Novas pesquisas
O DataFolha fez nova rodada de pesquisas nas principais capitais do país. Há candidatos tensos com a perspectiva de mudanças em algumas cidades.
O DataFolha fez nova rodada de pesquisas nas principais capitais do país. Há candidatos tensos com a perspectiva de mudanças em algumas cidades.
O presidente Lula compreendeu que algum reflexo da crise financeira dos Estados Unidos pode refletir aqui no Brasil na forma de falta de crédito. Por isso, ele determinou aos ministros que avaliem formas e apresentem propostas para garantir o crédito para o financiamento agrícola, de exportações e empresas que queiram investir.
– As empresas não podem ficar sem oxigênio para investir e crescer – disse o presidente aos ministros, na segunda-feira, com os quais discutiu os reflexos aqui no Brasil da crise financeira dos Estados Unidos.
A grande preocupação do presidente é assegurar o ritmo de crescimento do país, embora muitos no governo já estejam revendo os cálculos anteriores, pelos quais o crescimento em 2009 seria de 4,5% – conforme proposta orçamentária enviada ao Congresso.
O governo sabe que haverá algum impacto negativo no Brasil. Ministros e assessores do presidente Lula têm telefonado para banqueiros brasileiros e estrangeiros para ouvi-los sobre a expectativa de crescimento para o ano que vem. Alguns já ouviram que o Brasil poderá crescer pouco mais de 3% – notícia que não foi do agrado do governo.
A avaliação feita entre ministros é a de que os Estados Unidos podem entrar em recessão nos próximos meses, mas, a economia de lá é tão pujante que logo depois pode retomar o crescimento. Por isso, o presidente Lula quer que o Brasil mantenha o crescimento, “para não ter de correr atrás do prejuízo”, conforme disse na reunião com ministros. Ele gostaria que o Brasil retomasse o ritmo de crescimento antes dos países da Europa, que também estão sendo afetados pela crise financeira.
Com isso, deve voltar ao centro das discussões de governo a política monetária. O Banco Central tem deixado claro que vai subir os juros enquanto for necessário para conter a inflação. Agora, não só o ministro da Fazenda, Guido Mantega, mas outros também já falam que pode ter chegado a hora de se pensar em interromper o ciclo de aumento dos juros, como forma de estimular investimento e crescimento da economia interna.
A eleição para presidente dos Estados Unidos está interferindo diretamente das decisões do Congresso norte-americano sobre as medidas a serem tomadas para enfrentar a crise financeira mundial iniciada lá, em seus principais bancos. O duelo entre democratas e republicanos, deixa isso claro. Os republicanos querendo se esquivar da condição de dono da crise e os democratas tentando tirar uma casquinha e empurrar a autoria para o adversário. O resultado foi a rejeição do pacote proposto pelo governo Bush para tentar salvar o sistema financeiro.
A pior coisa que pode acontecer a um país é a contaminação de um problema econômico pelas questões políticas. Pior, ainda, quando o problema de lá tem repercussões diretas em todo o mundo, como é o caso desta crise financeira mundial.
Do lado de cá do Equador já vimos algumas vezes os interesses políticos interferirem em questões econômicas. É claro que nunca na dimensão desta crise que o mundo vê neste momento.
Depois dessa tempestade, o mundo vai ser diferente.
O governo adotou o discurso otimista em relação à crise financeira mundial – tal como falou o presidente Lula nesta tarde e repetiu o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Até agora, o governo não aceita qualquer sugestão de cortar gastos para fazer um colchão que garanta ao país fazer a travessia deste período de crise mundial.
– Se o Brasil está crescendo muito, eles vêm com a receita de corte de gastos; se corre o risco de crescer menos, de novo a receita é a mesma. Só queria entender – disse o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo.
Ele repete o que disse o presidente Lula e o ministro da Fazenda sobre as melhores condições do Brasil para enfrentar a crise financeira. Lula destacou o mercado interno e a solidez do sistema bancário brasileiro.
Paulo Bernardo disse que o governo está otimista, “mas com as barbas de molho”, acrescentando que se for preciso tomar alguma medida, o governo vai tomar.
