Paglia visita litoral do Paraná e mostra belezas da Ilha do Mel
O Globo Mar foi ao Paraná, a 50 quilômetros da costa em um dos trechos mais interessantes e menores do nosso litoral. A costa do Paraná tem apenas 98 quilômetros de extensão, mas guarda algumas preciosidades como, por exemplo, os botos. Mergulhamos em busca dos meros, um gigante que pode ter mais de 2,5 metros de cumprimento e 400 quilos de peso.
Navegamos também até a Ilha do Mel, um paraíso encravado em uma das áreas portuárias mais importantes de todo o Brasil. É um lugar que luta pela preservação com todos os seus mitos, suas lendas e suas belezas.
Nossa viagem começa na Baía de Guaratuba, na boca do Rio Fundo, em Caiobá, extremo sul do Paraná. Os barcos do pessoal do mergulho começam a se aproximar. Os mergulhadores vão garantir nossa segurança nas águas turvas e geladas para podermos chegar próximo aos meros. O objetivo da viagem é esse: se aproximar desse peixão.
Meros são gigantes tranquilos que nadam em quase todo litoral brasileiro e se espalham até o sul dos Estados Unidos. É conhecido pelos índios como ‘itajara’, o senhor das pedras. É o nome certo para o peixe que gosta de se proteger nas rochas do fundo. Um animal enorme e dócil, que quase sumiu por causa da pesca irresponsável.
O mar do Paraná é sede da maior concentração de recifes artificiais do país. Blocos de concreto e embarcações antigas foram para o fundo de propósito, para virar refúgio e resgatar a vida marinha, devastada por décadas de exploração. É o caso da balsa Espera 7, antigo transporte de soja, que foi aposentada em 2001. Depois de uma limpeza cuidadosa para não poluir o mar, teve o casco rasgado por uma série de explosões controladas. Desde então, está no fundo do mar, servindo de casa para meros e outros bichos.
A água que tem nutrientes e ajuda a vida marinha é mais turva.
O chefe dos mergulhadores explica a técnica para o grupo não se dispersar na água turva. E lá vamos nós, seguindo a linha guia, sempre perto do companheiro, para ninguém se perder. A visibilidade é melhor do que se pensava. Mas, a partir de oito metros de profundidade, a água quase congela.
A balsa aparece e é enorme. Depois de dez anos no fundo do mar, o aço já foi tomado pelas algas. Por toda a parte, a ameaça que já esperávamos: pedaços de rede criam um labirinto, enroscados no naufrágio. Apesar do risco para o mergulho, é um bom sinal, prova de que a balsa cumpre o papel de evitar a pesca de arrasto, aquela que varre o fundo do mar e mata indiscriminadamente.
Os cardumes por toda a parte são outro sinal de que o naufrágio virou refúgio para os peixes. E isso significa que o mero deve estar por perto. Lentamente, o bichão se esgueira entre as colunas do porão, vigiando nossos movimentos. Pelo tamanho, é um veterano, com mais de trinta anos, fácil. Peso pesado, com seus mais de 200 quilos, neste ambiente apertado.
Os biólogos acham que os meros voltaram a ser vistos no litoral paranaense por causa do programa de recifes artificiais. Além dos naufrágios, foram criados refúgios de concreto.
O professor Ariel Schefffer, da Universidade Federal do Paraná, trabalha há 14 anos com os recifes. “Nós desenvolvemos com algumas empresas que trabalham com cimento, com material adequado que não seja nocivo o meio ambiente. E instalamos aqui”, explica o biólogo.
Mas o que acham os pescadores? Fomos navegar com eles, para fisgar opiniões. “Fez diferença, uma diferença boa. faz Um mês, o pessoal começou a pescar bastante peixe porco nos recifes, não precisou ir lá”, comenta o pescador Fabiano Nascimento.
No barco do Projeto Recifes Artificiais, jovens pesquisadores colhem amostras para checar o impacto no mar.
“Quando a gente viu que estavam diminuindo as pescas do peixe, a gente sentou junto e começou a ver o que podia fazer de melhor para nós. Se nos não fizéssemos nada, seria pior”, afirma o pescador Jair da Silva. “Houve essa conversa com os pescadores, e eles definiram a área onde deveria ser colocado. isso que é o bom da coisa”, declara o pescador Mario Jorge.
