Uma arma de papel na Guerra ao Terror: EUA oferecem “dinheiro vivo” em troca de informações sobre terroristas. Maior recompensa: R$ 40 milhões (a oferta é válida para o Brasil…)

qua, 07/09/11
por Geneton Moraes Neto |
categoria Entrevistas

A Globonews exibe nesta quarta-feira, às 20:05 (reprise: meia-noite e meia), entrevista inédita em que o ex-agente do Serviço de Segurança Diplomática do Departamento de Estado americano, Fred Burton, fala sobre recompensas milionárias pagas pelo governo dos EUA em troca de informações sobre terroristas

O governo americano usa uma poderosa arma de papel na chamada Guerra ao Terror : dinheiro para informantes.

O Departamento de Estado dos EUA mantém, desde os anos oitenta, um programa chamado “Rewards For Justice”. Cem milhões de dólares já foram pagos a cerca de sessenta informantes que passaram ao governo americano informações que levaram à captura de terroristas. As recompensas não são pagas apenas a quem ajudar a esclarecer ataques terroristas já ocorridos : o prêmio vale, também, para quem der informações que evitem novos atentados. 

Não há qualquer restrição geográfica: as recompensas podem ser pagas a informantes de qualquer parte do mundo.

Gravamos em Austin, Texas, uma longa entrevista com o agente que, durante anos, atuou na frente contra o terror. Chama-se Fred Burton. É autor de livros como “Ghost: Confessions of a Counterterrorism Agent” .

Burton cita um detalhe : as recompensas são pagas, em geral, em “dinheiro vivo”, “em notas de cem dólares” – numa “mala preta”. Se o informante é valioso, pode receber ajuda para ganhar um novo endereço e mudar de identidade. É o que aconteceu com o cúmplice de Ramzi Yousef, o responsável pelo primeiro ataque ao World Trade Center, em 1993. Quando soube que o programa oferecia recompensas pulpudas, o cúmplice entregou o chefe. Recebeu 1 milhão e 100 mil dólares em dinheiro vivo. Trocou de identidade.  Final da novela: o informante “sumiu na poeira da estrada”. Yousef foi preso no Paquistão, transferido para os Estados Unidos e condenado à prisão perpétua.

A maior recompensa oferecida, hoje, é de 25 milhões de dólares ( cerca de 40 milhões de reais ) a quem der informações que resultem na captura do sucessor de Bin Laden na Al-Qaeda, o médico egípcio  Ayman al-Zawahiri.  Há uma lista de cerca de trinta terroristas que valem, na avaliação do Reards for Justice, cinco milhões de dólares cada ( cerca de 8 milhões de reais ).

O Departamento de Estado publica a lista em vinte e oito idiomas – inclusive o português : 

https://www.rewardsforjustice.net/index.cfm?page=wanted_terrorist&language=portuguese

 Trechos da entrevista que a  Globonews levará ao ar nesta quarta-feira:

“A fonte que nos permitiu capturar Ramzi Yousef, o mentor do primeiro ataque ao World Trade Center, recebeu Us$ 1,2 milhão em dinheiro vivo, em uma maleta preta da Samsonite…O dinheiro veio de uma ferramenta poderosa do governo americano: um programa chamado “Rewards for Justice”. O programa foi, literalmente, projetado em um guardanapo no início da década de oitenta. Os informantes recebem pagamento. Não importa em que lugar do mundo estejam. Por exemplo: cidadãos do Brasil, Europa ou sudeste da Ásia podem entrar em contato com o governo americano através de um número gratuito, pelo nosso website, ou por embaixadas e consulados dos EUA em qualquer país , com informações. O governo americano vai tentar confirmá-las. Se forem substanciais, este indivíduo pode receber milhões de dólares. O informante a quem pagamos 1,2 milhão foi transferido para os Estados Unidos, depois que o tiramos do Paquistão. Literalmente, desconheço o paradeiro desse informante hoje. Nós demos o dinheiro a ele. E ele seguiu adiante. Pelo que sei, nunca voltou a entrar em contato conosco. Nunca nos procurou. Era muito dinheiro. Espero que ele tenha investido bem”