O discurso do governo, porém, é dizer que este problema é dos Estados Unidos e o governo norte-americano é que precisa buscar a solução adequada. Este foi o tom da entrevista do presidente Lula, nesta tarde, no Rio de Janeiro, e que vem sendo repetida por ministros.
Para economistas, o governo deveria refazer sua previsão de gastos em função do risco de o crescimento econômico do país ser menor do que o esperado. Mas o ministro Paulo Bernardo disse que, por ora, fica mantida a expectativa de crescimento econômico para 2009 da ordem de 4,5%, como está escrito na proposta orçamentária enviada ao Congresso.
– Não podemos mudar a previsão a cada semana. Agora, é hora de observar e de colocar as barbas de molho – repetiu.
O discurso do governo é o de que o Brasil está preparado para enfrentar a crise financeira internacional porque tem reservas da ordem de US$ 200 bilhões – tônica que o presidente Lula reafirmou neste domingo, em campanha eleitoral pelo interior de São Paulo. Mas esse é um discurso pronto. Na verdade, a preocupação do presidente com o assunto aumentou depois de sua viagem a Nova York, na semana passada.
Além disso, alguns efeitos da crise já estão batendo por aqui. Como, por exemplo, prejuízos de empresas brasileiras – seja com queda de suas ações da bolsa, com a redução das exportações e falta de crédito.
O que mais preocupa, no entanto, é que o governo já vinha gastando por conta. Confiando num crescimento acima de 5% – já que no primeiro semestre deste ano foi de 6%, tão comemorado – o governo assumiu compromissos que vão repercutir nos próximos anos. E aí, faltando dinheiro, pode comprometer o equilíbrio fiscal.
Sinal amarelo por isso. Vale lembrar, essa preocupação já era da oposição há algum tempo.
A ida do PMDB para o governo ajudou muito o presidente Lula a consolidar sua maioria no Congresso e tem sido muito positiva para o partido nesta disputa municipal. O PMDB foi o partido que elegeu o maior número de prefeituras na eleição passada, mas teve fraco desempenho nas capitais. Desta vez, porém, o partido pode eleger o prefeito em seis capitais – entre elas, o Rio de Janeiro, onde já conquistou o governo do Estado.
O PT pode sair-se bem nesta eleição se vencer a disputa em São Paulo com Marta Suplicy. É a principal capital do país – onde está o poder econômico e o poder político. Desde o início da campanha é dito que quem ganhar São Paulo levará o título de vencedor para casa. O PT mantém a regra que está prevalecendo em todo o país: candidatos que disputam a reeleição levam vantagem. Assim, o PT deve reeleger os prefeitos de Fortaleza, Luizianne Lins; de Vitória, João Coser; em Pernambuco João da Costa, apoiado pelo atual prefeito petista, João Paulo, além de prefeitos de outras capitais menores como Rio Branco.
Se ficar fora do segundo turno em São Paulo, o PSDB sairá derrotado da eleição municipal, embora possa confirmar a reeleição de seus atuais prefeitos – Beto Richa, em Curitiba, que pode, aliás, ser o mais votado proporcionalmente nesta campanha; Wilson Santos em Cuiabá e Sílvio Mendes, em Teresina. E vencer, ainda, em São Luiz. Já o DEM, se levar Gilberto Kassab para o segundo turno, como indicam as pesquisas, terá uma expectativa boa de poder – e pode se valer do discurso de vitória até o segundo turno. Porém, excluindo São Paulo, o partido está num momento delicado; em Salvador, ACM Netto perde a vantagem e pode até ficar fora do segundo turno e, em Belém, a candidata Valéria Pires está perdendo terreno para o atual prefeito Duciomar Costa. Dependendo de São Paulo, o DEM tende a minguar.
A última rodada de pesquisas para as eleições de prefeito no próximo domingo mostra que em pelo menos quatro capitais é tempo de fortes emoções nesta reta final da campanha: São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Salvador. Nestas, a disputa está tão apertada que não se pode afirmar com segurança quais são os candidatos que estarão no segundo turno.
