Globo Mar visita Portugal e revive momentos das grandes navegações
“Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal.
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram”.
Olhar para o mar sem saber o que está além da linha do horizonte. E partir rumo ao desconhecido, com a coragem de quem aposta no que estas águas podem oferecer. Foi assim que, há cinco séculos, os grandes navegadores portugueses embarcaram e seguiram ao encontro dos descobrimentos. O Globo Mar volta ao passado em uma expedição no outro lado do Atlântico.
O Globo Mar está em águas portuguesas e é de Lisboa, do cais do espanhol, que vai embarcar. A viagem vai recontar um pouco da história do Brasil. Para isso, o portal até o passado será uma linda caravela, uma réplica do século XV. Então, com tudo e todos a bordo a equipe do programa vai começar esta viagem. Só falta você. Vamos?
Galeria de fotos revela bastidores das gravações em Portugal
Repórter Poliana Abritta mostra a incrível vista do Farol do Cabo de São Vicente
O comandante da caravela, Raul Semedo, é muito gentil. O nome Vera Cruz já remete a nossa história. Pedro Álvares Cabral, o português que descobriu o Brasil, ainda não sabia que a nossa terra era parte de um grande continente. Então, resolveu chamá-la de Ilha de Vera Cruz.
A tripulação é formada por 20 pessoas: 10 da caravela e 10 da equipe do programa.
Apesar de todo mundo falar português, a equipe precisa se adaptar ao vocabulário local. Casa de banho, banheiro. Verga é a madeira que sustenta a vela. E pequeno almoço, café da manhã.
A navegação começa pelo rio Tejo. Ele é o maior rio da Península Ibérica, nasce na Espanha, banha Portugal e, mais ou menos umas 5 milhas depois, se encontra com o Oceano Atlântico.
Içar as velas não é fácil. E até a equipe do programa põe a mão nos cabos.
“À medida que a verga for subindo, vais folgando, mas sem deixar a vela abrir”, conta Antônio.
“E pensar que naquela época, lá em, 1500, era exatamente assim”, comenta Poliana.
A caravela tem 23 metros de comprimento, 6,5 metros de largura e pesa 100 toneladas. O mastro principal tem 18 metros de altura. A caravela consegue navegar bem contra o vento. Essa foi a grande sacada dos portugueses.
A repórter Poliana Abritta chama atenção para um ruído. A caravela passa exatamente embaixo da ponte 25 de abril. Uma das maiores pontes suspensas da Europa.
Navegando pelo Tejo, a equipe passa pelo Padrão do Descobrimento, que é uma homenagem a todos os portugueses que desbravaram esse marzão e, logo na frente, a Torre de Belém.
Era uma torre de vigia, de onde os portugueses partiam rumo ao desconhecido. Cabral saiu com 10 naus e 3 caravelas, levando 1,5 mil pessoas.
A historiadora Glória de Santana Paula lembra que no dia da gravação, 22 de abril, fazia 513 anos que a frota de Cabral aportou em Porto Seguro.
“Nada como ter uma historiadora a bordo”, diz Poliana.
De um lado, o Forte do Bugio, do outro, o Forte de São Julião da Barra. O ponto entre as duas fortalezas marca o encontro do Rio Tejo com o mar. Um ambiente muito rico, muito propício pros peixes e não é a toa que está cheio de barcos pescando.
Vão ser três dias de navegação a bordo da caravela Vera Cruz. De Lisboa, vamos pra Sesimbra. Depois, Sines, Sagres até Lagos, na região do Algarve, no extremo sul de Portugal. Lagos é a cidade onde viveu o Infante Dom Henrique, filho do Rei Dom João I e um grande incentivador dos descobrimentos. Tanto que ficou conhecido como, ‘o navegador’.
Mais uma horinha de navegação e a equipe começa a se surpreender com a paisagem. Ponta do Espechiel. “Muito lindo”, diz Poliana.
“Quando passarmos o Cabo Espechiel, que é uma característica da costa portuguesa, do norte até o sul, mais ou menos de 20 a 30 milhas, há sempre um abrigo natural, são os cabos que começam lá de cima, e de fato, é aí que depois as populações se encontram junto ao mar”, conta o comandante Raul Janes Semedo.
