Carta aos estrangeiros

ter, 24/12/13
por Cristiana Lôbo |
categoria Todas

 

A presidente Dilma Rousseff deverá ir ao Forum de Davos, no começo do ano que vem, para discursar perante platéia de investidores estrangeiros. No discurso ela deve reafirmar seus compromissos com os fundamentos da economia, como responsabilidade fiscal, para combater a crise de confiança que atingiu seu governo depois da chamada “contabilidade criativa” feita pela equipe econômica e que acabou por afetar a credibilidade do governo. A idéia é que ela faça lá, diante dos estrangeiros, o que Lula fez aqui, em 2002 com a chamada “Carta aos Brasileiros” para afastar eventuais temores quanto à condução da economia em seu governo.

Nestes três primeiros anos de governo, Dilma não quis comparecer ao Forum de Davos. Mas, desta vez, está sendo convencida por assessores do governo e parlamentares mais próximos como forma de se aproximar e conquistar a confiança de investidores estrangeiros. O Brasil espera investimentos da ordem de U$ 75bilhões no ano que vem. Este ano, atingiu a marca de U$ 57,5 bilhões.

Das vezes anteriores, o ministro Guido Mantega foi o representante do governo brasileiro em Davos. Até aqui, não está escalada a comitiva que vai acompanhar Dilma a esta viagem.

 

Gestão e política

sáb, 21/12/13
por Cristiana Lôbo |
categoria Governo Dilma

Ano eleitoral é sempre ano de  reforma ministerial. Ministros deixam seus postos para disputar a eleição e outros chegam. Em 2014, não vai ser diferente. O desafio da presidente Dilma Rousseff será o de escolher nomes que garantam o funcionamento do governo e, ao mesmo tempo, preservar o apoio dos partidos que dão sustentação ao governo no Congresso e, principalmente, na campanha eleitoral. Cada partido significa mais minutos no programa eleitoral – e mais do que ampliar o próprio tempo de TV, a presidente quer mais apoios partidários para impedir que esses minutos caiam nas mãos dos adversários.

Dilma atrai partidos porque está no governo (tem sempre como retribuir apoios), mas também porque está na frente nas pesquisas eleitorais. A esta altura, dois querem vaga na Esplanada: o novíssimo PROS, que tem como principal estrela o ex-governador Ciro Gomes, e o PTB de Roberto Jefferson, que já está no segundo escalão, mas quer uma vaga de primeira grandeza no governo. Isso, sem falar no PMDB de Michel Temer, que quer ampliar seu espaço, e o próprio PT, que nem cogita abrir mão das pastas que já ocupa. É este o xadrez que Dilma Rousseff terá de resolver até o carnaval: agradar a todos com as vagas disponíveis.

Três ministérios importantes estarão vagos: a Casa Civil, o Ministério da Saúde e o Ministério do Desenvolvimento – todos os três hoje comandados pelo PT. A questão é que, se Aloizio Mercadante for mesmo para a Casa Civil, será aberta a vaga do disputadíssimo Ministério da Educação. E para lá, o PT gostaria que fosse a atual ministra da Cultura, Marta Suplicy. E para a Cultura? Vê-se que pode acontecer um dominó de substituições de ministros.

Um outro complicador para a presidente: os ministros que vão sair para disputar as eleições querem manter seus feudos e deixar assessores no comando da pasta. Assim começa a disputa. O PROS chegou a sonhar com o Ministério da Saúde para Ciro Gomes. Mas o PT chiou. E recorreu ao ex-presidente Lula para garantir a vaga ao partido e ter lá Mozart Salles, secretário de Gestão de Trabalho e da Educação na Saúde, o responsável pela implantação do programa Mais Médicos, um dos carros-chefe da campanha de Dilma.

