J. Borges, artista e poeta pernambucano, morre aos 88 anos
Natural da cidade de Bezerros, no Agreste de Pernambuco, J. Borges nasceu em 1935 e se consagrou como um dos maiores nomes da arte pernambucana. O mestre da xilogravura e do cordel morreu nesta sexta-feira (26), aos 88 anos, em sua casa, no município onde nasceu (veja vídeo acima).
Apesar de só ter frequentado a escola por um ano de sua vida, José Francisco Borges aprendeu a ler, escrever e criar. A experiência com artes manuais, especialmente a marcenaria e a produção de móveis em miniatura, ajudou a formar o que se tornaria um dos maiores nomes da xilogravura - arte em relevo esculpida em madeira.
As gravuras inconfundíveis não se separam de outras artes populares como a literatura de cordel, formato no qual J. Borges também se tornou referência. Foi através da oralidade e da própria vivência que, mesmo longe da educação tradicional, o artista criou uma forma única de se conectar o povo, em especial agrestino e sertanejo.
O primeiro cordel de autoria própria foi publicado há 60 anos, em 1964: "O encontro de dois vaqueiros no sertão de Petrolina". A partir de 1965, além de escrever, começou a produzir também a gravura dos folhetos, sendo “O verdadeiro aviso de Frei Damião” a primeiro obra sua com texto e imagens próprios.
Obras de J. Borges, mestre da arte popular brasileira, estão reunidas em exposição no Rio — Foto: Reprodução/TV Globo
Foi através de um encontro com Ariano Suassuna, no início da década de 1970 que a arte de J. Borges ganhou ainda mais visibilidade. Suassuna, encantado com a ideia de uma arte erudita e popular, criou o Movimento Armorial, que abraçou linguagens como o cordel, a xilogravura e artes plásticas, exatamente o que J. Borges tinha as suas maiores potencialidades.
J. Borges se tornou amigo de Ariano Suassuna e, com seu suporte, levou sua arte para o mundo. Um exemplo é o livro “O lagarto", do escritor português José Saramago que conta com suas ilustrações.
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A arte do mestre atravessou o oceano com a fluidez de uma poesia na boca de um repentista. Em 1990, foi convidado pelo uruguaio Eduardo Galeano para ilustrar a obra "As palavras andantes". Em 1999, recebeu a Ordem do Mérito Cultural do Brasil.
Em 2005, ano em que se tornou patrimônio vivo da cultura pernambucana, produziu uma versão em cordel em comemoração aos 400 anos da obra “Dom Quixote”, de Miguel de Cervantes.
Entre os lugares que visitou, estão Suíça, Estados Unidos, Venezuela, França, Alemanha, Portugal e Cuba. Suas peças estão expostas em museus em diversos países, como Itália, Espanha, Holanda, Bélgica, México e Argentina.
Em junho de 2023, Lula presenteou o papa Francisco com um quadro “Sagrada Família”, reprodução de Maria, José e Jesus no estilo clássico de J. Borges.
Obras de J.Borges em exposição no Rio