O depoimento do homem que deu aula de pilotagem a terroristas : eles rezaram na hora do pouso

sex, 09/09/11
por Geneton Moraes Neto |
categoria Entrevistas

 A Globonews leva ao ar nesta sexta, às 8 e 5 da noite, com reprise à meia-noite e meia, uma reportagem gravada nos EUA, na cidade que serviu de  “porta entrada” de  terroristas que viriam a cometer o mais devastador atentado da História. É o penúltimo episódio da série DOSSIÊ GLOBONEWS: SEGREDOS DE ESTADO, 

O “ovo da serpente” estava ali. Mas ninguém notou. Os primeiros terroristas do 11 de Setembro a desembarcarem em território americano escolheram, como primeira escala, um lugar insuspeito – San Diego, na Califórnia, onde vivem cerca de cem mil muçulmanos.  

Khalid Al-Midhar e Nawaf Al-Hawzi chegaram em janeiro de 2.000, exatamente um ano e oito meses antes dos ataques. Não despertaram qualquer suspeita.

Khalid tinha 26 anos de idade. Nawf,vinte e cinco. Eram árabes. Passaram a frequentar a mesquita do Centro Islâmico de San Diego. Alugaram um apartamento num conjunto residencial chamado Parkwood, na zona norte da cidade. Um vizinho estranhou o fato de que os inquilinos quase não tinham móveis. Falavam em voz baixa em celulares De vez em quando, saíam de carro – de madrugada.

Os dois se matricularam numa escola de aviação. Dois detalhes chamaram a atenção do instrutor .

Primeiro: os alunos – que diziam ter planos de trabalharem como pilotos na Arábia Saudita – queriam aprender logo a pilotar Boeings. O desejo parecia despropositado, porque os dois, além de falarem inglês precariamente, entendiam pouquíssimo de aviação. Além de tudo, ninguém começa um curso querendo pôr as mãos  no painel de controle de um Boeing. É como chegar a uma escola de música querendo reger a Orquestra Sinfônica. Mas o desejo da dupla de alunos pareceu uma mera e inofensiva esquisitice.

Segundo detalhe:  quando estava a bordo do pequeno avião, em companhia dos dois estudantes que, na verdade, eram terroristas, o instrutor se surpreendeu com uma cena. Os dois começaram a rezar em voz alta. O fato de um seguidor do islamismo interromper as atividades para rezar não chega a ser extraordinário, é claro. O que chamou a atenção foi o fato de o ritual ser praticado a bordo de um avião, em meio a uma aula.

Um dos personagens do DOSSIÊ GLOBONEWS:SEGREDOS DE ESTADO é, justamente, o instrutor que, sem suspeitar de nada, deu aula de pilotagem aos dois, a bordo do Cesnna, modelo 172 N, prefixo N 739 RF.

Rick Garza, o instrutor, lembra:

 Quanto a atitudes incomuns:  os dois pareciam demorar a aprender as coisas. Em um vôo, notei que um dos dois, Khalid al-Mihdhar, começou a rezar para Alá, em árabe, no fundo do avião. Isso aconteceu no momento que estávamos pousando. Por ser uma pessoa religiosa e espiritual, achei curioso o fato de ele estar rezando naquele momento. Não entendi se ele estava nervoso ou com medo. Não sabia o que ele estava fazendo. Aquilo ficou na minha mente. Perguntei para quem ele estava rezando. Disse a ele que eu era um homem muito espiritual”

“Perguntei porque achei muito interessante. A princípio, eles estavam um pouco fechados. Dirigi minha pergunta a Khalid al-Mihdhar. Mas ele não disse nada. Apenas perguntei:  ”Para qual Deus que você está rezando? ” .  E ele: “Para Alá”. Começou a dizer outras coisas em árabe. Não entendi. Eu apenas disse a ele que, como cristão e um homem muito espiritual,achava aquilo muito interessante. Isso foi muito marcante”.

Pergunto ao instrutor se ele hoje desconfiaria de um estudante estrangeiro que, sem maiores referências, quisesse aprender a pilotar:

É uma pergunta interessante. Não recusaria um estudante estrangeiro hoje. Eu não gostaria de ser conhecido como alguém que cria perfis, raciais ou não. De qualquer maneira, se eu recebesse alguém vindo do Oriente Médio, perguntaria a cidadania e onde o aluno foi criado. Tentaria achar o máximo de informações possível sobre eles e diria a razão. Desde então,  conheci pessoas do Oriente Médio que são cidadãos americanos muito dedicados. Não tenho problemas em dar aulas a alguém assim. Mas eu teria um problema com estrangeiros que não falassem inglês e com quem houvesse alguma similaridade ou algum paralelo que pudesse ser feito com os terroristas. Eu os recusaria educadamente”.  ( As entrevistas com o instrutor, o proprietário da escola e o líder do Centro Islâmico de San Diego vão ao ar no DOSSIÊ GLOBONEWS )

Os dois alunos que tiveram aulas de pilotagem em San Diego não chegaram a concluir o curso. De San Diego, partiram para outros pontos dos EUA. A dupla, comprovadamente, passou pelo Arizona.  Os dois embarcariam, na manhã do 11 de setembro de 2001, no avião que foi jogado sobre o Pentágono, o centro do poder militar americano. Quem assumiu o controle do avião foi outro terrorista – Hani Hanjour – que concluíra o curso.

A investigação sobre o atentado revelaria quer os terroristas suicidas usavam nomes em código para definir os alvos dos ataques.

O Pentágono era chamado de “Faculdade de Belas Artes”.



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