equipe de Eliminação, extermínio de peixe-leão. Em 2011, foram eliminados 30 mil, mais ou menos. Em 2012, um pouco menos, 20 mil, 15 mil.

“Como é que o peixe-leão, afinal, chegou ao Caribe?”, pergunta Ernesto Paglia.

“Foram peixes de aquário jogados no mar na Flórida”, diz ele.

Tem também a teoria de que os navios cargueiros ao virem para cá com água de lastro trouxeram dentro dessa água os ovos desses peixes-leão que invadiram o Caribe.

“Mas se essa teoria fosse verdade, a invasão teria acontecido há muito mais tempo”, diz ele.

“Bom, diante de tanta informação, acho que posso comer o meu peixe-leão aqui”, diz Ernesto Paglia.

Afinal, como diz o inimigo número 1 dos peixes-leão, a única solução é tirá-los do mar. E botá-los em nossas bocas. Nossa contribuição de bom gosto à preservação deste lugar mágico.

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15 Respostas para “Globo Mar visita Curaçao para desvendar segredos do Mar do Caribe”

  1. 1
    Rodolpho Sky:

    Simplesmente lindo este último programa. Realmente maravilhoso. Eu diria que parecia que eu estava olhando para um gigante aquário. Parabéns a toda equipe do Globo mar em especial ao Ernesto Paglia que mais uma vez
    nos brindou com textos fantásticos. Pena que este programa entra muito tarde e que bom que temos o site para nos permitir assistir depois. Valeu!!!!

  2. 2
    Edilson Barros Monteiro:

    Excelente êste programa apenas o horário que é muito tarde deveria reprisar em outro horário .Atenção produção vamos analisar um horário adequado até criança pode assistir.

  3. 3
    Mario:

    Otimo programa, vi todos os desse ano aqui pelo site uma pena que não passe o ano inteiro.
    Parabéns a todos da equipe.

  4. 4
    Carlos Chamma:

    Parabens pelo programa, que lugar exuberante, fiquei emocionado com o mergulho com o golfinho, deve ser uma experiencia única.

  5. 5
    Margarete A M Franco:

    Muiiito Lindo esta reportagem.

  6. 6
    pedro josé:

    que grande pena que acabou essa temporada, queria que na proxima passasse esse porgrama mais cedo onde mais pessoas podessem assistir ,
    eu adoro ernesto paglia gostaria de encontrar um dia com ele, e amo pescaria
    uma sugestão é convidar um telespectador para prticipar do programa, um abraço a todos da globo !!!!

  7. 7
    Verner Kruger:

    Ernesto, Parabens pelas matérias que vc faz , em seu programa, fico triste em saber que a temporada esta acabando.
    Parabens, Parabens é fantástico .

  8. 8
    rafaela s. guimarães:

    SENSACIONAL! Parabéns pelo programa!
    Excelente!
    Como estudante de biologia e apaixonada por biologia marinha, adorei
    o programa!

  9. 9
    Rafaela Sangiorgi:

    excelente programa!
    uma pena ser tão tarde…. maravilhoso e informativo!

  10. 10
    DAISE MORAES:

    Acabei de retornar de Curaçao e aproveitei para matar saudades de águas, peixes, bichos e lugares que realmente são encantadores. Parabéns à equipe do programa pelo excelente documentário. Curaçao merece todas as homenagens!

  11. 11
    izilda f l duran:

    Amo este programa e este último programa, fechou com chave de ouro esta temporada. Curaçao simplesmente é uma ilha mágica e de um mar azul e água transparente incomparável com qualquer outro lugar do planeta As imagens subaquáticas foram extraordinárias. Parabéns Globomar (por favor dá para passar mais cedo?)

  12. 12
    Helio:

    Concordo com o Rodolpho. Realmente é de uma beleza indescritível e o Paglia sempre dando seu jeito especial de comentar as cenas. Amo o mar e toda sua magnitude. Graças ao Globo Mar podemos desfrutar dessas belezas, mesmo que de forma bem reduzida, mas o suficiente para nos deixar a cada dia mais perplexos. Um grande abraço à toda equipe!

  13. 13
    Carlos:

    Na moral, que me desculpe o Bial, mas o Globo Mar é sensacional.

  14. 14
    Marcos Oliveira:

    Gostaria de sugerir para próxima temporada do programa Globo Mar mais matérias com pesca de corrico oceânica no litoral do Espírito Santo .
    Desde já agradeço , congratulações pelo excelente programa !
    Att : Marcos .

  15. 15
    João Paulo:

    Show

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