RN: pescadores passam dias no mar atrás do peixe-voador
O Globo Mar foi a um lugar pequeno e raro, que boa parte do Brasil desconhece. Ele é raro pela beleza, pelo estilo de vida, pelo resultado do trabalho que sai das mãos do povo. Caiçara do Norte é uma das poucas praias do Rio Grande do Norte de pesca artesanal. Os pescadores navegam em mar aberto até seis horas à procura de um peixe curioso: o peixe-voador. E confere os segredos dessas águas e dessa gente.
Nossa viagem começa no município de Galinhos, a 170 quilômetros de Natal, capital do Rio Grande do Norte. Seguimos de lá até Caiçara do Norte. No meio do caminho, esbarramos com um projeto de energia eólica, que gera energia através do vento. Mas está causando uma polêmica junto à população, porque o governo quer instalar esse equipamento em cima das dunas. E aí o problema. Muita gente reclama que vai estragar a paisagem.
Tudo ia muito bem, até que o nosso barco encalha. E para não atrasar muito, resolvemos encurtar a viagem e seguir pela areia de buggy. Entramos no Parque das Dunas do Capim, uma região linda e muito rica. Tudo no local é mangue. E tem também as salinas. O Rio Grande do Norte é o maior produtor de sal do país.
Chegamos a Caiçara do Norte, terra do peixe-voador, onde boa parte da população vive em função da pesca. São 6 mil habitantes e a colônia tem 1.200 pescadores.
Logo, começam a aparecer pescadores que estavam há dois dias no mar atrás do peixe-voador. O barco deles não chega até a areia. Então é preciso usar a catraia que traz o peixe surfando.
Um pescador revela que eles chegam a pegar até 4 mil peixes. Na região, eles contam por unidade e não por quilo. Na alta temporada, de maio a junho, há muitos peixes e por isso o preço cai. E 1.000 voadores chegam a custar R$ 50. No verão, a mesma quantidade chega a 120 reais.
O Globo Mar foi até Caiçara do Norte para ver a pesca. E como pescador sempre madruga, nós nos levantamos cedo também. Às 3h, a equipe acorda para acompanhar os pescadores que estão indo para mar aberto, para pescar o peixe-voador.
O pescador Cícero Martins explica que e preciso navegar por quase seis horas de viagem até chegar ao ponto de pesca do peixe-voador. Durante dois dias, eles ficam em alto-mar até completar o trabalho.
Há quase 20 anos, Cícero trocou o campo pela pescaria, e a primeira lição que aprendeu foi a respeitar o gigante azul com seu humor oscilante. Foi a madrugada inteira de navegação. Chega a hora de começar a pescar, e a repórter Poliana Abritta desce para acompanhar.
No Brasil, existem quatro espécies de peixe-voador. A de Caiçara do Norte tem, em média, 27 centímetros de comprimento. Pesa, mais ou menos, 150 gramas. No corpo dos peixes, existem cinco tipos de nadadeiras. As maiores são as peitorais, que chegam a ter 70% do tamanho do corpo. São as asas do peixe que dão sustentação ao voo.
Mas filmar o peixe voando não é nada fácil. Os repórteres cinematográficos Dennys Leutz e William Torgano ficaram horas tentando até que o peixe, esperto demais, apareceu longe. O voo é sempre muito rápido.
“O peixe-voador, na verdade, tinha que ser chamado de peixe planador, porque ele não voa. Ele usa a nadadeira peitoral dele que é muito longa para planar para fora d’água. Essa planada que ele dá para fora d’água é em função de predador. Quando ele se sente ameaçado dentro d’água por um dourado, por exemplo, a estratégia que ele tem é de sair da água. O dourado continua na água e ele tenta fugir desse predador, por cima d’água planando”, explica o professor Marcelo Vianna.
O primeiro passo para começar a pesca do peixe-voador é jogar óleo no mar. “O papel do óleo na água é fazer com que a água se torne mais clara, atraindo o voador para a luminosidade e funcionar como engodo, que é o cheiro. Esse cheiro do óleo na água faz com que o voador suba e se torne mais fácil de ser pescado”, destaca o professor.
Chega a hora da rede. Onde o pescador jogou o óleo, a água fica mais clara, mais transparente. É possível, então, enxergar a rede debaixo d’água, coisa que não era possível antes, porque a água estava mais escura.
A lua cheia e o vento forte atrapalharam os planos dos nossos pescadores de Caiçara do Norte, no Rio Grande do Norte. Desta vez, os homens vão voltar para casa com poucos peixes voadores.
A mercadoria desembarca na praia e é levada para o rancho onde vai ser vendida. O rancheiro põe o preço nos peixes e arca com o custo do gelo. Junto com os voadores, vêm dourados, que é de onde sai o lucro do pescador.
“Deu 10 quilos de dourado, R$ 70 o peixe, o dobro do preço do balaio inteiro do peixe-voador. O voador então serve para pegarmos o dourado”, conta um pescador.