A presidente Dilma Rousseff determinou que fosse desmentido que já estava feita a escolha de Aloizio Mercadante para a Casa Civil. Ele é o mais cotado para o cargo, mas ainda não foi batido o martelo. E falta, ainda, a escolha do substituto de Fernando Pimentel (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior), que vai disputar o governo de Minas.

Um outro ministério muito disputado pelos políticos é o da Integração Nacional.  O PMDB quer a vaga e já indicou o senador Vital do Rego para ocupá-la. É uma indicação do presidente do Senado, Renan Calheiros, que tem ajudado o governo em algumas situações no Legislativo. Uma outra vaga pode “cair no colo” do PMDB: o Ministério do Desenvolvimento. Josué Alencar, filho do ex-vice-presidente José Alencar que recentemente se filiou ao PMDB é cotado para o cargo. Mas, aí, ele entraria na “cota pessoal” de Dilma, para não atrapalhar a indicação do senador Vital do Rego (PMDB-PB) para o Ministério da Integração.

Além do PT, não se vê outro partido disputando a Secretaria de Relações Institucionais, hoje ocupada pela senadora Ideli Salvatti. O partido não quer abrir mão da vaga porque ali são decididos os pagamentos de emendas parlamentares e outras indicações de cargos no governo. O PT também não abre mão do Ministério do Desenvolvimento Agrário, que ficará vago porque o ministro Pepe Vargas vai disputar a eleição.

Também estarão vagos os ministérios da Pesca porque Marcelo Crivella quer disputar o governo do Rio; o do Turismo, que está com Gastão Vieira na cota do PMDB de José Sarney; o da Agricultura com Toninho Andrade, indicado pela bancada do PMDB na Câmara, o das Cidades com Aguinaldo Ribeiro e, ainda, a Secretaria dos Direitos Humanos, já que a ministra Maria do Rosário também pretende voltar à Câmara.

Língua afiada…

qua, 18/12/13
por Cristiana Lôbo |

No café da manhã com jornalistas, Dilma Rousseff rejeitou, logo na primeira pergunta, o tema campanha eleitoral. “Olha, querida, na minha agenda eu ainda não cheguei nesse momento eleitoral, então eu não vou me manifestar sobre esse assunto”, ela disse quando perguntada qual adversário – Aécio Neves ou Eduardo Campos – considerava mais competitivo.

De fato, Dilma conduziu a entrevista para questões de governo, reafirmando o otimismo próprio dos governantes. Mas dava para notar que ao elaborar as respostas havia, sim, preocupação eleitoral – não errar na mão e mirar nos adversários. Ela não passou batido quando um jornalista falou das críticas da oposição à gestão da Petrobras e que Aécio Neves teria proposto a “reestatização” da empresa, numa crítica ao que ele chama de “aparelhamento”.

“Ah, vão é? Vão fazer isso é?”, ironizou. E completou: “Desculpa, ô gente, mas isso não é sério, né?  Esse troço de falar que vão reestatizar a Petrobras. Ou a Petrobrax . Vai chamar Petrobrax novamente?”, disse, numa referência a projeto apresentado no governo de Fernando Henrique de reformulação da petroleira.

Antes do café da manhã com jornalistas no Planalto, Dilma deu entrevista à Rádio Jornal do Comércio de Pernambuco repetindo uma estratégia de comunicação em que deve falar sempre para emissoras locais antes ou depois de viagens de serviço. A entrevista de hoje conclui a viagem de ontem a Recife. Perguntada sobre programas sociais como o Bolsa Família e o Mais Médicos, citados por Aécio como programas que ele manteria, se eleito presidente, Dilma comentou:

“Agora que o programa está dando certo é fácil”,  disse Dilma, lembrando que integrantes do PSDB criticaram o programa na época do lançamento.

