A incrível história do homem que escapou quatro vezes da morte ( era um dos atletas da delegação que foi atacada por terroristas palestinos nas Olimpíadas de Munique)
Os jornais noticiaram : o grupo terrorista Al-Qaeda teria anunciado o propósito de cometer um atentado na Copa do Mundo da África do Sul, durante o jogo Estados Unidos versus Inglaterra. É provável que o anúncio seja tão falso quanto uma moeda de trinta e cinco centavos. Ninguém precisa ser especialista em terrorismo para concluir que ataques terroristas de verdade acontecem sempre de surpresa.
Um dos mais espetaculares ataques terroristas dos tempos modernos aconteceu durante um evento esportivo planetário : as Olimpíadas de Munique de 1972.
Fiz uma entrevista com um atleta israelense que conseguiu escapar do ataque.
Voilà:
Quem? Um professor de engenharia chamado Shaul Ladany.
O quê ? Fará setenta anos de idade.
Onde? Em Israel.
O aniversário de um professor pouco conhecido dificilmente mereceria se transformar em notícia se não fosse por um detalhe: Shaul Ladany é personagem de uma das mais extraordinárias histórias de sobrevivência do Século XX.
A morte esteve no encalço de Ladany pelo menos quatro vezes. Por quatro vezes, Ladany escapou.
Primeira: judeu nascido em Belgrado, foi mandado para o campo de concentração de Bergen-Belsen, na Alemanha, em 1944, quando tinha apenas oito anos de idade. Passou seis meses no inferno, cenário da morte 50.000 prisioneiros.
Segunda: pegou em armas para lutar pelo Exército israelense na Guerra dos Seis Dias – o ataque-surpresa feito por Israel, a partir do dia 5 de junho de 1967, contra Egito, Síria e Jordânia.
Terceira: maratonista, fazia parte da delegação israelense que foi atacada pelos terroristas palestinos da organização Setembro Negro no dia 5 de setembro de 1972 durante as Olimpíadas de Munique – um dos mais espetaculares atos de terrorismo da história moderna.
Quarta: um ano e um mês depois do pesadelo de Munique, participou da Guerra do Yom Kpur, provocada pelo ataque do Egito e da Síria contra Israel, em outubro de 1973.
“O que eu sou? Um sobrevivente” – resume Ladany. Professor de engenharia industrial da Universidade Ben Gurion, em Israel, pai de uma filha, avô de duas netas, este sobrevivente estará pensando em quê, na noite do aniversário?
”Vivi uma vida turbulenta. Quando a família se reúne, sabe sobre o quê a gente fala? Você não vai acreditar, mas é sobre o Holocausto”, diz. “Infelizmente, tive também a experiência das Olimpíadas de Munique. São lembranças que me acompanharão enquanto eu estiver vivo. Vou pensar sobre Munique no dia dos meus setenta anos, com toda certeza”.
O terror bateu à porta da delegação israelense, na Vila Olímpica, em Munique, às quatro e meia da manhã de uma terça-feira. Oito homens mascarados invadiram o alojamento israelense: eram terroristas da organização Setembro Negro. Queriam chamar a atenção do mundo para a causa palestina.
O treinador de luta Moshe Weinberg, 33 anos, foi morto a tiros no momento da invasão. O levantador de peso Yosef Romano foi a segunda vítima. Os terroristas matariam outros nove atletas israelenses no aeroporto, dentro de dois helicópteros, em meio à desastrada operação armada pelo governo alemão para tentar abortar o seqüestro. Cinco terroristas também morreram.
Horas antes, toda a delegação israelense tinha ido ao teatro, para ver “Um Violinista no Telhado”, uma peça baseada nas histórias de um autor israelense, Sholon Aleichem:
- “Ali, vinte e sete anos depois do fim da guerra, um elenco judaico encenava uma peça de um autor judaico em solo alemão. Parecia um absurdo, porque eu ainda me lembrava da Alemanha da era nazista. O sentimento era de felicidade para todos nós. Tiramos fotos. Nem em nossos piores pesadelos imaginaríamos o que estava para acontecer horas depois”.
