Boni pergunta onde estará filme que militares “arrancaram da moviola” na sede da TV Globo ( e dá a fórmula ideal para a TV : o segredo é fazer o popular bem-feito )

sex, 25/11/11
por Geneton Moraes Neto |
categoria Entrevistas

 
 
 

Boni: memória da tevê brasileira (Foto: Luciano Gazio)

 

A Globonews reapresente neste domingo, às 17:05, uma entrevista especial com um homem que entrou para a história da TV brasileira: José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni. Durante três décadas, ele foi o principal executivo da Rede Globo. Entre outros temas, Boni descreve, por exemplo, o sumiço de um filme que foi confiscado por militares na sede da Rede Globo, no Jardim Botânico, no governo Médici. Fala sobre a censura à primeira versão da novela Roque Santeiro. E dá a receita da “filosofia Boni” para a TV.

Um trecho da entrevista:  

Você diz que o filme sobre a morte do guerrilheiro Carlos Lamarca foi confiscado por militares na ilha de edição na TV Globo. Você fez alguma gestão para tentar reaver este material ?

“Todos nós fizemos. O filme foi retirado ainda na montagem. Naquele tempo, era filmado ( N: o vídeotape já existia, mas as equipes de jornalismo usavam filmes, na época. A substituição de filme por VT, no jornalismo, só ocorreria anos depois ) . E o filme foi arrancado da moviola. Fiz gestões. Armando Nogueira ( N: à época, diretor da Central Globo de Jornalismo, a CGJ) fez gestões, Alice Maria (diretora-executiva da CGJ) também. O próprio Dr. Roberto Marinho ( presidente das Organizações Globo ) entrou no assunto, porque, afinal de contas, ele tinha um argumento: Lamarca estava morto. Não há o que esconder. As fotos tinham sido publicadas nos jornais do dia seguinte. Mas, não sei por que razão, o filme não só foi confiscado, como sumiu. Não sei onde foi parar o filme que foi arrancado da moviola. A gente não entendeu qual o motivo, porque não havia qualquer intepretação que pudesse comprometer nada”.

( Depois de abandonar o Exército, o capitão Carlos Lamarca de integrou à guerrilha. Fez parte da Vanguarda Popular Revolucionária ( VPR ). Terminou morto no interior da Bahia, em setembro de 1971 )

Tevê é tempo. Você poderia resumir em um minuto a filosofia televisiva de Boni ? Qual é o primeiro mandamento ?

Boni : “Posso. O primeiro mandamento é o seguinte: fazer o popular bem-feito. Há duas coisas muito fáceis de fazer na televisão: o hermético – que ninguém entende - e o popularesco, que todo mundo entende. O meio disso - o popular bem-feito – é muito difícil de fazer! É uma linha tênue – que você tem de observar com muito cuidado. A receita é você sempre estar um degrau acima do público – e não um degrau abaixo, para servir ao público. Temos de melhorar o público e ter responsabilidade social. A televisão não é apenas um entretenimento. A tevê tem alguma coisa a fazer pelo país e pela comunidade. Devemos, sempre, pensar nesta questão: a de fazer alguma coisa que seja útil. Que o conteúdo e a forma tragam alguma contribuição para o telespectador”.

Boni lança, no dia 30, “O Livro de Boni”, numa noite de autógrafos que, obviamente, promete ser concorridíssima, no Copacabana Palace.

Presidente dos EUA queria ver Dom Paulo Evaristo Arns eleito Papa

dom, 20/11/11
por Geneton Moraes Neto |
categoria Entrevistas

A Globonews exibe, neste domingo, às 17:05, no DOSSIÊ GLOBONEWS, a entrevista completa com dois ganhadores do Prêmio Nobel da Paz: o ex-presidente Jimmy Carter e o arcebispo sul-africano Desmond Tutu, herói da luta contra a discriminação racial.

Quando era presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter cumpriu um ritual : ao fim de cada jornada de trabalho, ditava para um gravador, sem qualquer autocensura, suas impressões pessoais sobre o que tinha visto e ouvido ao longo do dia.Um trecho foi publicado num livro inédito brasil: “O Diário da Casa Banca : Jimmy Carter” ( The White House Diary : Jimmy Carter ).

Há referências a dois brasileiros. Agora, é possível saber que um presidente americano queria ver um cardeal brasileiro escolhido Papa:

“De início, fiquei confuso sobre quem era o cardeal Arns, porque ele agia com modéstia. Depois, eu o convidei para ir conosco, no carro, até o aeroporto. Eu realmente gostei desta conversa pessoal. É um homem extremamente bom. Com certeza,eu gostaria que ele um dia fosse Papa. É extremamente corajoso”.