Queremos ver de perto os recifes feitos pelo homem, mas, como está ficando tarde, a equipe do Globo Mar deixa para o dia seguinte.
Aproveitamos para nos aproximar das ilhas dos Currais. São três ilhotas que ficam a 10 quilômetros do Paraná, um dos maiores pontos de concentração de aves marinhas de todo o litoral brasileiro. Em comum, as aves marinhas têm o gosto pelas ilhas, um refúgio tranquilo para quem não sabe fazer ninhos em árvores.
A noite se aproxima, e nós nos refugiamos no Barco Escorpião. Ao longe, a tempestade de raios ilumina a Serra do Mar. No dia seguinte, continuamos nossa procura pelos gigantes do mar e aproveitamos para conhecer o Parque dos Meros.
Os blocos estão a 16 metros de profundidade e pesam de 120 a 300 quilos. E encontramos um mero de quase 1,7m que deve pesar mais de 300 quilos. Quando nos aproximamos, o grandalhão usa sua “arma secreta”. O mero contrai o corpo e faz um som de explosão. Esta é também uma forma de surpreender os peixes menores, na hora de procurar comida.
Mas o bichão quer mais é manter distância de nós. Mas o recife, sem vigilância, vira armadilha para os peixes. Ele pode facilitar o trabalho dos pescadores irresponsáveis.
“O recife artificial é muito interessante quando ele está associado a uma unidade de conservação. A partir do momento em que o recife artificial está protegido da pesca predatória, ele funciona como ferramenta muito interessante de manejo. Caso contrario, ele pode ser uma ferramenta que vai facilitar a sobrepesca desses peixes”, aponta o biólogo Marcelo Vinna.
E a navegação continua. Seguimos em direção ao paraíso ecológico da Ilha do Mel e aos botos da Baía de Paranaguá. Amanhecemos na ilha do Mel. O barco Escorpião ancorou em frente à Praia das Encantadas. Os cargueiros do Porto de Paranaguá passam do outro lado da ilha. O um vai-e-vem de barcos transporta moradores e turistas.
Na nossa primeira exploração da ilha do Mel, temos a bordo duas pessoas que conhecem profundamente o local: o geólogo e professor de oceanografia Marcelo Lamour, da Universidade Federal do Paraná, e o administrador da ilha Paulo Nogueira, representante do Instituto Ambiental do Paraná, que é a autoridade ambiental do estado.
A ilha é a pequena jóia de um pedacinho do que resta da Mata Atlântica preservada no Paraná e do Brasil do lado do Porto de Paranaguá que é um dos maiores portos do Brasil.
“A ideia da política portuária nunca nos deixa muito tranqüilos, a bem da verdade, por conta exatamente dos impactos que são decorrentes disto”, afirma o geólogo Marcelo Lamour.
“A tentativa é diminuir os impactos e otimizar o trabalho de uma dragagem, como, por exemplo, fazer com que ela seja mais efetiva, que crie menos problemas ambientais”.
“Existe até uma vontade política dos governantes de manter isso preservado. O que eu vejo que está acontecendo é uma área de preservação com o turismo sendo feita de forma controlada. Esse é objetivo nosso”, destaca Paulo Nogueira.
A população é de 1,5 mil pessoas, contando com a turma que tem casa de veraneio. Mas, só no último verão, a Ilha do Mel recebeu mais de 90 mil visitantes. O que salva é que 93% da área verde estão preservados.
Hoje a Ilha do Mel está em pleno crescimento. Não faz muito tempo, já esteve quase dividida em duas partes, que estão ligadas agora por um istmo, uma estreita faixa de areia. Do alto do Morro do Farol, é possível entender o fenômeno do que está acontecendo com istmo, ou passa a passa, como dizem os ilhéus da Ilha do Mel.
Um dos mistérios da Ilha do Mel é a Gruta das Encantadas, bem de frente para o mar aberto. Quem conhece bem essa historia é o Carlinhos. A família dele mora na ilha há mais de 100 anos. “Eles nos contavam que realmente viram várias vezes as sereias aqui. Na verdade, eles nos contavam que elas ficavam nas pedras. Elas surgiam do mar e ficavam nas pedras, deitadas nas pedras e depois elas se recolhiam de novo para o mar. Mas não faziam maldades”,
Carlinhos não quer que falem mal das encantadas. Mas há controvérsias. Há quem diga que as sereias atraiam os marinheiros desavisados e os puxavam para o fundo do mar. Outra origem para a lenda é mais pé-no-chão. “Durante temporais, marinheiros acabavam se protegendo na gruta e ficavam ali até passar a tempestade. Só que não contavam com a subida da maré que, às vezes, acontecia. Com a subida da maré, eles simplesmente desapareciam, morriam afogados”, conta Paulo.
