'A luta dele continua', diz cacique sobre Bruno Pereira durante velório
Um grupo de indígenas da etnia Xucuru, da Serra do Ororubá, em Pesqueira, no Agreste, fez uma homenagem a Bruno Pereira, durante o velório, na manhã desta sexta-feira (24). Entoando cantos do ritual do "Toré", eles chegaram ao Cemitério Morada da Paz, em Paulista, no Grande Recife, e deram adeus ao indigenista (veja vídeo acima). A cremação deve ocorrer às 15h.
"Queremos dizer gratidão. Gratidão, Bruno, por dar sua vida por nós", disse o cacique Marcos Xucuru, conhecido como Cacique Marquinhos, ao lamentar a morte de Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips.
Bruno e Dom foram mortos durante uma expedição na região do Vale do Javari, no Amazonas. O crime ocorreu no dia 5 de junho e os restos mortais foram encontrados dez dias depois.
Os indígenas chegaram cantando e dançando ao cemitério. Na capela, se reuniram ao redor do caixão de Bruno, que estava coberto por uma bandeira de Pernambuco, uma do Sport Clube do Recife e por uma camisa da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja). Eles seguravam um cartaz com as fotos das vítimas e a frase "Justiça por Dom e Bruno".
Indígenas ao redor do caixão de Bruno Pereira, durante velório, no Grande Recife — Foto: Marlon Costa/Pernambuco Press
O grupo deu a Bruno Pereira um manto sagrado da etnia Xucuru, o que chamaram de "singela homenagem" a quem passou a vida lutando pelos povos indígenas. "Dom e Bruno vivem em cada um de nós. Hj, eles vivem nas matas sagradas", disse o Cacique Marquinhos.
Cacique Marcos Xucuru no velório de Bruno Pereira, no Grande Recife — Foto: Marlon Costa/Pernambuco Press
"Não era para nada disso estar acontecendo, se tivéssemos políticas sérias nesse país. Infelizmente, tenho convicção de que ainda estamos em 1500, quando vários povos foram massacrados", finalizou o Cacique Marquinhos, durante a homenagem.
Indígenas homenageiam Bruno Pereira durante velório, no Grande Recife
Velório
Indígenas no velório de Bruno Pereira, no Grande Recife — Foto: Marlon Costa/Pernambuco Press
O velório de Bruno Pereira acontece no Cemitério Morada da Paz, em Paulista, no Grande Recife, e é aberto ao público. O caixão foi exposto por volta das 9h30. O corpo de Bruno Pereira, que tinha 41 anos e é pernambucano, chegou ao Recife na noite da quinta-feira (23), em um jato da Polícia Federal.
Os restos mortais foram periciados em Brasília. Quando ocorreu a liberação, os dois corpos foram levados de avião para serem entregues às famílias.
Indígenas no velório de Bruno Pereira, no Grande Recife — Foto: Marlon Costa/Pernambuco Press
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O cemitério disponibilizou uma página na internet para que as pessoas possam enviar mensagens e orações. Algumas horas após a divulgação do link, a página já tinha dezenas de mensagens de amigos e desconhecidos para Bruno Pereira e seus familiares.
Quem era Bruno Pereira?
O indigenista Bruno da Cunha Araújo Pereira — Foto: Reprodução/TV Globo
Filho de paraibanos, Bruno Pereira era pernambucano, nascido no Recife. Deixou Pernambuco nos anos 2000, para trabalhar na Amazônia. Ele desempenhou diversas funções na Fundação Nacional do Índio (Funai) na última década.
Bruno passou pela coordenação regional do Vale do Javari, exatamente na região em que ele desapareceu durante uma expedição, no início deste mês. Deixou a esposa, a antropóloga Beatriz Matos, e três filhos.
Bruno Pereira é considerado um dos maiores especialistas em povos isolados do Brasil. O indigenista chegou a cursar jornalismo na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e participaria de um filme inspirado no trabalho dele.
Indigenista Bruno Pereira com colegas durante os tempos de escola no Recife — Foto: Cortesia
No dia 16 de junho, o pernambucano recebeu homenagens pela trajetória em defesa dos povos indígenas. Segundo os familiares, Bruno amava Pernambuco, a cultura, o carnaval e o Sport Club do Recife.
Amava tanto o time de futebol que chegava a ligar pelo celular via satélite para saber os resultados dos jogos quando estava nas bases da Funai, onde não há comunicação.