Ladany foi despertado por um barulho estranho no alojamento da delegação israelense, o prédio número 31 da Connollystrasse. Quando abriu a porta, na madrugada daquela dia cinco de setembro, viu um homem de pele morena e de chapéu no final do corredor. Era um dos terroristas, mas Ladany não sabia:
- “Notei que algo estava errado quando ouvi o diálogo deste homem com guardas que tentavam convencê-lo a deixar equipes de socorro da Cruz Vermelha entrar no alojamento. Quando alguém pediu que ele fosse “humanitário”, ele respondeu : “Não! Judeus não são humanitários”. Não tenho certeza se ele disse “judeus” ou “israelenses”. Ali, entendi imediatamente que algo terrível estava acontecendo.O terrorista não chegou a me ver”.
O ex-maratonista Ladany – que conseguiu se afastar do alojamento – critica até hoje o governo alemão. Diz que as autoridades desperdiçaram a chance de alvejar os terroristas palestinos porque não queriam que a Alemanha fosse palco de derramamento de sangue:
- Pareceu óbvio que o governo alemão não quis usar a Vila Olímpica – que simbolizava uma atividade pacífica – como cenário de uma operação antiterror. O governo queria mostrar ao mundo que ali estava uma Nova Alemanha – não a Velha Alemanha nazista”.
Ladany foi testemunha de uma cena cinematográfica. Aquartelado numa sala escura da Vila Olímpica, em companhia de colegas da delegação isralense, viu quando os terroristas conduziam os atletas seqüestrados para os helicópteros que os levariam para o Aeroporto. Ao lado de Ladany, um atleta que fora participar das competições de tiro ao alvo fez uma confidência:
- Vi os terroristas no momento em que eles chegaram ao centro da Vila Olímpica. As luzes os focalizaram. Vi os nove reféns.Um estava amarrado a outro. Ao meu lado, estava um colega da delegação israelense. Era atirador. O local onde estávamos era totalmente escuro. O meu companheiro disse: “Oh! Sem problema algum, eu poderia atirar agora nos terroristas!”.
Ladany voltou para Israel no avião que conduzia os corpos dos atletas israelenses mortos nas Olimpíadas:
- “ A bordo do avião, eu pensava: como um idéia tão bonita – um evento olímpico que deveria significar uma trégua e um momento de paz e alegria para todos – pôde se transformar no cenário de um massacre?. É inacreditável”.
O pesadelo de Munique voltou a ser notícia em todo o mundo com o lançamento do filme dirigido por Steven Spielberg. “Munique” descreve – com um ou outro toque de ficção – a operação secreta que Israel armou para eliminar, um a um, os terroristas palestinos que participaram do atentado:
Se fosse convocado, o ex-atleta e ex-soldado Ladany participaria da Operação Vingança ?
A resposta vem sem um segundo de hesitação:
- “Sim! Vou contar um fato: ali pelo final dos anos setenta, li um pequeno artigo num jornal dizendo que um dos terroristas envolvidos no massacre de Munique estava levando uma vida luxuosa no Líbano. Recortei a notícia. Em seguida, enviei o recorte para o Ministério de Defesa de Israel. A carta foi endereçada a Ezer Weisman – que viria a ser presidente de Israel, anos depois. Eu disse na carta que, em minha opinião, o longo braço da justiça israelense deveria atingir aqueles que cometeram o terrível massacre de Munique. Meses depois, recebi uma carta do Ministério da Defesa dizendo que minha carta tinha sido encaminhada aos “canais apropriados”. Não tenho ódio contra árabes, não tenho ódio contra muçulmanos. Mas quem comete atos terroristas deve ser punido”.