Dilma gosta, mesmo, é de falar sobre economia. Desta vez, ela não quis fazer projeções sobre o desempenho da economia no ano que vem. Mas afirmou que, se comparar o desempenho do Brasil com países do G-20, o Brasil está entre os que mais recebem investimentos externos diretos (segundo o Banco Central recebeu US$ 57,5 bilhões, ficando em quatro lugar entre todos do G-20) e que em 2013 a inflação vai ficar dentro da meta e o superávit entre 1,8 e 1,9% do PIB.

Ela afia o discurso econômico porque sabe que a maior parte das críticas dos opositores vem daí. E quando perguntada sobre o programa de governo que lhe dá mais orgulho, ela cita os sociais: Mais Médicos, Viver sem Limites, dedicado a pessoas com  deficiência e, ainda, programa de cotas, nas universidades e no serviço público.

O jeito Serra de falar

seg, 16/12/13
por Cristiana Lôbo |
categoria Todas

         

Para alguns, José Serra se convenceu de que não teria chances de enfrentar Aécio Neves no partido; para outros, ele foi pressionado a se manifestar em favor do mineiro para não ofuscar a festa que o PSDB fará nesta terça-feira para o lançamento dos compromissos que serão a base do futuro programa de governo. O fato é que, em poucas linhas, Serra, que foi candidato duas vezes à presidência, mandou recados.

Ele postou no twitter:

Para esclarecer a amigos que têm me perguntado: Como a maioria dos dirigentes do partido acha conveniente formalizar o quanto antes o nome de Aécio Neves para concorrer à Presidência da República, devem fazê-lo sem demora. Agradeço a todos aqueles que têm manifestado o desejo, pessoalmente ou por intermédio de pesquisas, de que eu concorra novamente”.

Um dos recados está na primeira linha: “como a maioria dos dirigentes do partido acha conveniente formalizar o quanto antes o nome de Aécio…”. Ou seja, esta é uma decisão de dirigentes do partido – sem consulta às bases. Em seguida, um outro recado: “Agradeço a todos aqueles que têm manifestado o desejo de que eu concorra novamente”. Quer dizer, ele também tem defensores de sua candidatura. Não seria candidato de si mesmo.

Ao longo do ano, Serra deixou claro dentro do PSDB que gostaria de tentar a presidência pela terceira vez. Mas viu o nome de Aécio se fortalecer no partido e, principalmente, entre aqueles que já defenderam sua candidatura – como Fernando Henrique Cardoso e Aloísio Nunes Ferreira. É certe que sobraram defensores da candidatura de Serra, mas amigos dele avaliavam que seria um desgaste desnecessário concorrer e perder a indicação para Aécio.

Um gesto de Serra ficou claro: ele fez o anúncio ao estilo dele, mas no prazo de Aécio. Antes da festa de lançamento das bases do programa. Assim, a partir de agora, Aécio fica sem a sombra de Serra.

A menos que mais adiante Serra faça outro movimento em direção contrária. O que não é impossível.

A recuperação

sex, 13/12/13
por Cristiana Lôbo |

A aprovação da presidente Dilma Rousseff atingiu a marca  estabelecida pelo publicitário João Santana: superou os 40% de aprovação e chegou a 43% segundo a pesquisa Ibope encomendada pela CNI e divulgada nesta sexta-feira. Isso dá à presidente a condição de disputar com mais força a reeleição do ano que vem.

É curioso é que o jeito Dilma de governar, aferido pela pesquisa, é superior à aprovação do conjunto do governo. A aprovação pessoal de Dilma chega a 56%, e a do governo, mesmo com a melhora registrada de setembro para cá, chegou a 45%, quando em setembro era de 39%. Pode ser resultado da ação intensa e publicidade em relação ao programa Mais Médicos, que já fez melhorar a avaliação do governo na área de saúde e pode estar contribuindo para o conjunto do governo.

Desde os protestos de junho até agora, Dilma, por orientação do publicitário, mudou o jeito de agir: abriu as portas do Palácio do Planalto para cerimônias públicas, aumentou o número de anúncios de programas do governo e também passou a viajar mais pelo país, dando prioridade a Estados como São Paulo e Minas.

