Dr. Waldemar Penna dedicou sua vida à medicina até os 91 anos — Foto: Arquivo de família
A editoria Por Dentro da História conta um pouco da vida do médico Waldemar Penna, que foi um grande nome na história da saúde pública de Santarém, no oeste do Pará. Ele foi pioneiro na medicina no município, diretor do Serviço Especial de Saúde Pública (SESP), fundador da Casa de Saúde São Sebastião e da Unimed na região, transformando vidas e deixando um legado inspirador para a presente e futuras gerações.
Nascido em 29 de agosto de 1913, na Bahia, e falecido em 18 de julho de 2005, aos 91 anos, doutor Penna foi mais que um profissional da medicina. Foi um exemplo de humanidade e serviço ao próximo.
A chegada ao Pará e a construção de uma carreira notável
Formado pela Faculdade de Medicina da Bahia, em 08 de dezembro de 1936, foi diretor do Sanatório Carnaíba, em Juazeiro (Bahia), de 1941 a 1952. Atuou, ainda, como professor médico na cidade de Crato-CE.
Em 1953, assumiu a direção da Clínica Cirúrgica da Unidade Mista do Serviço Especial de Saúde Pública na cidade de Breves (PA).
Waldemar com os filhos: Newton e Waldemar Filho — Foto: Arquivo Pessoal
De acordo com o filho do médico, Waldemar Penna Fillho, eles chegaram a Santarém em 1954, vindos de Breves.
“Ele veio assumir a direção da unidade em Santarém e desde então se estabeleceu na cidade, mesmo sendo originalmente da Bahia. Santarém tornou-se a casa dele, o lugar onde ele criou sua família e deixou seu legado”, contou o filho.
Waldemar Penna exerceu diversas funções médicas, acumulando especialidades como clínico geral, cirurgião e anestesista, em uma época em que os profissionais precisavam atender a múltiplas demandas devido à escassez de médicos na região.
Dr. Waldemar Penna é lembrado pela vitalidade e o espírito jovem que conservou até o fim da vida — Foto: Arquivo de família
“Ele foi um clínico completo. Fez de tudo para garantir atendimento à população, que na época era muito carente de serviços de saúde”, relembrou o filho.
Em Santarém, ainda em 1954, além de exercer a medicina na cidade de Santarém, na Unidade Mista de Saúde Pública e em vários postos de saúde, ele fundou a Casa de Saúde São Sebastião, sendo pioneiro do serviço hospitalar privado.
Prédio do Serviço Especial de Saúde Pública (SESP) em 1950 — Foto: Acervo Elias do Rosário
Nas últimas duas décadas de sua vida, Dr Penna teve como companheira Nilce Ribeiro. Ao g1, ela contou que ele atendeu milhares de pacientes, muitas vezes sem cobrar, cuidando não apenas da saúde física, mas também oferecendo alimentação e suporte para aqueles em situação de vulnerabilidade social.
Waldemar Penna com a companheira das últimas duas décadas de vida, Nilce Ribeiro — Foto: Arquivo de família
“Ele não fazia distinção entre pacientes que podiam pagar e aqueles que não tinham recursos. Muitas vezes, oferecia internação, alimentação e cuidados gratuitos para os mais carentes”, recordou Nilce Ribeiro.
Além disso, em 1986, ele liderou um grupo de 20 médicos e criou a Unimed Oeste do Pará, presidindo a instituição por 15 anos.
Mesmo após a aposentadoria, continuava ativo em postos de saúde e na Unimed.
Espírito jovial e hobbies
Dr. Penna com o amigo empresário Joaquim da Costa Pereira — Foto: Arquivo do STC
Apesar da idade, Dr Penna era conhecido por seu espírito jovial. Sempre presente em reuniões, festas e encontros, parecia incansável.
“Ele estava em tudo, fosse uma festa ou uma reunião de jovens, era como se não tivesse aquela idade. Ele vivia como um jovem”, contou Nilce.
Vânia Maria, diretora executiva do STC com o amigo Waldemar Penna em um evento — Foto: Arquivo de família
O médico era mesmo movido por um espírito jovem que era evidente até nos hobbies, como a pescaria e as palavras cruzadas, que ele chamava de “cooper mental”. Mesmo com a idade avançada, mantinha uma energia contagiante.
