Menos de oito meses depois de chegar ao Palácio do Planalto, a presidente Dilma Rousseff está sendo obrigada a conviver com problemas em sua ampla base parlamentar. Neste momento, a dificuldade não é somente dos partidos com o governo, mas, dentro dos próprios partidos. Três deles – PT, PMDB e PP - convivem com disputas ou contradições internas. São os três maiores partidos da aliança governista.
O PT vive o conflito entre as alas mais ligadas ao ex-presidente Lula e a que está mais próxima da presidente Dilma Rousseff. Não há comparação entre a força de Lula no PT com a de Dilma, que se filiou ao partido no ano 2000 e nem de longe tem o comando de Lula. Mas, detentora da faixa presidencial (e da caneta), Dilma conquistou seus aliados. E tem conseguido desagradar os mais chegados a Lula com a sua idéia de “faxina” na administração. Para os “lulistas”, isso pode imprimir a pecha de que Lula foi leniente com a corrupção ou mais do que isso, deixou para a sucessora “uma herança maldita”, alimentando o tom das críticas da oposição.
Outro partido que vive crise interna é o PMDB. Neste momento, esta é mais complexa porque envolve grupos dentro do partido que disputam espaço no governo. O problema da hora é a atuação do líder da bancada na Câmara, Henrique Eduardo Alves. Segundo peemedebistas, ele privilegia seus amigos nas indicações para postos no Legislativo – como indicação para comissões e relatorias de matérias importantes. A situação chegou a tal ponto que uma ala do partido defende abertamente a saída de Pedro Novaes do Ministério do Turismo, onde chegou por indicação de Henrique Alves. Hoje, por exemplo, a deputada Rose de Freitas, segunda-vice-presidente da Câmara, defendeu a saída de Novaes do Ministério.
Um grupo de 35 deputados do PMDB, a maioria em primeiro mandato, questiona a ação de Henrique Alves e pretende levar a discussão do vice-presidente da República, Michel Temer. O grupo não concorda, particularmente, com a indicação do deputado Eduardo Cunha para representar o partido como relator da Comissão Especial que analisa a atualização do Código Civil, que começa a ser discutido na Câmara. Cunha foi indicado relator enquanto o PT indicara o deputado João Paulo Cunha para a presidência da Comissão Especial. Os problemas no PMDB podem respingar no vice Michel Temer, convocado para apaziguar a bancada.
O terceiro partido governista com problemas é o PP que, também dividido, tem um grupo que quer o afastamento do atual ministro das Cidades, Mário Negromonte. O partido está rachado, com uma parcela a favor do ministro e outra pretendendo sua substituição.
Em meio às crises nos partidos que lhe dão sustentação, o governo tenta passar ao largo.
– Ninguém mais vai sair – disse hoje um auxiliar da presidente Dilma, tentando explicar que “a idéia de faxina” não é uma proposta de governo. “Essa é uma agenda secundária”, disse o auxiliar, destacando que a agenda do governo é levar o Brasil a se tornar um país de classe média, com mais emprego e distribuição de renda. A “faxina” iniciada no Dnit e que se estendeu ao Ministério dos Transportes e depois na Agricultura, foi consequência de denúncias que não contaram, segundo a fonte, com a participação do governo.
Fica claro nas conversas com auxiliares da presidente que a agenda da “faxina” não interessa mais ao governo porque cria atritos dentro da própria base: com o PT, como já foi dito, porque passa a idéia de que Lula deixou “herança maldita” na composição do ministério; com o PMDB, pois já levou ao afastamento do então ministro da Agricultura, Wagner Rossi; nem ao PR que perdeu o ministro Alfredo Nascimento e, agora, deixa insegura a parcela da bancada do PP que apóia Mário Negromonte.
– A faxina não é uma proposta de governo; mas se alguma malfeito aparecer, será corrigido – disse fonte do governo, observando que a publicidade que é dada à agenda da faxina acaba por esconder outas ações do governo, como o lançamento do programa Brasil sem Miséria e o feito na semana passada para inauguração de novas universidades em várias regiões do país.