Isso ajudou a melhorar o desempenho dela nas pesquisas, sem dúvida. Mas está provado que o que faz  mesmo diferença é o resultado das ações de governo: nas áreas de saúde e educação houve significativa melhora, mas continuam sendo áreas mais reprovadas pela população. Também a área de segurança pública e de combate às drogas merecem referência como áreas mais negativas para o governo.

Na pesquisa, fica claro, também, que são as regiões do Norte, Nordeste e Centro-Oeste que fazem maior diferença em favor da presidente e do governo. Nessas regiões, a aprovação dela é mais destacada. É destacada, por exemplo, a aprovação da presidente nos estados do Amazonas, Rondônia, Piauí e Ceará, todos no Norte ou Nordeste. E as piores são no Distrito Federal, São Paulo, Espírito Santo e Rio de Janeiro. Ou seja, o PT que nasceu forte nas regiões metropolitanas e em São Paulo, agora migrou e está dominando nos chamados “grotões”, locais onde os programas de governo têm maior impacto na população.

Os demais concorrentes – Eduardo Campos e Aécio Neves – esperam obter melhor desempenho nas pesquisas somente a partir do ano que vem, quando efetivamente começar a campanha. Eles avaliam que neste momento há apenas “um monólogo”, pois só a presidente aparece e ainda tem o poder de anunciar medidas populares.

Mas, o fato é que, mantido o retrato da pesquisa de hoje, Dilma vai chegar à campanha eleitoral com larga margem de aprovação, o que redunda em maior índice de intenção de votos. Deve,  então, dar a largada na campanha como favorita e possibilidade de vencer no primeiro turno. O cenário só poderá mudar depois que todos estiverem nos programas eleitorais que vão começar em agosto.

É um sinal

qui, 12/12/13
por Cristiana Lôbo |
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Aécio Neves começa amanhã uma rodada de encontros com empresários em São Paulo.

A tropa que vai acompanhá-lo já está escalada: Fernando Henrique Cardoso, Armínio Fraga, Aloísio Nunes Ferreira e Antonio Anastasia.

A saber: Fernando Henrique é o maior defensor de sua candidatura; Armínio, o principal conselheiro econômico que poderia ser Ministro da Fazenda em caso de vitória; Aloísio Nunes é o nome preferencial para compor a chapa como candidato a vice e, Anastasia, teria vaga certa num eventual governo tucano.

A propósito, o senador está muito mais animado com a política do que o habitual. Tem feito seguidas reuniões com setores específicos – já teve encontro com ambientalistas, artistas – e, agora, além de empresários, vai conversar com representantes do setor agrícola. A reunião está sendo organizada pelo ex-ministro da Agricultura no primeiro mandato de Lula, Roberto Rodrigues.

Acordo interno

ter, 10/12/13
por Cristiana Lôbo |
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Marina Silva e Eduardo Campos firmaram um entendimento sobre a montagem dos palanques estaduais – assunto que provoca divergências entre o PSB e a Rede Sustentabilidade. Em dois dos principais Estados do país, São Paulo e Rio de Janeiro, a Rede vai decidir o caminho a adotar (se apóia um candidato já lançado ou se terá candidato próprio). Nos demais, Eduardo Campos poderá conduzir as alianças que julgar mais conveniente. Em Minas, por exemplo, ele deverá estar no mesmo palanque local que Aécio Neves.

Marina quer usar sua força política nestes dois Estados para puxar votos para Eduardo Campos. Por isso, não aceita alianças tradicionais que estavam sendo defendidas pelo PSB. Este é o caso de São Paulo, onde o partido de Eduardo Campos tinha conversas avançadas para apoiar a reeleição do governador Geraldo Alckmin. Marina não aceitou este caminho e a aliança, se houver, só vai acontecer no segundo turno.