Ou para pegar o atum, que também tem o preço do dourado! Serve para pegar também os atuns. Esses peixões têm o mesmo preço do dourado.
“Tem caminhão esperando. Já vai levar. Vai para o cara que vai para a feira”, conta o pescador.
E a negociação continua. O Seu Zé Paga R$ 70 pelo milheiro do voador. Na feira, para o consumidor final, a conta é outra: oito peixes a R$ 3.
O negócio é o seguinte: eles trazem o peixe. Tendo comprador, o destino é o gelo e sair de Caiçara, são vendidos para fora de Caiçara. Se não acontecer isso, tem que escalar o peixe, senão ele fica ruim.
Escalar o peixe é quando as vísceras são retiradas do peixe ao parti-lo ao meio. “Elas estão tirando as vísceras dele e a gente chama de ‘desguelrrar’”, explica o vendedor.
O peixe é salgado e fica de molho na água, de um dia para o outro. Enquanto isso, uma senhora separa a ova: “Ela é frita, escaldada. Colocamos verdura, bota no fogo e come”
Ela faz um alerta: “Essa aqui é ova choca. Essa aqui se for comer pode matar. Se for comer, pode morrer, a gente morre asfixiada”.
Não dá pra comer desse jeito. Mas essa ova vai virar uma iguaria caríssima. Caiçara do Norte esconde outros segredos. O peixe-voador desova no mar e os pescadores, quando conseguem pegar essa ova, trazem para virar caviar.
O caviar são as ovas de peixe, não-fecundadas e salgadas. A ova do peixe-voador substitui a de um peixe estrangeiro, o esturjão, que nada nas águas da Rússia e do Irã. O caviar do esturjão é um dos mais caros do mundo. O caviar, que em Caiçara do Norte é vendido a R$ 10 o quilo, nas capitais, custa até R$ 150. “Já prepararam aí uma vez, eu comi mas não gostei não”, conta o produtor.
Enquanto o peixe-voador fica na salmoura, o que dura umas 24 horas, a gente aproveitou o tempo para visitar outra comunidade que també trabalha com preciosidades. Bem pertinho, em Galinhos.
Elionete e os filhos, Rubens, Ruth e Raquel, são pescadores de mariscos. Quando chegamos ao local, eles estão retirando vôngoles do mar.
“Fazemos isso todo dia. Só não fazemos quando a maré está grande porque não tem como vir de manhã cedo e à tarde o sol está muito quente. Já faz 18 anos que eu vivo nessa vida. A gente tira até 15 quilos no dia”, revela Elionete.
“Para mim, a vida é boa, graças a Deus. Porque tenho saúde aqui dentro da água, porque eu tenho problema de pressão, já tive paralisia facial, quando eu estou assim dentro das águas, a pressão está boa”, conta Elionete.
Como tirar o marisco da água a gente aprendeu. Agora vamos ver como é o preparo para a venda: “Lava com água doce, coloca na lata um copinho com água. Então ele vai abrindo. Quando ele tiver todo abertinho, coloca na cestinha novamente para escorrer. Aí vai esfriar. Coloca aqui na mesa para todo mundo ir tirando de dentro da conchinha”, explica Elionete.
Um quilo de vôngole, já sem casca, é vendido para os restaurantes das cidades perto dali a R$ 4.
E muita gente vai até a casa da Dona Elionete para buscar as conchas, a casquinha do vôngole, para fazer alicerce de casa, para fazer aterro, para fazer até artesanato.
Lembram do peixe-voador que estava de molho no sal? Chegou a hora de ser lavado no mar e estendido para secar. Assim, ele é vendido a R$ 0,10 cada um.
Depois dessa saga, não deu para resistir, a gente quer saber se ele é bom. Vamos ver se é gostoso. Quem prepara é o Cícero, cozinheiro do nosso barco.
“O valor comercial dele, depois de pronto, na mesa de um bar, chega a custar de R$ 18 até R$ 35, mais ou menos, com 12 filés”, explica Cícero.
Produtos tão preciosos merecem mais atenção: o que acontece hoje é que esses pescadores trabalham muito e ganham pouco.
“O que falta é o poder público dar instrução para que esses pescadores consigam trabalhar esse material com uma qualidade de higiene melhor, falta o poder público construir instalações onde esse pescado possa ser trabalhado em boas condições. E, ao mesmo tempo, que eles estão ganhando muito pouco, esse produto está chegando ao consumidor final com preço muito alto. Então, tem um problema ao longo da cadeia produtiva que cabe ao governo atuar”, destaca o professor Marcelo Vianna.
8 junho, 2012 as 7:00 am
Acho as materias otimas,penso que deveria ser reprizadas pelas manhas,para que as crianças pudecem acompanhar ja que são de interece educativo . Parabens pelas belas imagens .
