Antonio Carlos Magalhães morreu e com ele se encerra um jeito de fazer política. A política na Bahia, com certeza, nunca mais será a mesma. Seu grupo político que dominou o estado por muitos e muitos anos experimenta, agora, a primeira derrota tripla: no governo municipal, no estadual e no federal. O amálgama que os unia era ACM. Agora, tudo indica que o racha iniciado já na campanha de 2006 vai se aprofundar.
No Senado Federal também ficará um vazio. Antonio Carlos Magalhães sabia polemizar e até impor discussões de temas de seu interesse. É claro que, com o tempo, foi se enfraquecendo, perdendo a capacidade de gerar fatos e notícias. O último grande lance dele foi impor ao governo (na época Fernando Henrique Cardoso) a criação do Fundo de Combate à Pobreza – uma atuação, sem dúvida, importante pois este fundo até hoje abastece os programas sociais do governo.
Todo jornalista que vive em Brasília tem uma passagem para contar sobre Antonio Carlos Magalhães. Acho que três episódios traduzem o estilo e o temperamento dele. O primeiro, logo após a vitória de Fernando Henrique Cardoso e ele, um aliado muito importante na ocasião, tinha poder para fazer e tirar ministro. Na ocasião, perguntei se ele poderia indicar o economista Daniel Dantas para o Ministério da Fazenda – naquele momento, Daniel Dantas se tornava conhecido pela inteligência, a capacidade de dar lucro ao então empregador (Grupo Icatu) e havia dado sugestões a Fernando Collor. ACM foi rápido:
– Não, o Daniel Dantas é hoje um famoso economista. Mas ele sabe ganhar dinheiro, cuidar da coisa pública é diferente…
Já eleito senador, ACM reagiu fortemente à ação do Banco Central de Fernando Henrique de desapropriar o Banco Econômico. Ele fora vendido pelo valor simbólico de R$ 1 real – o que, na prática, significava a liquidação do banco. ACM foi em marcha ao Palácio do Planalto e, ali, demonstrou, para sempre, que só se norteava pelo interesse da Bahia. Brigou com o governo aliado para defender a Bahia. Ficou a marca, mas ele não conseguiu reverter a decisão do Banco Central.
Num terceiro episódio, ACM divergia sempre do comando de seu partido, o PFL. O então presidente Jorge Bornhausen resolveu convidar o então senador Gilberto Miranda para se filiar à legenda. ACM não gostou e quando soube que tudo havia sido arquitetado num jantar na véspera, saiu com uma frase que ficou conhecida:
– Jantar ao qual eu não vou, não vale.
Três episódios que traduzem o que foi ACM na política, em Brasília: perde o aliado, mas não deixa a Bahia; sabe formar equipe de governo; e mão de ferro na política. Não se fará outro ACM nem na Bahia nem em outro Estado. O Brasil é outro e a política também.