A eleição mais interessante é, sem dúvida, em São Paulo. A novidade desta última pesquisa – tanto Ibope quanto DataFolha – é a indicação de que Gilberto Kassab (DEM) se descolou de Geraldo Alckmin (PSDB) e assegura, ao menos agora, sua vaga no segundo turno. Marta Suplicy está na frente e com folga. Porém, a simulação de segundo turno mostra que as emoções vão continuar. Qualquer que seja o embate, a disputa será cabeça a cabeça – ou voto a voto. Marta Suplicy, que no primeiro turno está bem na frente de seus competidores, num eventual segundo turno teria de suar a camisa para vencer. As simulações mostram empate técnico – seja com Alckmin, seja com Kassab.
Porto Alegre é uma cidade que o PT governou por 16 anos consecutivos e é a terra de muitas estrelas do Partido dos Trabalhadores. Mas lá está prevalecendo a mesma tese de todo o país – a de favorecer o candidato à reeleição. Isso justifica a presença do prefeito José Fogaça na frente em todas as pesquisas. E o histórico do PT na capital gaúcha não está ajudando a candidata petista Maria do Rosário. Segundo a pesquisa Ibope deste fim de semana, Manuela D’Ávila está assegurando o segundo lugar e, portanto, a vaga para o segundo turno. Resumo: a popularidade do governo e do presidente Lula não ajuda em nada a candidata petista à prefeitura de Porto Alegre.
O Rio de Janeiro sempre gostou de novidades na política. Isso pode justificar o crescimento de última hora do candidato do PV, Fernando Gabeira. Segundo a última rodada de pesquisa, foi ele quem mais cresceu e já ameaça destronar Marcelo Crivella (PRB) que parecia o dono da segunda vaga para ir ao segundo turno na disputa. Eduardo Paes (PMDB), candidato apoiado pelo governador Sérgio Cabral, está bem na frente, com vaga assegurada no segundo turno.
Em Salvador, três candidatos estão embolados e podem ir para o segundo turno – ACM Neto (DEM); João Henrique (PMDB) e Walter Pinheiro (PT). Na capital baiana, o prefeito que disputa a reeleição também se beneficiou do bom momento da economia -melhorou seu desempenho na pesquisa, tal como outros prefeitos que disputam mais um mandato.
A novidade desta eleição é que um esperado embate entre PT e PSDB em São Paulo, ao que indicam as últimas pesquisas, não vai acontecer. E sim a disputa entre PT e DEM – tanto em São Paulo, como pode acontecer, também, em Salvador. Na capital baiana, aliás, pode haver também um outro embate inesperado: do PT versus PMDB, partidos que se uniram na eleição de 2006 e elegeram juntos o governador Jacques Wagner. E agora, estão em palanques distintos.
O presidente Lula antecipou sua volta ao Brasil. Ele está em Nova York e, de lá, deveria ir ao Canadá. Mas os compromissos por lá foram cancelados e Lula conseguiu antecipar para esta quarta-feira os encontros que teria na sexta-feira. Daí embarca de volta ao Brasil amanhã mesmo.
A disputa pela prefeitura de São Paulo é, de longe, a mais interessante. Em primeiro lugar, porque é a disputa pelo poder econômico e pelo poder político. É a maior cidade do país, com orçamento maior do que o de muitos Estados; e, do ponto de vista da política, terá reflexos importantes na sucessão presidencial de 2010. Torna-se ainda mais interessante porque está indefinida. Marta Suplicy (PT) já garantiu sua vaga no segundo turno, mas a outra é disputada pelo prefeito Gilberto Kassab (DEM) e Geraldo Alckmin (PSDB).
Por tudo isso, é que a tônica da campanha mudou. Já é passado aquela fase de apresentação de bons moços e moças, com propostas para melhorar a vida dos paulistanos. Agora, começou a fase da pancadaria. A grande expectativa do momento é saber se as críticas de Alckmin a Kassab surtiram efeito. Se ajudou ou atrapalhou a estratégia do tucano.
Na campanha do PSDB, a avaliação é a de que a mudança no tom da campanha foi positiva. Alckmin, tentou mostrar a vinculação de Kassab com Maluf e Pitta, lembrando que ele foi secretário de Pitta, conseguiu, segundo seus aliados, estancar aquela tendência de queda que vinha acontecendo com sua campanha. Os articuladores de sua candidatura dizem que os kassabistas estariam “muito preocupados e procurando antídotos às críticas” recebidas.