8 junho, 2012 as 10:12 am
Espero que depois da divulgação dessa matéria o poder público tome as devidas providencias , para que possa axiliar a queles umildes proficionais Pescadores.
8 junho, 2012 as 1:54 pm
parabens pelo o pragama , e pela reportagem
pena que pra assistir na tv.passa muinto cedo ou seija pra quem trbalha em horario normal nao da pra assistir que pena , mesmo assim valeu obrigado
8 junho, 2012 as 3:23 pm
Sugiro a voces do globo mar conhecer aa pesca do polvo marinho (artesanal) na cidade de rio do fogo cidade do litoral do estado do RN;.
8 junho, 2012 as 6:22 pm
nós aqui de Caiçara do Norte/RN, ficamos muito felizes com a visita da equipe do globo mar em nosso município. Esperamos que tenham gostado.
Muito obrigada pela oportunidade!!
8 junho, 2012 as 9:43 pm
fico pensando o quando é rico o nosso país…o nosso litoral, e da mesma forma, como é bom conhecer os brasileiros que mesmo com pouco dinheiro e muito trabalho conseguem sobreviver a forte exploração capitalista. agradeço a rede globo pela oportunidade de assistir a esse programa.
só nao me agrada o horário…num dá para começar mais cedo? rs
9 junho, 2012 as 12:52 am
amei o programa… que falou da minha cidade natal… e vocês deveriam fazer outras reportagens la pois é uma cidade linda e cheia de riquezas….parabéns pela reportagem…adorei
9 junho, 2012 as 3:46 pm
temporada 2012 de voces esta maravilhoso muito otimo.
9 junho, 2012 as 11:37 pm
o trabalho é arduo, pena que os compradores não dão valor. Parabéns pela reportgem.
10 junho, 2012 as 10:55 am
As reportagens do Globo Mar estão cada dia melhores, e a Poliana dá uma vida especial a cada tema. Sugiro um dia uma visita ao pequeno mas, também muito rico e belo litoral do meu Piauí.
10 junho, 2012 as 11:04 am
globo mar, o melhor programa da tv aberta brasileira, sem sombras de dúvidas
10 junho, 2012 as 12:44 pm
Conheci essa região quando eu tinha apenas 12 anos, hoje tenho 62. Fiquei encantada. Sempre viajava nas férias escolares com o meu querido avô e conheço muitas cidades e vilarejos do RN. Eu deixava todo conforto e ia para as casas dos pescadores as mulheres esperando a chegada deles que traziam o peixe voador. Eles faziam esse processo de escalar o pescado e depois de salgado, assavam na brasa e comiam com FAROFA DE CAFÉ. Até hoje as pessoas ficam boquiabertas com essa minha mania. É gostoso demais…Parabens pela matéria´. Nós temos muitas praias lindas em todo RN, principalmente no município de Porto do Mangue, onde tem a mistura do sertão com o mar.. Pe. Marcelo Rossi já esteve por lá onde fez as filmagens dos filmes: MARIA MÃE DE DEUS e outro com Tiago Lacerda (esqueci o nome do filme) Moro em Natal mas tenho minhas raízes lá.
11 junho, 2012 as 10:35 am
foi muito bonito essa reportagem parabens a rede globo, ha fazer um programa com a cultura brasileira principalmente a pesca.
12 junho, 2012 as 1:56 pm
Olá !
Adorei a reportagem sobre o peixe-voador. É um trabalho árduo e pouco valorizado.
Trabalho com programos do Governo Federal a mais de oito anos, e há formas de melhorar a vida dessas pessoas através de compra direta de programas da CONAB (COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO). O PAA (PROGRAMA DE AQUISIÇÃO DE ALIMENTOS) compra de Associações ou Cooperativas de agricultores ou pescadores devidamente organizados e distribui a populações carentes. Todos saem beneficiados, principalmente quem produs. Vale a pena dá um suporte a estes pescadores.
Abs
Márcia Adriana
Italva/RJ
13 junho, 2012 as 6:43 pm
Gosto muito do globo mar, acho interessantíssimo esses vários enfoques tanto econômicos, quanto ambientais, acaba deixando a coisa interessante justamente por essa multiplicidade de ideias.
Estive em Caiçara do Norte há muitos anos atrás, acho que com 10 ou 12 anos, talvez até menos. Tenho muitas lembranças, achei a configuração do mar bem diferente dos outros lugares, mais profundo, enfim, só um oceanográfo para tirar as minhas dúvidas. Parabéns pelo programa.
14 junho, 2012 as 10:45 pm
apesca emuito tralhosa com,embarcações muitopiquenas.deveria termais ajuda daparte dus gouvernos pará que podesse conpra enbarcaçõesmeris.
29 abril, 2013 as 9:20 am
muito bom legal mesmo,só precisa que as autoridades valorize o trabalho dos pescadores.
3 julho, 2013 as 1:31 am
Se modernizar para pesca industrial o peixe deixa de existir