“Sempre que oferecemos a alguém a oportunidade de ganhar dinheiro, temos que investigar para excluir pistas forjadas ou alegações malucas – que chegam aos montes. Há os que nos escrevem, nos telefonam ou nos visitam alegando coisas absurdas. Dizem que Muammar Kadhafi vai tomar o plenário da ONU. Ou que o presidente Obama na verdade não trabalha para os Estados Unidos, mas para a Nova Ordem Mundial. Quando divulgamos este tipo de programa para o público, temos que excluir informações errôneas ou ridículas. Usávamos procedimentos como dizer: “Tudo bem. Agora que nos trouxe informação sobre esta ameaça, você aceita passar pelo detector de mentiras ?”. A maioria saía correndo”.

O agente também trata de um caso que envolve o Brasil: o assassinato do coronel Josef Alon, adido militar da Embaixada de Israel nos Estados Unidos, em julho de 1973, em Washington, poucos meses depois do massacre dos atletas israelenses nas Olimpíadas Munique, em setembro de 1972. O ataque à delegação isralense foi feito pela organização Setembro Negro. A investigação comandada por Burton descobriu que o terrorista que se infiltrou  nos EUA para eliminar o adido militar israelenses tinha ligações com a organização terrorista que cometera o ataque em Munique. Depois de obter um passaporte falso, o homem que matou o adido militar israelense teria embarcado para o Brasil – onde, segundo garante Burton, se refugiou em Porto Alegre:

“O terrorista do Setembro Negro que apertou o gatilho e matou o coronel Alon fugiu dos EUA após o assassinato. Recebeu do Setembro Negro uma identidade falsa – que facilitou a viagem ao Brasil. Viajou para Porto Alegre, especificamente, onde se refugiou no interior de uma comunidade palestina durante anos. Tentei localizá-lo no Brasil,o que foi muito difícil. É parecido com a situação na Tríplice Fronteira : não conseguíamos a ajuda de ninguém, o auxílio de ninguém. Eu suspeitava fortemente de alguém o teria advertido sobre nós. O homem fugiu do Brasil e foi para o Líbano, onde estava protegido pelo Hezbollah – que lhe deu abrigo. O que me impressioniou foi a capacidade do Setembro Negro de conseguir um passaporte para ele e levá-lo imediatamente para o Brasil depois do assassinato. Sou impedido por lei de divulgar o nome do verdadeiro assassino. Depois que ele fugiu para o Brasil, voltou para o Líbano. Fontes que tenho na comunidade de inteligência israelense me enviaram uma mensagem por celular. Meus contatos em Israel disseram que eles tinham “resolvido o assunto”. Tinham “cuidado do problema”. Entendi que os israelenses fizeram esse indivíduo desaparecer. Quando ao que aconteceu com ele, só posso especular. Não sei ao certo. Imagino que tenham feito com o atirador o que fizeram com outros agentes palestinos após o massacre de Munique: devem tê-lo assassinado”.

Depois da morte dos atletas israelenses em Munique, o governo de Israel promoveu uma operação clandestina : caçou e eliminou, um por um, em vários países, os terroristas palestinos responsáveis pelo ataque. A operação, batizada de Ira de Deus, virou tema do filme “Munique”, dirigido por Steven Spielberg.

A saga do agente Burton para tentar esclarecer a morte do adido militar da embaixada israelense é o assunto principal do livro que Burton acaba de lançar: “Chasing Shadows”  (“Caçando Sombras”).

A entrevista de Burton ao DOSSIÊ GLOBONEWS : SEGREDOS DE ESTADO joga um pouco de luz sobre operações que, como ele admite, ocorrem quase sempre no mundo das sombras.

Fred Burton dá entrevista à Globonews em Austin, Texas : o agente descreve operações feitas no "mundo das sombras" (Foto: Eduardo Torres )

 



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