Colaboratório

sex, 02/12/11
por Alysson Muotri |
categoria Espiral

Como serão os institutos científicos daqui a 10 anos? E daqui a 50 anos? Difícil prever, ainda mais na velocidade que algumas áreas estão progredindo, como no caso da genômica. A evolução científica foi tão grande nessa área que mudou a forma de fazermos ciência, mudou até fisicamente como são os laboratórios que fazem sequenciamento de DNA. Como não dá pra prever esse tipo de coisa, vale a pena investir em uma arquitetura cientifica flexível. Dessa forma, pode-se alterar fisicamente os laboratórios de pesquisa para acomodar as novas tecnologias que virão.

Mas existe uma coisa que dá pra prever e parece ser consenso entre os cientistas: a multidisciplinaridade e internacionalização da ciência. Aqui não temos como andar pra traz. O número e nacionalidade de autores numa determinada publicação tem crescido significativamente. Isso reflete a complexidade das questões, metodologias e a conscientização de que um laboratório isolado não vai muito longe.

Vou exemplificar esse ponto refletindo sobre o mais novo centro de células-tronco dos EUA, inaugurado formalmente essa semana. O novo centro, batizado de Sanford Consortium for Regenerative Medicine, ganhou o nome de seu mecenas T. Denny Sanford, um conhecido filantropista no sul da Califórnia. O apoio financeiro de Sanford foi essencial para catalisar uma visão de ciência diferente, futurista até. O “consórcio” não é um instituto privado, tampouco faz parte de uma universidade ou agência governamental. O consórcio é um acordo entre cinco instituições científicas em San Diego, que decidiram criar algo inusitado, uma experiência cujos resultados aparecerão em alguns anos. É a primeira organização do mundo a ser criada com o intuito de reduzir qualquer tipo de barreira entre institutos e grupos de pesquisa.

O objetivo do projeto é unir laboratórios que trabalham com células-tronco, em diferentes áreas do conhecimento, num mesmo espaço físico, favorecendo ações colaborativas entre eles. Não importa onde você trabalha, se você é um pesquisador jovem ou sênior, o que importa é o rigor cientifico e capacidade colaborativa. Aliás, esses foram os requisitos para que os pretendentes habitassem esse novo espaço.

O prédio em si foi conceptualizado para auxiliar interações inusitadas entre os cientistas. Foi desenhado e imaginado como um agente que provoca insights e acelera os resultados. Quando se caminha pelo prédio, nota-se que o design foi feito para maximizar a interação em espaços específicos para estimular a criatividade. Paredes podem ser rabiscadas, laptops plugados em qualquer lugar, mesas redondas, enfim, tudo pra facilitar a ilustração e estimulo visual durante uma conversa cientifica. Ao mesmo tempo, o prédio fornece espaços mais quietos, que favoreçam a introspecção e foco. Pode-se transitar entre eles a todo momento. Ninguém é “dono” do espaço. Os escritórios dos pesquisadores principais projetam ao oceano Pacífico, com acesso a uma visão espetacular que lembra cenas de filmes do 007. Dentro dos laboratórios, tudo é organizado e pensado nos menores detalhes. Esqueça aquela visão de salas cheias de tranquieiras empoeiradas e barulhos de geladeira. Espaço amplo e organizado favorece a entrada de novas ideias. Tudo isso é bem inovador e deixa os futuros habitantes bem empolgados pelo privilégio. Junto ao meu grupo, os seguintes doutores brasileiros estarão representando nosso país: Drs. Cassiano Carromeu, Beatriz Freitas, Paulo Marinho, Cleber Trujillo e Roberto Herai.

Mas por que esse tipo de iniciativa se hoje é tão mais fácil entrar em contato com os colegas pela internet? Apesar dos benefícios da proximidade virtual que a internet nos trouxe na década de 1990, a tendência de colaboração aumenta quando diminui a distância física entre dois cientistas. A co-localização é essencial para conectar mentes. Isso acontece também nas artes: grupos musicais preferem viver no mesmo espaço para criar juntos e atingir um objetivo comum. Intuição, espontaneidade e experiência não podem ser armazenadas em computadores ou na internet – estarão sempre nas nossas cabeças.

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4 Comentários para “Colaboratório”

  1. 1
    Ivan G Anjos:

    Por mais que se queira virtualizar tudo, mandar todo o conhecimento para a nuvem ou para o disco rígido, muitos aspectos desse conhecimento ( diria que os mais refinados ) muitas vezes são irradiados pela simples presença física, até pelos poros, como se houvesse ligação direta entre as mentes que estão entre si próximas. Já pensou uma reunião virtual entre amigos para tomar uma cervejinha também virtual? Sem nenhuma gozação? Sem chance não é? No \"colaboratório\" posso até imaginar cientistas como você discutindo \"na lata\" trabalhos e teses complexas, dando asas à imaginação e à criatividade, mas em alguns momentos ( penso que os melhores…) também celebrando a vida entre uma loira e outra. Renderia bem mais, não acha?
    Um grande abraço do tio
    Ivan

  2. 2
    Franciele:

    Nossa parece muito interessante a ideia desse projeto, seria legal se fossem construídos outros centros como esse para outras áreas de pesquisa, acredito que ter um espaço como esse em que podem ocorrer bastante interação entre os pesquisadores pode ser bastante produtivo.

  3. 3
    Ângela Arbex:

    Parabéns tio Ivan. Muito bonito a tua preocupação.
    E que bom que a pesquisa será estimulada por vários . Nunca podemos esquecer do “insigth” que alguém pode ter ouvindo as várias visões de uma mesma pesquisa. Que bom, será que está existindo avanços?.

  4. 4
    valeria Dantas:

    Nooosa que coisa maravilhosa ainda sabendo que nao esta sendo financiado pelo governo.E impressionante como os americanos ricos sao despreendidos , como eles fazem doacoes bilionarias. isso e maravilhoso pois sabem que desse mundo nada disso levarao . Sera que nao tem nenhum brasileiro (tipo Eike Batista ,Ronaldinho, etc ) que consegue fazer isso ???
    E que coisa mais linda ainda todos participando do bem comum ,sem guardarem pra si alguma descoberta ….
    Sera que chegaremos la?Sera que precisa ainda uns 50 anos??/
    Ah…….nossa pobre educacao. Teria que comecar ja, pois isso , e questao de educacao.
    Parabens Dr. Alysson por nos mostrar essas coisas lindas….



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