Na eleição de 2010, Marina concorreu sem palanques fortes nos Estados, mas obteve bom desempenho nas regiões metropolitanas. A idéia, agora, é que ela utilize esta mesma força para tentar transferir seu prestígio eleitoral a Eduardo Campos. Para isso, ela precisa se apresentar como “o novo” e não estar aliada a candidaturas tradicionais – é o que explicou ao próprio Eduardo Campos. Campos concordou.

- Não temos problemas em muitos Estados como Pernambuco, Bahia, Paraíba, Espírito Santo, Goiás e muitos outros – disse ele a aliados,  para justificar que será diferente o caminho do PSB no Rio e em São Paulo, Estados em que a campanha será comandada por Marina Silva.

Marina quer que a campanha do PSB seja em torno da nova forma de fazer política. Por isso, ela rechaça alianças tradicionais.

Queda de braço

ter, 10/12/13
por Cristiana Lôbo |
categoria Todas

Todo final de ano é a mesma coisa: a queda de braço entre o Legislativo e o Executivo em torno da aprovação do Orçamento da União. Neste ano, véspera de ano eleitoral, o embate ficou ainda mais forte. Depois do anúncio feito pelo governo de que a presidente Dilma Rousseff irá vetar trechos da Lei de Diretrizes Orçamentárias no artigo que trata do chamado “orçamento impositivo”, a rebelião se estabeleceu no Congresso e chegou a parlamentares da base aliada e da oposição.

O “orçamento impositivo” é a principal marca da atual legislatura. Foi a bandeira da candidatura de Henrique Eduardo Alves em sua campanha à presidência da Câmara. O projeto foi aprovado na Câmara e, na discussão no Senado, sofreu alteração. Foi incluída a obrigatoriedade de destinar a metade da verba das emendas à área de saúde e, por isso, foi aumentado o porcentual destinado às emendas de 1% para 1,2% do orçamento.

O governo, é claro, não gostou. É este o embate que se dá agora. Neste momento em que o governo precisa fazer o superávit primário (já não vai atingir a meta inicial, mas precisa chegar a pelo menos 2% do PIB, meta já ambiciosa para o momento), o governo decidiu cortar também nas emendas parlamentares. Até aqui, os congressistas afirmavam que cada um deles teria direito a até R$ 15 milhões em emendas; o governo negociou para ficar em R$ 12 milhões. E agora, a ministra Ideli Salvatti falou que não tem como passar dos R$ 10 milhões.

Foi o rastilho de pólvora que incendiou o Congresso nesta terça-feira. A rebelião dos governistas coloca em risco a aprovação do Orçamento da União. É a forma como eles conseguiram para pressionar o governo. Afinal, neste momento em que dificuldades econômicas aparecem, não ter orçamento aprovado seria um aspecto negativo – embora, esta não seja a primeira vez. Neste ano mesmo, o orçamento só foi aprovado em março.

Tudo isso pode ser apenas mais uma chuva de verão. Vai depender da capacidade da presidente Dilma Rousseff de contornar o problema. Vale lembrar que a habilidade política não é uma característica dela. Mas o vice Michel Temer entrou em campo para apagar o incêndio. Mas o governo já trabalha com a possibilidade de não ter o orçamento aprovado neste ano.

Gesto

qui, 05/12/13
por Cristiana Lôbo |

O PT está organizando uma cerimônia de desagravo aos petistas presos pelos crimes imputados no julgamento do mensalão. Será na sexta-feira que vem, dia 13, quando Rui Falcão vai assumir mais um mandato à frente do partido. Rui Falcão deve falar em “companheiros injustiçados”, e o texto em discussão, que ainda pode sofrer alterações, fala que o PT é “prisioneiro de um sistema eleitoral que favorece a corrupção”.

