Por Bruno Fontes, TV Globo


Policial civil de PE é acusado de praticar comércio ilegal de armas

Policial civil de PE é acusado de praticar comércio ilegal de armas

Um escrivão licenciado da Polícia Civil é réu em um processo sobre falsidade ideológica, uso de documento falso e comércio de armas de fogo no maior clube de tiro do Brasil, que fica em Caruaru, no Agreste de Pernambuco. (veja vídeo acima).

Diego de Almeida Soares, que preside a Associação dos Policiais Civis de Pernambuco, ficou quatro meses preso após ser alvo de uma operação da Polícia Federal (PF).

No domingo (19), o Fantástico revelou como, durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), o acesso facilitado a licenças para caçadores, atiradores desportivos e colecionadores de armas, os chamados CACs, facilitou que fuzis fossem parar legalmente nas mãos de traficantes. A reportagem também mostrou como uma rede fraudulenta armou gente despreparada.

Diego de Almeida Soares é sócio do CTA Clube de Tiro e da loja Shop do Atirador. Com esses dois empreendimentos, ele ficou milionário.

O patrimônio saltou de R$ 390 mil, em 2018, para R$ 60 milhões, em 2021. A PF disse que Diego tinha o maior clube de tiros do Brasil, com 8 mil associados, e oferecia um pacote completo com assistência jurídica, armas e treinamento.

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Quando foi preso, Diego estava construindo mais três clubes, com loja e serviço de manutenção. Um deles seria para tiros de fuzil.

Segundo as investigações, o CTA Clube de Tiro tinha associados em todo o Brasil e agilizava a filiação deles em clubes de diferentes estados. Era uma manobra para os filiados circularem pelo país com armas carregadas.

Diego de Almeida Soares — Foto: Reprodução/Redes sociais

Nas redes sociais, ele garantia a legalidade da situação de seus associados caso fossem parados pela polícia portando armas carregadas.

"Nós vamos estar de prontidão inclusive para lhe atender com declarações, com certidões, se assim for preciso", dizia, em vídeos.

O governo Bolsonaro havia autorizado os CACs a levar armas municiadas ao clube, a competições, a caçadas e a exposições de coleção. O governo Lula proibiu que essas pessoas se desloquem com armas municiadas.

"As pessoas, apesar de obterem documentos em que se registravam como atiradores desportivos, por exemplo, jamais quiseram, tiveram a intenção de exercer essa atividade. O que eles pretendiam, na verdade, era obter uma arma de fogo para finalidade diversa, ou seja, havia um desvio de finalidade, porque o objetivo desses clientes era obter arma de fogo para defesa pessoal", disse o delegado da PF Max Ribeiro.

Em julho de 2021, em Caruaru, a menos de 500 metros da loja de Diego, o então instrutor de armamento e tiro do clube Deivid Jonas da Silva matou com quatro tiros Edson Antônio da Silva. Deivid alegou legítima defesa, mas a Polícia Civil concluiu que a vítima estava desarmada.

As investigações da Polícia Federal levaram ao fechamento do CTA Clube de Tiro e à maior apreensão de armas da história da PF. Esse arsenal todo teve que ser guardado em três contêineres, que estão em um local seguro da Polícia Federal.

São 2.555 armas, 40 coletes e aproximadamente 690 mil munições para revólveres, pistolas, carabinas, espingardas e fuzis.

"O que nós podemos afirmar é que, em grande medida, eu diria na maioria, a maciça maioria é de informações ideologicamente falsas, utilizadas tanto para o cadastro, obtenção do certificado de registro, quanto também para aquisição de armas de fogo", disse o delegado.

Resposta

O advogado Ricardo do Rego Barros, que defende Diego de Almeida Soares, disse que o clube fazia um papel de intermédio entre os CACs e os órgãos oficiais.

Disse, ainda, que embora o dono do clube falasse sobre usar armas para defesa pessoal - o que não é permitido aos CACs - o CTA Clube de Tiro não se propunha a essa atividade.

"Não é a empresa que emitia todos os documentos. Qualquer pessoa que quisesse fazer ia no site da Polícia Federal, emitia a guia, preenchia os dados e fazia. E essa documentação, quando chegava ao clube, o clube enviava. Quer dizer, praticamente a empresa ficava fazendo o intermédio, enviava, e isso era posteriormente verificado pela Polícia Federal e também pelo Exército", disse.

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