Ricardo Salles — Foto: Reprodução/GloboNews
Entidades ligadas ao meio ambiente criticaram as declarações do ministro Ricardo Salles durante a reunião ministerial do dia 22 de abril. Em gravação divulgada nesta sexta-feira (22), o ministro do Meio Ambiente, alertou sobre o que considerava ser uma "oportunidade" trazida pela pandemia da Covid-19.
Para ele, o governo deveria aproveitar o momento em que o foco da sociedade e da mídia está voltada para o novo coronavírus para mudar regras que podem ser questionadas na Justiça. A fala foi documentada em vídeo divulgado após a autorização do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Celso de Mello.
Segundo o ministro, seria hora de fazer uma “baciada” de mudanças nas regras ligadas à proteção ambiental e à área de agricultura e evitar críticas e processos na Justiça. "Tem uma lista enorme, em todos os ministérios que têm papel regulatório aqui, para simplificar. Não precisamos de Congresso", disse Salles.
Afastamento do ministro
O Observatório do Clima pediu o afastamento do ministro Ricardo Salles "por tramar contra a própria pasta". Em um comunicado, a organização disse que o ministro do Meio Ambiente estaria disposto a desmontar seu ministério e incentivou o governo a fazer o mesmo.
"Esperamos que Ministério Público federal, STF e Congresso tomem medidas imediatas para o afastamento do ministro Ricardo Salles. Ao tramar dolosamente contra a própria pasta, demonstra agir com desvio de finalidade." – Observatório do Clima
Além disso, o Observatório defendeu que a fala do ministro "expõe ainda mais o Brasil" e elimina a credibilidade do país em um cenário internacional. "Em resumo, a política antiambiental de Jair Bolsonaro e de seu ministro nos custa, além de degradação ambiental, empregos e vidas", diz a nota.
Grupos de defesa do meio ambiente criticam declarações de Salles em reunião
Desmantelamento
O porta-voz de Políticas Públicas do Greenpeace Brasil, Luiza Lima, comentou por meio de um comunicado que a fala do ministro Salles "deixa claro" o que ele chamou de "projeto de desmantelamento" das condições de proteção ambiental do país.
"Bolsonaro ganhou as eleições, mas não ganhou um cheque em branco para acabar com a floresta e os povos indígenas, os ministros gostem ou não." – Luiza Lima, porta-voz de Políticas Públicas do Greenpeace Brasil
A organização também destacou o trecho em que Salles diz que se deve aproveitar para "passar a boiada" e aprovar projetos e leis de seu interesse.
"Salles acredita que as pessoas morrendo na fila dos hospitais seja uma boa oportunidade de avançar em seu projeto anti-ambiental", escreveu Lima. "Acredita que a ausência dos holofotes da mídia, devidamente direcionados para a pandemia, seria o suficiente para fazer o que bem entende."
Contra interesses nacionais
A WWF-Brasil disse em um comunicado que com sua fala durante a reunião ministerial, Salles "expõe que age contra os interesses nacionais, na surdina".
"A fala do Ministro Ricardo Salles expõe sua consciência de que o que está propondo é ilegal, e que portanto se ressente da ameaça que a Justiça pode trazer às suas intenções." – WWF-Brasil
A entidade relembrou o aumento no desmatamento da Amazônia em 2019, que foi o maior nos últimos dez anos e disse esperar que a marca seja superada durante este ano. Além disso, citou uma "paralisia administrativa" no ministério e em órgãos associados.
"Apesar disso, choca constatar sua intenção de aproveitar a maior tragédia econômica e sanitária em muitas gerações, uma pandemia que já resultou em dezenas de milhares de vidas perdidas, para, em suas palavras, 'passar a boiada'", disse o comunicado.
Salles defende mudar regras de proteção ambiental enquanto imprensa se concentra na Covid
Prejuízo à Mata Atlântica
Um dos ecossistemas mais ricos do mundo e também um dos mais ameaçados, a Mata Atlântica tem hoje apenas um décimo de seu tamanho original.
Um despacho publicado no Diário Oficial da União no dia 6 de abril permitiu o cancelamento de multas ambientais por desmatamento e incêndios provocados em áreas preservadas deste bioma. O ato foi classificado, por ambientalistas, como uma espécie de anistia a produtores agrícolas que ocupam ilegalmente a mata.
O diretor da SOS Mata Atlântica afirma que é a primeira vez que a instituição entra na justiça contra o despacho de um ministro.
“Entramos na Justiça em 17 estados e no DF contra o despacho do ministro que tira a proteção das margens dos rios, cria anistia e impede que se faça restauração mesmo daqueles proprietários que declararam interesse no cadastro ambiental rural." - SOS Mata Atlântica
"É um escândalo e o ministro se auto denunciou. Na Mata Atlântica estão 70% dos brasileiros, dependemos exclusivamente do que resta dessa floresta para que tenha água”, afirma Mario Mantovani, diretor da entidade.
VÍDEO DA REUNIÃO ENTRE BOLSONARO E MINISTROS
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