A manifestação do PT está decidida, mas um cuidado os petistas estão tomando: esta sessão de desagravo aos presos não vai acontecer na abertura do congresso partidário, mas no dia seguinte pela manhã, para não ocorrer diante da presidente Dilma Rousseff e do ex-presidente Lula. Ou seja, é um gesto interno, com o objetivo de instruir a militância para enfrentar o embate eleitoral do ano que vem e não permitir que a prisão de petistas abale o partido nas eleições.

Desde o início do julgamento o PT se organiza para defender os correligionários. Cada vez, num tom diferente. Houve momento em que o partido evitou assumir a defesa dos condenados. Depois, incluiu o desagravo em nota e agora a idéia é ir um pouco mais adiante. Isso acontece depois que Dirceu e Genoíno apareceram de punhos cerrados quando entravam na sede da Polícia Federal em São Paulo para serem presos.

Desde, então, eles se apresentam como “presos políticos” – expressão usada por familiares. E, ao que tudo indica, é nesse tom que o partido pretende olhar o caso. Só que com uma diferença: não vai ser na frente da chefe de Estado e de Governo, a presidente Dilma Rousseff. Por que isso? Petistas dizem que é para que não seja entendido como um confronto com o Judiciário.

 

*** Mais uma coisa: o PT tem dado tratamento diferente para os presos filiados. José Dirceu e José Genoino recebem, pelo menos aparentemente, mais assistência do que o outro preso até agora, Delúbio Soares. Aliás, Delúbio foi o único a ser expulso do partido, logo depois que estourou o caso do “mensalão”. Depois, providenciou a refiliação.  Não se fala abertamente o porquê da diferença.

 

Honra e pragmatismo

ter, 03/12/13
por Cristiana Lôbo |

No momento em que ficou claro que a Mesa da Câmara iria mesmo abrir processo de cassação de seu mandato, José Genoino tomou a decisão: não iria encerrar sua vida pública sendo cassado (embora esteja preso em regime semiaberto). Preferia, então, renunciar. “É uma questão de honra”, explicou um petista.

A carta de renúncia desta terça-feira não representa, portanto, uma surpresa. Já estava nas possibilidades. O que incomodou muito o PT foi a condução do processo, feita pelo presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). Para petistas, Henrique Alves articulou com colegas a aprovação da abertura do processo de cassação do mandato de Genoino. E, como se sabe, depois de aberto o processo não há mais tempo para renúncia. Por isso ele se antecipou.

O discurso do PT daqui em diante será o de que não foi dado a Genoino o direito de se defender. Afinal, depois de aberto o processo de cassação do mandato não haveria mais volta – a não ser que ele conseguisse apoios em plenário o que seria mais difícil com a aprovação do voto aberto para a cassação de mandato.

“O Ministério Público, que é sempre mais severo, deu a ele 90 dias para tomar a decisão (se mantém ou não o direito de cumprir a pena em regime domicilar); e a CLT proíbe a demissão de funcionário em licença para tratamento de saúde, como é o caso de Genoino, que pediu licença do mandato depois que foi operado em julho”, disse o deputado André Vargas (PT-PR), portador da carta de renúncia. E acrescentou: “apenas 10% dos pacientes que passam pela mesma cirurgia que ele passou sobrevivem”, afirmou.

Do ponto de vista prático, que é o salário no fim do mês, a renúncia ao mandato não vai alterar nada para Genoino. Atualmente, ele tem aposentadoria proporcional (que equivale a 70% do salário do parlamentar o que dá algo em torno de R$ 20 mil por mês). E, durante a reunião da Mesa, nesta terça-feira, houve o entendimento de que deve prosseguir em análise o pedido de aposentadoria por invalidez, apresentado por Genoino. Segundo o entendimento dos deputados, o pedido de aposentadoria foi apresentado antes da renúncia. Portanto, se os médicos acolherem este pedido, Genoino, mesmo tendo renunciado ao mandato, terá assegurado o pagamento integral do salário.

Ou seja, ele assegura o discurso em defesa da honra e não perde de imediato o direito à aposentadoria.



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