“Acho que tudo depende muito da criação, eu vejo todos da mesma forma. Fui criado assim. As pessoas podem, sim, desde cedo, ver todos como iguais. E até quem tem um certo preconceito pode aprender a pensar diferente.”
A ambição inicial do João Vitor, autor da reflexão acima, era se sair bem na lição encomendada pelo professor de artes: falar sobre qualquer assunto por meio de um desenho e um texto de apoio. Só que ele quis discorrer sobre preconceito e esse texto veio parar nas minhas mãos, ou melhor, no meu Instagram.
Foi enviado pela mãe desse garoto miscigenado, que acabou personificando o que, pra mim, é um dos pavimentos na construção de uma sociedade mais igualitária, justa e próspera: a educação pra diversidade, em todas as formas e cores.
— Foto: Arquivo pessoal
O João Vitor é filho único de uma relação interracial e cresce numa casa onde a consciência nasce do orgulho das origens e da beleza enxergada nas diferenças. Nesta quarta-feira, Herica, a mãe, me enviou uma mensagem na esperança de que eu a encontrasse e pudesse fazer ecoar o pensamento crítico desse menino de 13 anos. Que sorte a minha, a nossa.
Impossível não lembrar de Nelson Mandela e sua frase célebre sobre ninguém nascer odiando o outro pela cor da pele. Preconceito se aprende, e se perpetua com a prática, com um tipo de cegueira cômoda e perversa.
João nasceu com a pele clara, mas se autodenomina negro numa sociedade que segrega por tons e nuances. Aliás, há pouco tempo, deixou o cabelo crespo crescer num movimento de fortalecimento das heranças maternas.
João Vitor tem 13 anos — Foto: Arquivo pessoal
E numa ingenuidade potente, me disse: “Confesso que me sinto surpreso com esse prestígio, me senti até um pouco sem graça sobre o assunto. Risos. Já em relação à pergunta de como eu espero que as pessoas reajam... A minha intenção, ao fazer o desenho, foi reforçar a ideia do texto de que as diferenças não importam, dando a ideia de igualdade”.
João, amante dos desenhos, te ofereço o espaço dessa humilde coluna pra sua primeira exposição.
Espero que sejam muitas. Com públicos cada vez maiores.
Desenho feito pelo João Vitor — Foto: Arquivo pessoal
Wagner, Herica e João Vitor — Foto: Arquivo pessoal