A votação do Código Florestal, na noite de terça-feira, quando PT e PMDB ficaram em campos opostos, abriu uma fissura no governo que ainda deixa seqüelas. PT e PMDB ainda estão se estranhando.
O ponto crítico da relação entre os dois partidos aconteceu na noite de segunda-feira, quando o ministro Antonio Palocci, em nome de Dilma, disse a Temer que, se o PMDB não votasse com o governo (deixando de apresentar a polêmica emenda 164), Dilma poderia demitir os ministros peemedebistas.
Temer reagiu, lembrando que é vice-presidente – e não poderia ser “enquadrado” por um ministro. De lá para cá, Dilma e Temer não mais se encontraram. Uma reunião estava prevista para o dia seguinte mas, diante da ponderação sobre a irritação da presidente, os dois lados consideraram melhor cancelar o encontro.
Na véspera da votação do Código a tensão foi tão grande que, num segundo telefonema na mesma noite, Palocci foi logo se desculpando com o vice:
- Desculpe pelo telefonema anterior; a tensão está grande, mas sempre fomos amigos.
Temer respondeu:
- Não, Palocci. Nunca fomos amigos íntimos.
Segundo peemedebistas, o problema foi superado, mas deixou uma marca na relação do partido com o governo:
- Ninguém trocou de mal, mas sempre fica alguma coisa – disse um representante do PMDB.
A irritação de Dilma com o PMDB se deu ao constatar que o partido aliado não abriu mão de apresentar e aprovar a polêmica emenda 164. Dilma pediu que o partido desistisse da emenda e, se quisesse votar aquelas propostas, que isso fosse feito na emenda do deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO). Dilma preferia ser derrotada por uma emenda de adversário do que a de um aliado.
- Só na noite de segunda-feira que a ficha caiu e constatamos que o PMDB queria aprovar sua emenda, a 164 e derrotar o governo para mostrar que é o partido mais forte na aliança – disse um petista.
Foi neste momento que Dilma mandou, via Palocci, o recado para o vice Michel Temer – que é presidente licenciado do PMDB e foi o estopim da crise entre PT e PMDB. O partido, é claro, tomou as dores de Temer. Os peemedebistas não gostaram de saber que o vice-presidente foi obrigado a ouvir bronca de um ministro, e mais ainda, de saber que isso aconteceu em público porque Palocci, naquele momento, estava em reunião com petistas e colocou o telefone no sistema de viva-voz.
- Isso não está certo, expõe o vice. Ou eles querem viver no modelo Yeda Crusius – disse um peemedebista, lembrando que no Rio Grande do Sul a governadora brigou nos primeiros meses de mandato com o seu vice, o que lhe deu dores de cabeça por todo o governo, inclusive denúncias de corrupção que marcaram a gestão de Yeda.
Para o PMDB, o erro do Palácio do Planalto foi tentar transformar a discussão do Código Florestal em assunto de governo e exigir fidelidade dos aliados.
Tudo isso acontece neste momento em que Antonio Palocci está na defensiva por conta de denúncias sobre o aumento de seu patrimônio. Coincidência ou não, PT e PMDB não vêem só virtudes em Palocci na tarefa de interlocutor da presidente Dilma.
- Já que a presidente tem o estilo dela, mais durona e sem jogo de cintura, quem está ao lado deveria ponderar, tentar suavizar – disse um interlocutor do PMDB.
No próprio PT, há a avaliação semelhante – a de que Palocci deveria fazer o papel de escudo de Dilma.