Ao anunciar a desistência de sua pré-candidatura à presidência da República, o governador de Minas, Aécio Neves, apenas se antecipou a uma decisão que já era conhecida de todos: a preferência do PSDB é pela candidatura de José Serra, que aparece em primeiro lugar em todas as pesquisas. (Leia a reportagem do G1 com a notícia da desistência: Aécio Neves desiste de disputar a Presidência em 2010.)
Fora do páreo, Aécio reduz a pressão do partido para compor como vice a chapa tucana à presidência da República. Mas é certo que, se a principal adversária, a ministra Dilma Roussef, subir nas pesquisas, a pressão vai voltar.
- Política é a arte de administrar o tempo. Do contrário, você é engolido por ele – disse Aécio ao G1.
Com a decisão de Aécio Neves, José Serra será obrigado, a partir de agora, a negociar pessoalmente os palanques estaduais do PSDB e a arbitrar disputas regionais – o que ele vinha evitando. E, ainda, fica mais exposto em suas viagens e conversas políticas, e seus atos administrativos passam a ser mais observados, inclusive pelos adversários. Serra vinha argumentando ao comando do PSDB que não pretendia assumir logo sua pré-candidatura para que seu governo não se torne, desde já, alvo explícito do PT e simpatizantes.
Aécio Neves fez questão de fazer antes a comunicação de sua desistência ao presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra, em encontro em Belo Horizonte. Aos correligionários, ele disse que estava ficando sem discurso: ou correria o país para estimular o partido, correndo risco de abrir uma fissura entre tucanos; ou saia do páreo. Assim, preferiu sair da disputa.
O PT comemora a decisão de Aécio Neves. Desde o início da pré-campanha, o partido considera Serra um candidato mais previsível e mais conhecido. Já Aécio poderia se apresentar como “novidade” na campanha, além de conquistar outros aliados e não só o DEM e o PPS. Hoje mesmo, em Minas, o presidente do PDT, Carlos Lupi, visitou Aécio Neves e reafirmou a possibilidade de o partido apoiá-lo. Em seguida, Aécio anunciou sua desistência.
Entrevista de Aécio Neves ao G1:
G1- Por que o senhor anunciou agora a decisão que estava prevista para janeiro?
Aécio Neves – Política é a arte de administrar o tempo, até para não nos tornamos refém dele. Busquei até aqui a construção de um novo projeto para o PSDB, mas no momento em que o PSDB abdica das prévias e retarda sua decisão, achei melhor comandar o meu tempo.
G1 – O partido vai estar unido na eleição do ano que vem?
Aécio Neves - No que depender de mim, sim. Essa união é que vai dar chance de vitória numa eleição que já se vê, será extremamente disputada. Acredito que a nossa unidade é o que há mais valioso para enfrentar a eleição.
G1 – O senhor havia dado prazo até janeiro, mas decidiu se antecipar …
Aécio Neves - Senti que havia certa preferência, a partir de indicadores de pesquisa, em torno do governador José Serra. Minha candidatura nunca foi projeto meu. Era projeto daqueles que achavam que era preciso uma aliança mais ampla do que aquela que se anuncia para 2010 (PSDB- DEM-PPS). Só que a construção dessa aliança depende do tempo. Como percebi que o partido caminhava na lógica de deixar a decisão para daqui a alguns meses, minha contribuição deixa de ser expressiva nesse processo. Vou continuar ajudando o partido a partir de Minas.
G1 – Qual a chance de ser vice de Serra?
Aécio Neves – Não sendo o candidato, a melhor forma que vejo de ajudar é me dedicar integralmente à eleição aqui em Minas, sendo candidato ao Senado. Vou mergulhar na eleição mineira.
G1 – Se em março, o governador José Serra desistir de ser candidato, o senhor aceitaria entrar no páreo?
Aécio Neves- Eu vou estar à disposição do partido, vendo o cenário nacional. É claro que terei a opção…
Leia também:
Íntegra da carta de Aécio Neves ao PSDB com a sua decisão
Líder do PSDB no Senado defende Aécio para vice de Serra
‘Agora é Dilma contra Serra’, diz presidente do DEM
Abaixo, veja o pronunciamento de Aécio em Belo Horizonte.