Naomi Osaka na cerimônia de abertura das Olimpíadas de Tóquio e Paulinho comemorando um gol em jogo da seleção olímpica — Foto: Jewel Samad/AFP e Daniel Leal-Olivas/AFP
Catarse coletiva. Esse seria o grande sentimento gestado até a chegada dos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020, em 2021. Nos imaginamos todos vacinados, mais sábios e abraçados em torcidas de suor e lágrimas compartilhadas depois de um ano em que morremos tanto. A coleção de frustrações reservada pela Covid-19 em todo mundo ensina, também, a ver além das expectativas não alcançadas.
A semana termina com a aplicação da primeira dose interrompida em duas capitais – por falta de vacina –, o Brasil correndo o risco de perder a chance de ter mais uma vacina – por suspeitas de corrupção –, e também voltamos a precisar defender o básico no país, como estado democrático de direito.
As restrições criam oportunidade de refocar a atenção. Mas, entre tranças vermelhas e flechas, chegamos aqui existindo melhor. Como gente. Mais diversos sob todos os holofotes. A incrível tenista Naomi Osaka, que chegou a ser considerada "menos japonesa" pela miscigenação impressa na pele preta – ainda não entrou em quadra, mas já ocupa um lugar na história das Olimpíadas. Aos 23 anos, não acendeu apenas a pira olímpica na Abertura desta sexta-feira (23), a atleta iluminou o debate sobre racismo e identidade.
Negra, filha de pai haitiano e mãe japonesa, foi criada nos EUA. Abriu mão da nacionalidade americana e escolheu enfrentar o tema da discriminação dentro e fora das quadras.
O atacante Paulinho também mostrou que somos e devemos ser muitos. Na estreia da seleção masculina de futebol, nos brindou com um gol e uma mensagem de respeito ao Candomblé, uma religião de matriz africana tão linda quanto perseguida. A flecha de Oxóssi, orixá caçador, atingiu nossos corações desejosos de união e respeito.
Quando brilha na cerimônia de abertura com suas tranças vermelhas, Naomi evidencia que um outro Japão pode surgir na terra do sol nascente, assim como um novo Haiti, onde nasceu o pai da tenista. Protestos violentos voltaram a tomar conta do sofrido país caribenho na sexta-feira, quando o presidente assassinado há duas semanas foi, finalmente, enterrado.
Perto e longe do Japão, onde quer que seja, novas expectativas foram criadas e elas vieram do esporte. Serão dias, noites e madrugadas conectados e na emoção comum que só uma Olimpíada proporciona.