Ladany não cita nomes, mas o homem tido como um dos mentores do Massacre de Munique, Ali Hassan Salameh, foi morto num atentado armado por agentes israelenses no dia 22 de janeiro de 1979, numa rua chamada Verdun, em Beirute.
O filme “Munique” – dirigido por Steven Spielberg – foi criticado em Israel porque mostrava momentos de hesitação vividos por agentes israelenses encarregados de executar os terroristas envolvidos no ataque aos atletas. Ladany justifica recorre a uma lógica implacável para justificar a retaliação:
”Em primeiro lugar, não acredito que os terroristas tenham tido qualquer hesitação no momento de fazer o ataque. Em segundo lugar: não acredito que os agentes envolvidos na vingança – realizada para evitar a repetição de ataques terroristas – tenham tido qualquer hesitação também. Só lamento que inocentes tenham morrido também na operação vingança” ( Ladany se refere ao pior erro cometido pelos agentes israelenses: um jovem marroquino, chamado Achmed Bouchiki, foi morto com dez tiros à queima-roupa momentos depois de sair do cinema em companhia da mulher, grávida, no final da noite de sábado, 21 de julho de 1973, em Lillehammer, Noruega. Os agentes pensaram que ele era um dos terroristas de Munique. Bouchiki era inocente).
Aaron J. Klein, o autor de “Contra-Ataque”, livro lançado no Brasil, diz que os terroristas do Setembro Negro desembarcaram em Munique dispostos a cometer “um ataque sem precedentes, avassalador – um teatro de horrores que arderia na consciência coletiva mundial por gerações”.
O que Ladany diz dessas palavras?
“ Concordo. Agora, neste exato momento, quando você me faz esta pergunta, eu recordo os menores detalhes de Munique: parece que posso ver tudo de novo, como se tudo tivesse acontecido há poucos minutos. Há coisas em nossas vidas que são importantes demais para serem esquecidas”.
30 maio, 2010 as 0:04
Dificil dizer alguma coisa depóis de ler uma entrevista como esta. Fico com a frase do Sr.Ladany – “Há coisas em nossas vidas que são importantes demais para serem esquecidas”.
eidia
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30 maio, 2010 as 2:50
Odeio religiao e acho que essas guerras sao o preço que a humanidade paga por fechar os olhos. Mas nao da pra ser parcial. Causa palestina…Pois o que é palestina? Busquei ha um tempo e nao achei nada que comprove a existencia de um estado palestino. O que existem sao árabes. Mas mesmo que eles tenham direito a uma parte do territorio de Israel, sair por ai colocando bombas e matando civis nao entra na minha cabeça. Sei o que é ser “minoria”. Sou ateu. As pessoas aceitam arabes que explodem criancas ,mas nao aceitam quem nao acredita num deus.
30 maio, 2010 as 11:54
Escapou quatro vezes da morte? Deus queria ele vivo para contar estas histórias; e mostrar como funciona o coração sujo ao extremo de alguns homens. Não foi a toa que após o dilúvio, Deus aspirou profundamente o perfume do ar puro e disse: Nunca mais destruirei o mundo! Pois o homem tem dentro de si a semente da maldade; colocarei o arco-iris no céu para que cada vez que eu o vir me lembre desta promessa.
O mundo não é seguro por isso a Santíssima Trindade chegará para colocar ordem nesta bagunça; e espero por isso ansiosamente, pode crer.
31 maio, 2010 as 10:25
Fantástica a reportagem. Parabéns!!!
Abraços
Vitor
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31 maio, 2010 as 11:40
Todo fundamentalismo é nocivo, e a história da humanidade parece mostrar bem claramente a condição precária do entendimento desta humanidade para com minorias, quaisquer que sejam. As minorias são sempre caçadas, humanos são seres bélicos por natureza e assim sempre se desenvolvem querendo aniquiliar ou extingui o que vê de diferente e não compreende.
