Com um séquito apenas de assessores, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, irá nesta quinta-feira bem cedo ao Congresso para entregar a proposta de reforma tributária que, espera o governo, seja votada ainda este ano. Pouco depois das 9 horas, uma cópia será entregue ao presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia – já que a tramitação de matérias começa sempre pela Câmara. Em seguida, ele fará uma visita ao presidente do Senado, Garibaldi Alves.
Tudo de forma muito discreta. Ao contrário do que aconteceu em 2003, quando o presidente Lula atravessou a rua acompanhado de todos os governadores. De lá para cá, muita diferença. Naquela ocasião, o governo preparou uma proposta de reforma tributária às pressas, reunindo idéias que já existiam na área econômica e no Ministério da Fazenda. Ela pouco agradou, mas com a força política de Lula, que acabava de ser eleito (estava no cargo havia oito meses) ela passou na Câmara. No Senado, foram feitas várias mudanças, todas em comum acordo com o comandante da economia da época, Antonio Palocci.
Desta vez, o governo atuou muito nos bastidores. Conversou com governadores, empresários e sindicalistas e, depois de pronta, fez outro percurso com os mesmos interlocutores. O centro desta proposta é que ela pressupõe um longo prazo de transição para ser implementada – para uns, até, longo demais. Só começa o processo em 2010 – empresários, por exemplo, gostariam que começasse já no ano que vem, se for aprovada este ano.
Na noite desta quarta-feira, véspera da entrega da proposta ao Congresso, sucessivas reuniões aconteceram no Ministério da Fazenda. A fórmula encontrada para agradar a sindicalistas (que não querem a redução da contribuição patronal para a previdência, alegando temor de um rombo maior na previdência) e a cobrança do empresariado, o governo deve adotar a seguinte fórmula: desonera, mas carimba um percentual da arrecadação do IVA para destinar à previdência.
O empenho político do governo que é sempre necessário para aprovar uma reforma dessa magnitude já começou. O presidente Lula se reuniu com o PMDB, chamou líderes, ministros e lideranças como José Sarney, para pedir o empenho do partido na aprovação da reforma tributária. E vai repetir a estratégia com todos os partidos aliados. Unindo a base, o governo pode ter maioria para aprovar a reforma, sem depender da oposição. Mas, no Senado, é impossível unificar a base. Por isso, o governo já faz gestos para o PSDB – como o da entrega de um dos cargos da CPI dos cartões corporativos.