A equipe se aproxima de Sesimbra, que é uma comunidade pesqueira importante na região. Por causa do vento forte, para atracar, a caravela conta com um motor. É, esta réplica da caravela antiga tem equipamentos modernos também, por questão de segurança. E é hora de assistir ao espetáculo do baixar das velas.
A equipe amanheceu em Sesimbra. Todos colocam os coletes porque vão descer pra encontrar alguns pescadores. Essa é uma região que a comunidade pesqueira é grande, é uma região importante de pesca de Portugal e o Globo Mar quer ver que peixe eles pescam. Se é o mesmo que se pesca no Brasil.
Poliana passa para o barco do seu Cristiano. E descobre o que ele pesca. Um molusco bem esquisito: “choco”
O choco é pego na linha com uma isca artificial. Assim como a lula e o polvo, o choco usa a tinta pra se defender. Ele joga o jato de tinta pra tentar disfarçar o ambiente lá embaixo e assim escapar do predador.
O mês não acabou ainda e ele já conseguiu tirar de lucro, fora os gastos com o barco, 840 euros. Segundo Cristiano, ele vive bem, vive razoavelmente bem.
“E é melhor está no mar no que na terra?”, pergunta Poliana.
“É, eu gosto mais”, responde Cristiano.
A equipe desembarca no porto pra ver o que está chegando, porque não para de chegar barco. A região está cheia de gaivotas, sinal de que tem peixe. Poliana mostra alguns dos peixes que são pescados na região, entre eles a agulha, o bica, a choupa, o ruivo e o peixe espada preto. E a repórter mostra como funciona a pesca do peixe espada preto.
O Globo Mar navega em águas portuguesas, rumo ao sul do país. A equipe do programa está a bordo da caravela Vera Cruz, uma réplica daquelas usadas na época dos descobrimentos. A embarcação é mantida por uma associação, que preserva e divulga as riquezas do mar de Portugal.
“A Aporvela é a Associação Portuguesa de Treino de Vela. O nosso objetivo principal é dar formação, treino de mar, sobretudo aos jovens. Pra isso utilizamos a caravela, que é um veículo de transmissão de conhecimentos do mar, mas também ao mesmo tempo um símbolo da história de Portugal”, explica Rui Santos, secretário-geral da Aporvela.
Tudo relembra o passado. O tempo todo que a equipe está navegando, dentro, na casa do leme, tem sempre dois tripulantes se revezando pra controlar o leme mesmo. É no braço.
“O leme tem que ser controlado a todo momento. Por isso é o governo do navio, é uma das funções vitais da embarcação, aquela que permite o seu governo”, conta João Duarte Silva.
“Agora, não dá pra distrair. Eu estou vendo que você conversando comigo, um olho em mim e outro na frente, né?”, pergunta Poliana.
“Tem que ser. Porque estamos com a vela aberta, o vento está a nos empurrar pra terra e nós temos que manobrar, porque estamos muito próximos mesmo”, responde.
Chegou a hora de recolher novamente as velas, porque a equipe está num lugar de muito vento, vento cruzado, e a caravela está ficando muito instável. Como há recursos de maior segurança, como o motor, o comandante achou mais prudente recolher a vela por uma questão de segurança, nesse pedaço tão instável.
Na tripulação, todos são voluntários, que por amor à navegação e à história, ao passado dos portugueses, trabalham na caravela. A Isabel e o Francisco são o único casal a bordo.
“Nós já navegamos há muitos anos, há cerca de 30 anos”, conta Francisco.
“A rotina dentro da caravela, ela é pesada. Vocês acordam de madrugada, vocês pegam no pesado, porque aqui eles se dividem em turno e toda noite tem gente vigiando, a cada hora eles vão se revezando”, diz Poliana.
“Pra mim é muito bom. E temos tudo aquilo que o ser humano necessita para sentir cômodo e ser feliz”, completa Isabel Vilão.