É um traço que, infelizmente, se tornou marcante e característica expressiva na raça como um todo. Só acabará quando acabaremos humanos.
31 maio, 2010 as 21:42
E brabo o poder da religiao. Se eu escrever aqui que: Jhon Lenon foi morto por um fanatico porque disse: \"ser mais famoso que jesus\". Nao estarei chocando ninguem, Se disser, que o : Titanic afundou porque: O Homem tinha construido algo que pensou ser indestrutível.. Vao se ajoelhar e dar alaeluia. Deus deixou morrer os outros, mas poupou \"um\" para ser testemunha… E isso que eu odeio nos religiosos essas invençoes. Essa \"certeza\" como se falassem com deus… Hitler dizia que falava com deus…Aleluia…Aleluia..Apocalipse ja! A minha vida e chata! Que o deus venha e acabe logo com a farra desses que estao por ai se divertindo! E se censurar… Pra mim nao faz diferenca. E ate bom, pra nao interromper o transe desses lunaticos! Aleuia… aleluia!
31 maio, 2010 as 21:45
O governo de Israel tambem é terrorista. Mantem o povo palestino preso em seu proprio país. Matar cidadãos inocentes em outros países tambem é terrorismo.
Dany
1 junho, 2010 as 15:49
\"Quarta: um ano e um mês depois do pesadelo de Munique, participou da Guerra do Yom Kpur, provocada pelo ataque do Egito e da Síria contra Israel, em outubro de 1973.\"
Andou faltando às aulas de história heim Geneton, de resto está muito boa a entrevista
1 junho, 2010 as 23:40
Salve, Geneton!
Excelente entrevista. Tema muito interessante.
Acerca ai do que disse o professor quanto ao desastre da operação, penso que não foi só o fator político. Na verdade naquele período não existiam forças especializadas nesse tipo de operação, não só na Alemanha, mas em todo o mundo. O conceito de forças especiais era para operações em território inimigo, como os S.A.S britânicos, por exemplo. E, podemos afirmar, que o terrorismo na forma que conhecemos hoje, surgiu com a operação do Setembro Negro em Munique.
Para se ter uma idéia do conceito de terrorismo que se tinha até então, Hitler, por exemplo, durante a Segunda Guerra, emitiu uma ordem aos seus generais dizendo que os Comandos Britânicos (SAS), quando pegos, não deveriam ser tratados de acordo com as convenções de Genebra, pois eram sabotadores e terroristas, e não soldados.
Israel, após o episódio de Munique , rapidamente preparou unidades para esse tipo de operação, tendo a oportunidade de testar a funcionalidade dessas forças na lendária Operação Entebbe, com o resgate de mais de 140 reféns de outra operação do Setembro Negro que haviam sido desviados para Uganda.
Infelizmente, sabemos, esses embates, com morte de muitos inocentes, continuarão por muito tempo.
Abraços,
2 junho, 2010 as 0:40
Geneton, a história, do ponto de vista jornalístico é ótima, mas esses israelenses são terroristas.
3 junho, 2010 as 0:45
Teve uma época da minha vida que meu apelido era \’Setembro Negro\’ – só confesso isso porque o blog é das confissões: com todo respeito aos envolvidos na tragédia a imagem que ficou do atentado foi a do terrorista na varanda do prédio à noite, meio na penumbra, com um capuz tosco com um amarrado no cocuruto da cabeça, muito parecido com a meia de nylon de mulher que eu cortava, dava um nó e usava ( escondido, porque só mulher usava ) como touca pra alisar meus cabelos rebeldes. Ah, rapaz, um dia meu viram pela janela \’marcando touca\’ ( olha a gíria, aí! ) bem no dia que sairam as tais fotos nos jornais e deram pra encarnar em mim.
Mas foi até bom porque eu deixei de usar a touca e os meus cabelos passaram a crescer naturalmente formando cachos e caracois belíssimos fazendo muito sucesso com a mulherada.