Na Baia de Paranaguá, existem vários animais que são alvo dos interesse dos pesquisadores. Nós conhecemos uma jovem doutora da Universidade Federal do Paraná, que já gastou 1,2 mil horas observando um único tipo de animal: o golfinho. “Um número grande de observações é que você consegue identificar os indivíduos , entender o comportamento deles, ter um número de ocorrências, interação com embarcações”, aponta a pesquisadora.
É preciso tempo para compreender esse mamífero, que pode viver cerca de 35 anos. Camila fotografa sem parar. Assim, ela identifica cada golfinho. As barbatanas têm marcas que funcionam como carteira de identidade, provocadas por dentadas e cicatrizes dos enroscos no mangue ou dos encontros doloridos com as hélices de barcos.
“Nós temos muitos golfinhos. É um sinal de muita produtividade, muita comida, muito peixe no estuário, mas, ao mesmo tempo, o golfinho é um sentinela ambiental. Ele nos mostra o estado de saúde do ambiente, principalmente porque se alimenta de peixes muito parecidos com os que nós comemos. A gente tem observado, em alguns estudos com nível de contaminação, que esses bichos já têm níveis de contaminantes alto”, revela Camila.
O litoral do Paraná está em uma das áreas mais povoadas da costa. Os portos de Paranaguá e Antonina movimentam mais de 40 milhões de toneladas de carga por ano. O aumento das exportações pressiona ainda mais a natureza. Mas há também outra ameaça que não produz nada, a não ser barulho e desconforto para os bichos: as lanchas e Jet-ski.
Nem por isso a pesquisadora quer barrar o turismo. “A gente quer que mais pessoas venham para cá para aproveitar essa beleza natural da região. Mas que as pessoas venham com essa ideia de aproveitar, de se integrar neste processo”, aponta.
Dá para ver que a ligação das pesquisadoras com os golfinhos vai muito além da obrigação profissional.
O Globo Mar se despede com as palavras dos defensores da natureza. Eles acham que é preciso impor limites para preservar a Baia de Paranaguá.
“Em três anos, nós vimos os recifes se transformarem de blocos de concreto em um habitat marinho”, afirma Ariel. “A gente não pode abrir mão do progresso, mas esse progresso tem que ser uma marcha sustentável com o ambiente. A gente não pode simplesmente devastar”, declara Marcelo.
“É extremamente necessário neste momento que a gente tenha uma relação boa entre meio ambiente, gestão e empreendedor para que o desenvolvimento econômico ocorra na região, mas que a gente tenha um nível de conservação mínima para manutenção dessa vida marinha que nos temos aqui no Paraná. É um tesouro”, ressalta Camila.
4 maio, 2012 as 8:59 pm
muito bom a materia , obrigado
4 maio, 2012 as 9:28 pm
Como moradora do Balneário Pontal do Sul, onde se situa o CEM (Centro de Estudos do Mar) e conhecedora do trabalho dos pesquisadores ali mostrados, a Globo só enaltece a dedicação desmedida de toda a equipe da UFPR. Parabéns pela reportagem.
4 maio, 2012 as 10:39 pm
Deusiana Silva
Parabéns a toda equipe do Globo Mar,porém o horário é muito tarde, na maioria das vezes vejo pela internet.Qual o canal fechado que está reprisando e o horário?A natureza realmente é indescritível.Obrigada!
4 maio, 2012 as 11:01 pm
conheci um pouco da ilha,no momento da reportagem me senti lá de novo,obrigada por tanta emocào de novo,sou do interior de sào paulo a viajem é longa mas sonho em voltar.parabéns.
5 maio, 2012 as 10:06 am
Maravilhoso programa!!!!!
Pena que seja exibido em um horário em que pouquissimas pessoas podem se dar ao luxo de estarem acordadas.
Oh Rede Globo, vamos disseminar qualidade, cultura e bom gosto….exibam esses tipos de programas em horário nobre….o povo brasileiro tem necessidade de cultura!!!!!
