O caso Renan no Conselho de Ética está provocando estanhamentos entre amigos e aliados no Senado. Na mira está o senador Sibá Machado (PT-AC) que, na opinião de peemedebistas, está independente demais. Sibá tinha a prerrogativa de escolher o relator do caso, a partir da renúncia de Wellington Salgado (PMDB-MG), mas preferiu consultar o PMDB. Sem encontrar quem aceite a missão, ele deu o ultimato: vai colocar em votação nesta quarta-feira o parecer de Epitácio Cafeteira (PTB-MA) que propõe o arquivamento do processo contra Renan.
O PMDB não gostou. Nesta tarde, o parecer de Cafeteira seria rejeitado por pelo menos oito votos, segundo cálculos de aliados de Renan, entre eles, o de três de senadores da base governista, portanto, aliados do presidente do Senado. São eles: Renato Casagrande (PSB-ES), Eduardo Suplicy (PT-SP) e Augusto Botelho (PTR-RR) – os mesmos três que na sexta-feira, dia 18, propuseram o aprofundamento das investigações sobre o caso Renan.
Nesta tarde, Sibá ameaçou renunciar à presidência do Conselho de Ética. Isso aconteceu depois de uma reunião da bancada do PT que avaliou que o partido está pagando preço muito alto por seus representantes no Conselho, entre os quais, Sibá como seu presidente. “O Conselho de Ética está sendo exovalhado”, disse o senador Tião Viana. As cobranças do eleitorado do partido são crescentes, mirando especialmente em Sibá, embora, agora se perceba que ele está mais independente do que gostaria o grupo de Renan.
– Sibá ganhou vida própria – brincou um aliado, resumindo a independência do presidente do Senado.
Os aliados de Renan identificam dificuldade para ele vencer no Conselho de Ética, neste momento, em que o caso ganhou a opinião pública. Vale lembrar, que lá o voto é aberto. Mas alimentam expectativa de que o caso chegar ao plenário – e o mais rapidamente possível – ele vencerá. No plenário, o voto é secreto.
A proposta que surge é a divisão do caso: vota-se o parecer de Cafeteira, que deve ser rejeitado. Depois, serão colocados em votação os “votos em separado” já apresentados – pelo PSDB, pelo senador Demóstenes Torres, pelo senador Jefferson Peres e também o voto no senador peemedebista, Valter Pereira. O parecer aprovado terá seu autor designado como relator. Isso quer dizer que, provavelmente, Renan tenderia a perder no Conselho de Ética.
É aí que surge a idéia de dividir o caso: o Conselho iria analisar o processo de Renan com base na representação feita pelo PSOL – se houve ou não pagamento de despesas pessoais do senador pela empreiteira Mendes Junior – e o restante da documentação seguiria para a Mesa do Senado, que é o órgão capaz de decidir se é necessário ou não pedir investigações pela Polícia Federal. A tese deste grupo é a de que o Conselho não poderia ter pedido ajuda à PF – não teria autoridade para isso, o que só cabe à Mesa.
Renan, sem se afastar da presidência, se declararia impedido de votar em tal matéria – se o processo deve ou não ser enviado ao Supremo Tribunal Federal. A Mesa poderia decidir não dar prosseguimento ao caso; ou enviar ao STF que, provocado, iniciaria a investigação, tal como já existem tantas por lá.
Tudo isso são conjecturas feitas no Senado nesta tarde. Mas ninguém sabe exatamente o que poderá acontecer na sessão de amanhã do Conselho de Ética, que vai se reunir sob a ameaça de renúncia de seu presidente.