Por Iara Alves, G1 PB


Gente que inspira: técnica de enfermagem se cura da Covid e volta à linha de frente

Gente que inspira: técnica de enfermagem se cura da Covid e volta à linha de frente

Dia 16 de abril de 2020. Uma data que, assim como outras importantes, faz parte da coleção de memórias inesquecíveis para a técnica de enfermagem Maria Aparecida da Silva, de 40 anos. Foi exatamente nesse ponto do tempo que ela começou o trabalho na linha de frente no combate à pandemia de Covid-19, em João Pessoa.

(Esta história faz parte da série Gente que inspira, que mostra iniciativas que estão levando esperança a comunidades no momento mais crítico da pandemia.)

Há quase um ano, os hospitais onde trabalha se tornaram a “segunda casa” da profissional de saúde. Foi neles, que ela ajudou no tratamento de pacientes, foi infectada pela doença, tratada por colegas de profissão, se recuperou e retornou à rotina de salvar vidas.

Entre chegadas e partidas que presenciou, cada alta médica foi celebrada com comoção.

“A gente se apega aos pacientes. Muitos receberam alta ou faleceram. Outros se recuperam e estão em casa como eu”, destacou.

Técnica de enfermagem durante trabalho em hospital de tratamento da Covid-19, na Paraíba — Foto: Maria Aparecida da Silva/Arquivo pessoal

Cida, como é carinhosamente apelidada, escolheu a leveza e a esperança como companheiras para percorrer esse caminho nas três unidades de saúde públicas em que trabalha. Com os pacientes, além da fé, ela compartilha uma certeza.

“Tudo aquilo [pandemia] vai melhorar, vai passar“, é o mantra que repete todos os dias.

O diagnóstico do novo coronavírus não foi fácil de ser recebido. Ela lembra que se deparou com cada momento vivido até então.

“É um pouco desesperador. Dá um pouco de angústia. Mas a equipe médica foi maravilhosa comigo”, destacou.

Cida teve Covid-19 em outubro do ano passado. De uma dor de cabeça que aparentava ser uma crise de sinusite para 40% dos pulmões comprometidos, em cerca de uma semana, o quadro dela se agravou.

Os técnicos de enfermagem compõem a categoria com mais registros de infecção pelo novo coronavírus no estado, segundo dados levantados pela Secretaria de Estado da Saúde (SES).

Proporção de casos confirmados de Covid-19 na PB por categoria profissional

Categoria profisisonal Porcentagem de contaminação
Técnico de enfermagem 21%
Enfermeiro 13%
Médico 10%

O sobrepeso e a hipertensão fizeram do corpo de Cida um espaço propício para a evolução da doença. Ela precisou ficar 18 dias intubada, período em que teve uma parada cardíaca de 15 minutos.

“Passa um filme na cabeça. Você lá, sozinha, isolada”, desabafou.

Mas a solidão não foi uma opção para ela. Ao lembrar de quando esteve internada em um hospital particular da capital paraibana, a técnica de enfermagem menciona nominalmente Ronaldo, Genilson, Germana e Diego. Com os colegas de categoria, ela não se sentiu apenas segura, mas também acolhida.

“Eles [outros quatro técnicos] tinham esse carinho sem me conhecer. Vou levar para o resto da minha vida”, destacou.

Das muitas demonstrações de cuidado, ela se recordou de uma em especial.

“Diego disse ‘vou soltar o seu cabelo, posso pentear?’ Eu disse pode. Ele colocou creme e saiu soltando o meu cabelo. Isso é muito bom”, contou com um tom de voz sereno.

Ela acredita que esse relacionamento faz a diferença na evolução do quadro de saúde dos pacientes.

“Quando a gente interage com o paciente, ele sabe que não está só. Sou bem divertida e alegre. Me vejo neles”, relatou.

Depois de amargar a morte de colegas de trabalho que não resistiram à doença, ela considera a vida que tem após se recuperar da doença uma espécie de milagre.

Hospital Clementino Fraga, em João Pessoa — Foto: Kleide Teixeira / Jornal da Paraíba

Luta, recuperação e volta ao trabalho na linha de frente

Enquanto esteve internada, o pensamento de Cida ficou longe. Em casa, com o filho de 22 anos. Ele era o motivo da saudade que a angustiava.

Exausta, ela pensou em desistir de lutar pela vida. Mas recorreu a motivos mais fortes do que o cansaço para permanecer firme.

“Pensei em desistir porque não aguentava mais. Mas no mesmo dia pedi perdão e resolvi que ia lutar. Pelo meu filho eu ia sair dali”, afirmou.

Quando recebeu alta, ela disse que viveu momentos de felicidade plena. A distância fez com que a presença fosse mais valorizada.

“Perto do meu filho, me senti bem e amada. A gente se apegou mais. Ele passou a cuidar de mim. Ele foi a minhas pernas e os meus braços”.

A alegria também encheu o coração dela ao poder voltar a trabalhar.

“Medo a gente sempre vai ter. Mas hoje, depois que eu voltei, me coloco ainda mais no lugar do paciente”.

Mesmo depois do sofrimento, ela conseguiu tirar boas lições dos períodos de apuros que protagonizou.

“Deus faz o impossível. Do jeito que ele por mim, faz para qualquer um. A vida é tão curta. A família para mim, é tudo. Já era tudo e hoje é muito mais”, concluiu.

Mais de 11 mil profissionais de saúde infectados na PB

Pelo menos 11.108 profissionais de saúde testaram positivo para a Covid-19 na Paraíba. O dado foi divulgado em um balanço divulgado pela Secretaria Estadual de Saúde, com informações levantadas até o dia 27 de janeiro. O número que corresponde a cerca de 5,4% do total de casos, que a época era de 219.723.

Os técnicos de enfermagem ocupam a primeira posição no índice de profissionais de saúde com maior incidência de contaminação pelo coronavírus no estado.

Ao todo, o estado alcançou a marca de 225.672 casos confirmados e 4.612 mortes causadas pelo Covid-19, segundo o último boletim epidemiológico divulgado pela SES, na quinta-feira (4).

O estado vive uma nova alta no novas mortes e casos causados pela infecção. A ocupação de leitos de UTI passa dos 70%, e todas as macrorregiões de saúde paraibanas registraram piora nos indicadores da doença.

Diante do cenário epidemiológico do estado, pelo menos 144 municípios cumprem um decreto, que impõe toque de recolher, além de outras medidas mais rígidas de contenção à doença.

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