Na grampolândia
Há dois meses, era suspeita, paranóia ou qualquer outra coisa, mas agora, conforme reportagem da revista Veja, o presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, estava mesmo sendo grampeado por agentes da Abin e da Polícia Federal. Junto com ele, também o presidente do Senado, Garibaldi Alves, e mais senadores, ministros e o chefe de gabinete da presidência da República, Gilberto Carvalho. Ou seja, funcionários do governo, da Abin e da PF, grampearam os presidentes de dois poderes, o do Judiciário e o do Legislativo.
É claro que alguém vai dizer que o governo é também vítima do grampo, já que ministros e o chefe de gabinete da presidência, Gilberto Carvalho, também estavam na lista dos agentes e tiveram suas conversas grampeadas. Esta lembrança não pode ser apontada como defesa do governo. Afinal, não se diz que o governo deveria controlar as investigações da PF. Mas que o ambiente não está bom, isso não está mesmo. E de uns tempos para cá nota-se, no serviço público, o denuncismo, a formação de grupos, o duelo político.
Há algum tempo, ministros do Supremo não mais conversam ao telefone. Alguns, como o próprio Gilmar Mendes, já tomava cuidados com os diálogos dentro do próprio gabinete, temendo aquela escuta de ambiente que é feita por meio dos mais avançados equipamentos da PF e da Abin. No Congresso, parlamentares optavam antes pelos aparelhos de ramal – até que foram informados de que o programa de escuta da PF. o Guardião, grava conversas a partir de troncos de telefones e em todos os ramais. Tudo ao mesmo tempo. Por isso é que se chegou ao número de 450 mil telefones grampeados no Brasil.
A esta altura, o argumento de que o governo não pode interferir nas investigações da Polícia Federal sob pena de ser acusado de manipulação não deve ser argumento de defesa. O governo precisa, e urgentemente, dar resposta a esta grave denúncia de grampo nos telefones dos presidentes de dois dos três poderes da República. E encontrar a forma de coibir isso. Afinal, aqui não é a Grampolândia.