Lagarto Iphisa brunopereira — Foto: Renato Recoder/Divulgação
Pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) descobriram cinco novas espécies de lagartos amazônicos e decidiram dar a elas nomes de pessoas que defendem a floresta e os indígenas. Entre os homenageados, está o indigenista pernambucano Bruno Pereira, assassinado em 2022 com o jornalista inglês Dom Phillips, durante uma viagem no Vale do Javari, no Amazonas.
Os lagartos são do gênero Iphisa. Além da descoberta das espécies, os pesquisadores também redefiniram outras duas espécies do mesmo gênero (veja fotos mais abaixo). O estudo foi publicado na revista Zoological Journal of the Linnean Society, na segunda (11).
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Os animais, segundo os estudiosos, já eram conhecidos, mas acreditava-se que faziam parte da mesma espécie, a Iphisa elegans.
Eles são exclusivos da região amazônica e, no caso de algumas espécies, ocorrem em locais específicos da floresta. Os lagartos são de pequeno porte e, na idade adulta, têm, em média, quatro centímetros de comprimento, além da cauda.
Confira, abaixo, as cinco novas espécies:
- Iphisa brunopereira: homenageia o indigenista morto em 2022 no Vale do Javari;
- Iphisa dorothy: homenageia a missionária estadunidense Dorothy Stang, morta em 2005, no Pará, por fazendeiros, numa disputa de terras destinadas aos sem-terra;
- Iphisa surui: homenageia a indigenista Neidinha Suruí e a etnia Paiter-Suruí;
- Iphisa munduruku: homenageia a líder indígena Alessandra Korap Munduruku e a etnia Munduruku;
- Iphisa pellegrino: faz um tributo à professora Katia Pellegrino, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que há décadas trabalha com a família em que está alocado o gênero Iphisa.
A primeira autora do artigo foi Anna Mello, doutoranda em Biologia Animal pela UFPE. A pesquisa foi desenvolvida sob a orientação do professor Pedro Nunes, do departamento de Zoologia da universidade, que também coordena o Programa de Pós-Graduação em Biologia Animal da UFPE.
De acordo com a doutoranda, a ideia de fazer as homenagens na nomeação das espécies ocorreu porque, na época da pesquisa, o Brasil vivia um momento delicado com o aumento de queimadas e desmatamento da Amazônia.
"A gente sempre procura dar nomes às espécies pensando na região onde estão. Mas no cenário socioambiental em que vivíamos no Brasil, com muitas queimadas na Amazônia e invasão de terras indígenas, pensamos que seria interessante botar o nome de pessoas que estão literalmente dando suas vidas e quem ainda está trabalhando em defesa da floresta", afirmou Anna Mello.
A ideia de uma das espécies levar o nome de Bruno Pereira foi do professor Pedro Nunes. Ele disse que a homenagem foi uma oportunidade.
"Tínhamos o recente assassinato de Bruno e Dom, num momento bastante frágil da floresta e de ambientalistas. Aproveitamos o momento, Ana teve a ideia de homenagear lideranças indígenas e a Irmã Dorothy e, por último, também teve uma colega nossa, da Unifesp, que vem trabalhando com essa família da Iphisa há mais de 20 anos e contribui bastante para essa organização", explicou o professor.
Novas espécies
A descoberta das cinco espécies começou em 2012, quando Pedro Nunes descobriu sinais de que as Ihpisa, antes catalogadas como uma espécie única, a Iphisa elegans, tinham diferenças morfológicas. Especialmente com relação ao órgão genital masculino desses animais, chamado de hemipênis.
Logo em seguida, ele foi contratado pela UFPE e começou a orientar alunos da pós-graduação. Foi aí que Anna Mello entrou e concluiu a pesquisa, resultando na identificação definitiva das cinco novas espécies, além da elevar ao status de espécie a Iphisa soinii, que antes era considerada uma subespécie da Iphisa elegans.
Ou seja: antes, havia a espécie Iphisa elegans e a subespécie Iphisa elegans soinii. Agora, existem a Iphisa elegans, Iphisa soinii, Iphisa brunopereira, Iphisa dorothy, Iphisa surui, Iphisa munduruku e Iphisa pellegrino.
"Além das características morfológicas, também usamos dados moleculares e tudo batia. Tínhamos evidências suficientes para descrever novas espécies", explicou Anna Mello.
Mais de 700 espécimes de Iphisa foram analisados durante a pesquisa. Muitos deles foram "emprestados" à UFPE por outras instituições do Brasil e do mundo, mas os pesquisadores também frequentaram centros de pesquisa nacionais e do exterior.
"Isso muda um pouco da compreensão da diversidade desse gênero. A gente tinha o entendimento de que esse lagarto era de uma espécie só, em toda a Amazônia. Agora, não. Sabemos que são sete espécies e com distribuições bem mais restritas", disse Pedro Nunes.
Anna Mello afirmou, ainda, que saber que existem mais espécies implica, também, no fato de que cada uma delas não é tão abundante como se pensa.
"Do ponto de vista de conservação, isso é incrível, porque se começa a ter uma visão mais cuidadosa com aquele local, por saber que aquele lagarto só existe ali e, consequentemente, vai ser mais afetado por questões como mudanças climáticas, desmatamento, garimpo ilegal", declarou a pesquisadora.
Fotos das espécies
Lagarto Iphisa brunopereira — Foto: Renato Recoder/Divulgação
Lagarto Iphisa munduruku — Foto: Miguel Trefault Rodrigues/Divulgação
Lagarto Iphisa dorothy — Foto: Miguel Trefault Rodrigues/Divulgação
Lagarto Iphisa pellegrino — Foto: Vinícius Carvalho/Divulgação
Lagarto Iphisa surui — Foto: Ricardo Kawashita-Ribeiro/Divulgação
Lagarto Iphisa soinii — Foto: Pedro Peloso/Divulgação
Lagarto Iphisa elegans — Foto: Pedro Ivo Simões/Divulgação