Trator atolado e via alagada no município de Caiçara, na Paraíba — Foto: Tarcísio Soares / Arquivo pessoal
O governo da Paraíba decretou situação de emergência devido à estiagem (entenda mais abaixo o que é o fenômeno) em 31 municípios. Mas, parte deles registaram grandes volumes de chuvas neste mês de julho e também desde o começo do ano (veja os dados na próxima tabela). Pilõezinhos, por exemplo, apresentou um índice pluviométrico de 1.348,9 milímetros somente ao longo de 2022. Por isso, o g1 conversou com um professor de geografia para entender como a presença do fenômeno pode ser de delimitada e, a partir disso, saber se a medida estadual tem justificativa.
Das 31 cidades listadas, 12 registraram mais de mil milímetros de chuvas ao longo deste ano; mais seis ficaram na média dos 900 milímetros; e outras três apresentaram mais de 800 milímetros.
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Em Caiçara, município com 1.338,2 milímetros de chuvas neste ano, até um trator ficou atolado em vias alagadas.
Ao g1, a Defesa Civil da Paraíba informou que, embora a Paraíba esteja passando por um período muitas chuvas, esse cenário não é regular em todo o estado. Disse também que as regiões do Cariri, Curimataú, Sertão e Alto Sertão paraibano estão com chuvas abaixo da média histórica. Por causa disso, elas precisam do apoio de abastecimento complementar.
O órgão estadual também esclareceu que o critério de inclusão de municípios em decretos de situação de emergência se baseia em informações de climatologia de período retroativo - principalmente do relatório do Monitor das Secas da Agência Nacional das Águas (ANA) - além de informações de outras instituições do Estado.
Os dados da tabela abaixo são do informe meteorológico diário, produzido pela Agência Estadual de Gestão das Águas (Aesa), e divulgado na última quinta-feira (7). Os números são referentes aos períodos mensal, de 1º a 7 de julho deste ano, e anual, de 1º de janeiro a 7 de julho de 2022. Eles servem como guia para indicar quanto choveu em cada local.
Algumas cidades não tiveram dados referentes ao mês ou ano divulgados no boletim. Estas lacunas estão indicadas por traços na tabela.
Quantidade de chuva em milímetros por municípios da Paraíba indicados em decreto
Município | Quantidade de chuva em julho | Quantidade de chuva em 2022 |
Alagoa Grande | 130,8 milímetros | 1.025,4 milímetros |
Alagoa Nova | 106,5 milímetros | 975,9 milímetros |
Alagoinha | 145,4 milímetros | 976,2 milímetros |
Amparo | 22,7 milímetros | - |
Areia de Baraúnas | 7,1 milímetros | - |
Belém | - | 946,1 milímetros |
Boqueirão | 31,0 milímetros | - |
Borborema | 154,6 milímetros | 1.320,8 milímetros |
Caiçara | 140,6 milímetros | 1.138,2 milímetros |
Cuitegi | 171,9 milímetros | 1.105,1 milímetros |
Duas Estradas | 40 milímetros | 901,2 milímetros |
Guarabira | 98,2 milímetros | 1.074,6 milímetros |
Igaracy | 25,3 milímetros | 1.123,5 milímetros |
Itaporanga | 50,2 milímetros | 952,0 milímetros |
Juarez Távora | 68 milímetros | - |
Lagoa de Dentro | - | 1.107,3 milímetros |
Logradouro | 95,8 milímetros | 1.114 milímetros |
Monteiro | 30,5 milímetros | - |
Ouro Velho | 19,8 milímetros | - |
Pilões | - | 955,3 milímetros |
Pilõezinhos | 172,3 milímetros | 1.348,9 milímetros |
Pirpirituba | 178,5 milímetros | 1.233 milímetros |
Prata | 10,3milímetros | - |
Riachão do Bacamarte | 67,3 milímetros | - |
São José dos Ramos | 63,7 milímetros | - |
Serra da Raíz | 89,6 milímetros | 1.197,1 milímetros |
Serra Grande | 21,8 milímetros | 860,4 milímetros |
Serra Redonda | 110,9 milímetros | 898 milímetros |
Sertãozinho | 168,9 milímetros | 1.102,3 milímetros |
Sobrado | - | 873,3 milímetros |
Sumé | 8,3 milímetros | - |
O que diz o decreto
A situação de emergência é válida por 180 dias nas áreas dos municípios apontados no decreto como afetados pela estiagem. O documento foi publicado na edição do Diário Oficial do Estado (DOE) da quarta-feira (6).
Conforme o documento, essa "situação de anormalidade é válida apenas para as áreas dos municípios, comprovadamente afetados pelo desastre, conforme prova documental estabelecida pelo formulário de Informação de desastre (FIDE), e pelo croqui das áreas afetadas, por município que será apresentado oportunamente".