Doença que levou a morte
Waldemar Penna teve alguns problemas de saúde que culminaram na morte dele, em 18 de julho de 2005, aos 91 anos. Mas enquanto pôde, ele manteve a rotina de trabalho.
“Ele dizia que morreria trabalhando, como seu avô, e foi exatamente o que aconteceu”, recordou NIlce.
Em uma de suas viagens para Aracaju, ele passou dias em reuniões, e antes de chegar em Santarém, ele já estava com sintomas de gripe.
Segundo Nilce, após retornar da viagem, Waldemar Penna começou a apresentar sintomas como tosse e cansaço. No entanto, a situação se agravou durante um fim de semana. Em uma noite, ao tentar tomar banho, ele teve um episódio de fraqueza, a perna falhou e ele quase caiu.
Desde então, ficou internado por 28 dias, mas acabou não resistindo e faleceu por insuficiência respiratória. O médico lutava contra um câncer de pulmão.
Destinos cruzados
Na década de 70, o destino do médico se cruzou com o do menino Erik Jennings, que na juventude também se tornaria médico e cuidaria de Waldemar Penna em seus últimos dias.
Aos quatro anos de idade, Erik Jennings sofreu uma grave queimadura. Uma panela que estava sobre o fogão caiu e despejou água fervente sobre o seu corpo. Ele foi levado à Casa da Saúde. O caso era grave. Os rins paralisaram e o menino entrou em coma. Coincidência ou não, quem o atendeu foi o médico Waldemar Penna.
Santarém, na década de 70, era bastante carente no atendimento à saúde. E a família não tinha condição de levar Erik para um grande centro. A esperança se transformou em fé, mesmo quando a situação apontava para o pior.
“O Dr. Penna cuidou de mim, mas chegou uma hora que não tinha mais o que fazer. Ele achava que eu ia morrer mesmo. Mas por sorte do destino, o rim começou a funcionar e eu tive alta”, contou Erik.
Décadas depois, os caminhos dos dois voltaram a se cruzar de forma impactante. Waldemar Penna estava à beira da morte e chamou o médico Erik Jennings para cuidar dele.
“Só que ele me chamou e disse assim: ‘eu vou morrer, eu só quero que você tire a dor’”.
Mesmo com toda a argumentação, Penna disse que estava tranquilo, que nada poderia ser feito. “Ele falou: 'Para com a sua ansiedade de querer fazer algo mais por mim, só faz o que realmente tem para fazer, que é tirar a dor'. Eu acabei cuidando dele nos últimos momentos, e isso foi muito marcante, porque foi um cara que cuidou de mim quando eu era moleque”, relembrou Jennings.
A história está registrada no livro Paradô, escrito pelo médico neurocirurgião Erik Jennings.
Homenagem HRBA
Inaugurado no dia 28 de dezembro de 2006, o Hospital Regional do Baixo Amazonas (HRBA) recebeu o nome Dr. Waldemar Penna em reconhecimento ao trabalho desenvolvido pelo médico, à população do oeste do Pará. A unidade atende pacientes de 20 municípios da região Oeste do Pará.
Newton Penna (centro) e Hebert Moreschi na inauguração do busto de Waldemar Penna no HRBA — Foto: Blog do HRBA
Na época, a homenagem foi recebida pelo filho do Dr. Waldemar Penna, Newton Penna, que representou a família naquele momento de felicidade e orgulho pelo que o médico fez pela população da região.
"É um sentimento de orgulho ter o nome do meu pai no Hospital Regional. Ele praticou Medicina durante muito tempo aqui em Santarém, e esse é o reconhecimento da dedicação e trabalho que ele realizou", destacou Newton.
Hospital Regional do Baixo Amazonas leva o nome do Dr. Waldemar Penna — Foto: Reprodução
Para Herbert Moreschi, então Diretor Geral do Hospital Regional, ter uma personalidade médica, como o Dr. Waldemar Penna, fazendo parte o nome do Hospital Regional significa unir dois gigantes da saúde santarena.
“Dr. Waldemar Penna é um profissional pioneiro que prestou um grande serviço à população de toda nossa Região. Ter o seu nome à frente do Hospital Regional do Baixo Amazonas é mais que justo. Além disso, une e eterniza o Dr. Waldemar Penna a uma grande e importante instituição de saúde”, declarou Moreschi.