Por g1 PE


Ativista e servidora pública é a primeira trans a receber título de cidadã recifense

Ativista e servidora pública é a primeira trans a receber título de cidadã recifense

Pela primeira vez na história, a Câmara de Vereadores entregou um título de Cidadã do Recife a uma mulher trans. Nascida em Limoeiro, no Agreste, a técnica em enfermagem Chopelly Glaudystton Pereira dos Santos tem 40 anos, chegou a se prostituir e, atualmente, é militante LGBTQIA+. "Que isso inspire muitas meninas e mostre que há espaço para elas", afirmou a homenageada (veja vídeo acima).

A entrega do título ocorreu, nesta terça (1º), em solenidade na Casa José Mariano, sede do Legislativo municipal, no Centro do Recife.

A proposta partiu dos vereadores Cida Pedrosa (PCdB) e Hélio Guabiraba (PSB). O decreto legislativo número 998/2021 foi sancionado em 22 de novembro de 2021.

Chopelly santos é a primeira mulher trans a ganhar título de Cidadã do Recife — Foto: San Costa/TV Globo

Chopelly integra o Conselho Nacional das Mulheres, preside a Articulação e Movimento para Travestis e Transexuais de Pernambuco (Amotrans) e faz parte do Fórum LGBT em Pernambuco, representando as transexuais e travestis.

No discurso de agradecimento, Chopelly lembrou sua trajetória e os desafios enfrentados desde a época da escola. "Fui muito violentada dentro daquele colégio", disse.

Ela também falou sobre a superação das adversidades. "Pensei em desistir, mas lembrei de um provérbio da Bíblia, que era citado pela minha avó", afirmou. Essa frase, segundo Chopelly, dizia que "os humilhados serão exaltados".

Chopelly foi homenageada por vereadores do Recife, nesta terça (1º), na entrega do título de cidadania — Foto: San Costa/TV Globo

Ainda no discurso, ela agradeceu a todos os vereadores e aos parlamentares que fizeram a proposta do seu título.

Também lembrou de companheiros e companheiras de luta na causa LGBTAQIA+. "Estamos no mesmo gênero, sofremos as mesmas violências e lutamos pelos mesmos direitos", declarou.

Chopelly Santos também mandou uma mensagem para todas as pessoas que participam da luta. "É preciso acreditar nos seus sonhos".

A solenidade foi aberta pela vice-governadora de Pernambuco, Luciana Santos (PCdoB). A gestora destacou que o título foi entregue a uma "pessoa que dedica a vida a uma luta".

"Pela primeira vez, o Recife faz uma homenagem a uma mulher trans que contrasta com preconceito, que transforma o Brasil no país em que se mais mata pessoas LGBTQIA+ no mundo", afirmou, no discurso.

Vereadora Cida Pedrosa (PCdoB) fez a proposta para homenagear Chpelly santos — Foto: Reprodução/Redes sociais

A vereadora Cida Pedrosa, uma das autoras da proposta do título, destacou a importância da luta contra a violência contra as mulheres trans. "De cada dez assassinatos de pessoas trans no mundo, quatro ocorrem no Brasil", declarou.

A parlamentar afirmou que, mesmo com altos índices de violência, as pessoas trans conseguiram se unir para lutar por espaço.

Chpelly é uma das primeiras trans do Brasil a receber título de cidadania. A outra foi no Rio de Janeiro", observou.

História

A história de Chopelly no Recife começou há 26 anos, quando a técnica de enfermagem chegou à capital pernambucana para estudar.

Da época em que frequentou as salas de aula, lembra dos episódios de discriminação e que apenas dois de 80 colegas de classe falavam com ela.

Quando completou 20 anos, sem apoio da família, Chopelly deixou o Recife e foi viver no Rio de Janeiro. Na capital fluminense, sem emprego e dinheiro, passou a se prostituir.

Lá, recebeu a orientação para descobrir a condição de transexualidade e voltar para o Recife. De volta à cidade, estudou e passou em dois concursos públicos, nas prefeituras do Recife e de Camaragibe, na Região Metropolitana, tornando-se técnica em enfermagem. Atualmente, ela atua na luta por políticas públicas de saúde para a população LGBTQIA+.

Em 2015, Chopelly liderou o projeto Jornada Pernambucana, apoiada pelo Fundo Brasil. A ideia é levar conhecimento ao interior do estado, orientando as pessoas dobre questões como travestilidade e transexualidade.

Agora, Chopelly coordena o projeto "Por uma escola livre da transfobia Acorda Recife!", apoiado pelo Fundo Brasil. A meta é discutir o tema nas instituições de ensino, capacitando professores, funcionários e estudantes.

Violência contra população LGBTQIA+

O Brasil teve 80 pessoas transexuais mortas no 1º semestre de 2021, segundo relatório da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra).

Em Pernambuco, vários assassinatos de mulheres trans foram registrados nos últimos meses. Os crimes ocorreram em cidades de todas as regiões do estado.

Em 2 de janeiro deste ano, Blenda Schneider, de 34 anos, foi morta a tiros, no bairro da Bela Vista, no Cabo de Santo Agostinho, no Grande Recife. De acordo com a Polícia Civil, o crime ocorreu na Rua 19, por volta das 21h.

Ela voltava da casa de uma amiga quando foi atingida pelos disparos. Blenda era conhecida na comunidade em que morava como Guegê e trabalhava como auxiliar de cozinha, mas estava desempregada.

Em 13 de setembro de 2021, o crime ocorreu na comunidade Entra Apulso, no loteamento Bobocão, no município de Paudalho, na Zona da Mata Norte de Pernambuco.

Kelly Alves foi morta a tiros em Paudalho, na Zona da Mata de Pernambuco — Foto: Reprodução/Instagram

A vítima foi identificada como Kelly Alves. Testemunhas informaram que ouviram disparos de arma de fogo na casa em que ela estava.

Em julho, ocorreu a morte de Fabiana da Silva Lucas, de 30 anos, assassinada a facadas em Santa Cruz do Capibaribe, no Agreste. O caso foi tratado pela polícia como transfobia.

Também em julho, Crismilly Pérola, conhecida como Piu-piu, de 37 anos, foi morta com um tiro na comunidade Beira Rio, na Várzea, Zona Oeste do Recife. A família acredita que crime foi motivado por transfobia. Um adolescente foi apreendido pelo crime.

Crismilly Pérola também era conhecida como Bombom ou Piu-piu — Foto: Reprodução/WhatsApp

Pouco tempo depois, Roberta da Silva morreu depois de ter 40% do corpo queimado por um adolescente, enquanto dormia perto do Terminal de Ônibus do Cais de Santa Rita, no Centro do Recife. O adolescente foi apreendido pela polícia em flagrante pelo crime.

Em 18 de junho, Kalyndra Nogueira da Hora, de 26 anos, foi encontrada morta dentro de casa, no Ipsep, na Zona Sul do Recife. O companheiro dela é o principal suspeito de cometer o crime.

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