DA SÉRIE CONFISSÕES INCONFESSÁVEIS – 1

ter, 29/09/09
por Geneton Moraes Neto |

1: Um OVNI na boca do astronauta

Pode ter sido uma ilusão de ótica, mas tive a clara, nítida e inarredável impressão de que testemunhei uma cena estranha, em Brasília, durante a gravação de uma entrevista com um astronauta que pisou na lua: a arcada dentária superior do herói do espaço se moveu ligeiramente para frente, em meio a uma resposta.

Palpite :não eram dentes naturais. Dente não sai do lugar. Se os dentes se mexeram em bloco, o herói do espaço usava dentadura.

Há quem veja OVNIs no céu. Vi um OVNI – objeto voador não-identificado – logo ali, na boca do astronauta que pisou na lua.

O nome do herói do espaço era Edgard Mitchell, um dos astronautas da Apolo 14.

Ah, Nossa Senhora do Perpétuo Espanto, perdoai a indiscrição.

2: O bafo do Prêmio Nobel

Que as musas da literatura me perdoem, mas vou cometer uma indiscrição inútil, banal, desnecessária e dispensável : o Prêmio Nobel de Literatura José Saramago exalava mau hálito quando me deu uma entrevista no Copacabana Palace.

Pronto. Contei.

Agora, disfarço, olho para o chão, saio da sala de fininho.

3. O chiclete invisível da Dama de Ferro

Tive uma vez a chance (fugaz) de dirigir a palavra à primeira-ministra britânica Margareth Thatcher (em breve, um post sobre o assunto). Vista a dois palmos de distância, a pele do rosto da chamada Dama de Ferro impressionava pela palidez. Os olhos eram de um azul fulminante. Mas um detalhe idiota me chamou a atenção: por alguma disfunção odontológica, compreensível numa senhora de idade, a Dama de Ferro de vez em quando movimentava estranhamente as mandíbulas, como se estivesse mastigando um chiclete invisível. Não era chiclete, óbvio. Era um tique da velhice. O tempo passa.

4.Um mico num quarto de hotel, em nome da fé e dos olhos de Darlene Glória 

A atriz Darlene Glória era um símbolo sexual indiscutível nos anos setenta. Brilhou em “Toda Nudez Será Castigada”, a versão cinematográfica que Arnaldo Jabor concebeu para a peça de Nelson Rodrigues. Um belo dia, jogou a carreira para o alto para se converter de corpo e alma à fé religiosa. Virou pregadora fervorosa. Apareceu no Recife para fazer sermões. Fui entrevistá-la, com três parceiros jornalistas. 

A musa nos recebeu no quarto num quarto do Hotel São Domingos. Estava linda. Terminada a entrevista, ela me olhou nos olhos e disse: “Eu estou notando, nos seus olhos, que você precisa de Deus!”. Convocou, então, a pequena troupe de entrevistadores a fazer uma oração, em círculo, no centro do quarto. Eu não tinha ido ali para rezar, mas para fazer uma entrevista. Mas não tive como negar o convite. Olhei para o chão e, por ordem da pregadora, comecei a rezar - de mãos dadas logo com quem : com ela, Darlene Glória, minha musa das telas do cinema. Jamais imaginei que um dia estaria de mãos dadas com a musa de Toda Nudez Será Castigada num quarto de hotel. Mas estive, na circunstância mais solene possível.

C´est la vie.

5. Meu ídolo de infância responde : não

Uma das lembranças imbatíveis de minha infância :  ver as comédias estreladas por Jerry Lewis nas matinês. Décadas depois, o meu ídolo passa por Londres, para uma curtíssima temporada num teatro. Vi a peça. O Jerry Lewis que subiu ao palco do teatro não fazia concessões ao Jerry Lewis que fazia palhaçadas impagáveis nas telas: nada de contorcionismos impagáveis nos músculos do rosto, nada do ar abobalhado, nada de olhares enviezados.  Por um breve momento, fez um trejeito que lembrava o Jerry Lewis do cinema. A platéia veio abaixo. Tento uma entrevista com o homem pelos meios civilizados: um fax para a assessoria. Resposta seca: não, Jerry Lewis não vai dar entrevista ao senhor. Ponto. Sucintamente, o motivo: ele só falaria com jornalistas que escrevessem para o público que pudesse ir ver a peça. Não era o caso de um repórter de um país distante. Brasil ? Não, neca, não interessa. Pode tirar o time de campo.

Tirei.

Acrescentei o verbete “Lewis, Jerry” à minha Enclopédia de Entrevistas Perdidas.

Novas confissões inconfessáveis em breve – ou a qualquer momento, em edição extraordinária.



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