Surpresa com a nota máxima na redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), a estudante paraense Camila Trindade da Conceição, de 18 anos, comemorou o feito: ela faz parte de um grupo de apenas 250 pessoas que conseguiram a nota 1.000 no certame em todo o Brasil. Para Camila, foi fundamental já ter escrito em uma das atividades da disciplina, no colégio em que cursou o ensino médio em Belém, uma redação com o mesmo tema do Enem em 2014, sobre “Publicidade infantil em questão no Brasil”.
“A professora lançou o tema e ficamos uma semana para entregar a tarefa. Fui pra casa, estudei e devolvi depois. Além disso, discutimos sobre o assunto em sala de aula. Cada um apresenta a sua opinião e assim a gente consegue formar a nossa. Não fiz tão preocupada em tirar nota alta, mas já sabia os argumentos que ia usar”, conta a estudante, que que se preparou para escrever também lendo livros de ficção e jornais, além de participar de debates realizados em sala de aula.
Por conta da familiaridade com o tema, a aluna disse que até mesmo o tempo destinado para fazer a redação foi menor. A orientação dos professores é que separe até 1h30 do tempo total da prova apenas para fazer a redação e depois tirá-la do rascunho, mas ela acredita que terminou a prova em 20 ou 30 minutos. “Mesmo assim não esperava tirar a maior nota. Pensei que fosse ficar com nota mediana, entre 700 e 800”, conta Camila, que soube da nota no dia de seu aniversário: 13 de janeiro.
Agora, a estudante pretende conseguir uma vaga no curso de arquitetura e urbanismo, na Universidade Federal do Pará (UFPA). Ela já foi aprovada no mesmo curso na Universidade da Amazônia (Unama).
Saber escrever é fundamental
O jornalista Jones Santos, de 29 anos, também prestou a prova do Enem e conseguiu nota 980. Para ele, o tema pode ter ajudado a conseguir uma nota alta. “Falar de publicidade infantil, acredito, deve ser mais fácil pra alguém que já circula há dez anos pela área da comunicação. Minha experiência discutindo questões relacionadas à forma como a comunicação influencia a vida das pessoas deve ter ajudado, além, claro, das leituras feitas na área”, acredita.
O jornalista também destaca a importância que a prova da redação tem recebido nos últimos anos, com a substituição dos vestibulares pelo Exame. Ele acredita que se tratar de um teste de raciocínio de linguagem, o candidato precisa saber desenvolver as suas ideias no papel, sem opiniões diversas ou mesmo a internet para consultar. E isso revela um outro dado importante, apesar de ruim: entre os alunos participantes, 529.374 obtiveram nota zero na redação da prova (8,5% dos candidatos).
“Esses resultados mostram que ainda estamos longe daquela educação que proporciona ao estudante desenvolver suas próprias ideias e colocá-las de forma coerente em um texto. Acho que o tema foi determinante nisso, porque se fosse algo como a falta de água no Sudeste ou a Copa do Mundo, assuntos que certamente foram discutidos em salas de aula e cursinhos e para os quais os candidatos provavelmente tinham ideias pré-determinadas de abordagem, é provável que os resultados fossem melhores”, defende.