5 maio, 2012 as 11:41 am
Parabéns pela reportagem!!!
Eu, como parnanguara, fico imensamente grato a Deus em proporcionar a todos brasileiros, uma região tão linda e emocionante como nosso litoral.
Por estas e outras que tenho orgulho da minha Paranaguá.
5 maio, 2012 as 6:34 pm
Linda reportagem,passei lindos momentos nesta ilha, pois meus parentes são da Ilha do Mel , moram nas Encantadas. Desde minha infância, adolescencia e uma parte da vida adulta pude apreciar essa maravilha. Parabens!!
5 maio, 2012 as 8:00 pm
Muito interessante a matéria.
Parabéns a Todos os Responsáveis.
6 maio, 2012 as 9:11 am
Adoro este programa, educativo, mostrando as belezas de nosso pais, mas… pena que uma programa tão valioso só passe tarde da noite o que impede muita gente de assistir, porque não programar para um horario mais nobre. Parabéns a toda a equipe.
6 maio, 2012 as 1:10 pm
sou aki do litoral do pr, moro em frente a ilha do mel, a matéria ficou linda, isso é apenas um pedaço da beleza q temos em nosso litoral.
6 maio, 2012 as 8:06 pm
amei ver minha amada terra e aqualidade,das reportagens lugares unicos onde so podemos ver.no parana,e matei a saude,exelente trabalho que estao fazendo la ,obrigado por prorcionar a nos paranaenses alegria de exebir nosso litoral .e um otimo programa pra ser exibido eu aqui em sc amei ver um pouco mais do meu amado parana.
7 maio, 2012 as 10:48 pm
Parabéns pela matéria ! Sou Paranaense e apaixonado pelo mar ! Conheço a Ilha do Mel e os seus encantos , gosto da pesca em alto mar e aprovo a criaçãod e recifes artificiais pois ajudam na preservação marinha !
Parabéns as biólogas pelo seu empenho , dedicação e amor pelos botos , nota-se que fazem tudo com muito entusiasmo e paixão !
Parabéns Ernesto Paglia , materia muito interessante e informativa .
9 maio, 2012 as 4:10 pm
Parabéns equipe do programa Globo Mar, achei excelente a reportagem, viva esse litoral, porem nossas autoridades devem cuidar melhor, do litoral em um todo, mas a Ilha do Mel, sem palavras… quantos feriados com a galera, re rolê pelas trilhas, sem transito, sem poluição, Deus ali do nosso ladinho nos acompanhando … parabéns Ernesto Paglia e equipe …showww
Jah Bless
9 maio, 2012 as 7:07 pm
Fiquei chatiada com a materia,pois nem citaram o nome da Ilha das Peças e, quem nao conhece a Ilha das Peças pensa que a ilha faz parte da Ilha do Mel. Isso faz mais popularidade para a Ilha do Mel e menas pra Ilha das Peças… Tirando esse fato, gostei muito da materia.
Obrigada
18 maio, 2012 as 2:17 am
A reportagem foi muito boa, mas muito tarde, o programa é excelente deveria passar num horário que todos pudessem apreciar. Parabéns, moro em Pontal do Paraná e realmente é muito bom aqui, preservamos a natureza e a Ilha do Mel um paraíso….sempre que sobra um tempinho vamos lá, tudo de bom e na reportagem mostrou toda a beleza do local.
Parabéns e por favor apresentem num horário mais cedo.
Grata
Maria de Lourdes
19 maio, 2012 as 11:49 pm
É SIMPLESMENTE O MELHOR PROGRAMA DA GLOBO HJ.
24 maio, 2012 as 4:21 pm
Boa tarde!
Alguém sabe se existe operadora de mergulho na ilha do mel?
Tks!
28 maio, 2012 as 11:22 pm
Parabens pela belíssima reportagem, mesmo sem conhecer este paraíso, deu para perceber o trabalho serio que está sendo realizado a favor da natureza.
31 maio, 2012 as 4:44 pm
Realmente lamentável sertão tarde um programa deste, que nos traz tanto conhecimento e cultura. Parabéns por tão belo programa !!!
2 junho, 2012 as 11:24 pm
O Brasil realmente é um colosso. Penso que o programa deve ser em horário mais acessível aos adultos e jovens, pois o teor do programa é excelente e a abrangência pode ser maior, estimulando e divulgando o setor de pesquisa e áreas afins. Parabéns Paglia.