Essa paixão pela navegação está no sangue dos portuguêses. A equipe para em Sines, terra de um deles. Foi lá que nasceu Vasco da Gama, o primeiro a fazer o caminho de Portugal até as Índias e de lá começar a levar as riquezas pra Portugal.
“Aquela mais branca, mais pequenina, é a casa do Vasco da Gama, por cima do muro amarelo”, mostra Francisco.
Lá, a equipe vai jantar, passar algumas horas, porque têm uma longa viagem pela frente, 12 horas de navegação, pra chegar ao destino, que é Sagres.
Às 23h está tudo pronto na caravela pra equipe zarpar rumo a Sagres. Vai ser uma noite inteira de navegação e na frente já estão alguns tripulantes, todos com uma lanterninha na testa, pra poder puxar o ferro. O comandante fez um pedido inusitado. Ele pede que a equipe apague todas as luzes, porque segundo ele, ele precisa se acostumar com a escuridão pra enxergar exatamente por onde ele tem que passar pra sair sem nenhum perigo.
O Cabo de São Vicente é considerado sagrado, desde sempre. Pelos romanos, pelos fenícios, pelos gregos. Ele já foi palco de muitas batalhas. Em cima, é possível ver o farol que guarda o lugar. Na ponta, a Pedra do Gigante. E assim que a equipe vira o Cabo de São Vicente, já sente que a navegação mudou, porque começa a sentir o famoso vento levante, que vem do Mediterrâneo.
“É por isso que a gente não navega, a gente dança aqui na caravela, né?”, pergunta a repórter Poliana Abritta.
“Dançamos um bocadinho. Então está ao contrário, o vento sul que sopra do quadrante sudeste e que nos empurra pra cima. Esta influência do mar que estamos a sentir aqui é o encontro das águas que vêm do norte e as águas que vêm do sul”, responde o comandante.
Mudou tudo mesmo. A temperatura caiu para 16 graus. E a caravela parecia que ia levantar voo. Aí, não deu outra.
“Eu não sei se eu chamo essa parte da caravela de berçário, de sala de recuperação, de UTI, mas que está todo mundo morto aqui”, mostra Poliana.
Ainda mareada, a equipe chega a Sagres. Há algumas décadas, acreditava-se que atrás dos muros tinha existido uma famosa escola de navegação. Mas, a historiadora Glória de Santana Paula explica que esse mito foi derrubado.
Mais algumas horinhas e, finalmente, a região do Algarve. Só que não foi tão simples entrar na cidade de Lagos com a caravela.
“A gente está num momento aqui delicado porque o comandante pra conseguir entrar no canal, chegar à cidade onde a gente vai desembarcar, precisa de muito cuidado. A profundidade é pequena, aproximadamente uns 3 metros e o canal por onde a gente vai passar é estreito, então sobra pouco, 5 metros de cada lado da caravela pra que ele manobre e entre exatamente no ponto certo”, conta a repórter Poliana Abritta.
Era preciso passar entre os faróis vermelho e verde. Com a tripulação toda ajudando, deu tudo certo.
A equipe se aproxima de outra caravela, a caravela Boa Esperança. Essa caravela esteve no Brasil, no aniversário de 500 anos de Descobrimento. Pela primeira vez as duas estarão juntas, a caravela Vera Cruz, que é onde a equipe do Globo Mar está, e a caravela Boa Esperança.
“Prontos pra desembarcar na terra onde nasceu o Infante Dom Henrique, o navegador, tido como o maior incentivador da história de Portugal às grandes navegações, rumo aos descobrimentos”, revela Poliana.
A equipe deixa a Vera Cruz para explorar Lagos e sua beleza natural. E o que foi encontrado, deixou a equipe fascinada.
“Nós podemos encontrar estas rochas desde aqui de Lagos, da Ponta da Piedade, até a praia de Olhos D’água, em Albufeira”, conta Beatriz Tomás Oliveira, professora de geologia.
“E são falésias?”, questiona Poliana.
“São falésias, são vertentes bastante inclinadas, que sofrem a erosão do mar. E é por causa dessa erosão do mar que nós temos esse rendado, característico desta zona”, explica a professora.