Por causa disso, o Poder Executivo Estadual fica autorizado a abrir crédito extraordinário para auxiliar na situação, além de convocar voluntários para o reforço das ações de respostas ao desastre natural.
Com o decreto, os municípios ficam dispensados de licitações, os contratos de aquisição de bens e serviços necessários às atividades de resposta ao desastre, locação de máquinas e equipamentos, de prestação de serviços e de obras relacionadas com a reabilitação do cenário do desastre, desde que possam ser concluídas no prazo estipulado em lei.
Como justificativa para adoção da medida, o texto diz que leva em consideração a escassez de água que persiste nos municípios listados e estaria causando danos às atividades produtivas - a exemplo de agricultura e pecuária - e também à saúde e subsistência da população.
Aponta, ainda, que as chuvas não foram suficientes para recargadas dos mananciais. Por isso, pode haver necessidade de complementação do abastecimento de água.
Decreto de situação de emergência devido à estiagem em 31 municípios da PB — Foto: DOE PB / Reprodução
O que é estiagem
De acordo com a Secretaria de Defesa Civil (Sedec) do Ministério da Integração, a estiagem pode ser definida como um período prolongado de pouca ou nenhuma chuva. O g1 conversou com o professor de geografia, Robson Pontes, para entender melhor como esse fenômeno ocorre.
1 - Por que a estiagem é um fenômeno na Paraíba?
O professor explicou que a estiagem pode ser definida como a ocorrência de chuvas em quantidade abaixo da média história para determinada região.
Na Paraíba, segundo Robson, existe a questão de que as chuvas são irregulares. Ou seja, não são frequentes e, na maior parte das vezes, acontecem de uma vez só, deixando outros períodos sem chover.
Muitas vezes, conforme o professor, as pessoas têm a impressão que choveu. Mas a chuva não foi suficiente para atividades como a agricultura, por exemplo.
2 - Porque pode haver estiagem mesmo com chuvas na região?
Robson Pontes explicou também que o pluviômetro que mede o quanto chove em uma região pode estar localizado em um local com alta incidência de chuvas, mas longe de reservatórios, que podem não receber recarga de água por causa dessa distância.
3 - Além da falta de chuvas, o que mais pode causa estiagem?
O professor disse que vários fatores estão ligados como a estiagem. O principal deles tem sido o desmatamento.
Elementos como crescimento da urbanização, distância ou proximidade em relação ao mar e relevo de uma localidade também podem influenciar.
4 - A estiagem pode ser prevista?
Conforme Robson, é difícil prever os períodos de estiagem. O que a meteorologia prevê pode ou não acontecer. Ele ressaltou, ainda, os equipamentos cada vez mais possibilitam uma qualidade maior de informação. E, por isso, estão acertando mais do que errando.
5 - Quais os impactos da estiagem para uma região?
O professor apontou quedas na produção e também na agropecuária como um dos principais impactos, especialmente em bacias leiteiras, como das cidades de Ouro Velho, Sumé e Serra Branca.
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Situações dos açudes da Paraíba
A Aesa também monitora os recursos hídricos dos reservatórios de Paraíba. O Açude Ouro Velho, na cidade de Ouro Velho, é o único localizado em um município lista que está em situação considerada crítica. O manancial está totalmente vazio.
Já outros cinco reservatórios das cidades indicadas estão em observação, com menos de 20% da capacidade total. Veja abaixo as cidades e os respectivos mananciais:
- Nova Camará, com 19,18% da capacidade.
- Serrote, com 14,54% da capacidade.
- Prata II, com 5,27% da capacidade;
- São Paulo, com 7,1% da capacidade.
Serra Branca
- Serra Branca II, com 15,25% da capacidade.
Sumé
- Sumé, com 11,77% da capacidade.
Ao todo, a Paraíba tem 135 reservatórios monitorados. Deles, 20 estão sangrando, 76 em situação considerada como normalidade, 19 em observação e 20 em situação crítica.
Três regiões têm chuvas acima da média para o mês de julho
Na Paraíba, as regiões Agreste Brejo e Litoral (divisão utilizada pela Aesa) concentram os maiores volumes de chuvas em julho, segundo informou a meteorologista Marle Bandeira.
De acordo com Marle, todas as três regiões registram índices pluviométricos acima da média para este mês. Veja as estimativas abaixo:
- Agreste - 25% a mais que as chuvas esperadas;
- Brejo - 56% a mais que as chuvas esperadas;
- Litoral - 46% a mais que as chuvas esperadas.
A previsão é de mais chuvas – que devem dar uma trégua - e temperaturas baixas até o fim do mês.
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