Por Roger Harrabin, BBC


Greta Thunberg participa de protesto pelo clima em Nova York, Estados Unidos, nesta sexta (20). — Foto: Shannon Stapleton/Reuters

A Cúpula de Ação Climática das Nações Unidas (ONU) foi concluída em meio a elogios moderados por seus sucessos e a condenações duras por suas falhas.

Pelo lado bom, mais de 60 nações anunciaram que estão desenvolvendo planos ou já trabalhando para reduzir a emissão de gases do efeito estufa a praticamente zero.

Um número similar disse que reforçaria suas metas para combater o aquecimento global até o próximo ano.

Por outro lado, a ativista Greta Thunberg condenou líderes pelo que chamou de uma "ambição inadequada", que coloca em risco o futuro dos jovens.

As promessas da Alemanha, por exemplo, foram descritas por críticos como incompatíveis com metas para redução de carbono já firmadas pelo próprio país.

Então, é possível descrever a cúpula das Nações Unidas como um copo meio cheio, ou bem mais vazio.

Avanços e retrocessos

Dito isso, houve sinais claros de que mais pessoas ao redor do mundo estão tomando consciência da ameaça imposta por um superaquecimento do clima.

Índia, China e a União Europeia disseram que vão anunciar planos mais rígidos para cortar emissões de carbono em 2020.

Administradores de portos, bancos e companhias de navegação se comprometeram a um plano "ambicioso" para navegações com zero carbono até 2030.

A Finlândia pretende se tornar a primeira nação industrializada a absorver mais carbono do que emite.

O Paquistão, que plantou um bilhão de árvores nos últimos cinco anos, prometeu mais 10 bilhões para os próximos cinco.

Já a Grécia afirmou que banirá o plástico de uso único até 2021 e eliminará gradualmente seu uso de carvão até 2028.

Críticos aplaudiram os esforços, mas afirmaram que os compromissos firmados por parte dos países sequer chega perto do que é necessário para estabilizar o clima.

Os Estados Unidos, por exemplo, foram representados pelo presidente Donald Trump. Ele apareceu no meio da sessão, sentou-se brevemente na plateia, olhou para o relógio e seguiu calmamente para um encontro sobre liberdade religiosa que acontecia naquele mesmo horário. Tudo isso sob o olhar furioso de Greta Thunberg.

Manifestante fala em alto-falante durante protesto pelo clima na Cracóvia, Polônia. — Foto: Jakub Wlodek/Agencja Gazeta via Reuters

Como líderes reagiram ao discurso de Greta?

Trump pareceu zombar da jovem de 16 anos, ao tuitar o vídeo do discurso em que Greta alerta para o impacto das mudanças climáticas. Ele comentou: "Ela parece uma jovem feliz, ansiosa por um futuro brilhante e maravilhoso. Tão bonito de se ver!".

Já o presidente francês, Emmanuel Macron, pediu ponderação quanto às críticas de Thunberg e sua abordagem "bastante radical", insinuando que a raiva estaria mal direcionada.

A França, assim como a Alemanha e o Brasil, está entre os cinco países incluídos na denúncia da ativista às Nações Unidas, feita na segunda-feira.

"Tudo que nossos jovens estão fazendo por essa causa é útil, assim como o que os não tão jovens fazem", disse Macron ao Europe 1.

"Mas agora eles devem focar naqueles que têm mais a fazer, aqueles que tentam impedir a mudança. Eu não acho que o governo francês ou o governo alemão estejam fazendo isso hoje."

O presidente da França, Emmanuel Macron, na cúpula do clima da ONU, em 23 de setembro de 2019 — Foto: Timothy A. Clary/AFP

A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, postou uma foto conversando com a ativista.

Entretanto, Merkel recebeu críticas de que a Alemanha não estaria diminuindo seu uso de carvão rápido o suficiente.

"Essa cúpula deveria ter sido um divisor de águas. Mas nós observamos uma falta de comprometimento tremenda vinda dos países mais ricos que mais poluem, que continuam a tomar medidas superficiais para resolver uma questão de vida ou morte", afirmou Harjeet Singh, da ONG ActionAid.

Hampton, da Children's Investment Fund Foundation, questionou: "Se não podemos impulsionar consideravelmente as soluções que já temos disponíveis… Então, o que estamos fazendo na prática?"

Jennifer Morgan, que comanda o Greenpeace International, disse que "em grande parte, líderes globais não fizeram o que se esperava deles hoje em Nova York".

Os olhos se voltam agora para Mônaco, onde o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas alertará sobre como o aquecimento global está causando uma situação de emergência em relação ao aumento do nível dos oceanos.

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