Nenhum movimento é tão revelador de crise na campanha eleitoral do que a troca do marqueteiro no meio da corrida – particularmente, a 25 dias da eleição, como aconteceu agora com a campanha de Geraldo Alckmin na disputa pela prefeitura de São Paulo. Saiu Lucas Pacheco e entrou Raul Cruz Lima.
Outro dado revelador é o comportamento do candidato frente a seus correligionários. Quando o candidato começa a reclaramar de perseguição, da falta de empenho dos parceiros, é mal sinal. Isso também está acontecendo com Alckmin que em momentos mais exaltados chega a falar em afastar ou expulsar uns e outros do PSDB.
Geraldo Alckmin é um fenômeno na política. Quando disputou o governo de São Paulo em 2002 era “a cria que deu certo” – vice-governador de Mário Covas, se apresentou como aquele que aprendeu as lições com o mestre, mas não os defeitos. Covas era turrão – essa marca lhe valia algumas críticas e Alckmin parecia mais flexível, mais maleável. Isso era motivo de elogios. Alckmin venceu a eleição e fez um governo com certa aprovação popular.
Depois de passar pelo Palácio dos Bandeirantes, Alckmin se considerou no topo da fila do partido para disputar a eleição presidencial de 2006. Foi por sua firmeza e insistência que conseguiu a vaga de candidato tucano à presidência, desbancando aquele que parecia ter todas as condições de enfrentar Lula naquele instante, o então prefeito de São Paulo, José Serra. No momento da decisão, Serra piscou (viajou para Buenos Aires e se afastou com colégio que escolheria o candidato) e acabou perdendo a vaga para Alckmin.
No decorrer da campanha, Alckmin foi se revelando como alguém mais frágil do que se imaginava no partido. Mas ele conseguiu fazer a travessia e, surpresa geral, passou para o segundo turno. Chegou nesta etapa da campanha bem maior do que começara. Mas perdeu, e perdeu feiamente, o debate sobre privatização. Ele não conseguiu defender o programa empreendido na gestão tucana de Fernando Henrique. Vestiu uma jaqueta com símbolos de empresas estatais e achou que estava tudo resolvido. Diminuiu e perdeu. Perdeu no segundo turno com o número de votos menor do que obteve no primeiro. Geraldo Alckmin saiu da campanha presidencial menor do que entrara.
Agora, fez o mesmo estilo: pressionou, enfrentou e arrancou do partido a vaga de candidato a prefeito de São Paulo. Tinha, aparentemente, as condições para vencer a disputa. Estava melhor na pesquisa, tinha “a cara de São Paulo”, ou seja, parecia um candidato afinado com os anseios dos paulitas. Mas no meio do caminh começou a errar. Não conseguiu montar uma aliança tão ampla como era necessário, e perdeu espaço para o prefeito Gilberto Kassab.
E o pior dos erros na política: ficou envenenado contra o governador José Serra e contra o prefeito Kassab. Enquanto tucanos e democratas brigavam, Marta Suplicy cresceu na campanha.
Em Brasília, a aposta geral é a de que haverá segundo turno em São Paulo entre Marta e Kassab. É claro que Alckmin ainda pode garantir sua vaga, se conseguir consertar sua campanha nesta reta final.
O fato é que se chegar ao segundo turno e vencer, ele se recupera -no eleitorado e no partido. Se chegar ao segundo turno e perder para Marta, pode ter um espaço no partido. Se não chegar sequer ao segundo turno, como se diz na política, Geraldo Alckmin vai para o fim da fila. E para ter chances de enfrentar uma outra eleição majoritária (presidente, governador, senador ou prefeito) vai precisar da generosidade de seus parceiros.
Mas política é como nuvem, já disse o político mineiro. A cada momento está de um jeito. O jeito é esperar.