Já os articuladores de Kassab dizem que a campanha de Alckmin perdeu o rumo. “Primeiro, ele quis parecer o bom moço, aquele que tinha bom relacionamento com todos; agora ele é um crítico feroz”, disse um dos coordenadores. Os kassabistas lembram, ainda, que quando Alckmin partiu para o ataque contra Lula, na disputa presidencial de 2006, o resultado não foi positivo.
Cada lado diz, ainda, ter pesquisa interna demonstrando que está melhor para o seu lado. É claro. Cada um puxando a brasa para sua sardinha. Mas quem está gostando dessa briga é a candidata Marta Suplicy – que segue na frente, bem distante dos dois.
Os institutos de pesquisa já começaram a fazer pesquisas diárias em São Paulo para aferir quem é que vai garantir sua vaga no segundo turno. Se Kassab ou se Alckmin. Os dois estão empatados – Kassab vinha subindo e Alckmin vinha caindo. Como nada foi divulgado, é sinal de que nada mudou. E que os dois continuam empatados.
*** Agora, no Rio. Pesquisas internas de candidatos mostram que as coisas andam mudando na disputa pela prefeitura do Rio de Janeiro. Lá, mais de 50% dos eleitores dizem na pesquisa espontânea que ainda não definiram o voto. Portanto, muita coisa pode mudar. Jandira Feghali (PC do B) ainda não acertou a estratégia de campanha e está perdendo pontos. Fernando Gabeira começa a recuperar votos na classe média, afetando o desempenho de Eduardo Paes (PMDB) neste contingente do eleitorado. Marcelo Crivella também anda perdendo pontos. Agora, é esperar as próximas pesquisas.
*** Em Recife, todos os candidatos atônitos com a decisão da Justiça Eleitoral de cassar a candidatura de João da Costa (PT) que vinha num ritmo que indicava possibilidade de vitória no primeiro turno. Ele foi acusado por uma promotora de abuso do poder econômico e vai recorrer.
A oposição tem sido obrigada a conviver com o sucesso de popularidade do presidente Lula, mas tem um grande trunfo pela frente: a perspectiva de poder em 2010. Todas as pesquisas feitas neste momento, inclusive a divulgada hoje pela CNT-Sensus, mostrando que o presidente Lula alcançou recorde de aprovação (68% aprovam seu governo e 77% aprovam seu desempenho pessoal) mostram que numa simulação para a sucessão presidencial, o vencedor seria o tucano José Serra. As pesquisas sobre 2010 são o maior patrimônio da oposição.
É importante observar, porém, que as mesmas pesquisas que mostram extraoridnária força política do presidente Lula, revelam, também, que isso não seria suficiente para ele eleger o sucessor. Nas simulações feitas, Dilma Roussef não chegaria aos 10% dos votos.
Deve ser lembrado, porém, que a propaganda política tem se mostrado instrumento eficiente de divulgação dos candidatos a ponto de alterar rumos das campanhas. Ou seja, se ela for mesmo a escolhida para disputar a sucessão presidencial, e conseguir montar uma ampla aliança política em seu apoio, Dilma poderá chegar a um desempenho melhor. Os governistas dizem que o presidente Lula será capaz de transferir algo em torno de 30% dos votos para seu candidato – e de colocar o seu preferido no segundo turno.
Nesta campanha municipal, por exemplo, é quase regra: quem tem mais tempo na televisão (e uma boa campanha, é claro) desponta nas pesquisas. Epara ter tempo ampliado na propaganda política é preciso ter uma forte aliança. É nessa direção que tem trabalhado o presidente Lula – de manter a coalizão de 14 partidos que o apóia na campanha de 2010.
Ainda falta muito tempo para a campanha presidencial de 2010 e é preciso aguardar os resultados desta campanha municipal em curso. Uma coisa, porém, é certa: as pesquisas sobre 2010 são um patrimônio para a oposição, mas, particularmente, um grande trunfo para José Serra. Ele disputou uma eleição presidencial há seis anos e consegue manter seu nome na memória do eleitor e com boa imagem. Afinal, um terço dos brasileiros manifesta o desejo de votar nele.