Por Pedro Alves, g1 PE


Brasileiro diz que ruas na Ucrânia estão desertas e clima é de incerteza

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Um pernambucano que mora na Ucrânia relatou que as pessoas que estão no país, invadido pela Rússia, não conseguem mais sacar dinheiro nos bancos. Gabriel Melo, de 31 anos, mora em Kiev, capital ucraniana, e não consegue deixar a região devido ao alto fluxo de pessoas tentando sair (veja vídeo acima).

Gabriel trabalha como gerente de desenvolvimento de negócios e mudou-se para a Ucrânia a trabalho, em agosto de 2019. Sem parentes no país, ele mora sozinho e, há dias, tenta sair da região.

“Eu fui sacar para ter dinheiro em espécie, porque, se cortarem a internet aqui, os cartões obviamente não vão funcionar, mas o banco já não estava sacando. As pessoas não conseguem mais sacar dinheiro”, afirmou.

Nesta quinta-feira (24), a Embaixada do Brasil na Ucrânia pediu que os brasileiros que puderem se desloquem por meios próprios para outros países ao oeste do país, "após se informarem sobre a situação de segurança local".

No entanto, para os que moram em Kiev, como Gabriel, a orientação é não sair, já que a capital ucraniana está com grandes engarrafamentos nas saídas da cidade. A orientação é aguardar novas instruções da embaixada.

"Eu saí duas vezes na rua hoje, uma foi ao banco e a outra, ao supermercado. Está bem deserto, o que é muito bizarro, muito estranho para uma quinta-feira, principalmente nessa avenida aqui, que é geralmente um trânsito enorme. Vi algumas movimentações militares, mas nada de arma, era só o pessoal fardado andando pela rua. Algumas pessoas com mala, pegando carro, se locomovendo, alguns carros passando pela rua, também, mas não muitos" disse.

Na capital do país, a maioria dos estabelecimentos está fechada. Somente serviços essenciais, como supermercados, estão funcionando. Nesses locais, a segurança foi reforçada. Apesar de ainda haver muita comida nos estoques, segundo Gabriel Melo, alguns itens já faltam.

Um deles é a água mineral, já que, com medo de uma eventual suspensão do abastecimento d'água, as pessoas decidiram abastecer os estoques de casa.

Falta carne em supermercados em Kiev, na Ucrânia — Foto: Gabriel Melo/WhatsApp

"Estavam comprando basicamente alimentos e mantimentos básicos. Água, macarrão, arroz, acabou tudo. Muita carne também tinha acabado, mas tem muita comida ainda. Não tinha ninguém em situação de desespero. Muita gente pegando carrinhos e mais carrinhos de mantimentos. Estavam comprando realmente alguma coisa para se sustentar por alguns dias", afirmou o brasileiro.

A Embaixada do Brasil em Kiev mantém um canal no Telegram para passar recomendações aos brasileiros no país. Cerca de 500 brasileiros vivem na Ucrânia, segundo o embaixador do Brasil no leste europeu, Norton de Andrade Mello Rapesta.

No entanto, segundo Gabriel, os diplomatas não têm muitas diretrizes sobre o que devem fazer os brasileiros. A orientação principal é se manter calmo, ficar em casa e não tentar sair da cidade, devido à dificuldade logística.

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"Eles estavam tentando arrumar um ônibus para tirar o pessoal daqui e levar para a fronteira do Oeste, mas a gente não sabe que cidade. E agora à noite eles falaram que já não vai rolar esse ônibus, porque, realmente, a saída da cidade está difícil, e que, por enquanto, é realmente ficar em casa e tentar não entrar em pânico", declarou.

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Outro problema, segundo o gerente de desenvolvimento de negócios, é a disseminação de notícias falsas. Kiev é uma cidade estrategicamente posicionada no centro da Ucrânia e, por isso, mais difícil de acessar. O acesso mais fácil é pela Bielorrússia, mas Gabriel recebeu notícias de que, pelo país, também já ocorrem ataques.

"A gente não sabe que notícia é verdadeira ou não. Minha namorada na Áustria me ligou muito preocupada porque saiu num jornal austríaco que estavam tocando sirenes de recolher para todo mundo ir para o bunker, e isso é mentira. Moro no centro da cidade e não tem absolutamente nenhuma sirene tocando, nenhum tipo de desespero", afirmou.

"A gente realmente não sabe o que acreditar quando ouve essas notícias. Esse é o principal estresse da gente, não saber o que de fato está acontecendo. A gente não consegue saber o que de fato está acontecendo".

Gabriel afirmou, ainda, que muita gente não quer sair do país por ter uma vida construída na Ucrânia. Além disso, os ataques pegaram todos de surpresa, especialmente os que viveram conflitos anteriores, como a anexação da Crimeia pela Rússia, em 2014.

Gabriel Melo mora na Ucrânia desde 2019 — Foto: Reprodução/TV Globo

"Antes dessa invasão eu conversava muito com o pessoal, já estava muito preocupado. A grande sensação entre os ucranianos era de que isso não iria acontecer e que, se acontecesse, iria ser mais suave. Acho que é porque já estão meio acostumados com toda essa questão da Rússia e de Putin talvez desde 2014 ou antes", disse.

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Na madrugada desta quinta-feira (24), a Rússia invadiu a Ucrânia, realizando ataques por terra, ar e mar (veja vídeo acima). Este é o maior ataque de um país europeu contra outro do mesmo continente desde a Segunda Guerra Mundial.

A capital ucraniana Kiev e a cidade de Kharkiv foram atacadas com mísseis e bombas, deixando nas ruas um cenário de caos: filas em postos de combustíveis, corridas aos supermercados por mantimentos, engarrafamentos e estações de trens lotadas.

Tropas russas também desembarcaram em Odessa, que fica às margens do Mar Negro. O governo da Ucrânia afirmou que sofreu uma invasão “total”. Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia, disse que o país reagiu, matando soldados russos, destruindo tanques da Rússia e derrubando aeronaves, além de distribuir armas ao povo ucraniano.

Soldados ao lado de míssel na Ucrânia — Foto: Maksim Levin/Reuters

A economia mundial começou a sentir os reflexos do conflito. Pela primeira vez desde 2014, o preço do petróleo ultrapassou 100 dólares e bolsas de valores internacionais despencaram.

A ofensiva russa foi condenada pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan); pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden; pelo principal diplomata da União Europeia, Josep Borrell. Outros líderes mundiais, como Boris Johnson (Reino Unido), Emmanuel Macron (França) e Olaf Scholz (Alemanha), também condenaram os ataques.

O presidente Jair Bolsonaro não fez nenhuma menção ao conflito, apesar de ter discursado por 20 minutos em São José do Rio Preto (SP) nesta quinta-feira.

De acordo com a Embaixada do Brasil na Ucrânia, cerca de 500 brasileiros vivem no país, sobretudo jogadores de futebol e profissionais de tecnologia da informação. Muitos deles descrevem a situação no território ucraniano como sendo um pesadelo e pedem ajuda para voltar para o Brasil.

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