Carter confessadamente criou dificuldades para que o Brasil adquirisse tecnologia nuclear da Alemanha ( ver post anterior) , mas simpatizou com o presidente Ernesto Geisel:

“Eu, pessoalmente, gostei muito do presidente Geisel. É um cavalheiro idoso, militar, franco, honesto, brusco; agiu com certa frieza ao fazer o discurso de boas vindas. Recusei a sugestão do secretário Zbigniew Brzezinski de que fôssemos frios também. Fiz um a declaração muito calorosa”.

Por uma grande coincidência, meses depois do comentário que Carter fez em seus diários pessoais sobre o desejo de ver Dom Paulo eleito Papa, haveria não apenas uma,mas duas eleições no Vaticano.  Morto Paulo VI, os cardeais elegeram o cardeal italiano Albino Luciani -  que escolheu o nome de João Paulo I. O papado de João Paulo I duraria pouquíssimo: um enfarte o matou apenas trinta e três dias depois da eleição – uma notícia que chocou o mundo. O polonês Carol Woitila foi eleito Papa. Em homenagem ao antecessor, adotou o nome de João Paulo II. Dom Paulo Evaristo Arns participou de ambas as eleições – como eleitor.

Aos noventa anos de idade, recé-completados, Dom Paulo Evaristo Arns hoje vive, recolhido, numa instituição religiosa no interior de São Paulo.

JIMMY CARTER CONFIRMA: ESTADOS UNIDOS NÃO QUERIAM QUE REGIME MILITAR BRASILEIRO FABRICASSE ARMA ATÔMICA

sex, 18/11/11
por Geneton Moraes Neto |
categoria Entrevistas

 

Carter: pressão para que o Brasil não tivesse arma atômica

 

A Globonews reapresenta nesta domingo,às 17:05, uma entrevista exclusiva com dois ganhadores do Prêmio Nobel da Paz : o ex-presidente americano Jimmy Carter e o arcebispo Desmond Tutu, herói da luta contra a discriminação racial. A entrevista dos dois ao DOSSIÊ GLOBONEWS foi a única que eles gravaram para a televisão durante a passagem pelo Rio de Janeiro – onde participaram da reunião do The Elders. Fundada por Nelson Mandela, o grupo The Elders reúne ex-governantes e ex-líderes políticos que tentam solucionar conflitos internacionais e influenciar na luta contra a desigualdade e a opressão.

Durante a gravação, o ex-presidente americano confirmou que interferiu pessoalmente, junto ao chefe de governo da Alemanha Federal, para evitar que o Brasil fabricasse uma arma atômica. O governo Carter via com preocupação uma “corrida armamentista” entre o Brasil e a Argentina. Hoje, Carter defende o fim de todas as armas atômicas.

Um trecho da entrevista:

Para efeito the registro histórico : O senhor pressionou a Alemanha a não vender tecnologia nuclear para o Brasil, nos anos setenta.  A pergunta é: o que é que o senhor disse ao chefe do governo alemão, Helmut Schmidt,  sobre o presidente brasileiro, o general Ernesto Geisel ?

 Carter: “Quando fui eleito presidente, havia uma corrida nuclear entre a Argentina e o Brasil para desenvolver a capacidade de produzir armas nucleares. Mas o Tratado de Tlatelolco bane as armas nucleares em toda a América Latina. O Brasil e a Argentina estavam violando esse tratado. Vim ao Brasil. Falei com o presidente Geisel. Depois, minha mulher veio e conversou com o presidente. A Alemanha estava fornecendo a tecnologia ao Brasil. A Suíça a estava fornecendo à Argentina. Fui à Suíça e à Alemanha. Falei com Helmut Schmidt, que era chanceler, na época. Pedi que ele parasse de fornecer a tecnologia ao Brasil, para evitar que o Brasil conseguisse produzir armas nucleares. E, finalmente, por causa disso e de outras coisas, o Brasil tomou a decisão correta de não desenvolver a capacidade de fabricar armas nucleares”.

Alguém não muito simpático aos Estados Unidos poderia argumentar: por que os Estados Unidos podem ter toda a capacidade nuclear do mundo mas outros países não podem ?

Carter : “Como você sabe, ao final da Segunda Guerra Mundial cinco nações se tornaram potências nucleares: Estados Unidos, União Soviética, França, Reino Unido e China. Minha esperança, meu discurso público, minha crença e meu compromisso, desde quando eu era presidente, era banir todas as armas nucleares. A política do Elders é tentar trabalhar para o fim das armas nucleares. Mas, desde aquela época, outros países desenvolveram armas nucleares. Israel tem um grande arsenal, como você deve saber. A Coreia do Norte, que visitamos no começo do ano, tem uma pequena quantidade de armas nucleares. Nós acreditamos que todas as armas nucleares deveriam ser eliminadas da face da Terra. E eu acredito que os EUA e a Rússia devem ser os primeiros”.

 



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