Tudo começou a se formar há 23 milhões de anos. Grutas que, dependendo do horário da maré, são possíveis de acessar. E mais tarde, quanto mais a maré sobe, mais difícil fica. A coloração mais escura mostra a altura que o mar chega. Várias das grutas e pedras do local têm nome. Poliana mostra a gruta chaminé, a catedral e a gruta do monstro.
“É um dos lugares mais lindos que eu já vi na minha vida”, diz Poliana Abritta.
A equipe prova uma iguaria que, segundo os portugueses, é o melhor marisco do mundo. O nome é Percebes. Ele vive na pedra, bem aonde a onda bate. Então os caras normalmente descem de rapel. Quando a onda sai eles cavam, quando a onda bate eles se equilibram. E assim vão cavando. Por isso que ele é caro. Em um restaurante custa 33 euros o quilo do Percebes. Mas ele pode chegar a 50 euros.
“Tem gosto de caranguejo”, comenta Poliana.
Todos os anos os portugueses celebram os descobrimentos. E o Globo Mar, em Lagos, entra na festa. As pessoas desfilam fantasiadas com trajes da época.
A viagem do Globo Mar chega ao fim. As lembranças serão muitas. Todos voltam com a certeza de que não é só a história que une portugueses e brasileiros. Temos em comum o amor pelo mar e a alegria.
7 junho, 2013 as 12:59 am
Poliana e equipe Globo Mar, simplesmente lindo e emocionante a matéria de hoje, como descendente de português minha emoção foi alem dos mares, a saudades bateu forte. A união da equipe sua simpatia e simplicidade na narração fazem do Globo Mar um aprendizado semanal imperdível. Parabéns a vc Poliana e tb ao incrível Ernesto.
7 junho, 2013 as 11:47 am
Documentário único, excepcional e que me deixou a saudade daqueles belos dias passados em conjunto, da amizade temperada com o sabor a sal deste Mar Azul, profundo, deste Atlãntico que nos une.
7 junho, 2013 as 11:53 am
A Globo Mar, à Poliana, Chris, e toda a equipa, parabéns por esta narrativa e imagens únicas. Parabéns por terem conseguido trasmitir neste documentário (que achamos sempre muito curto porque queriamos ver mais), toda a viagem, tantos sítios, tanta coisa diferente que usufruimos com a vossa presença na Vera Cruz. Muitos parabéns
7 junho, 2013 as 2:32 pm
Sou portuguesa mas vim para ca muito pequena e ainda não tive oportunidade de voltar e conhecer a minha terra e quando tem uma reportagem como esta fico maravilhada e agradeço por me mostrar um pouco do meu lindo Portugal obrigado a equipe do Globo Mar. Parabenéns a todos.
8 junho, 2013 as 3:58 am
Parabens pelo profissionalismo! gostei tanto da vossa reportagem! obrigada pelo olhar solidario, fraterno e de tanta sensibilidade…. abracao ao Ernesto e a toda a equipa que conheci no Cabo da Boa Esperanca e a quem falei de Lagos e Sagres e Cabo Verde….sempre juntos! beijos e abracos gente querida
9 junho, 2013 as 2:47 pm
Minha mãe é portuguesa e sou brasileiro, minha mãe esteve em Portugal por 3 vezes e eu por 2 vezes a última vez fiquei para morar, mas voltei ao Brasil, vi esse vídeo, e a equipe da globo mar está de parabéns pela matéria, foi sensacional e ficamos com saudades, toda a reportagem sobre esse País e o povo portuguese assistimos sempre, deixo aqui meu abraço a equipe, espero que aconteçam mais reportagem da santa terrinha.
16 junho, 2013 as 3:01 pm
Simplesmente fantastico!!! Como descendente de portugueses, fez bem a alma e ao coracao assistir a essa belissima reportagem!!! O coracao ficou apertadinho de saudades!!!
25 junho, 2013 as 12:52 pm
Lindo demais. Portugal é um país maravilhoso e acolhedor. Parábens pela belíssima matéria. Lágrimas e saudades me impedem de comentar mais.